O Globo
Com cinco anos de atraso, Brasil sedia debate
global sobre mudança do clima
Com cinco anos de atraso, o Brasil estreia
amanhã como anfitrião de uma Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças
Climáticas. O país havia sido escolhido para sediar a COP25, em 2019. O
encontro ocorreria em Salvador, mas foi cancelado por ordem de Jair Bolsonaro.
Os ambientalistas protestaram, mas foi melhor assim. O Brasil evitou o constrangimento de receber a cúpula sob um governo que negava o aquecimento global e estimulava a destruição do verde. A outra consequência positiva viria depois: a ideia de levar a COP30 para Belém, no coração da Amazônia.
A maior floresta tropical do mundo sempre foi
citada nas negociações do clima. Mas as decisões eram tomadas a milhares de
quilômetros de distância, sem que os líderes mundiais pudessem ver e ouvir quem
vive nela.
“A grande novidade desta COP é colocar a
floresta no centro da discussão”, celebra o governador do Pará, Helder
Barbalho. Ele endossa o discurso do presidente Lula de que a Amazônia “não é só
feita de fauna e flora”. “Não adianta ficar de romantismo e achar que vamos
preservar a floresta se o povo que vive nela estiver passando fome”, diz o
paraense.
Na cúpula de líderes, realizada entre quinta
e sexta, os microfones ficaram nas mãos dos políticos. Nas próximas duas
semanas, os negociadores terão que dividir espaço com cientistas, ativistas e
representantes de povos indígenas e comunidades tradicionais.
A profusão de debates deve expor os dilemas
da vida real da região. Apesar da enorme biodiversidade, a Amazônia ainda é
refém da pobreza e de um modelo econômico que insiste na exploração predatória
dos recursos naturais.
O Pará bateu bumbo no mês passado ao
inaugurar o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia. A pretensão é
imodesta: seguir o modelo do Vale do Silício, unindo ciência moderna e saberes
tradicionais. Mas não há solução mágica para uma região com 50 milhões de
habitantes espalhados por nove países. O desafio é combinar o controle do
desmatamento com mecanismos de financiamento que estimulem a preservação da
floresta em pé.
Apesar dos problemas de infraestrutura, a
decisão de levar a COP30 para Belém tem se mostrado acertada. Os visitantes
estrangeiros não disfarçam o deslumbramento com o cenário e a culinária, e a
hospitalidade local compensa o desconforto com o calor e os preços abusivos.
O governador admite que a crise de hospedagem
“afugentou muita gente”, mas culpa o setor privado pelo problema que chegou a
motivar apelos por mudança de sede. “Isso foi o que mais nos atrapalhou até
aqui. Mas enfrentamos as críticas e conseguimos mobilizar investimentos que
levariam 20 anos para chegar a Belém”, defende, citando obras de saneamento,
urbanização e transporte que transformaram a cidade num enorme canteiro de
obras.
Com sorte, alguns imprevistos deram bons
frutos. Como a sede da cúpula não ficou pronta a tempo, as primeiras reuniões
bilaterais de Lula foram transferidas para o Museu Goeldi. Os convidados se
extasiaram com a exuberância do parque zoobotânico, habitado por aves raras,
tamanduás e jacarés. Na saída, posaram sorridentes aos pés de uma sumaúma de
120 anos, símbolo da beleza e da resistência da floresta.

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