Folha de S. Paulo
País andino reintroduziu o voto compulsório,
com multa pesada para quem deixar de ir à urna
Parte dos especialistas crê que mudança pode
ter acentuado tendência antissistema
A esquerdista Jeannette
Jara e o ultradireitista José
Antonio Kast se enfrentarão no segundo
turno da eleição presidencial chilena no próximo dia 14. Como previsto
pelas pesquisas, Jara chegou à frente de Kast, mas a diferença de menos de três
pontos percentuais foi bem menor do que apontavam as principais sondagens.
Como a direita saiu dividida, e a esquerda, unida, a tendência agora é que o voto conservador se aglutine em torno de Kast e ele vença o pleito. Essa não seria a primeira vez que institutos de pesquisa subestimam a votação de candidatos da ultradireita, mas, no caso chileno, pode haver um outro fator que contribuiu para o bom desempenho dos postulantes mais radicais.
No que eu descreveria como uma péssima ideia,
o Chile reintroduziu
a obrigatoriedade
do voto, o que empurrou para as urnas milhões de eleitores que não
costumavam votar.
A multa para quem descumprir a determinação
varia entre US$ 30 e US$ 100, o que é bem mais que os simbólicos R$ 3 que o
Brasil cobra dos faltosos.
Já há algum tempo parte dos especialistas
chilenos vinha alertando que a medida poderia reforçar a votação antissistema,
beneficiando a ultradireita. Teremos de esperar até que cientistas políticos
analisem detalhadamente os resultados eleitorais e pesquisas de razões de voto
para ver se o fenômeno de fato se materializou e qual foi sua extensão.
Defendo desde sempre que o voto seja
facultativo, mas o fazia por razões filosóficas (vejo o sufrágio como direito,
não dever) e não de olho em resultados. Nunca descri do argumento utilizado
pelos cientistas políticos favoráveis à obrigatoriedade de que quanto mais
gente votando, mais representativa e menos enviesada se torna a eleição. Isso
provavelmente ainda é verdade em períodos de tranquilidade democrática, mas
talvez não em situações de maior estresse político.
E, se existem contextos em que forçar o
cidadão a ir à urna pode reforçar o voto antissistema, então temos dois motivos
e não apenas um para ficar contra a obrigatoriedade.
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