segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Antecipação de prisão pode forjar aliança do Centrão com bolsonarismo, por César Felício

Valor Econômico

A possibilidade de um alinhamento pleno entre os dois blocos levou deputados de esquerda a baixarem a euforia com a tão esperada prisão

As notas em redes sociais do ex-presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), e do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, preso preventivamente nesse sábado (22), são as mais sugestivas das primeiras consequências políticas de um evento esperado desde o início do ano. O Congresso Nacional deve retomar os trabalhos esta semana com uma aliança tácita entre o Centrão e o bolsonarismo para beneficiar o líder condenado.

Lira ainda mantém em mãos muitas das rédeas que operam as emendas parlamentares na Câmara e é a eminência parda na gestão do sucessor, o presidente da Câmara Hugo Motta (PP-PB). Com a centena de parlamentares da "União Progressista" (PP mais União Brasil) alinhada à oposição, Kassab é o fiel da balança que forja uma maioria parlamentar.

Na tarde de sábdo, Lira escreveu que a prisão preventiva de Bolsonaro "não se justifica" e Kassab chamou a decisão do ministro Alexandre de Moraes de "medida jurídica severa e injusta". Não indicaram caminhos, mas dificilmente haverá na segunda ou terça-feira a repetição do confronto de agosto, quando deputados bolsonaristas ocuparam os plenários da Câmara e do Senado e virtualmente fecharam o Congresso, exigindo que o projeto de anistia a Bolsonaro fosse pautado.

A possibilidade de um alinhamento pleno entre os dois blocos levou deputados de esquerda a baixarem a euforia com a tão esperada prisão. "Meu receio é colocarem para votar a anistia ou a dosimetria, montarem um monstrengo sem base constitucional. Cai no Senado ou no Supremo, mas mantém a chama acesa para jogar lenha na fogueira", comentou o deputado Rogério Correa (PT-MG).

Depois do levante de agosto a Câmara aprovou a PEC da Blindagem, que caiu no Senado diante da repercussão negativa, e o requerimento de urgência para a anistia. São muitos os projetos que preveem livrar os golpistas do 8 de janeiro, mas Motta pinçou um do deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ) de alcance mais restrito. Deu a relatoria da matéria para o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), de sabidas boas relações com o Supremo, que converteu o projeto da anistia em projeto da dosimetria.

A lógica seria a redução da pena de 27 anos de reclusão de Bolsonaro, mas sem anulação da condenação e muito menos a restauração de seus direitos políticos. A base bolsonarista não se animou a fechar um acordo nestes termos e não se sentiu forte para tentar mudar o parecer de Paulinho em plenário. O assunto saiu de pauta.

A prisão preventiva chega em um momento em que as relações das cúpulas da Câmara e do Senado estão esgarçadas com o Palácio do Planalto. Na Câmara, Motta conseguiu impor uma derrota ao governo federal e ao Supremo ao aprovar um projeto de lei que desfigurou a proposta do governo de endurecer a legislação contra organizações criminosas. No Senado, o presidente da Casa Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) conta com uma caixa de ferramentas aberta para escolher a melhor maneira de retaliar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela escolha do advogado geral da União Jorge Messias como novo ministro do STF.

Ele pode atuar para rejeitar o nome de Messias. Seria uma forma de impeachment simbólico, porque em contrato futuro, de um ministro do STF. Alcolumbre sabe que existe uma maioria na Casa para isso. Outra possibilidade de retaliação é com o destino de Bolsonaro.

 

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