Folha de S. Paulo
Não há comoção sobre a dosimetria das penas
dos cerca de 950 mil brasileiros no sistema prisional
É escandaloso aliviar o lado de quem planejou
um golpe de Estado
Não há mobilização política ou comoção social
sobre a dosimetria
das penas ou as condições de encarceramento
dos cerca de 950 mil brasileiros que se encontram no sistema prisional
do país (Secretaria Nacional de Políticas Penais).
Desse amontoado de gente, uns 40% ainda nem
foram julgados, mas já estão privados de liberdade. O furto e o tráfico de
pequenas quantidades de drogas são os crimes que mais levam à prisão
provisória, ou seja, infrações que poderiam ser tratadas com medidas
alternativas. Mas não são.
Esse quase um milhão de pessoas é tratado
pior do que bicho, já que estão submetidos a condições que ferem a dignidade e
impedem (ou dificultam) a reabilitação e uma futura reintegração à sociedade.
Por que será que não há "refresco" para essa gente?
Tudo leva a crer que seja porque o grosso da
massa encarcerada no Brasil é composta por negros (70% são pretos e pardos
pelos dados do Sistema Nacional de Informações Penais), pobres, sem parentes
importantes ou contatos influentes no meio político.
E a propositura e aprovação
pelo Congresso Nacional do PL da Dosimetria, feito sob medida para
reduzir as penas aplicadas a um grupo específico de "cidadãos do bem"
(entre os quais estão um ex-presidente da República e militares de alta
patente) condenados por tentativa de golpe e ameaça ao Estado Democrático de
Direito só corrobora essa impressão ao ir na contramão da história.
Afinal, historicamente nosso parlamento atua
para endurecer a legislação penal. Ninguém passa pano para bandido preto,
pobre, sem influência política e econômica. O Pacote Anticrime (lei
13.964/2019) é um bom exemplo. A lei (15.181/2025) que agrava o crime de furto,
roubo e receptação envolvendo equipamentos de energia, telefonia, transferência
de dados e transporte, é outro.
Aliviar o lado de quem planejou um golpe de
Estado, invadiu e depredou o Palácio do Planalto, o STF e o próprio Congresso,
atentando contra a ordem democrática e a normalidade institucional, é um
escândalo.

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