domingo, 21 de setembro de 2008

Soberania e investimentos


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


NOVA YORK. A crise no mercado financeiro mundial trouxe novamente para o centro das discussões o papel dos fundos soberanos de países emergentes, principalmente asiáticos, reservas financeiras controladas por governos que geram divisas com exportações de commodities. O Morgan Stanley, o segundo maior banco de investimento dos EUA, pode vir a ter 49% de seu capital controlado pelo fundo soberano chinês China Investment Corporation, que hoje já tem 9,9% do banco, comprados por US$10 bilhões em dezembro do ano passado. Outros fundos, como o Abu Dhabi Investment Authority, dos Emirados Árabes Unidos, têm participação em bancos como o Citigroup, ou o Government Investment Corporation, de Cingapura, no grupo suíço UBS.

Apesar de não serem figuras novas no mercado internacional, a participação dos fundos soberanos nos investimentos estrangeiros diretos cresceu muito nos últimos anos. Essas entidades governamentais controlam cerca de U$3 trilhões em investimentos, e esse número pode chegar a U$12 trilhões em 2015. O maior desses fundos, o de Abu Dabi, controla aproximadamente U$875 bilhões.

Essa promoção de posição no contexto econômico internacional dos países emergentes provoca profundo incômodo em setores da sociedade americana, que temem que atrás do crescente poder financeiro venha uma também crescente ambição política.

A nova geopolítica mundial, ou o que o ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger chamou de "quebra do modelo tradicional de soberania" tem a ver claramente com o crescente poder dos fundos soberanos, investimentos que têm tido papel fundamental na economia globalizada, e encontram muitas resistências, especialmente das empresas privadas, à medida que se tornam participantes destacados do mercado financeiro internacional.

A regulamentação desses investimentos está sendo estudada em diversos países, em resposta ao aumento de importância de empresas estatais e dos fundos soberanos no mercado internacional, e será tema de um seminário na Universidade Columbia, promovido pela Universidade de Direito em conjunto com o Instituto de Comércio da Universidade de Fribourg, na Suíça e a Universidade Nankai, da China.

O seminário pretende colocar em discussão questões fundamentais sobre o papel dos investimentos dos fundos soberanos: como seu comportamento difere do dos investidores privados ? Até que ponto essas entidades controladas por governos, sejam de países emergentes ou desenvolvidos, são dirigidas pelo objetivo de maximizar lucro ou são politicamente direcionadas?

O surgimento dessas entidades governamentais pode levar a uma legislação mais rígida em relação aos investimentos estrangeiros, ao contrário da tendência de liberalizar a legislação? Como os legisladores conciliarão as tensões entre a segurança nacional e a necessidade de os investidores terem uma segurança regulatória?

A partir de 2007 várias medidas preliminares já foram tomadas pelos países desenvolvidos para fazer face ao crescente papel desempenhado pelos investimentos desses fundos soberanos. Os Estados Unidos, e diversos países como a Alemanha e a Coréia do Sul estão revisando suas regras, e as instituições internacionais, como o FMI e a OCDE estão estabelecendo normas de transparência para esses investimentos, de maneira a uniformizar os procedimentos.

Diante da crise internacional, no entanto, esses países estão diante de uma situação paradoxal, pois ao mesmo tempo em que resistem ao crescente papel desses fundos soberanos, precisam de seus investimentos, pois representam "capitais estáveis e de longo prazo", que reduzem a volatilidade dos mercados.

Mas existem resistências ao investimento em setores sensíveis, como o mercado de câmbio, que poderia afetar o relacionamento entre os governos. Um "código de conduta" voluntário, que estabeleça claramente a vontade desses fundos soberanos de evitar abusos na especulação, e manter a política fora das decisões de investimento, é uma sugestão que volta e meia surge nos debates internacionais sobre o tema.

A contrapartida a um código de conduta desse tipo seria a decisão dos países que recebem investimentos de deixarem claro que não bloqueariam investimentos de fontes estrangeiras, inclusive os fundos soberanos, por motivos políticos.

Os aspectos puramente políticos da questão começam a ser levantados aqui diante do agravamento da crise econômica, e seus reflexos mexem, sobretudo, com setores conservadores, que consideram que os Estados Unidos estão ficando vulneráveis ao avanço desse capital de países asiáticos, especialmente a China, tornando-se presas fáceis de governos autoritários.

Um dos temas mais polêmicos da campanha presidencial é a necessidade de o país se libertar da dependência de energia, sobretudo o petróleo, cujos principais fornecedores são os países árabes. Quando a dependência torna-se financeira, e permite a entrada desses mesmos países em setores estratégicos, essas questões políticas vêem à tona com ênfase.

Ensaios sobre a crise


Nas Entrelinhas :: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

A China parece ser o único candidato plausível para substituir os Estados Unidos e tornar-se a principal força condutora da economia capitalista global. Será?

