O Globo
Boicote de Trump e atraso em entrega de metas
ameaçam cúpula de Belém; Lula deve ser cobrado por nova aposta no petróleo
A um mês do início da COP30, autoridades
brasileiras buscam argumentos para rebater o pessimismo que ronda a cúpula em
Belém. A agenda climática está sob ataque de Donald Trump, que voltou a retirar
os EUA do Acordo de Paris. Mas o problema seria menor se estivesse restrito ao
boicote americano. Outros grandes poluidores, como União Europeia e Índia,
resistem a apresentar metas para reduzir emissões e frear o aquecimento global.
Até aqui, apenas 62 países apresentaram suas metas voluntárias para reduzir as emissões, as chamadas NDCs. “Temos que reconhecer que estamos frustrados com os dois prazos de entrega que não foram cumpridos, inclusive por países-chave”, disse na sexta-feira o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago.
O debate sobre quem deve pagar a conta da
emergência climática também continua emperrado. O presidente Lula tem martelado
que os países ricos precisam financiar a transição energética das nações em
desenvolvimento. O problema é convencê-los a soltar o dinheiro.
Na COP15, em Copenhague, ficou acordado que a
ajuda seria de US$ 100 bilhões por ano até 2025. Os repasses nunca chegaram
perto disso. Na última cúpula, em Baku, o objetivo foi elevado para US$ 300
bilhões por ano até 2035. Hoje ninguém sabe de onde tirar a bolada.
“Mesmo que se use a contabilidade mais
criativa, a gente sabe que esses números estão muito distantes. Os países ricos
não pagaram o que deveriam pagar”, resumiu na sexta o embaixador Mauricio
Lyrio, negociador do Brasil na COP30.
Um dos maiores desafios de Belém é resolver
essa equação financeira. Para evitar um fiasco, será preciso incluir o setor
privado no rateio. Estão na mesa ideias como taxar grandes fortunas,
petroleiras e companhias aéreas — a aviação civil é responsável por 2,5% das
emissões de gases de efeito estufa.
Para o Brasil, a agenda climática pode
significar uma oportunidade única de desenvolvimento, sustenta o embaixador
Corrêa do Lago. Ele elogia os esforços do país, mas diz que é preciso acelerar
os investimentos em energias renováveis. “O fato de estamos à frente nesse
debate não garante que sempre estaremos. Às vezes a gente acha que já está tão
bem que não precisa mais progredir”, alerta.
Na COP28, em Dubai, Lula afirmou que era
preciso livrar o mundo da dependência dos combustíveis fósseis. Em novembro, o
discurso será confrontado com a decisão de buscar novas reservas de petróleo na
chamada Margem Equatorial, na foz do Amazonas. “Todos nós vivemos contradições,
e essas contradições devem ser manejadas”, disse na sexta a ministra Marina Silva,
que ficou vencida nesse debate.
O presidente ainda não havia iniciado o
terceiro mandato quando lançou a candidatura do Brasil a sediar a COP30. A
escolha de Belém virou problema com a disparada dos preços de hospedagem. Ainda
assim, o governo aposta no evento para coroar a volta do país ao centro do
palco internacional.
Em menos de um ano, o Brasil terá recebido o
G20, o Brics e a cúpula da ONU sobre mudanças climáticas. Não é pouca coisa
para um país que, há pouco tempo, teve um chanceler que negava o aquecimento
global e dizia se orgulhar da condição de pária.
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