segunda-feira, 10 de novembro de 2025

O papel das bibliotecas escolares para o incentivo à leitura e à formação, por Ana Paula Yazbek

Correio Braziliense

Ler e falar sobre livros deveria ser uma prática cotidiana nas escolas. No entanto, a leitura, por si só, não basta.

Vivemos um momento em que a leitura, embora reconhecida por seus inúmeros benefícios, ainda não ocupa o lugar que deveria na vida das pessoas, especialmente de crianças e jovens. Segundo a sexta edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, grande parte da população tem um consumo de livros limitado, concentrado em temas religiosos, didáticos e best-sellers de impacto midiático. Nesse contexto, a escola surge como um ambiente fundamental para transformar essa realidade, promovendo o contato contínuo e prazeroso com a literatura.

Historicamente, a leitura foi instrumento de poder de instituições e grupos sociais. É essencial compreendê-la, assim como o acesso à arte, à informação e à educação, como direitos de todos, fundamentais para a democracia. Uma escola sem biblioteca comunica silenciosamente que a leitura não é importante. Mais do que um espaço físico, a biblioteca representa a oportunidade de revelar aos estudantes que a literatura é uma ferramenta vital para perceber o mundo, expressar emoções e refletir sobre si e o outro. Sua ausência priva os alunos de experiências humanas e universais, fundamentais à formação integral.

A biblioteca escolar é um recurso essencial para o desenvolvimento das atividades de leitura e pesquisa. A falta de valorização desse dispositivo de cultura e informação explica sua ausência em parte significativa das escolas, apesar de sua obrigatoriedade pela Lei 14.837/2024 e da necessidade de gestão por um bibliotecário graduado.

Para que a leitura deixe de ser obrigação e passe a ser um convite, é preciso ressignificar a relação com ela desde a infância. A escola deve criar espaços onde ler seja natural e prazeroso. Ambientes convidativos, com cantinhos acolhedores e livres de estigmas, transformam a biblioteca em ponto de encontro e estimulam o encantamento pelas páginas.

Ler e falar sobre livros deveria ser uma prática cotidiana nas escolas. No entanto, a leitura, por si só, não basta. É preciso criar estratégias que aproximem seus usos escolares dos usos sociais, favorecer a compreensão profunda dos textos e desenvolver a fluência e o hábito leitor. Nesse sentido, destaca-se o papel dos mediadores de leitura, que podem ser professores, bibliotecários ou outros educadores.

Outro aspecto importante é a ampliação do repertório, que muitas vezes se limita ao âmbito religioso, escolar ou midiático. É papel da escola, em parceria com a comunidade, promover a diversidade de temas, autores e estilos, ajudando as crianças a descobrirem que a literatura é uma fonte inesgotável de histórias, emoções e reflexões. Como lembra Chimamanda Adichie, há muitas narrativas esperando para serem contadas, e todos têm o direito e a capacidade de escutá-las e contá-las.

As bibliotecas devem construir acervos amplos e diversos, com qualidade editorial e gráfica, que estimulem a interação do leitor com as histórias e reflitam o contexto social da escola. Devem oferecer recursos que desenvolvam o letramento informacional e o pensamento crítico, sempre em diálogo com o projeto pedagógico e os interesses da comunidade escolar.

Os livros paradidáticos, embora úteis, não devem ser o único contato da criança com a literatura. A leitura de textos literários em sua forma pura dialoga diretamente com os sentimentos, estimula a imaginação e amplia a compreensão do mundo. A biblioteca deve ser um espaço de descoberta, onde emoções se manifestam e a troca de experiências acontece. Uma biblioteca vivaz, que acolhe risos, suspiros, lágrimas e descobertas, é uma ponte para o prazer de ler.

A literatura contribui para a formação da pessoa e para o conhecimento da sociedade, convidando o leitor a se confrontar com outras vozes, histórias e vivências. Assim, ele constrói sua história, memória e identidade, valorizando a diversidade cultural existente.

Transformar o Brasil em um país de leitores exige o esforço conjunto de escolas, governos, comunidades e famílias. Começa com pequenas ações: ler para as crianças, criar espaços de leitura sensível, valorizar a diversidade de narrativas e cultivar uma cultura de amor pelos livros. Uma nação leitora desenvolve cidadãos mais críticos, articulados e capazes de transformar sua realidade, ampliando o vocabulário, a capacidade de argumentar e o compromisso com uma sociedade mais democrática.

 

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