É um equívoco confundir a globalização com o neoliberalismo, a implementação das idéias monetaristas de Milton Friedman, dos EUA, e de Friedrich August Von Hayek, da Grã-Bretanha, após a crise do petróleo de 1973. Como os governos não conseguiam financiar os gastos públicos do Estado de bem-estar social que surgiu após a II Guerra Mundial, os dois economistas defenderam sua retirada da economia como forma de combater os déficits públicos, equilibrar as balanças comerciais e controlar a inflação. A tese funcionou. Margareth Thatcher, na Inglaterra, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos, lideraram a reforma conservadora que promoveu um longo ciclo de crescimento mundial e implodiu a União Soviética. Foram 30 anos de hegemonia, cujo colapso político pode ser atribuído ao militarismo do republicano George Bush, que se atolou nos cafundós do Iraque e do Afeganistão. No plano econômico, a desregulamentação do mercado financeiro entrou em parafuso nos Estados Unidos. A bagunça fez a casa cair. Tudo o que é sólido se desmancha no ar, mas a globalização continua.

Samuelson

Qualquer estudante de economia conhece as idéias de Paul Samuelson, Prêmio Nobel de 1970, autor do manual de economia mais estudado no mundo. Decano da escola keynesiana, já publicou três artigos sobre a crise. O primeiro foi em novembro passado, no NY Times, no qual defendeu a ação do governo para controlar o mercado. No segundo, no mesmo órgão, lembrou que o Japão pagou muito caro pela “bolha” do mercado imobiliário dos anos 1980, numa longa estagflação. Na semana passada, no Tribune Media, o velho professor comparou a política de Bush no Iraque e no Afeganistão aos fracassos De Gaulle na Argélia e de Eisenhower, Kennedy, Johnson e Nixon no Vietnã. Relembrou as lições da Grande Depressão: “O capitalismo puro não pode evitar alguns ciclos econômicos. Tampouco pode se contar com o ‘laissez-faire’ dos mercados para cuidar dos próprios males”. Para ele, o governo precisa fazer tudo para evitar a estagflação.

Soros

O megainvestidor Geogr Soros adora ganhar dinheiro com crises. Seu livro sobre o assunto, New Paradigm For Financial Markets: The Credit Crisis of 2008 and What it Means (O novo paradigma para o mercado financeiro: a crise de crédito de 2008 e o que ela significa), virou um best-seller. Ele avisa que a crise está longe de acabar. Existiria uma “superbolha” no mercado financeiro, criada pelo que chama de “fundamentalismo de mercado”. Todas as crises financeiras, desde a primeira do México, em 1982, foram conseqüência do dogma de que os mercados são capazes de se auto-regular. “Para conseguir que os bancos tapassem os buracos em suas balanças de pagamento, estas instituições receberam permissão para buscar novos modos de fazer dinheiro. Também foram encorajados a jogar esses prejuízos para fora de suas folhas de balanço e repassar, vender papéis das dívidas para outros, para recuperar recursos. Assim, imaginava-se que fossem compensados”, explica Soros. Segundo ele, regras após regras foram abandonadas. “O resultado foi o surgimento de um mercado financeiro disfuncional, com segmentos particulares completamente sem supervisão e fazendo negócios absurdos”. Para Soros, o mercado e suas instituições devem cumprir regulamentações e ser supervisionados.

Minqi Li


O chinês Minqi Li ensina economia na Universidade de Utah, em Salt Lake City. Escreveu um ensaio intitulado “Uma era de transição: os Estados Unidos, a China, o pico petrolífero e o fim do neoliberalismo”, no qual endossa as teses de Immanuel Wallertein de que o neoliberalismo morreu. Mas faz um paralelo muito interessante sobre as relações entre os Estados Unidos e a China. “Como à Eurozona falta impulso de crescimento e o Brasil, Rússia e Índia permanecem relativamente pequenos para desempenhar papéis decisivos na economia global, a China parece ser o único candidato plausível para substituir os Estados Unidos e tornar-se a principal força condutora da economia capitalista global. Poderá a China conduzir o capitalismo mundial a um outro período de estabilidade e crescimento rápido?”, indaga. Após meados dos anos 1990, o neoliberalismo deparou-se com a resistência crescente por todo o mundo. Muitos governos estão restaurando a regulação estatal e a proteção social, como é o caso brasileiro.

“Provavelmente observaremos um retorno ao domínio keynesiano ou às políticas capitalistas de Estado por todo o mundo”, prevê Minqi Li. Para ele, porém, o ambiente global está à beira do colapso. Não há mais espaço ecológico para outra grande expansão do capitalismo com base no padrão energético atual. Além disso, a China optou por uma via perversa de expansão: sua produção é muito maior do que a procura mundial e não pode ser suportada pela oferta de energia e matérias-primas. A crise global também baterá à porta dos chineses e a saída será reorientar sua produção industrial para um mercado interno cujo consumo de massas hoje é limitado pelos baixos salários.

