Valor Econômico
A possibilidade de um alinhamento pleno entre
os dois blocos levou deputados de esquerda a baixarem a euforia com a tão
esperada prisão
As notas em redes sociais do ex-presidente da
Câmara, deputado Arthur
Lira (PP-AL), e do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, em defesa do
ex-presidente Jair
Bolsonaro, preso preventivamente nesse sábado (22), são as mais
sugestivas das primeiras consequências políticas de um evento esperado desde o
início do ano. O Congresso Nacional deve retomar os trabalhos esta semana com
uma aliança tácita entre
o Centrão e
o bolsonarismo para
beneficiar o líder condenado.
Lira ainda mantém em mãos muitas das rédeas que operam as emendas parlamentares na Câmara e é a eminência parda na gestão do sucessor, o presidente da Câmara Hugo Motta (PP-PB). Com a centena de parlamentares da "União Progressista" (PP mais União Brasil) alinhada à oposição, Kassab é o fiel da balança que forja uma maioria parlamentar.
Na tarde de sábdo, Lira escreveu que a prisão
preventiva de Bolsonaro "não se justifica" e Kassab chamou a decisão
do ministro Alexandre
de Moraes de "medida jurídica severa e injusta".
Não indicaram caminhos, mas dificilmente haverá na segunda ou terça-feira a
repetição do confronto de agosto, quando deputados bolsonaristas ocuparam os
plenários da Câmara e do Senado e virtualmente fecharam o Congresso, exigindo
que o projeto de anistia a Bolsonaro fosse pautado.
A possibilidade de um
alinhamento pleno entre os dois blocos levou deputados de esquerda a baixarem a
euforia com a tão esperada prisão. "Meu receio é colocarem para
votar a anistia ou a dosimetria, montarem um monstrengo sem base constitucional.
Cai no Senado ou no Supremo, mas mantém a chama acesa para jogar lenha na
fogueira", comentou o deputado Rogério
Correa (PT-MG).
Depois do levante de agosto a Câmara aprovou
a PEC da Blindagem,
que caiu no Senado diante da repercussão negativa, e o requerimento de urgência para a anistia.
São muitos os projetos que preveem livrar os golpistas do 8 de janeiro, mas
Motta pinçou um do deputado Marcelo
Crivella (Republicanos-RJ) de alcance mais restrito. Deu a
relatoria da matéria para o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), de
sabidas boas relações com o Supremo, que converteu o projeto da anistia
em projeto da dosimetria.
A lógica seria a
redução da pena de 27 anos de reclusão de Bolsonaro, mas sem anulação da
condenação e muito menos a restauração de seus direitos políticos. A base
bolsonarista não se animou a fechar um acordo nestes termos e não se sentiu
forte para tentar mudar o parecer de Paulinho em plenário. O assunto saiu de pauta.
A prisão preventiva chega em um momento em
que as relações das cúpulas da Câmara e do Senado estão esgarçadas com o
Palácio do Planalto. Na Câmara, Motta conseguiu impor uma derrota ao governo
federal e ao Supremo ao aprovar um projeto de lei que desfigurou a proposta do
governo de endurecer a legislação contra organizações criminosas. No Senado, o presidente da Casa Davi Alcolumbre (União
Brasil-AP) conta com uma caixa de ferramentas aberta para escolher a melhor
maneira de retaliar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela escolha
do advogado geral da União Jorge Messias como novo ministro do STF.
Ele pode atuar para rejeitar o nome de
Messias. Seria uma forma de impeachment
simbólico, porque em contrato futuro, de um ministro do
STF. Alcolumbre sabe que existe uma maioria na Casa
para isso. Outra possibilidade de retaliação é com o destino de Bolsonaro.

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