Correio Braziliense
Ler e falar sobre livros deveria ser uma prática
cotidiana nas escolas. No entanto, a leitura, por si só, não basta.
Vivemos um momento em que a leitura, embora
reconhecida por seus inúmeros benefícios, ainda não ocupa o lugar que deveria
na vida das pessoas, especialmente de crianças e jovens. Segundo a sexta edição
da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, grande parte da população tem um
consumo de livros limitado, concentrado em temas religiosos, didáticos e
best-sellers de impacto midiático. Nesse contexto, a escola surge como um
ambiente fundamental para transformar essa realidade, promovendo o contato
contínuo e prazeroso com a literatura.
Historicamente, a leitura foi instrumento de poder de instituições e grupos sociais. É essencial compreendê-la, assim como o acesso à arte, à informação e à educação, como direitos de todos, fundamentais para a democracia. Uma escola sem biblioteca comunica silenciosamente que a leitura não é importante. Mais do que um espaço físico, a biblioteca representa a oportunidade de revelar aos estudantes que a literatura é uma ferramenta vital para perceber o mundo, expressar emoções e refletir sobre si e o outro. Sua ausência priva os alunos de experiências humanas e universais, fundamentais à formação integral.
A biblioteca escolar é um recurso essencial
para o desenvolvimento das atividades de leitura e pesquisa. A falta de
valorização desse dispositivo de cultura e informação explica sua ausência em
parte significativa das escolas, apesar de sua obrigatoriedade pela Lei
14.837/2024 e da necessidade de gestão por um bibliotecário graduado.
Para que a leitura deixe de ser obrigação e
passe a ser um convite, é preciso ressignificar a relação com ela desde a
infância. A escola deve criar espaços onde ler seja natural e prazeroso.
Ambientes convidativos, com cantinhos acolhedores e livres de estigmas,
transformam a biblioteca em ponto de encontro e estimulam o encantamento pelas
páginas.
Ler e falar sobre livros deveria ser uma
prática cotidiana nas escolas. No entanto, a leitura, por si só, não basta. É
preciso criar estratégias que aproximem seus usos escolares dos usos sociais,
favorecer a compreensão profunda dos textos e desenvolver a fluência e o hábito
leitor. Nesse sentido, destaca-se o papel dos mediadores de leitura, que podem
ser professores, bibliotecários ou outros educadores.
Outro aspecto importante é a ampliação do
repertório, que muitas vezes se limita ao âmbito religioso, escolar ou
midiático. É papel da escola, em parceria com a comunidade, promover a
diversidade de temas, autores e estilos, ajudando as crianças a descobrirem que
a literatura é uma fonte inesgotável de histórias, emoções e reflexões. Como
lembra Chimamanda Adichie, há muitas narrativas esperando para serem contadas,
e todos têm o direito e a capacidade de escutá-las e contá-las.
As bibliotecas devem construir acervos amplos
e diversos, com qualidade editorial e gráfica, que estimulem a interação do
leitor com as histórias e reflitam o contexto social da escola. Devem oferecer
recursos que desenvolvam o letramento informacional e o pensamento crítico,
sempre em diálogo com o projeto pedagógico e os interesses da comunidade
escolar.
Os livros paradidáticos, embora úteis, não
devem ser o único contato da criança com a literatura. A leitura de textos
literários em sua forma pura dialoga diretamente com os sentimentos, estimula a
imaginação e amplia a compreensão do mundo. A biblioteca deve ser um espaço de
descoberta, onde emoções se manifestam e a troca de experiências acontece. Uma
biblioteca vivaz, que acolhe risos, suspiros, lágrimas e descobertas, é uma
ponte para o prazer de ler.
A literatura contribui para a formação da
pessoa e para o conhecimento da sociedade, convidando o leitor a se confrontar
com outras vozes, histórias e vivências. Assim, ele constrói sua história,
memória e identidade, valorizando a diversidade cultural existente.
Transformar o Brasil em um país de leitores
exige o esforço conjunto de escolas, governos, comunidades e famílias. Começa
com pequenas ações: ler para as crianças, criar espaços de leitura sensível,
valorizar a diversidade de narrativas e cultivar uma cultura de amor pelos
livros. Uma nação leitora desenvolve cidadãos mais críticos, articulados e
capazes de transformar sua realidade, ampliando o vocabulário, a capacidade de
argumentar e o compromisso com uma sociedade mais democrática.

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