Folha de S. Paulo
Admirador de Pinochet promete criar 'corredor
humanitário de devolução' para venezuelanos
Diferente de Bolsonaro e Milei, novo
presidente chileno torna central expulsão de estrangeiros
José
Antonio Kast, recém-eleito presidente do Chile, certamente
não será um novo Bolsonaro ou Milei, mas algo muito pior. Admirador do ditador
Augusto Pinochet, já declarou que defende "qualquer situação" para
acabar com o regime de Nicolás
Maduro na Venezuela e
já adiantou que deve criar um "corredor humanitário de devolução"
para imigrantes em situação irregular, citando o caso dos venezuelanos no
Chile.
A crise da Venezuela foi fortemente influenciada pela desvalorização do petróleo no mercado internacional a partir de 2014. Dependente dessa commodity para importar itens básicos de consumo cotidiano, o país sofreu um desabastecimento generalizado. Em 2017, as sanções impostas por Trump ao país pioraram a crise econômica, fomentando uma crise migratória sem precedentes.
Em 2018, o número de venezuelanos que
abandonaram o país foi recorde. Estima-se que mais de um milhão deixou o país,
somando-se aos dois milhões que já haviam saído em anos anteriores.
Na época, Jair
Bolsonaro, então candidato à Presidência, afirmou que procuraria a ONU para
criar campos de refugiados perto da fronteira brasileira. Sua justificativa,
porém, vinha entremeada com um apelo aos direitos humanos: "Eu sou humano,
eu respeito os direitos humanos de quem está numa situação crítica, como eles
estão, mas não podemos deixar nas mãos do governo de Roraima resolver esse
problema".
Em seu primeiro mês de mandato,
Bolsonaro tirou o Brasil do Pacto Mundial para a Migração, assinado por 164 países. No
entanto, a xenofobia não foi instrumentalizada por seus apoiadores. Pelo
contrário. Bolsonaro fez questão de se mostrar receptivo aos imigrantes
venezuelanos, sobretudo a partir da "Operação Acolhida", implementada
na fronteira de Roraima.
Javier Milei,
por sua vez, encerrou as atividades do Instituto Nacional contra a
Discriminação, a Xenofobia e o Racismo, com a justificativa de que o órgão era
um "cabide de empregos" em 2024. No entanto, assim como ocorreu com
Bolsonaro, a xenofobia não era pauta central de seu discurso.
Isso mudou com José Kast. Mais do que uma
bravata, a expulsão de imigrantes foi uma das principais bandeiras de Kast
durante a campanha. Ao associar a entrada de estrangeiros ao aumento de
violência no Chile, prometeu a construção de um muro na fronteira com a
Bolívia, a expulsão de todos os imigrantes sem documentos e o recurso às forças
armadas para barrar imigrantes ilegais.
A investida em discursos xenófobos em relação
a países latino-americanos é extremamente preocupante. A xenofobia é um
elemento central dos discursos de extrema direita em muitos países, mas, até o
presente, isso não ocorria na América
Latina.
Milei já demonstrou entusiasmo com a ideia.
Não só adotou mais medidas contra imigrantes em 2025, como, logo após a vitória
de Kast, postou em suas redes sociais um mapa que mostra os países vizinhos
empobrecidos, incluindo o Brasil, e uma Argentina futurista.
Agora, graças ao presidente pinochetista, a
tragédia que se avizinha novamente na Venezuela pode motivar uma quebra de
solidariedade entre povos na região sem precedentes.

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