terça-feira, 16 de setembro de 2025

A hora do vamos ver. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

A direita vive um paradoxo, porque onde impera o radicalismo não é possível prosperar a moderação

Enterrada a fantasia de que Jair Bolsonaro (PL) possa pela arte do impossível vir a ser candidato à Presidência da República em 2026 ou enquanto estiver submetido à pena de quase três décadas imposta pelo Supremo Tribunal Federal, a direita terá de falar sério sobre a próxima eleição.

A realidade impõe o desafio de herdar os votos dos radicais e, ao mesmo tempo, conquistar o apoio dos moderados. Tarefa difícil, dado o paradoxo. Onde reina o radicalismo, por óbvio não viceja a moderação.

É a corda bamba em que se encontra o governador de São Paulo. No domingo (7), Tarcísio de Freitas (Republicanos) falou em "tirania" do tribunal; na quinta-feira (11), conteve-se ao considerar "injusta" a condenação do padrinho; e, nesta segunda (15), cancelou ida a Brasília, de onde seguiria a ofensiva.

A esperança numa anistia por ora se configura vã. Não há votos para aprová-la no modelo posto pelos bolsonaristas e, ainda que passe versão desidratada com inclusão de emenda casuística, haverá o veto presidencial que, se derrubado, encontrará barreira no STF.

Portanto, o esforço se mostra tão inútil para a liberdade do ex-presidente quanto o voto divergente do ministro Luiz Fux. Ambas as situações fornecem discurso, mas não alteram a circunstância da prisão iminente e, com ela, a necessidade da revisão de expectativas e estratégias para articulação de candidaturas viáveis.

Se a ideia da oposição ao presidente Lula (PT) for mesmo derrotá-lo, o tempo não só urge, como conspira contra os adversários.

Tarcísio, o nome mais bem posicionado nas pesquisas, tem apenas seis meses para decidir se vale a pena trocar o quase certo pelo duvidoso. Os outros governadores postulantes não chegam a dois dígitos nas projeções, e a família Bolsonaro carrega o fardo da rejeição no decisivo centro.

Sinuca de vários bicos para a direita que, se busca repetir Lula em 2018, deve se lembrar da derrota decorrente do atraso de produzir alternativa em tempo hábil.

 

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