Folha de S. Paulo
Eventuais excessos durante o governo
Bolsonaro poderiam se justificar diante de um momento agudo de ascensão
autoritária, mas o cenário hoje é outro
Tentativas de blindagem da corte podem
agravar a crise de confiança nas instituições e, por consequência, colocar em
risco a própria democracia
O Poder Judiciário é um bastião
fundamental contra
avanços autoritários.
Por vezes, porém, como no Brasil, a missão
foi exercida com atos que extrapolaram
as prerrogativas ou que fugiram do rito processual. Está longe
do ideal que um magistrado julgue fatos em que figura
como personagem, como foi com o ministro do STF Alexandre de Moraes
e o plano Punhal
Verde e Amarelo.
Ainda assim, pode-se argumentar que o país passava por um momento de crise democrática aguda e que, fazendo valer o sistema de freios e contrapesos, a Suprema Corte respondeu aos excessos do Executivo diante de um Procurador-Geral da República omisso.
A situação era tão grave que, no segundo
turno, a PRF montou um
esquema de blitze para impedir que eleitores de Lula votassem.
Então diretor da corporação, Silvinei Vasques havia pedido votos para Jair
Bolsonaro. Na última semana, ele foi condenado
pelo Supremo pelo ato desavergonhadamente antidemocrático.
O momento, porém, felizmente passou. Não há
hoje uma ameaça iminente que justifique excessos do Supremo. Permanecem
intactas as condições sociais e políticas que permitiram a ascensão do
autoritarismo, mas não é papel da Suprema Corte tratá-las.
A defesa da democracia não pode ser pretexto
para propostas desarrazoadas como a do ministro
Gilmar Mendes, que tentou limitar na
canetada processos de impeachment contra integrantes da corte.
Também não pode servir para blindar o
Judiciário do escrutínio público. Especialmente diante de fatos preocupantes,
como a viagem do
ministro Dias Toffoli em um jato particular ao lado do advogado
de um dos diretores do Master e a contratação pelo banco do escritório da
família de Moraes por R$ 3,6
milhões mensais.
Um código de
ética seria bem-vindo para combater a crise de confiança nas
instituições. Segundo o
Datafolha, 35% consideram ruim ou péssimo o desempenho do Supremo.
São as mesmas pessoas que, descrentes do sistema, estão dispostas a abraçar
personagens autoritários como Bolsonaro.

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