domingo, 21 de setembro de 2025

A vantagem da China sobre os EUA. Por Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Sem ter um acordo comercial com os EUA, a China retira as cartas das mãos de Donald Trump

A China assumiu posição de força nas negociações comerciais com os EUA. A principal ferramenta de pressão americana, os chips, está sendo neutralizada. Os chineses suspenderam a importação de soja. A venda de minerais estratégicos continua sujeita a licenças. A única concessão é a venda do Tik Tok.

Depois de conversar pelo telefone com Xi Jinping, na sexta-feira, Donald Trump festejou, em um post: “Fizemos progresso em muitas questões importantes, incluindo comércio, fentanil, a necessidade de pôr fim à guerra entre Rússia e Ucrânia e a aprovação do acordo do Tik Tok”.

Trump acrescentou que “aguarda o encontro na Apec”, referindo-se à cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, marcada para 31 de outubro, na cidade sul-coreana de Gyeongju; que irá a Pequim no início do ano que vem, e Xi também deve visitá-lo.

Os chineses foram muito mais contidos em sua descrição da conversa, relegada a um comunicado da chancelaria. A nota não menciona encontros futuros. Reafirma que a venda do Tik Tok é decisão de sua dona, ByteDance, e adverte os EUA que evitem medidas comerciais unilaterais.

Enquanto não fecha um acordo comercial, a China retira as cartas das mãos de Trump. Pela primeira vez, desde 1999, os chineses não compraram soja americana. No ano passado, os EUA responderam por um quinto das importações de soja da China, no valor de mais de US$ 12 bilhões, mais da metade das exportações de soja americana.

Na terça-feira, a Administração do Ciberespaço da China proibiu grandes empresas de tecnologia, incluindo a ByteDance e a Alibaba, de comprar os chips RTX Pro 6000D, feitos sob medida pela americana Nvidia para o mercado chinês.

Washington proibiu em abril a venda de chips sofisticados à China em retaliação contra a suspensão das licenças de exportações de minerais estratégicos chineses para os EUA, adotada em resposta à elevação das tarifas por Trump.

A desenvolvedora chinesa de inteligência artificial Deep

Seek anunciou, horas antes da conversa telefônica, ter gastado apenas US$ 294 mil no treinamento de seu modelo R1, em artigo na Nature revisado por especialistas. Sam Altman, CEO da gigante americana OpenAI, disse em 2023 que o treinamento de seus modelos fundacionais custou muito mais de US$ 100 milhões.

A China está reduzindo sua dependência de chips americanos. Os EUA continuam dependendo da venda de soja e da importação de minérios estratégicos da China.

 

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