Valor Econômico
Candidaturas a governador encabeçadas pelo
número 13 não devem passar de nove
A divisão da oposição e o foco do
bolsonarismo na disputa pelo Senado criaram uma janela de oportunidade para o
lulismo avançar na construção de palanques regionais que poderão dar
sustentação à candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição.
Nos últimos meses, o presidente nacional do PT, Edinho Silva, peregrinou pelo país, tentando tecer esse entramado. Já ficou definido que poucas serão as candidaturas a governador encabeçadas pelo número 13. Não devem passar de nove. São ambições partidárias modestas, dado que em 2022, disputando na oposição, o PT teve cabeça de chapa em 13 Estados. Ou, por outro ângulo, há mais ambição nas alianças.
Há combinações desenhadas em 23 dos 27
Estados em um retrato que ilustra o fato de Lula ser o único candidato
presidencial consolidado no país até o início deste mês de dezembro. Na
oposição, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) começa a se consolidar, mas ainda
está longe de construir alianças. As candidaturas presidenciais dos
governadores Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Romeu
Zema (Novo-MG) permanecem como hipóteses e, enquanto assim for, desalinham as
estruturas de apoios.
No cálculo do PT, a vantagem tática é
temporária. O partido parte da premissa de que a polarização nacional irá se
impor e as candidaturas intermediárias entre Lula e Flávio não devem se
consolidar. Quem concorrer a governador desancorado dos polos nacionais, por
esse raciocínio, tende a ficar para trás e chegar a novembro de 2026 se
lamentando em entrevistas de que foi “vítima da polarização”.
Entre as nove candidaturas próprias do PT,
uma deve ser São Paulo, onde o partido descarta apoiar o único pré-candidato a
governador aliado de Lula que já se apresentou, o ministro do Empreendedorismo,
da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Márcio França, do PSB. Sabe-se
que a eleição paulista é perdida, caso o governador Tarcísio de Freitas
(Republicanos) concorra à reeleição, mas o objetivo é manter o patamar atingido
quando Fernando Haddad disputou em 2022, e, para isso, nada melhor que o
próprio.
Falta combinar com Haddad e com o PSB, que
deve insistir na postulação do ministro. O fato de Haddad também ser um nome
lembrado para a disputa majoritária no Senado, em que as opções governistas são
poucas, também pode desviar o ministro da Fazenda da corrida pelo Palácio dos
Bandeirantes.
Outro ministro de Lula pode ser escalado para
a disputa de governador. No Ceará, o ministro da Educação, Camilo Santana, pode
entrar em campo no lugar do governador Elmano de Freitas, caso o ex-governador
Ciro Gomes (PSDB), principal adversário, consiga unificar o clã familiar e
consolidar a aliança com o bolsonarismo.
Um dos maiores nós para o PT está em Minas
Gerais. Demorou, mas o partido finalmente abandonou a versão local do
sebastianismo, em que se aguardava o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) entrar em
campo. Não haverá Pacheco e as conversas com o ex-prefeito de Belo Horizonte
Alexandre Kalil (PDT) não engrenaram. Os olhos voltaram-se para o presidente da
Assembleia Legislativa, Luiz Tadeu Leite (MDB), e aguarda-se com expectativa
novas filiações partidárias em algum partido. Um nome citado é o do
ex-procurador-geral Jarbas Soares, que saiu da função em 2024. O fato é que por
hora não há ninguém no segundo maior colégio eleitoral do país.
Entre os partidos aliados no plano regional,
o PSD parece ser um parceiro preferencial. No Rio de Janeiro, há expectativas
da concretização da aliança com o prefeito da capital, Eduardo Paes. O partido
caminha para apoiar a reeleição do governador de Sergipe, Fábio Mitidieri, e já
combinou o apoio ao senador Omar Aziz no Amazonas, ao vice-governador Laurez
Moreira, em Tocantins, e à médica Natasha Shlessarenko, no Mato Grosso - uma
aliada do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Conversas foram iniciadas
para um eventual palanque duplo que contemple o prefeito de São Luís, Eduardo
Braide. Ele dividirá as atenções com Orleans Brandão (MDB), sobrinho do
governador Carlos Brandão.
Em Pernambuco, a situação é mais complexa
porque o principal adversário da governadora Raquel Lyra é o prefeito do
Recife, João Campos, presidente nacional do PSB, partido que é o mais
tradicional aliado petista. O alinhamento entre PT e PSB deve se dar em todos
os Estados, mesmo onde, em princípio, estarão em coligações diferentes. No
Espírito Santo, por exemplo, há cuidado em não criar empecilhos para eleição do
governador Renato Casagrande (PSB) ao Senado, mas não há compromisso em apoiar
o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB). Em princípio, o PT lançará Helder
Salomão.
Para o MDB devem ir os apoios no Pará
(vice-governadora Hanna Garib) e Alagoas (ministro dos Transportes, Renan
Filho), com palanque duplo na Paraíba, onde o prefeito de João Pessoa, Cícero
Lucena, deve enfrentar o vice-governador Lucas Ribeiro. Os petistas devem
apoiar o MDB também em Rondônia, mas neste Estado a prioridade emedebista é
manter a cadeira de Confúcio Moura no Senado.
Procurado pela coluna, Edinho diz que definir
os nomes em São Paulo e Minas Gerais são os grandes desafios no momento para a
sigla. “Esses Estados definem as eleições”, julga. Diz que será necessário
“superar contradições” no Rio de Janeiro. “Não há dúvidas que as eleições de
2026 se darão em um cenário politicamente melhor que 2022”, comentou o
dirigente.
Para Edinho, mesmo a federação formada por PP
e União Brasil deve disputar o que chamou de “protagonismo de centro”, mantendo
alguma distância do projeto de Flávio Bolsonaro. “O debate nos Estados deve
ficar mais pragmático e menos ideológico, facilitando a montagem da tática
eleitoral”, acredita.
Ele minimiza as situações de palanque duplo. “É uma dificuldade positiva, melhor que não ter palanque montado”, afirmou.

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