sábado, 6 de dezembro de 2025

O voo de Michelle, por Ana Luiza Albuquerque

Folha de S. Paulo

Presidente do PL Mulher reprovou publicamente aliança no Ceará a despeito de orientação do partido e aval de Bolsonaro

Se antes Jair conseguia tolher independência da companheira, hoje está isolado, fragilizado e depende de Michelle

Quando tinha 17 anos, Carlos Bolsonaro recebeu uma ingrata missão do pai: derrotar a mãe, a então vereadora Rogéria Bolsonaro, nas eleições para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Primeira mulher de Jair Bolsonaro, Rogéria se elegeu vereadora em 1992. Sua candidatura havia sido encampada pelo marido, com a premissa de que ela deveria consultá-lo e seguir suas orientações.

Em 1996 veio a reeleição e, logo depois, o divórcio de Jair. Por entender que Rogéria já não seguia suas ordens, ele sabotou sua campanha em 2000, lançando o próprio filho para roubar votos da mãe.

Carlos precisou se emancipar para a disputa. No fim, se elegeu com 16 mil votos —11 mil a mais do que Rogéria, que ficou de fora da Câmara.

Vinte e cinco anos depois, Jair é confrontado novamente com um movimento de independência de sua terceira mulher, Michelle.

A despeito de orientação do PL e do aval do próprio ex-presidente, segundo correligionários, ela reprovou em público a aliança que vinha sendo costurada no Ceará entre o deputado federal André Fernandes e Ciro Gomes.

Os três filhos mais velhos de Jair, Flávio, Carlos e Eduardo, saíram juntos ao ataque e criticaram o autoritarismo de Michelle. Ela não recuou.

Após visita ao pai na prisão, foi Flávio quem pediu desculpas. Depois, o PL anunciou que estavam suspensas as conversas com o PSDB de Gomes. Integrantes do partido de Jair avaliam que a ex-primeira-dama ganhou a militância nas redes.

Michelle não é Rogéria. Ela se transformou em um dos principais quadros do PL, turbinou a filiação de mulheres e conquistou o apreço do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto. Vai muito bem com o público feminino conservador e os evangélicos e tem a menor rejeição entre a família.

Jair não é mais Jair. Antes um deputado de nicho, do baixo clero, tinha liberdade para cortar as asinhas da ex-mulher. Agora, preso, isolado e fragilizado, não parece ter nada a ganhar –pessoal ou politicamente– de um rompimento com Michelle.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.