O Globo
Tribunal resistiu a ataques e protegeu
Constituição em julgamento inédito, que pune ex-presidente e generais por
tentativa de golpe
Em 1999, um repórter quis saber o que Jair
Bolsonaro faria se chegasse à Presidência. “Daria golpe no mesmo dia. Não
funciona”, respondeu o capitão.
Naquela época, ninguém imaginava que o
deputado extremista fosse capaz de vencer uma eleição majoritária. O Brasil
mudou, mas ele permaneceu o mesmo. Ao vestir a faixa, passou a conspirar contra
a democracia que o alçou ao poder.
Bolsonaro tentou destruir o sistema de freios e contrapesos estabelecido pela Constituição de 1988. Seu objetivo era instaurar um novo Estado autoritário, nos moldes da ditadura que sempre exaltou.
No início, o capitão seguiu a cartilha dos
autocratas modernos. Militarizou o governo, tentou sufocar a oposição, investiu
contra a imprensa, as universidades e os mecanismos de participação social.
Então vieram a pandemia, o tombo na
popularidade e as ameaças de impeachment. Acuado, Bolsonaro pôs a máquina do
golpe em marcha. Radicalizou os ataques ao Judiciário, mandou tanques para a
porta do Congresso, avisou que só deixaria o poder “preso, morto ou com vitória”.
Ex-oficial de artilharia, mirou na terceira
coluna e acertou na primeira. Ontem tornou-se o primeiro ex-presidente
condenado por tentativa de golpe em 135 anos de República.
No voto que selou o destino do capitão, a
ministra Cármen Lúcia definiu o julgamento como um encontro do Brasil “com seu
passado, seu presente e seu futuro”. Ressaltou o caráter histórico do processo,
que também mandará para a cadeia três generais e um almirante que desonraram a
farda.
O ministro Flávio Dino enfatizou que as Forças
Armadas devem obediência ao poder civil. Lembrança oportuna num país que
precisa espantar de vez o fantasma das quarteladas e da tutela militar.
O ponto baixo do julgamento foi o voto de
Luiz Fux, que desprezou provas e renegou as próprias palavras ao tentar livrar
o ex-presidente e seus comparsas da cadeia. O malabarismo jurídico fará mais
mal à biografia do ministro do que à imagem do Supremo.
Alvo de uma campanha de ódio agora reforçada
por sanções do governo americano, o tribunal não se curvou e sai fortalecido
como guardião da Constituição. Que o 11 de setembro de 2025 seja a resposta
definitiva a quem tentou rasgá-la.
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