quinta-feira, 29 de maio de 2025

Opinião do dia - Karl Marx* - Democracia

“Dignidade pessoal do homem, a liberdade, seria necessário primeiramente despertá-la no peito desses homens. Somente esse sentimento que, com os gregos, desaparece desse mundo, e que, com o cristianismo, se evapora no azul do céu pode de novo fazer da sociedade uma comunidade dos homens, para atingir seus fins mais elevados: um Estado democrático.”

*Karl Marx (1818-1883), Euvres, III, Philosophie, p. 383, citado em “A democracia contra o Estado”, p.54. Editora UFMG, 1998.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Agressão a Marina promove agenda da devastação

O Globo

Debate sobre impacto ambiental deve ser feito com argumentos técnicos. Ofensas a ministra são inaceitáveis

Foram vexaminosas as ofensas desferidas contra a ministra do Meio AmbienteMarina Silva, em audiência da Comissão de Infraestrutura do Senado. Seu depoimento deveria tratar da atuação de órgãos ambientais na análise do pedido da Petrobras para pesquisas na Margem Equatorial, mas descambou para temas alheios ao objetivo. O resultado foi um show de desrespeito e grosseria que não se coaduna com o exercício da atividade parlamentar. Nada a ver com debate de ideias. Sem ser socorrida nem mesmo pela base governista, Marina deixou a sessão sem ter recebido sequer um pedido formal de desculpas.

O céu vira um inferno - Merval Pereira

O Globo

Impressionou a cara de pau de alguns senadores, que a trataram de maneira vil, sem o menor constrangimento, sem pudor, com grosseria inaceitável

O Senado Federal foi descrito certa vez pelo antropólogo Darcy Ribeiro como “o céu na terra”, para o qual podia-se entrar sem morrer. Referia-se ao longo período do mandato, de oito anos (que podem virar dez pela reforma proposta), e ao alto nível dos debates parlamentares. Lá reuniam-se os grandes líderes que chegaram ao ápice da carreira política depois de passar, na maior parte dos casos, por todos os degraus.

Eram ex-governadores, líderes regionais, grandes oradores, como Tancredo Neves, Paulo Brossard, Afonso Arinos, Teotônio Vilela, ex-presidentes da República e outros que pontificavam nas tribunas, não raro atraindo a atenção de parlamentares e do público. Hoje, as tribunas são ocupadas por jogadores de futebol, influencers, artistas de diversos quilates, que têm votos por razões outras que não as qualidades de grandes líderes políticos ou a oratória.

O STF na armadilha de Trump - Malu Gaspar

O Globo

O anúncio do secretário de Estado de Donald Trump, Marco Rubio, de que seu governo restringirá vistos de entrada no país para autoridades estrangeiras que censurem americanos, colocou mais um tijolo no caminho da crise que se desenha entre Brasil e Estados Unidos. Ainda não é uma medida extraterritorial, como se diz na diplomacia para definir a natureza das sanções econômicas que vêm sendo estudadas por lá contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STFAlexandre de Moraes.

Por enquanto, Trump legisla sobre seu próprio território. Mas o próprio Rubio já avisou na semana passada, no Congresso americano, que havia grande possibilidade de Moraes ser atingido pela “pena de morte financeira”, como é chamada a lei que exige das instituições e empresas com interesses nos Estados Unidos o corte de todo e qualquer relacionamento comercial com seus alvos.

Grossi aponta os riscos da ordem nuclear - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Que garantias há de que o Irã, ao abrir mão de seu programa nuclear, não ficará mais suscetível a um ataque israelense?

Em 1994, o memorando de Budapeste, do qual quatro países são signatários, Estados Unidos, Rússia, Reino Unido e Ucrânia, assegurou a este último que, ao abrir mão das armas nucleares soviéticas, estaria protegido de ataques. Menos de 30 anos depois, o memorando foi descumprido com a invasão russa e o debate na política ucraniana passou a ser guiado por uma pergunta: se o país não tivesse devolvido as armas nucleares, teria sido invadido?

