O Estado de S. Paulo
Daniel Vorcaro criou um “hedge” político que consistia em levar todo mundo para a festa. Nada de novo ou original. Periodicamente alguma figura de ascensão meteórica na arte de juntar dinheiro – em geral, às custas de trouxas – garante seus negócios chamando quem está próximo do cofre e/ou da máquina pública.
O que fez o ex-banqueiro sentir-se tão à vontade foram dois fatores, um de longo prazo e o outro o resultado das novas tecnologias (leia-se redes sociais). O primeiro é o velho patrimonialismo brasileiro, na forma de agrupamentos privados apelidados de partidos que entendem como ninguém de dinheiro de trouxas (contribuintes). Tem sempre dinheiro público envolvido em manobras como as de Vorcaro e de seus antecessores.
O segundo é uma mudança antropológica,
digamos, de hábitos e valores sociais em várias instâncias. É um clima de
permissividade que se traduz na ausência de qualquer “barreira moral” quando se
constata com que normalidade se aceita hoje a mescla entre público e privado.
Não há qualquer receio de exposição da
participação de agentes públicos, inclusive do Judiciário, em farras
milionárias bancadas pela figura em ascensão meteórica.
Em certa medida o fenômeno é comparável ao do
funk ostentação, que sai do nicho original e vira mainstream –e conquista a
Faria Lima. Esbanjar milhões em festas e eventos e garantir enorme exposição
nas plataformas digitais não é feio nem causa vergonha alguma, sequer alheia. É
o sentido da coisa.
Para o governo Lula, que está tentando nas
próximas eleições fazer da Faria Lima a “cabeça” do crime organizado, mesmo
assim o escândalo do Master e seus sócios é terreno perigoso e desconfortável.
O PT está na mesma panela dos partidos do
Centrão e de direita no tráfico de influência cruzado, nas ligações pessoais
perigosas. Uma parte da matriz da operação de Vorcaro vem de reduto tradicional
do partido na Bahia.
O problema não é o grau de envolvimento
individual deste ou daquele personagem de qual partido, mas a ideia de que
vigora uma grande corrupção institucionalizada. Num ambiente de impunidade
geral. É o tipo de percepção emotiva e generalizada na qual Lula e seu partido
sempre são mencionados de forma negativa. Dificilmente será contraposta pelo
“governo da Polícia Federal que combate o crime emanado da Faria Lima”.
Apoiado em operações da PF contra o
“Grosskapital”, como se dizia antigamente, o marketing político do governo já
vinha apontando nessa direção antes mesmo da liquidação do Master.
O risco para Lula é o fato de que grande
parte do eleitorado só se lembra de uma frase quando ocorre escândalo desse
tipo. É tudo farinha do mesmo saco.

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