Folha de S. Paulo
Cumprir o objetivo de superávit pode ser
inviável em termos políticos ou administrativos
Novo pacote de impostos e cortes que vai ao
Congresso pode não ser suficiente
Há um zum-zum sobre o governo mudar a meta
fiscal para 2026. Quer dizer, a meta do superávit primário, a diferença
entre receita e despesa, desconsiderados os juros da dívida pública. O governo
não teria como cumprir nem mesmo a meta relaxada do "arcabouço
fiscal", pois o tamanho do corte de gastos seria inviável.
E daí? O problema é mais político do que
financeiro. Os objetivos do "arcabouço fiscal" são paliativos, se
tanto. Nas contas de verdade, os quatro anos de Lula 3 devem
ter déficit primário. A
dívida pública aumenta sem parar. Em si, a mudança da meta não vai
alterar o tamanho do problema fiscal a ser resolvido a partir de 2027.
Mas mexer na meta pode causar tumulto: alta de dólar e juros, mais expectativa de inflação, sem contar o risco de acidente maior, caso a conjuntura internacional não ajude.
No caso extremo, não mudar a meta pode
implicar contenção de despesa tão grande que partes da máquina do governo param
de funcionar (há ruídos a respeito já em 2025), não há quase investimento, não
se pagam emendas etc. Também é problema.
O zum-zum ficou mais ruidoso depois que
o governo
não conseguiu aprovar o aumento do IOF. Pode ser que o governo obtenha mais
dinheiro com os projetos que vai mandar ao Congresso nesta semana, mesmo
deixando de lado tributação de investimentos e debêntures, pois seria sabotado
pela parlamentagem, amiga de "bets" e ricos.
Se passar ao menos o pacote aguado, o risco
de mudança de meta diminuiria. Mas apenas vamos saber do tamanho real da
pindaíba já em 2026.
No papel, o governo teria de conseguir
superávit primário de 0,25% do PIB em 2026.
Isto é, receita maior do que a despesa no equivalente a 0,25% do PIB, uns R$
34,3 bilhões. Pela margem de tolerância das regras do "arcabouço", a
meta teria sido oficialmente cumprida mesmo que governo apenas equilibrasse
receitas e despesas (saldo zero). Recorde-se que, na medida do
"arcabouço", despesas
com precatórios não entram na conta (afora outros rabichos de gastos
por aí).
Economistas da Warren acreditam que o governo
não cumprirá nem o limite inferior da meta (saldo zero). Economistas do Itaú
acham que será difícil de cumprir o objetivo. Os da XP acreditam que há risco,
mas que a meta será cumprida. Os do Bradesco são mais otimistas: cumpre-se a
meta.
De quanto dinheiro se trata, quanto faltaria?
Depende também das estimativas de PIB, de arrecadação de impostos, de despesa
obrigatória (muita vez subestimada), de receitas incertas. Mas se pode dizer
que se trata de arrumar de R$ 20 bilhões a R$ 40 bilhões. Note-se que a
previsão oficial de despesa do governo federal para 2026 é de R$ 2,6 TRILHÕES.
Três dezenas de bilhões não pareceriam grande
coisa, pois. Não é bem assim. O que sobra de dinheiro depois do gasto
obrigatório é pouco, uns R$ 220 bilhões. Daí a dificuldade de cortar. Daí a
hipótese de mexer na meta.
Mais importante é que a dívida
pública vai passar de 71,7% do PIB para uns 83% durante Lula 3, mesmo
com anos de crescimento razoável e de aumento de arrecadação. Em um país
arrumado e que não redistribui renda para ricos, a dívida deveria cair em anos
de PIB e arrecadação em alta. Sim, o grosso do aumento da dívida vem da conta
de juros, que são altos por causa de problemas crônicos, de inflação, em parte
causada por Lula 3, e porque a dívida cresce (sic) e é grande em excesso.
A meta de 2026, porém, pode ser problema
político.
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