terça-feira, 16 de setembro de 2025

Chefes da direita já ignoram o mito em desgraça. Por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Ao acatar a decisão do STF, presidente do PL revela o enfraquecimento do clã Bolsonaro

E o mundo não se acabou... Na esteira da condenação de Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão, não houve registros de alguém dançando em trajes de maiô e beijando a boca de quem não devia. O sol não nasceu antes da madrugada. Houve sim um pequeno Carnaval improvisado em ruas e bares, com o Rio na vanguarda da folia, mas nada que lembrasse a catarse coletiva descrita no samba de Assis Valente gravado por Carmen Miranda.

Tampouco ocorreu a convulsão social preconizada pelo deputado com milhões de seguidores e pelo pastor que usa palavrão como vírgula. A não ser dois ou três aloprados, não se viu agitação popular, baderna, quebra-quebra, guerra campal, banho de sangue. Ninguém pediu para esperar mais 72 horas e os convites para a segunda edição da Festa da Selma encalharam. Como no samba do falso fim do mundo, era tudo conversa mole.

Muitos aproveitaram o momento da punição aos golpistas para lembrar que o maior crime de Bolsonaro —a campanha antivacina e o descaso na compra de imunizantes contra Covid-19 durante a pandemia— ainda está livre de castigo.

De resto, a vida segue em sua aparente normalidade. Tanto que Valdemar Costa Neto é convidado a falar na televisão todo santo dia. Sem esconder a felicidade com o voto de Luiz Fux, elogiou o ministro, dizendo que ele reúne as condições ideais para ser candidato ao Senado após sua aposentadoria no Supremo. Naturalmente filiando-se ao PL, o mais numeroso ajuntamento parlamentar da extrema direita no país.

Valdemar tem motivo para respirar aliviado e sentir-se um homem de sorte. Indiciado pela PF, não foi denunciado pela PGR, escapando do banco dos réus. Seu envolvimento na trama golpista, segundo os investigadores, se deu ao financiar uma estrutura de apoio à invalidação da vitória de Lula nas eleições e contratar um parecer fajuto, apresentado ao TSE, que questionava a lisura das urnas eletrônicas.

Sorridente e solto, o cacique afirma que vai acatar a decisão do STF. Ou ele disfarça bem ou já jogou o mito fora.

 

 

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