O Estado de S. Paulo
Mesmo com apoio de integrantes da cúpula do Judiciário, não há condições de reverter inelegibilidade
Jair Bolsonaro deposita em dois ministros a
esperança de ter o rosto estampado nas urnas em 2026. No Supremo Tribunal
Federal (STF), Luiz Fux é o relator de um recurso contra a inelegibilidade. Em
junho do ano que vem, Kassio Nunes Marques assumirá a presidência do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE).
Embora ambos tenham afinidade ideológica com o ex-presidente e não economizem demonstrações públicas nesse sentido, não há caminho jurídico capaz de reverter a situação eleitoral do capitão agora.
Fux votou sozinho pela absolvição de
Bolsonaro no processo da trama golpista. Foi criticado e isolado pelos colegas.
Acabou trocando a Primeira pela Segunda Turma. No novo colegiado, Nunes Marques
e André Mendonça, nomeados para o STF pelo ex-presidente e alinhados com o
pensamento da direita, poderiam formar com Fux um placar de três a dois para
derrubar a inelegibilidade imposta a Bolsonaro.
A interlocutores, Fux diz que ainda não decidiu se vai optar por esse caminho. Cogitaria, inclusive, levar a discussão ao plenário, com a presença dos 11 ministros. O ministro tem esperado o momento ideal para pautar o recurso, que está no gabinete dele desde maio do ano passado. A pessoas próximas, chegou a anunciar que negaria a apelação, mas ainda não fez isso. Não consideraria importante tratar do tema agora.
Em caráter reservado, ministros do tribunal
acreditam que ele não pautará o recurso tão cedo, mas por outro motivo: mesmo
com a inelegibilidade anulada, restaria outra decisão do TSE em vigor que
proíbe Bolsonaro de se candidatar. Além dessa, a condenação por planejar um
golpe dará ensejo a mais um impedimento, com base na Lei da Ficha Limpa.
Ou seja, se Fux decidir levar o recurso a
julgamento, poderia até garantir vitória a Bolsonaro na Segunda Turma. No
plenário, as chances seriam menores. Mas, nos dois cenários, o ex-presidente
continuaria inelegível. Seria mais um desgaste para o ministro, sem
possibilidade de ver atingido o efeito esperado.
Restaria a Bolsonaro apostar no TSE. Nunes
Marques tem se mostrado fiel ao ex-presidente em julgamentos cruciais. Nas
votações em plenário sobre o 8 de Janeiro, divergiu de Alexandre de Moraes para
absolver boa parte dos acusados e reduzir a pena dos condenados.
Mas isso não é o suficiente para salvar a pele
do ex-presidente. As apelações à Corte Eleitoral já foram negadas e não há mais
chance para a defesa apresentar outras. Por outro lado, o presidente do
tribunal não poderia tomar sozinho uma decisão para beneficiar Bolsonaro. Seria
preciso obter o aval da maioria do plenário – e isso dificilmente aconteceria.

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