A Ucrânia poderia ter ido para os ares antes porque não teria como manter em condições de segurança aquele arsenal, mas isso não impede que a pergunta se estenda ao Irã, hoje pressionado a abrir mão de seu programa nuclear. Que garantias há de que, ao fazê-lo, o país não fique mais suscetível a um ataque israelense?

Renúncia fiscal está subestimada, aponta Fazenda

Jéssica Sant’Ana e Beatriz Olivon / Valor Econômico

Dados declarados por empresas beneficiadas em 2024 acendem alerta de ministério

O Ministério da Fazenda identificou que a renúncia de arrecadação do governo federal devido a benefícios tributários concedidos a setores da economia - chamada tecnicamente de gastos tributários - deve ser maior do que os números que vinham sendo estimados pela Receita Federal na peça orçamentária.

A situação, segundo técnicos da pasta, foi evidenciada a partir da criação da Declaração de Incentivos, Renúncias, Benefícios e Imunidades de Natureza Tributária (Dirbi), criada pela Receita Federal em 2024, obrigando as empresas a declararem o quanto usufruem de benefícios fiscais.

Há alguns exemplos que mostram essa subestimação, segundo tabela do governo obtida pelo Valor. No caso dos benefícios tributários para agricultura e agroindústria, as empresas declararam em 2024 terem usufruído de R$ 158,3 bilhões, enquanto o fisco esperava renúncia de R$ 58,9 bilhões. Para este ano, a previsão da Receita é de R$ 83 bilhões de gasto tributário com o setor, quase a metade do que as empresas usufruíram em 2024.

Haddad: ‘Não há, no momento, alternativas ao aumento da alíquota do IOF’

Caetano Tonet e Jéssica Sant’Ana / Valor Econômico

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na noite desta quarta-feira (28) que o governo não tem outra alternativa de receita para cobrir o rombo que seria aberto caso o decreto que aumentou as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) seja revogado pelo Congresso Nacional.

A declaração foi dada pelo ministro após reunião com os presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), respectivamente. O ministro disse que, durante a reunião, explicou para os chefes do Parlamento que uma derrubada do decreto na íntegra elevaria a contenção de despesas para mais de R$ 50 bilhões. Atualmente, a contenção é de R$ 31,3 bilhões.

"Nós ficaremos em um patamar bastante delicado do ponto de vista do funcionamento da máquina pública", afirmou Haddad a jornalistas, após a reunião, que começou por volta das 20h e durou duas horas. Ele disse que, para este ano, o governo não tem outra alternativa de receita senão o aumento do IOF para garantir o cumprimento das regras fiscais.

Derrotado por antecipação, o governo já pensa em desistir de aumentar o IOF – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Qualquer bom gestor público sabe que um corte de 2% nas despesas não é o fim do mundo, mas uma opção por austeridade, eficiência, transparência, ou seja, produtividade

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, admitiu que a equipe econômica estuda alternativas que possam substituir o aumento do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), diante das pressões do setor produtivo e financeiro e da perda de sustentação política no Congresso, a partir do momento em que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), se manifestou publicamente contra o aumento.

Durigan é o integrante da equipe econômica com mais credibilidade junto ao mercado financeiro e admitiu que o governo pode recuar das propostas após reunião com o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, e com os dirigentes dos maiores bancos privados do país no Ministério da Fazenda. Todo o empresariado está repudiando a medida, que atinge fortemente a indústria e, também, a grande massa de empreendedores.

O IOF e a cor do gato - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Um leitor escreveu que não entende a insistência desta Coluna em levantar objeções ao uso de um imposto regulatório, no caso, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), para fins arrecadatórios: “Que diferença faz a cor do gato se ele é bom caçador de ratos?”, ponderou ele, lembrando citação atribuída ao líder chinês Deng Xiaoping. Neste caso, ser bom na caçada de ratos tem a ver com o combate ao rombo.

