domingo, 12 de outubro de 2025

China e Corina: alertas para Lula. Por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Terras raras e Venezuela são duas cascas de banana no encontro de Lula com Trump

O namoro de Trump e Lula vai de vento em popa, mas dois novos ingredientes exigem ajuste fino: a decisão da China de proteger suas terras raras, ou minerais estratégicos, e o Prêmio Nobel da Paz para a líder da oposição na Venezuela, María Corina Machado. O Brasil, como os EUA, tem tudo a ver com terras raras e Venezuela.

O foco da agenda brasileira para o encontro Lula-Trump, olho no olho, é economia, comércio e fim das sanções contra autoridades brasileiras, como suspensão de vistos e Lei Magnitsky contra ministros do STF, mas Trump tem a sua própria agenda e é um negociador duro, que se diverte com a aflição do interlocutor.

O Brasil tem a segunda maior reserva mundial de terras raras, essenciais para tecnologias de ponta, de carros elétricos e computadores à indústria bélica, e, portanto, disputadas a tapa pelas potências. As restrições da China às suas reservas enfureceram Trump, que retalia com 100% de tarifas para produtos chineses e acende um sinal de alerta para o Brasil.

Lula nem poderá escancarar essa riqueza estratégica para “ficar de bem” com Trump e reduzir o tarifaço e as sanções, nem repetir a China e simplesmente dizer “não”, sob o risco de fechar de novo as portas e a aproximação. Um equilíbrio delicado, inclusive pelas repercussões dentro do Brasil.

Quanto à Venezuela: após o telefonema entre o chanceler Mauro Vieira e Marco Rúbio, o Departamento de Estado citou, em nota, “interesses econômicos mútuos e outras prioridades-chave da região". O recado é claro: a questão da Venezuela está na pauta e se tornou ainda mais sensível com o Nobel para Maria Corina, em meio aos avanços de Trump contra o país.

É uma saia-justa para Lula, porque esse foi um dos erros gritantes da política externa no terceiro mandato. Errou ao estender tapete vermelho para Nicolás Maduro, ao permitir as bordoadas do autocrata e rechaçar a oposição a ele. Por fim, Lula lavou as mãos. Nem Maduro, nem Corina.

Isso, porém, não significa ignorar forças navais e jatos americanos contra a Venezuela. Maduro é indefensável, mas Lula não apoiará movimentos militares aqui nas nossas barbas e usará o discurso tradicional do Brasil: conflitos se resolvem com diplomacia, não com armas.

O fato é que, tão criticado no auge da crise com Trump, o Itamaraty agora é elogiado pela eficiência e discrição, tanto que começam a pipocar as disputas por protagonismo: quem brilhou mais? Muito cuidado nessa hora. Ainda há muitos interesses, ameaças e detalhes (que não são só detalhes) em jogo. Lula é bom negociador, mas Trump não está aí para brincadeira.

 

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