sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

As costuras do PT pela reeleição de Lula. Por César Felício

Valor Econômico

Candidaturas a governador encabeçadas pelo número 13 não devem passar de nove

A divisão da oposição e o foco do bolsonarismo na disputa pelo Senado criaram uma janela de oportunidade para o lulismo avançar na construção de palanques regionais que poderão dar sustentação à candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição.

Nos últimos meses, o presidente nacional do PT, Edinho Silva, peregrinou pelo país, tentando tecer esse entramado. Já ficou definido que poucas serão as candidaturas a governador encabeçadas pelo número 13. Não devem passar de nove. São ambições partidárias modestas, dado que em 2022, disputando na oposição, o PT teve cabeça de chapa em 13 Estados. Ou, por outro ângulo, há mais ambição nas alianças.

Há combinações desenhadas em 23 dos 27 Estados em um retrato que ilustra o fato de Lula ser o único candidato presidencial consolidado no país até o início deste mês de dezembro. Na oposição, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) começa a se consolidar, mas ainda está longe de construir alianças. As candidaturas presidenciais dos governadores Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Romeu Zema (Novo-MG) permanecem como hipóteses e, enquanto assim for, desalinham as estruturas de apoios.

No cálculo do PT, a vantagem tática é temporária. O partido parte da premissa de que a polarização nacional irá se impor e as candidaturas intermediárias entre Lula e Flávio não devem se consolidar. Quem concorrer a governador desancorado dos polos nacionais, por esse raciocínio, tende a ficar para trás e chegar a novembro de 2026 se lamentando em entrevistas de que foi “vítima da polarização”.

Entre as nove candidaturas próprias do PT, uma deve ser São Paulo, onde o partido descarta apoiar o único pré-candidato a governador aliado de Lula que já se apresentou, o ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Márcio França, do PSB. Sabe-se que a eleição paulista é perdida, caso o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) concorra à reeleição, mas o objetivo é manter o patamar atingido quando Fernando Haddad disputou em 2022, e, para isso, nada melhor que o próprio.

Falta combinar com Haddad e com o PSB, que deve insistir na postulação do ministro. O fato de Haddad também ser um nome lembrado para a disputa majoritária no Senado, em que as opções governistas são poucas, também pode desviar o ministro da Fazenda da corrida pelo Palácio dos Bandeirantes.

Outro ministro de Lula pode ser escalado para a disputa de governador. No Ceará, o ministro da Educação, Camilo Santana, pode entrar em campo no lugar do governador Elmano de Freitas, caso o ex-governador Ciro Gomes (PSDB), principal adversário, consiga unificar o clã familiar e consolidar a aliança com o bolsonarismo.

Um dos maiores nós para o PT está em Minas Gerais. Demorou, mas o partido finalmente abandonou a versão local do sebastianismo, em que se aguardava o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) entrar em campo. Não haverá Pacheco e as conversas com o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PDT) não engrenaram. Os olhos voltaram-se para o presidente da Assembleia Legislativa, Luiz Tadeu Leite (MDB), e aguarda-se com expectativa novas filiações partidárias em algum partido. Um nome citado é o do ex-procurador-geral Jarbas Soares, que saiu da função em 2024. O fato é que por hora não há ninguém no segundo maior colégio eleitoral do país.

Entre os partidos aliados no plano regional, o PSD parece ser um parceiro preferencial. No Rio de Janeiro, há expectativas da concretização da aliança com o prefeito da capital, Eduardo Paes. O partido caminha para apoiar a reeleição do governador de Sergipe, Fábio Mitidieri, e já combinou o apoio ao senador Omar Aziz no Amazonas, ao vice-governador Laurez Moreira, em Tocantins, e à médica Natasha Shlessarenko, no Mato Grosso - uma aliada do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Conversas foram iniciadas para um eventual palanque duplo que contemple o prefeito de São Luís, Eduardo Braide. Ele dividirá as atenções com Orleans Brandão (MDB), sobrinho do governador Carlos Brandão.

Em Pernambuco, a situação é mais complexa porque o principal adversário da governadora Raquel Lyra é o prefeito do Recife, João Campos, presidente nacional do PSB, partido que é o mais tradicional aliado petista. O alinhamento entre PT e PSB deve se dar em todos os Estados, mesmo onde, em princípio, estarão em coligações diferentes. No Espírito Santo, por exemplo, há cuidado em não criar empecilhos para eleição do governador Renato Casagrande (PSB) ao Senado, mas não há compromisso em apoiar o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB). Em princípio, o PT lançará Helder Salomão.

Para o MDB devem ir os apoios no Pará (vice-governadora Hanna Garib) e Alagoas (ministro dos Transportes, Renan Filho), com palanque duplo na Paraíba, onde o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, deve enfrentar o vice-governador Lucas Ribeiro. Os petistas devem apoiar o MDB também em Rondônia, mas neste Estado a prioridade emedebista é manter a cadeira de Confúcio Moura no Senado.

Procurado pela coluna, Edinho diz que definir os nomes em São Paulo e Minas Gerais são os grandes desafios no momento para a sigla. “Esses Estados definem as eleições”, julga. Diz que será necessário “superar contradições” no Rio de Janeiro. “Não há dúvidas que as eleições de 2026 se darão em um cenário politicamente melhor que 2022”, comentou o dirigente.

Para Edinho, mesmo a federação formada por PP e União Brasil deve disputar o que chamou de “protagonismo de centro”, mantendo alguma distância do projeto de Flávio Bolsonaro. “O debate nos Estados deve ficar mais pragmático e menos ideológico, facilitando a montagem da tática eleitoral”, acredita.

Ele minimiza as situações de palanque duplo. “É uma dificuldade positiva, melhor que não ter palanque montado”, afirmou.

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