O Estado de S. Paulo
Terras raras e Venezuela são duas cascas de banana no encontro de Lula com Trump
O namoro de Trump e Lula vai de vento em
popa, mas dois novos ingredientes exigem ajuste fino: a decisão da China de
proteger suas terras raras, ou minerais estratégicos, e o Prêmio Nobel da Paz
para a líder da oposição na Venezuela, María Corina Machado. O Brasil, como os
EUA, tem tudo a ver com terras raras e Venezuela.
O foco da agenda brasileira para o encontro Lula-Trump, olho no olho, é economia, comércio e fim das sanções contra autoridades brasileiras, como suspensão de vistos e Lei Magnitsky contra ministros do STF, mas Trump tem a sua própria agenda e é um negociador duro, que se diverte com a aflição do interlocutor.
O Brasil tem a segunda maior reserva mundial
de terras raras, essenciais para tecnologias de ponta, de carros elétricos e
computadores à indústria bélica, e, portanto, disputadas a tapa pelas
potências. As restrições da China às suas reservas enfureceram Trump, que
retalia com 100% de tarifas para produtos chineses e acende um sinal de alerta
para o Brasil.
Lula nem poderá escancarar essa riqueza
estratégica para “ficar de bem” com Trump e reduzir o tarifaço e as sanções,
nem repetir a China e simplesmente dizer “não”, sob o risco de fechar de novo
as portas e a aproximação. Um equilíbrio delicado, inclusive pelas repercussões
dentro do Brasil.
Quanto à Venezuela: após o telefonema entre o
chanceler Mauro Vieira e Marco Rúbio, o Departamento de Estado citou, em nota,
“interesses econômicos mútuos e outras prioridades-chave da região". O
recado é claro: a questão da Venezuela está na pauta e se tornou ainda mais
sensível com o Nobel para Maria Corina, em meio aos avanços de Trump contra o
país.
É uma saia-justa para Lula, porque esse foi
um dos erros gritantes da política externa no terceiro mandato. Errou ao
estender tapete vermelho para Nicolás Maduro, ao permitir as bordoadas do
autocrata e rechaçar a oposição a ele. Por fim, Lula lavou as mãos. Nem Maduro,
nem Corina.
Isso, porém, não significa ignorar forças
navais e jatos americanos contra a Venezuela. Maduro é indefensável, mas Lula
não apoiará movimentos militares aqui nas nossas barbas e usará o discurso
tradicional do Brasil: conflitos se resolvem com diplomacia, não com armas.
O fato é que, tão criticado no auge da crise
com Trump, o Itamaraty agora é elogiado pela eficiência e discrição, tanto que
começam a pipocar as disputas por protagonismo: quem brilhou mais? Muito
cuidado nessa hora. Ainda há muitos interesses, ameaças e detalhes (que não são
só detalhes) em jogo. Lula é bom negociador, mas Trump não está aí para
brincadeira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.