O IOF foi criado para regular o fluxo de moeda ou de investimentos, dentro do País ou para o exterior, quando necessário. Não é o único imposto dessa natureza no Brasil. O Imposto sobre Importações (tarifas alfandegárias) também tem essa finalidade. Serve para conter ou liberar o fluxo de mercadorias (ou serviços) para garantir a competitividade do produto nacional. Quando existente, o Imposto sobre Exportações é outro que cumpre a função. Na Argentina, as tais retenciones sobre exportações de grãos ou de carne funcionam como imposto arrecadatório. No Brasil, funcionou no passado nas exportações de café ou de açúcar – os confiscos.

Sobre a barulheira e a verdade dos fatos - Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

As plataformas descartaram os fatos e a razão para ficar com a gritaria e a barulheira. O jornalismo segue a trilha oposta

A crise que se abateu sobre a imprensa veio como um armagedon que atingiu o coração do chamado “modelo de negócio” dos jornais e das revistas. As receitas de publicidade debandaram e foram se aboletar nas tais plataformas sociais (ou antissociais, como já disse Marcia Tiburi). As redações ficaram falando sozinhas. É verdade que algumas conseguiram aumentar o faturamento com a venda de assinaturas (o New York Times, por exemplo, tem hoje uma carteira de 11,6 milhões de assinantes, quase todos assinantes digitais; apenas 600 mil recebem o jornal impresso na porta de casa). A grande maioria dos diários, porém, ficou à míngua, assim como a grande maioria das revistas. Tempos de penúria.

Moraes e a tempestade perfeita - William Waack

O Estado de S. Paulo

As sanções americanas vêm de longe, são amplas e muito perigosas

As sanções que o governo americano está anunciando contra quem considere “cúmplice de censura a americanos” são muito mais abrangentes e precedem a volta de Trump à Casa Branca. O nome de Alexandre de Moraes monopoliza o noticiário brasileiro a respeito de sanções, mas ele não está no centro delas.

Há dois componentes que sustentam essa política, e o que se acentuou com Trump foi o ideológico. A ideia de que é necessário atacar por meios financeiros quem o governo americano identifique como “adversário” já vem desde a época de Obama. É um sistema de ferramentas que se poderia abrigar sob o título “defesa de interesses nacionais”.

'Trump Sempre Arrega' e Trump ataca o mundo e o Brasil - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Mercado faz piada com recuos do presidente, que agride outros países e direitos, no entanto

Um jornalista do britânico "Financial Times" fez troça dos recuos de Donald Trump na guerra comercial: "Trump Always Chickens Out" ("Trump Sempre Arrega", "Sempre Amarela" ou, polido e impreciso, "Sempre se Acovarda").

A expressão pegou, transformou-se no acrônimo "TACO" e passou a denominar, de modo meio sarcástico, o que seria uma estratégia financeira (um "trade") para lidar com idas e vindas nos impostos de importação.

Previsível, Trump reagiu. Disse que não "arrega"; que ameaçar tarifas "ridículas de altas" é tática de negociação. Hum. Mas Trump teve de se render a pressões da grande finança e da grande empresa americana logo depois do tarifaço do "Dia da Libertação", 2 de abril. Causou tal baderna que donos do dinheiro passaram a achar que havia risco de financiar o governo dos EUA. O mercado de títulos da dívida pública americana é o grande poço da poupança financeira mundial, tido até faz pouco como grande, seguro e líquido.

Senado violentou Marina para boiada passar - Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Senadores usam a força para tentar calar a ministra

O que os senadores fizeram contra Marina Silva na terça-feira (27) tem nome e sobrenome: violência política de gênero. No país que em 2024 registrou 1.459 vítimas de feminicídio, o maior índice da série histórica, o senador tucano Plínio Valério (AM) pensou ser boa ideia se negar a se desculpar por ter desejado, em março, enforcar a ministra.

