Folha de S. Paulo
A ida do deputado para o Palácio não é uma
troca como outras; tem jeito de plano estratégico
Primeiro, o presidente abre espaço em SP para
deputados do PT, depois investe na formação de um sucessor
A substituição de Marcio Macêdo (PT) por Guilherme Boulos (PSOL) na
Secretaria-Geral da Presidência não foi uma troca qualquer, como tantas outras
nestes dois anos e dez meses de governo Lula.
Guarda alguma semelhança com o revezamento de lugares entre os petistas Gleisi Hoffmann e Alexandre Padilha nas pastas das Relações Institucionais e Saúde, devido ao perfil mais esquerdista e combativo da ministra. A simetria fica por aí.
Para Boulos, o presidente Lula (PT) parece
ter projeto mais ambicioso que só o cumprimento de tarefas relativas ao desenho
ideológico da equipe palaciana, embora isso seja levado em conta.
O deputado tampouco terá a missão de se
compor com a base parlamentar. Isso é serviço de Gleisi. No que tange ao Congresso, a ele caberá estimular pressões de fora para
dentro, na defesa das pautas populares que interessam ao governo, usando sua
expertise nos movimentos sociais.
Pelo jeito, Guilherme Boulos será o ministro
a agitação e propaganda. Não por acaso, na foto do anúncio da nomeação, a ela e
a Lula junta-se o encarregado da promoção publicitária, Sidônio Palmeira. Só os três.
Mas há mais. Com a ida ao Palácio, se
cumprida a promessa de ficar até o fim deste mandato, Boulos estará fora da
eleição em São Paulo. Lá, foi o mais votado para deputado em 2022 e seus pouco
mais de 1 milhão de votos ficam à disposição da esquerda, o que significa a
chance de migrarem para o PT.
E o projeto, caso a aparência se confirme,
não pararia aí. Se reeleito, o presidente precisará de um sucessor. Fernando
Haddad (PT) tem uma modelagem específica, afeita ao centro. Boulos é
mais parecido com Lula.
Embora egresso da classe média, formou-se na
batalha das ruas liderando os sem-teto. Uma adaptação aos tempos em que não há
mais operários disponíveis à mítica de representantes das massas. Podem ser só
impressões, mas convém prestar atenção na configuração da cerimônia de posse marcada para a próxima quarta-feira.
Talvez existam pistas ali.

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