O Globo
Brigitte, Marilyn e Greta Garbo, três mulheres do século XX
O ano de 2026 começará com o funeral de
Brigitte Bardot, símbolo de uma libertação feminina. Bonita e irreverente,
colecionou namorados (dez mais ou menos duradouros), transformou duas aldeias
de pescadores (Saint-Tropez e Búzios) em pontos turísticos.
Ao chegar ao Rio, linda, depois de 12 horas
de voo, deu uma entrevista coletiva e ouviu uma pergunta do repórter Orion
Neves:
— A senhora pretende ter um filho brasileiro?
Resposta rápida:
— Com quem, com você?
Bardot morreu aos 91 anos, claustrofóbica e
conservadora. Com ela, foi-se mais um pedaço do século XX. Nele, viveram mais
duas mulheres lindas e fantásticas: Greta Garbo (1905-1990) e Marilyn Monroe
(1926-1962).
Bardot e Garbo superaram as armadilhas da
celebridade. Garbo avisou: “Quero ficar sozinha” — e conseguiu. Viveu seus
últimos anos em Nova York e
fazia longas caminhadas, de chapéu, vestindo suas enormes pernas em calças
compridas; às vezes passava pela Park Avenue. La Garbo sofreu para ficar
sozinha.
La Bardot viveu o suficiente para não ser
aporrinhada. Da Garbo à Bardot, o século XX aprendeu a conviver com mulheres
famosas. No meio do caminho, Marilyn Monroe chegou ao triunfo das cocottes.
Namorou o homem mais poderoso do mundo, o presidente John Kennedy, e o irmão
dele, Robert. As pressões, e talvez suas ambições, levaram-na ao suicídio.
La Bardot conseguiu ficar sozinha e esteve, à
sua maneira, na Pasárgada de Manuel Bandeira. Teve os homens que quis, nas
camas que escolheu.
Essas três mulheres seguiram roteiros
diversos, e hoje o mundo é outro. Outro na França, nos Estados Unidos e
sabe-se lá onde mais. Menos na Inglaterra, ou, com mais precisão, na casa
reinante dos Windsors.
Lá o rei
Charles III conseguiu fazer de Camilla Shand, ex-Parker Bowles, rainha
consorte. Ela conseguiu o título que não passou pela cabeça de sua bisavó,
Alice Keppel, namorada de fé do rei Eduardo VII.
Conta a lenda que Camilla Shand, ao ser
apresentada ao príncipe Charles, disparou:
— Minha bisavó foi amante do seu bisavô, o
que você acha disso?
Não se sabe exatamente quando, mas Charles
achou a ideia boa. Seguindo a tradição inglesa, namorou-a enquanto ela estava
casada. A infidelidade de Charles envenenou seu casamento, e ele foi o primeiro
príncipe de Gales a se divorciar. Seu tio-avô foi forçado a abdicar para se
casar com uma divorciada.
Quando Lady Di morreu, em 1997, nove em dez
pessoas eram capazes de apostar que Camilla nunca conseguiria ser rainha. Ela
conseguiu, a Inglaterra mudou, mas nem tanto.
Em tempo: a infidelidade de Charles corroeu
sua popularidade. Tudo bem, e é falta de educação lembrar que, na crônica da
embaixada do Brasil em Londres, uma cama
do palacete tem fama porque nela teria sido gerado o príncipe
Harry. (Charles, ao ver o bebê, estranhou seu cabelo ruivo.)
Bardot transgrediu num tempo de transgressões. Retraiu-se quando a fama começou a incomodá-la e blindou-se defendendo os animais e seguindo uma linha conservadora. De certa maneira, acompanhou o século XX.

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