domingo, 12 de outubro de 2025

Mineração e clima, um novo protagonismo na COP30. Por Raul Jungmann,

Correio Braziliense

Não há como avançar em energias renováveis, mobilidade elétrica ou tecnologias limpas sem uma base mineral sólida

Pela primeira vez, a mineração fará parte da pauta oficial de uma Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. E essa estreia não será discreta. O setor mineral brasileiro chega à COP30, em Belém, com um compromisso ambicioso de tentar reduzir em até 90% as próprias emissões diretas de carbono até 2050.

Tive a oportunidade de participar, na última semana, da apresentação formal ao embaixador André Corrêa do Lago, presidente designado da COP30, de estudo que aponta caminhos potenciais para viabilizar essa marca, em reunião organizada pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), pela Vale pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

O estudo foi apresentado pela Coalizão Minerais Essenciais, que reúne 14 entidades representativas do setor, e significa um avanço relevante no engajamento da mineração com a agenda climática. 

A mensagem transmitida é clara: o setor mineral quer — e pode — ser parte ativa da solução para os desafios climáticos globais. Essa ambição, no entanto, não surgiu do nada. Ela se alicerça em uma compreensão madura do papel central que os minerais ocupam na transição para uma economia de baixo carbono. 

Não há como avançar em energias renováveis, mobilidade elétrica ou tecnologias limpas sem uma base mineral sólida. E o Brasil, por sua diversidade geológica e matriz energética renovável, está estrategicamente posicionado para liderar esse processo.

A Coalizão foi constituída a partir de convite da Presidência da COP30, que sugeriu que seis setores-chave da economia no Brasil (agricultura, energia, florestas, mineração, pecuária e transportes) se mobilizassem para propor caminhos de descarbonização.

No caso específico da mineração, essa meta de redução de 90% das emissões diretas até 2050 vai além de um compromisso setorial. É uma sinalização política e estratégica. Mostra ao mundo que o setor mineral brasileiro está disposto a investir em inovação, eficiência energética e responsabilidade socioambiental, contribuindo de forma efetiva para os objetivos climáticos do Brasil.

Naturalmente, essa ambição precisa estar acompanhada de um marco institucional à altura. Por isso, a ausência — até o momento — de um Plano Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos é motivo de atenção. Não por anular os avanços conquistados, mas por limitar sua consolidação.

Esse plano é essencial para organizar políticas públicas, direcionar investimentos e garantir segurança regulatória em uma área cada vez mais sensível da economia global. Minerais estratégicos como nióbio, lítio, grafite e terras raras são hoje considerados ativos geopolíticos. Estão presentes em setores tão diversos quanto a agricultura, a infraestrutura, a defesa, a tecnologia da informação e, claro, a energia limpa.

A pandemia escancarou o risco da dependência excessiva das cadeias globais de suprimento, concentradas em poucos países e fortemente influenciadas por interesses de grandes corporações transnacionais. 

Em tempos de crise — sejam sanitárias, climáticas ou geopolíticas —, essa dependência compromete a autonomia de decisões nacionais. Daí a importância de fortalecer cadeias de valor internas e regionais, especialmente em setores considerados estratégicos.

Nesse sentido, o Brasil tem a oportunidade histórica de construir uma nova narrativa para sua mineração: menos dependente da exportação de matérias-primas em estado bruto e mais orientada à agregação de valor, à sustentabilidade e à inovação. O Plano Nacional de Minerais pode — e deve — ser o instrumento que inaugure essa mudança de paradigma.

A boa notícia é que o debate avança. Ainda neste mês de outubro, conheceremos as diretrizes centrais do plano, que serão apresentadas em audiência pública na Câmara dos Deputados, sob relatoria do deputado Arnaldo Jardim. Será um passo importante para alinhar a ambição climática do setor com um projeto de país mais soberano, mais verde e mais competitivo.

Como escreveu Eduardo Galeano em As veias abertas da América Latina, muitas das nossas economias foram historicamente moldadas para alimentar o desenvolvimento alheio, à custa da nossa própria autonomia.

O compromisso que levamos à COP30, no entanto, aponta para um novo rumo. Um rumo que reconhece o papel estratégico da mineração, mas que exige, acima de tudo, responsabilidade, visão de futuro e ação coordenada.

O Brasil tem os recursos, a capacidade técnica e, agora, a disposição de seu setor mineral. Que não nos falte, portanto, o planejamento.

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