O Estado de S. Paulo
Presidente Lula sai do fundo do poço e é adversário único do bolsonarismo
Numa semana em que a Câmara jogou “às favas
todos os escrúpulos de consciência”, como o coronel e ex-ministro Jarbas
Passarinho na decretação do famigerado AI-5, as pesquisas revelaram que o
presidente Lula não apenas se mantém à frente de todos os candidatos de 2026
como corre sozinho, sem adversários, na raia de esquerda e centro-esquerda.
Se alguém poderia competir com Lula pelo centro seria Ciro Gomes, que está fora do jogo, após quatro derrotas para a Presidência, perda de força política, temperamento explosivo, crise em todos os partidos pelos quais passou e, por fim, o racha na própria família. Como concorrer?
Lula entrou em 2025 com popularidade e
perspectivas de reeleição no fundo do poço, mas se recuperou ao longo do ano,
com uma, digamos, peculiaridade: não pelos seus acertos e feitos do governo,
mas pelo acúmulo de erros do bolsonarismo. Lula joga parado, a oposição faz gol
contra.
A recuperação começou com o discurso de
“pobres contra ricos”, quando o governo lançou a isenção do IR até R$ 5 mil e a
oposição defendeu os super ricos da compensação. Eduardo Bolsonaro, gênio da
política, contribuiu bastante: desertar e armar os EUA contra o Brasil foi um
tiro de canhão no bolsonarismo.
Com todos os próprios erros, falta de rumo,
tropeço nas falas, Lula voltou a ser competitivo e único adversário dos
bolsonaristas, como defensor dos pobres e da soberania do Brasil, contra o
“imperador do mundo”, Donald Trump. Que, aliás, pode reservar surpresas
desagradáveis para ele nesta semana, na abertura da Assembleia Geral da ONU, em
Nova York.
O julgamento de Jair Bolsonaro e do “núcleo
crucial” fez o resto: as provas são fartas e compreensíveis e os ministros da
primeira turma do STF foram didáticos, ao detalhar a tentativa de cooptação das
Forças Armadas para anular o resultado das eleições, impedir a posse do eleito
e levar o País ao caos. Na contramão, Luiz Fux foi prolixo, não convincente.
É assim que Lula, apesar de não manter o
ritmo de recuperação, estacionou num patamar seguro e, pela pesquisa Atlas,
finalmente a aprovação supera a desaprovação. Mas a melhor notícia para ele é
que o sobrenome Bolsonaro está em queda livre e isso inclui Jair, Michelle e
Eduardo.
Os governadores Tarcísio, Ratinho, Caiado e
Zema fracionam as intenções de voto no primeiro turno, mas tendem a formar
grande força de direita no segundo, em torno, provavelmente, de Tarcísio. Logo,
Lula está bem melhor, mas ainda tem muito jogo e seu maior desafio será o
segundo turno. Além, claro, do principal: em que condições assumirá um quarto
mandato, caso reeleito? •
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