Folha de S. Paulo
Ex-presidente comemora vitórias do partido em
Nova York e na Virgínia
Para Obama, eleição dos democratas representa o pluralismo, característica da América
"Vencemos com Abigail Spanberger,
vencemos com Zohran Mamdani. Eles são parte de uma visão de futuro",
comemorou o ex-presidente Barack Obama no
podcast Pod Save America, logo depois das eleições de 4/11.
Com a vitória de Abigail, o governo da Virgínia passará às mãos de uma ex-deputada ultramoderada, que foi agente da CIA e defende mão dura contra o crime; já a maioria dos nova-iorquinos sufragou um jovem imigrante muçulmano assumidamente socialista. Engajado na oposição ao trumpismo, o único negro a ocupar a Casa Branca pronunciou outro de seus discursos, nos quais a razão é sócia da empatia.
Argumentou que, não obstante as suas
diferenças, os dois democratas compartilham o pluralismo que, a seu ver,
representa o melhor da América.
Além das convicções pluralistas, o que faz
Spanberger e Mamdani conviverem na mesma sigla é o sistema eleitoral
majoritário que impõe o bipartidarismo. Assim não fosse, muito provavelmente
cada um deles estaria em uma agremiação que representasse melhor suas
preferências políticas. E a tarefa de somar as forças que se opõem a Donald
Trump seria bem mais difícil.
Ninguém em sã consciência é capaz de prever
como acabará a terrível experiência da Presidência nas mãos de um declarado
aspirante a ditador. Há quem acredite que os Estados
Unidos já estejam em transição rumo a um sistema autocrático baseado
em eleições, para o qual os cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel
Ziblatt, da Universidade Harvard, reservam o conceito de autoritarismo
competitivo. Há ainda quem julgue ser prematuro decretar o fim da democracia na
América: o teste final será a reação de Trump a uma eventual derrota nas urnas.
De toda forma, políticos como Obama sabem
que, para bater o trumpismo no voto, será preciso que o Partido
Democrata não opte nem pela moderação, nem por uma guinada à esquerda,
para ser o lugar, isto sim, onde Spanbergers convivam com Mamdanis. Ou seja,
que se possa somar diferentes eleitorados com candidatos de variados perfis
políticos.
A mesma tese é defendida por personalidades
próximas aos democratas, como o jornalista Ezra Klein, que pilota influente
podcast no New York Times. A ideia está longe de ser óbvia quando se está
habituado a pensar a vida partidária como perpétua queda de braço entre facções
pelo controle de recursos e pelo predomínio de suas visões políticas.
Obama e Klein sabem que os trumpistas raiz,
adeptos do Maga (Make America Great Again), são apenas uma fração da maioria
que alojou o líder da extrema direita na Casa Branca. Sabem também que a
disputa é pelos votos dos que escolheram Trump, mas não lhe outorgaram mandato
para desmantelar a democracia.
Sob um quadro institucional radicalmente
distinto, de exacerbado multipartidarismo, o desafio proposto aos democratas
por Obama e Klein lembra aquele enfrentado pelos democratas brasileiros nas
eleições de 2022. Para derrotar Bolsonaro foi preciso somar votos muito além
dos disponíveis entre os eleitores fiéis ao PT e nas esquerdas.
O mesmo será importante para vencer de vez os
candidatos que cortejam o legado do golpista.

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