terça-feira, 14 de outubro de 2025

Trump trouxe esperança para a guerra em Gaza, por Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Tudo ainda pode dar errado, mas o que se conseguiu até agora já é uma vitória

Mesmo com um caminho para a paz, os extremismos de ambos os lados seguirão tentando sabotá-lo

Faço minhas as palavras do presidente Lula: o acordo Israel - Hamas é "um começo muito promissor." Tudo ainda pode dar errado. Mas o que se conseguiu na segunda (13) já é uma vitória. E uma vitória de Trump.

O maior motivo para esperança foi a soltura de todos os reféns vivos que ainda estavam sob o poder do Hamas. Com este ato, o Hamas mostrou uma disposição real de dar fim ao conflito, abrindo mão da sua última cartada. Isso já cria uma situação diferente da que vigorou depois do cessar-fogo fracassado de janeiro, em que a devolução dos reféns seria feita de forma gradual. A devolução integral e imediata muda o tabuleiro.

Mesmo que tudo vá por água abaixo, um dos principais objetivos de Israel foi atingido, e os palestinos também podem respirar aliviados com a volta de milhares de presos, muitos dos quais jamais foram condenados por crime algum.

Os próximos passos são incertos: retirada gradual da presença militar israelense, desarmamento do Hamas, força de estabilização internacional, reforma da Autoridade Palestina visando os dois Estados. Nenhuma dessas ideias é nova; nova foi a conjuntura que obrigou os dois lados a negociar.

A extrema direita israelense teve que engolir o fim da pretensão de anexar Gaza e expulsar ou matar a população palestina, além de garantir uma anistia a ex-membros do Hamas. E o Hamas teve que aceitar entregar todos os reféns e se desarmar.

Para o governo Netanyahu, ficou claro que uma linha foi cruzada no ataque ao Qatar, aliado dos EUA, e que a ameaça de Trump de retirar o apoio de que Israel depende é real. Para o Hamas, a pressão é a ameaça da continuidade da guerra brutal de destruição. Israel poderia perfeitamente ir até o fim na anexação de Gaza, e Trump apoiaria caso seja o Hamas a negar um acordo. Ambos só seguirão no bom propósito se mantidos sob pressão.

Em meio a tantas incertezas, ao menos uma lição ficou clara: a escolha pelo terrorismo foi um gigantesco erro estratégico. Gaza nunca chegou tão perto da destruição total quanto na esteira dos ataques de 7 de outubro de 2023. Os palestinos têm motivos para a indignação e para lutar contra as injustiças que sofrem enquanto um povo sem Estado e sem cidadania, mas a opção pelo terrorismo apenas piora sua condição.

O Irã, o principal inimigo de Israel, está muito mais fraco. Antes de 7 de outubro, ele contava com: programa nuclear em andamento; governo aliado na Síria; grupos paramilitares alinhados a ele no Líbano (Hezbollah), em Gaza (Hamas) e no Iêmen (Houthis). Agora, o Hamas está em vias de entregar suas armas, o Hezbollah está severamente debilitado; o regime sírio caiu, altos oficiais iranianos foram mortos e o programa nuclear do país sofreu um duro retrocesso.

Na opinião pública internacional, foi Israel quem mais perdeu ao manter uma guerra tão desigual. Aumentou o número de países que reconhece oficialmente a Palestina. E tanto dentro de Israel quanto da Palestina, diminuiu o número de pessoas que acham que a convivência é possível.

O espectro dos acordos de Oslo paira sobre este cessar-fogo. Mesmo com um caminho razoável para a paz, os extremismos de ambos os lados seguirão tentando sabotá-lo. Ao ver reféns voltando pra suas famílias e a população de Gaza voltando para suas ex-casas, já pensando na reconstrução, é impossível não sentir esperança.

 

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