terça-feira, 18 de novembro de 2025

Voto obrigatório afetou eleição no Chile? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

País andino reintroduziu o voto compulsório, com multa pesada para quem deixar de ir à urna

Parte dos especialistas crê que mudança pode ter acentuado tendência antissistema

A esquerdista Jeannette Jara e o ultradireitista José Antonio Kast se enfrentarão no segundo turno da eleição presidencial chilena no próximo dia 14. Como previsto pelas pesquisas, Jara chegou à frente de Kast, mas a diferença de menos de três pontos percentuais foi bem menor do que apontavam as principais sondagens.

Como a direita saiu dividida, e a esquerda, unida, a tendência agora é que o voto conservador se aglutine em torno de Kast e ele vença o pleito. Essa não seria a primeira vez que institutos de pesquisa subestimam a votação de candidatos da ultradireita, mas, no caso chileno, pode haver um outro fator que contribuiu para o bom desempenho dos postulantes mais radicais.

No que eu descreveria como uma péssima ideia, o Chile reintroduziu a obrigatoriedade do voto, o que empurrou para as urnas milhões de eleitores que não costumavam votar.

A multa para quem descumprir a determinação varia entre US$ 30 e US$ 100, o que é bem mais que os simbólicos R$ 3 que o Brasil cobra dos faltosos.

Já há algum tempo parte dos especialistas chilenos vinha alertando que a medida poderia reforçar a votação antissistema, beneficiando a ultradireita. Teremos de esperar até que cientistas políticos analisem detalhadamente os resultados eleitorais e pesquisas de razões de voto para ver se o fenômeno de fato se materializou e qual foi sua extensão.

Defendo desde sempre que o voto seja facultativo, mas o fazia por razões filosóficas (vejo o sufrágio como direito, não dever) e não de olho em resultados. Nunca descri do argumento utilizado pelos cientistas políticos favoráveis à obrigatoriedade de que quanto mais gente votando, mais representativa e menos enviesada se torna a eleição. Isso provavelmente ainda é verdade em períodos de tranquilidade democrática, mas talvez não em situações de maior estresse político.

E, se existem contextos em que forçar o cidadão a ir à urna pode reforçar o voto antissistema, então temos dois motivos e não apenas um para ficar contra a obrigatoriedade.

 

 

 

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