O Estado de S. Paulo
Tudo indica que o conflito não chegará ao fim, mas a trégua tem grandes chances de perdurar
O acordo entre Israel e o Hamas ocorreu não
pelo desejo, mas por erro de cálculo do premiê, Binyamin Netanyahu. Essa é a
medida de sua fragilidade como ponto de partida para a paz entre israelenses e
palestinos, mas não implica necessariamente no fracasso da trégua.
No dia 9 de setembro, Israel bombardeou, com armas americanas, o alojamento da liderança do Hamas em Doha, quando os líderes do grupo examinavam o plano de Donald Trump. Seis pessoas foram mortas, incluindo um filho do líder do Hamas, Khalil al-Hayya. Netanyahu pensou que se safaria de mais esse golpe ao processo de paz. Afinal, em abril de 2024, um ataque aéreo israelense atingiu um veículo no campo de refugiados de Shati, em Gaza, matando três filhos e quatro netos do então líder do Hamas Ismail Haniyeh, quando ele se preparava para negociar um acordo mediado pelos EUA. Haniyeh, favorável a um acordo, acabaria morto por Israel em Teerã, em julho de 2024.
O então presidente Joe Biden, autodeclarado
“o não judeu mais sionista”, não exercia pressão decisiva sobre Netanyahu. Em
ano eleitoral, Biden era refém da narrativa segundo a qual os democratas não
apoiavam Israel tanto quanto os republicanos.
Nos primeiros meses deste mandato, Trump
propôs a expulsão de todos os palestinos de Gaza e bombardeou instalações
nucleares iranianas, em apoio à campanha israelense. Daí a autoconfiança de
Netanyahu, que subestimou a obsessão de Trump de ganhar o
Nobel da Paz e sua proximidade das monarquias
árabes, indignadas com o ataque a Doha.
Trump ficou furioso com Netanyahu e retirou o
apoio à campanha israelense. Como fornecedor das armas, e de ajuda militar de
US$ 3,8 bilhões por ano a Israel, os EUA são o único país com poder de veto
sobre as ações israelenses.
RISCO. O Hamas já havia aceitado acordos
semelhantes, propostos em maio do ano passado, e pelo enviado de Trump, Steve
Witkoff, em maio. A implacável campanha israelense serviu para convencer o
grupo de que os reféns não eram o escudo por ele pretendido.
Os partidos dos ministros Bezalel Smotrich,
das Finanças, e Itamar Ben-Gvir, da Segurança, que se opuseram ao acordo,
reúnem 14 cadeiras no Parlamento. A maioria do governo é de apenas uma. Israel
exige que o Hamas se desarme e o grupo só aceita fazer isso depois da criação
de um Estado palestino, descartada pelos israelenses. Tudo isso indica que o
conflito não chegará ao fim. Mas a trégua tem chances de perdurar, por
imposição americana e pela debilidade do Hamas. •
SEG. Oliver Stuenkel (quinzenalmente) • QUA.
Andrés Oppenheimer • SÁB. Fareed Zakaria • DOM. Lourival Sant’Anna
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