O Estado de S. Paulo
Sem ter um acordo comercial com os EUA, a China retira as cartas das mãos de Donald Trump
A China assumiu posição de força nas
negociações comerciais com os EUA. A principal ferramenta de pressão americana,
os chips, está sendo neutralizada. Os chineses suspenderam a importação de
soja. A venda de minerais estratégicos continua sujeita a licenças. A única
concessão é a venda do Tik Tok.
Depois de conversar pelo telefone com Xi Jinping, na sexta-feira, Donald Trump festejou, em um post: “Fizemos progresso em muitas questões importantes, incluindo comércio, fentanil, a necessidade de pôr fim à guerra entre Rússia e Ucrânia e a aprovação do acordo do Tik Tok”.
Trump acrescentou que “aguarda o encontro na
Apec”, referindo-se à cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, marcada
para 31 de outubro, na cidade sul-coreana de Gyeongju; que irá a Pequim no
início do ano que vem, e Xi também deve visitá-lo.
Os chineses foram muito mais contidos em sua
descrição da conversa, relegada a um comunicado da chancelaria. A nota não
menciona encontros futuros. Reafirma que a venda do Tik Tok é decisão de sua
dona, ByteDance, e adverte os EUA que evitem medidas comerciais unilaterais.
Enquanto não fecha um acordo comercial, a
China retira as cartas das mãos de Trump. Pela primeira vez, desde 1999, os
chineses não compraram soja americana. No ano passado, os EUA responderam por
um quinto das importações de soja da China, no valor de mais de US$ 12 bilhões,
mais da metade das exportações de soja americana.
Na terça-feira, a Administração do
Ciberespaço da China proibiu grandes empresas de tecnologia, incluindo a
ByteDance e a Alibaba, de comprar os chips RTX Pro 6000D, feitos sob medida
pela americana Nvidia para o mercado chinês.
Washington proibiu em abril a venda de chips
sofisticados à China em retaliação contra a suspensão das licenças de
exportações de minerais estratégicos chineses para os EUA, adotada em resposta
à elevação das tarifas por Trump.
A desenvolvedora chinesa de inteligência
artificial Deep
Seek anunciou, horas antes da conversa
telefônica, ter gastado apenas US$ 294 mil no treinamento de seu modelo R1, em
artigo na Nature revisado por especialistas. Sam Altman, CEO da gigante
americana OpenAI, disse em 2023 que o treinamento de seus modelos fundacionais
custou muito mais de US$ 100 milhões.
A China está reduzindo sua dependência de
chips americanos. Os EUA continuam dependendo da venda de soja e da importação
de minérios estratégicos da China.
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