sexta-feira, 12 de setembro de 2025

O 11 de setembro de Jair Bolsonaro. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Tribunal resistiu a ataques e protegeu Constituição em julgamento inédito, que pune ex-presidente e generais por tentativa de golpe

Em 1999, um repórter quis saber o que Jair Bolsonaro faria se chegasse à Presidência. “Daria golpe no mesmo dia. Não funciona”, respondeu o capitão.

Naquela época, ninguém imaginava que o deputado extremista fosse capaz de vencer uma eleição majoritária. O Brasil mudou, mas ele permaneceu o mesmo. Ao vestir a faixa, passou a conspirar contra a democracia que o alçou ao poder.

Bolsonaro tentou destruir o sistema de freios e contrapesos estabelecido pela Constituição de 1988. Seu objetivo era instaurar um novo Estado autoritário, nos moldes da ditadura que sempre exaltou.

No início, o capitão seguiu a cartilha dos autocratas modernos. Militarizou o governo, tentou sufocar a oposição, investiu contra a imprensa, as universidades e os mecanismos de participação social.

Então vieram a pandemia, o tombo na popularidade e as ameaças de impeachment. Acuado, Bolsonaro pôs a máquina do golpe em marcha. Radicalizou os ataques ao Judiciário, mandou tanques para a porta do Congresso, avisou que só deixaria o poder “preso, morto ou com vitória”.

Ex-oficial de artilharia, mirou na terceira coluna e acertou na primeira. Ontem tornou-se o primeiro ex-presidente condenado por tentativa de golpe em 135 anos de República.

No voto que selou o destino do capitão, a ministra Cármen Lúcia definiu o julgamento como um encontro do Brasil “com seu passado, seu presente e seu futuro”. Ressaltou o caráter histórico do processo, que também mandará para a cadeia três generais e um almirante que desonraram a farda.

O ministro Flávio Dino enfatizou que as Forças Armadas devem obediência ao poder civil. Lembrança oportuna num país que precisa espantar de vez o fantasma das quarteladas e da tutela militar.

O ponto baixo do julgamento foi o voto de Luiz Fux, que desprezou provas e renegou as próprias palavras ao tentar livrar o ex-presidente e seus comparsas da cadeia. O malabarismo jurídico fará mais mal à biografia do ministro do que à imagem do Supremo.

Alvo de uma campanha de ódio agora reforçada por sanções do governo americano, o tribunal não se curvou e sai fortalecido como guardião da Constituição. Que o 11 de setembro de 2025 seja a resposta definitiva a quem tentou rasgá-la.

 

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