Correio Braziliense
Belém foi escolhida porque a ONU e o Brasil
quiseram destacar a Amazônia como palco central do debate climático
A realização da Conferência do Clima, a
COP30, em Belém do Pará, a partir de 10 de novembro próximo significa que o
mundo e os brasileiros resolveram descobrir a Amazônia, que sempre foi
território encoberto por lendas fantásticas, relatos de grandes contrabandos e
descobertas misteriosas de remédios que curam várias doenças. A Amazônia é
apenas uma grande floresta que recobre cerca de 50% do território brasileiro e,
naturalmente, esconde grandes jazidas de minérios, petróleo, ouro, além da
madeira de significativo valor.
Esse vasto território só se tornou brasileiro depois da Independência do Brasil. Até então era português, dirigido diretamente de Lisboa. Os brasileiros do Norte tinham pouco contato com os do Sul. A navegação entre Belém e Lisboa era mais rápida do que a que se dirigia ao Rio de Janeiro. Sob o comado de Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do Marquês de Pombal, o território brasileiro foi divido em dois: o do Norte compreendia o Grão Pará e o Maranhão as outras províncias constituíam a colônia do Brasil. Foi ele quem deu nomes de cidades portuguesas a todos os núcleos habitacionais nas margens do Rio Amazonas. Assim, um território e outro tiveram gestões diferentes e problemas únicos.
Após a Independência, navios do Almirante
Cochrane ameaçaram bombardear Belém, em agosto de 1823, se os amazônidas não
aderissem ao novo Brasil. Eles aderiram contra vontade da maioria e foram
completamente esquecidos pela Monarquia e pela República. Só em 1960, o
presidente Juscelino Kubitschek abriu a rodovia Belém-Brasília, que integrou o
Norte ao Sul. Essa rodovia foi chamada pelo ex-presidente Jânio Quadros de
estrada das onças, numa demonstração explícita de seu comportamento
reacionário. Hoje, a rodovia abriga grandes cidades ao longo de seu trajeto de
mais de dois mil quilômetros.
A atual redescoberta da Amazônia, em Belém,
envolve a 30ª edição da Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre
Mudança do Clima. É o principal fórum internacional para negociação climática,
ocasião em que os países revisam e reforçam seus compromissos de redução de
emissões, que são as Contribuições Nacionalmente Determinadas. A cúpula de
líderes mundiais ocorrerá nos dias 6 e 7 de novembro.
Os objetivos principais são avançar nas
negociações climáticas internacionais, monitorar o cumprimento do Acordo de
Paris (manter o aquecimento global abaixo de 2°C, com esforços para limitar
esse aumento a 1,5°C) e estabelecer metas mais ambiciosas para a redução do
aquecimento global. O evento também busca alinhar os compromissos de países
desenvolvidos e em desenvolvimento em relação ao financiamento climático,
garantir que as metas de redução de emissões sejam compatíveis com a ciência
climática e lidar com os impactos socioeconômicos das mudanças climáticas em
populações vulneráveis.
O Brasil foi eleito país-sede da 30ª
Conferência da ONU sobre Mudança do Clima durante a COP28, em Dubai, em
dezembro de 2023. A proposta foi feita pelo governo brasileiro ainda em 2022,
na COP27. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a escolha reflete o papel do
país como detentor da maior parte da Amazônia, bioma considerado essencial para
conter o aquecimento global.
Belém foi escolhida porque a ONU e o Brasil
quiseram destacar a Amazônia como palco central do debate climático. A escolha
é estratégica, simbólica e política: reforça a importância do bioma para o
futuro do planeta, projeta internacionalmente o compromisso ambiental do Brasil
e aproxima as negociações globais da realidade dos povos da floresta. A
ministra Marina Silva afirmou que levar a conferência a Belém mostra ao mundo
que a preservação da floresta é uma prioridade dentro do território amazônico.
A cidade deverá receber cerca de 50 mil
pessoas, incluindo chefes de Estado, diplomatas, cientistas e ativistas. Estão
em andamento obras de ampliação do aeroporto, melhorias no transporte urbano,
investimentos em saneamento e na rede hoteleira. O governo federal criou uma
Secretaria Extraordinária da COP30 para coordenar os preparativos. O desafio é
acomodar essa multidão que deverá chegar a Belém com malas, bagagens e máquinas
fotográficas. Não é sempre que se abre a oportunidade de conhecer a Floresta
Amazônica.
As discussões da COP30 serão transmitidas ao
vivo por plataformas digitais, canais de televisão parceiros e pela mídia
oficial do evento. Belém vai viver o que nunca experimentou. Ser a capital do
Brasil por alguns dias e o centro das atenções nacionais e internacionais.
Haverá oportunidades para estrangeiros fotografarem macaco e jacaré,
experimentar a deliciosa comida regional, mas também entender que na região
vivem cerca de 20 milhões de pessoas que precisam de emprego e não de discursos
de intelectuais.
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