O presidente da Comissão de Infraestrutura, o bolsonarista Marcos Rogério (PL-RO), afirmou que a ministra deveria pôr-se no seu lugar. Se o Brasil fosse sério, ambos já teriam sido repreendidos por quebra de decoro pela presidência da casa legislativa a que pertencem. A realidade, no entanto, é que casos similares acumulam notas de repúdio e nenhuma ação.

Licença para devastar - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Projeto é recuo de décadas no arcabouço legal para o meio ambiente

O Projeto de Lei Geral do Licenciamento Ambiental (PL 2.159/21) atravessou os corredores do Congresso, no percurso entre o Senado e a Câmara, cabendo a esta a apreciação final. Caso o projeto passe como veio, os parlamentares terão promovido um recuo de décadas no arcabouço legal que ancora a política para o meio ambiente no país.

Ninguém disputa a necessidade de dotar o Brasil de uma legislação adequada na área. Trata-se de antiga demanda dos ambientalistas em face da barafunda de regras criadas ao sabor das circunstâncias, que tornam difícil, para dizer o mínimo, compatibilizar empreendimentos privados e públicos com a proteção do patrimônio ambiental e do bem-estar da população atingida.

Ações de Trump expõem contradições da direita sobre liberdade de expressão - Angela Pinho

Folha de S. Paulo

Republicano anuncia medida que pode atingir Moraes, mas esquerda tem oportunidade inédita para surfar no tema

Bolsonaristas comemoram o anúncio do governo Trump de restringir o acesso aos Estados Unidos a quem "censurar" americanos, o que deve atingir o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

A medida expõe mais uma vez como a direita se apropriou nos últimos anos da bandeira da liberdade de expressão. Mas ações recentes do republicano nos EUA têm colocado em xeque a credibilidade dessa narrativa e a possibilidade de direitistas em todo o mundo se apropriarem dela.

Em menos de cinco meses, o governo Trump barrou agência de notícias na Casa Branca, promoveu prisões com ameaça de deportação de estudantes que apoiam a causa palestina, cortou financiamento de universidades não alinhadas com sua visão de mundo e anunciou que fará uma checagem das redes sociais de candidatos ao visto estudantil.

Não deixe a corte morrer, não deixe o STF acabar - Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

Barroso deu a inimigos do tribunal a mais escrachada imagem do escárnio

Luís Roberto Barroso é dotado de altas habilidades. Simpático, inteligente e cosmopolita, frequenta palcos internacionais como nenhum ministro do STF. Professor e autor, ensinou a mim e a gerações de estudantes a valorizar a Constituição de 1988.

Não temos por que duvidar de suas boas intenções, tão hiperbólicas quanto seus equívocos.

Barroso foi filmado em jantar beneficente na casa do presidente do IFood. Abraçados, cantavam Alcione e Tom Jobim. Nada muito novo em relação ao hábito de confraternizar socialmente, não só de recepcionar institucionalmente, a cúpula do poder corporativo e político. Quase todos os ministros praticam, mas sempre foi e sempre será ilícito ético. Hábito degradante para a autoridade da corte.

Hoje e então; como era e como é - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Uma coisa se tornou ridiculamente outra e vice-versa, e precisamos aprender a conviver com isso

Carmen Veronica, fabulosa vedete do teatro rebolado dos anos 1960, disse tudo: "Naquele tempo se enfiava a bunda dentro do biquíni. Hoje se enfia o biquíni dentro da bunda". A atriz Camila Amado resumiu a nova e difícil situação em sua profissão: "Quando jovem, eu fazia teatro para ganhar dinheiro. Hoje, preciso ganhar dinheiro para fazer teatro". E Tom Jobim assim definiu a diferença entre o Brasil e o Japão: "O Japão é um país paupérrimo com vocação para a riqueza. O Brasil é um país riquíssimo com vocação para a pobreza".