O Estado de S. Paulo
A depender de Cláudio Castro, os corpos enfileirados na Penha viram cartão postal do Rio
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio
Castro, está se achando e vive seus 15 minutos de glória depois da operação
policial que resultou em 121 mortos, inclusive quatro policiais, a mais letal
da história, que, vamos combinar, não tem absolutamente nada de glorioso. Até
porque o crime organizado vai continuar ganhando a guerra.
Os 15 minutos podem evaporar rapidamente, com
o TSE julgando, a partir de hoje, um pedido de cassação de Castro por
contratações acusadas de irregulares no Ceperj, instituição que forma
servidores públicos para o governo do Estado.
O forte do currículo do governador é sua atuação como cantor e autor de músicas católicas, além do diploma em direito e os anos assessorando políticos. Ele só chegou aonde chegou ao se lançar a vice na chapa de Wilson Witzel em 2018, na onda bolsonarista.
Um dos seis governadores do Rio cassados e/ou
presos, Witzel era desconhecido, foi eleito em dois meses e meio de campanha,
assumiu defendendo “mirar a cabecinha de bandido e pou” e sumiu tão rapidamente
quanto apareceu. Castro, tão desconhecido quanto o titular, assumiu, ganhou as
eleições de 2022 e bandeou-se para o PL.
Com a operação e os 121 mortos, Cláudio Castro sentiu-se uma estrela nacional. Trocou cutucões com o governo Lula, acertou um “escritório emergencial” com o ministro Ricardo Lewandowski e recebeu com holofotes os governadores de direita para lançar o “Consórcio da Paz” – que, de paz, não tem nada e só serve para confrontar Brasília.
Por fim, reuniu-se, na véspera do julgamento
no TSE, com o onipresente ministro do STF Alexandre de Moraes. Não para falar
de flores e do processo, mas sobre a operação planejada e executada para ser de
confronto, com dezenas de mortos. Moraes, ex-secretário de Segurança Pública de
São Paulo, quis dar uma de corregedor de polícia. Inusitado.
O fato é que Castro não apenas sobreviveu à
tragédia como ganhou protagonismo, a bandeira da “segurança” e dez pontos a
mais na avaliação positiva de seu governo, graças à exaustão da sociedade com a
insegurança. Nada mal para um précandidato ao Senado, a um ano da eleição. E
ele tem mais um “trunfo”: o projeto que classifica CV e PCC como “terroristas”,
pauta do Congresso e de negociações com os EUA.
Assim como replicou Witzel com o “mirar na cabecinha e pou!”, ele está na linha do senador Flávio Bolsonaro, que disse ter “inveja” e adoraria que os EUA explodissem barcos na Baía de Guanabara sob o pretexto de combate ao tráfico, como faz nas costas da Venezuela. Os corpos enfileirados na Penha passariam a ser a nova rotina e o novo cartão postal da Cidade Maravilhosa.

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.