quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Por que Pacheco prefere a cadeira de Barroso no STF a ser candidato em Minas? Por Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Nome preferido por Lula para o governo mineiro, ex-presidente do Senado foi ‘atropelado’ pelo PSD e deve mudar de partido

O ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) vive uma encruzilhada política e, nos bastidores, já admite mudar de partido. Na lista das siglas examinadas estão o PSB e o MDB. Na prática, o seu próximo destino depende dos planos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas uma coisa é certa: ele não quer ficar no banco de reserva.

Pacheco sonha com a cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Sabe que Lula decidiu indicar o advogado-geral da União, Jorge Messias, para o cargo, mas espera uma reviravolta no caso.

Sem nome forte do PT para lhe dar palanque em Minas Gerais, na campanha pela reeleição, o presidente quer que o senador aceite ser candidato à sucessão do governador Romeu Zema (Novo) em 2026.

Mas por qual legenda? O PSD, partido de Pacheco, vai filiar no próximo dia 27 o vice-governador de Minas, Mateus Simões, e também já avisou que não estará com Lula no ano que vem.

Simões tem tudo para ser o nome apoiado por Zema, que, por sua vez, deixará o cargo em abril de 2026. O governador de Minas tentará se lançar ao Palácio do Planalto ou ao Senado.

Na outra ponta, o PDT filiou o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, que também estará na disputa mineira. O deputado Nikolas Ferreira (PL) ou mesmo o senador Cleitinho (Republicanos) devem representar o bolsonarismo e Aécio Neves entrará no páreo pelo PSDB.

O PT está numa sinuca de bico: não tem candidato competitivo em Minas, o que prejudica a campanha de Lula no segundo maior colégio eleitoral do País, e Pacheco – único nome cogitado pelo presidente – não parece interessado numa aventura.

Em conversas reservadas, o ex-presidente do Senado tem dito que, não sendo ministro do STF, prefere voltar para seu escritório de advocacia, em Belo Horizonte. Não pretende nem mesmo concorrer a novo mandato na Casa de Salão Azul.

O mandato de Pacheco como senador termina em janeiro de 2027. Quem está de olho nessa vaga é o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), que já foi seu amigo e hoje mal fala com ele.

Foi essa situação que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), expôs a Lula durante jantar no Palácio da Alvorada, na segunda-feira.

Alcolumbre pediu que Lula reconsiderasse o nome de Pacheco para a cadeira antes ocupada pelo ministro do STF Luís Roberto Barroso. Disse, inclusive, que, por ter sido presidente do Senado, Pacheco passaria com mais facilidade pela sabatina feita por seus pares na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Como mostrou o Estadão, Lula não se dispôs a ceder. “O presidente tem convicção de que deve indicar Messias para o STF e continua convencido de que o melhor nome para disputar o governo de Minas é o de Rodrigo Pacheco”, afirmou o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que tomou café com Lula nesta terça, dez horas após a saída de Alcolumbre do Alvorada.

Conhecido por cometer “sincericídios” políticos, Wagner observou que Lula não poderia dizer, como vem dizendo, que quer Pacheco como candidato ao governo de Minas e, ao mesmo tempo, tirá-lo desse xadrez. Na sua avaliação, isso seria como jogar a toalha em Minas Gerais.

“Tem muita futurologia aí, mas, evidentemente, se o Pacheco for candidato ao governo de Minas e não tiver sucesso, é claro que haverá gratidão a ele”, destacou o senador, numa referência à possibilidade de Lula, se reeleito, indicar Pacheco para uma outra vaga no STF. Se for por idade, o próximo ministro a se aposentar será Luiz Fux, que completa 75 anos em 2028.

A portas fechadas, Pacheco avalia que, se Lula quer mesmo que ele concorra ao governo de Minas, precisa construir uma aliança forte que sustente sua candidatura. Hoje isso não existe: sem uma frente de apoio, ele não conta nem mesmo com tempo de TV para fazer campanha.

O senador já foi das fileiras do MDB e tem convite para retornar ao partido. Em Minas, porém, o dividido MDB está mais ligado ao bolsonarismo.

O PSB, por seu turno, é uma sigla menor, sem um fundo eleitoral robusto e mais identificada com a esquerda. Pacheco quer a benção de Lula, mas sem sair do centro e mantendo o aval do Centrão. É um jogo cada vez mais complicado, sem perspectiva de final feliz para todos, e sobre o qual o presidente terá de arbitrar quando voltar de sua viagem à Ásia. Deus nos defenda.

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