Café com leite


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


O segredo é de polichinelo. Tanto que o líder do PSDB na Câmara, deputado José Aníbal, na quinta-feira deu oficialmente com a linha nos dentes e saiu dizendo que a oposição seria “imbatível” se disputasse a eleição de 2010 com uma chapa tucana puro-sangue: José Serra para presidente e Aécio Neves de vice.

O deputado não inventou nem inovou. A idéia vem sendo cogitada há algum tempo na seara oposicionista e agora já começa a ser discutida como uma possibilidade real. A única capaz de levar a oposição de volta ao Palácio do Planalto e impedir o presidente Luiz Inácio da Silva de eleger seu sucessor.

No campo da elaboração teórica é de uma lógica impecável: abandona o mito de que a união de partidos diferentes aumenta a chance de vitória e adota o princípio da unidade regional juntando os governadores de São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais do País.

Em números redondos e aproximados, o Brasil tem pouco mais de 130 milhões de eleitores, sendo 30 milhões paulistas e 14 milhões mineiros. Somam 44 milhões e resultam em cerca de um terço do eleitorado brasileiro.

De posse desse capital, reza a fórmula em discussão, daria para enfrentar com folga o favoritismo de Lula, notadamente no Nordeste, sem contar a expectativa de boa pescaria ao Sul, a partir do Paraná.

Ainda no terreno das idéias, Serra firmaria com Aécio o compromisso de não disputar um novo mandato, se eleito, deixando a vaga para o colega em 2014. Não por acaso nem por motivo diverso, o governador de São Paulo continua insistindo em patrocinar uma proposta de emenda constitucional extinguindo a reeleição para presidentes, governadores e prefeitos.

Tendo em vista a inexistência de tempo hábil e consenso para aprovar algo no gênero a fim de que a próxima eleição presidencial já se dê sob a nova regra, Serra defende a tese para afirmar seu comprometimento com ela, ainda que na condição de voto vencido.

Conta com a vantagem moral de ter ficado contra a reeleição quando o PSDB usou do poder da Presidência para tornar constitucional o direito a dois mandatos consecutivos, com validade imediata para propiciar o benefício a Fernando Henrique Cardoso.

O DEM, teoricamente pretendente à vaga de vice, não apenas concorda em deixar o lugar para Aécio como é dos mais entusiasmados com essa possibilidade. Afinal, sabe bem como a Esplanada dos Ministérios dispõe de campos mais férteis que a vice a serem explorados.

E por que para Aécio seria um bom negócio ser coadjuvante no Executivo quando poderia ser protagonista no Legislativo, como presidente do Senado, por exemplo?

Na visão de companheiros de partidos e correligionários de possíveis alianças, porque no Senado há embates e desgastes inexistentes para um vice-presidente.

Além disso, teria alguma função especial na área onde exercita melhor seus dotes políticos de “ajeitador” de contrários e poderia circular por toda parte em missões de representação mais adequadas ao temperamento do mineiro que à personalidade do paulista, pouco dado a festejos.

Posto dessa forma, parece tudo muito bonito, colorido e até mesmo resolvido. Mas por ora há apenas o método, faltando ainda resolver o principal: a remoção dos obstáculos para sua execução. O mais pesado deles, no momento, é justamente o governador Aécio Neves, com quem as coisas precisam ser muito bem combinadas antes de ser anunciadas.

O governador de Minas está ciente da dianteira de Serra dentro e fora do partido, mas não ignora sua força de líder hoje com domínio político absoluto sobre um Estado (não é o caso de Serra em São Paulo) e com nítido trânsito de preferência entre setores do empresariado e mesmo partidários. Aécio, portanto, continua candidato a presidente até que o quadro se confirme ou se modifique.

O menos interessado em assumir o projeto sem que esteja sacramentado e, de preferência, com Aécio Neves escolhido para lançá-lo, é José Serra.

Da parte dele equivaleria a tratar Aécio como figura secundária e, em conseqüência, arriscar-se a arrumar uma confusão com o eleitor de Minas, que deposita na figura do governador a expectativa da reabilitação do Estado como passagem obrigatória do eixo de poder nacional.

Por isso, o plano original seria deixar que as coisas seguissem um curso mais ou menos natural e formular a intenção de montar mesmo a chapa “pura” só a partir de meados de 2009.

Os dois governadores vêm circulando juntos em alguns eventos das campanhas municipais, posaram para fotos com o mais bem-sucedido tucano do certame (Beto Richa, com 72% da preferência para a reeleição em Curitiba) e até já se depararam com adesivos “Serra-Aécio” confeccionados por militantes, mas não passaram recibo: nem de gosto nem de desgosto.

Entre outros motivos por causa do volume de água que ainda há de rolar por baixo das pontes antes de a paz de espírito reinar entre os homens de boa vontade do PSDB e adjacências.

Leis Eleitorais

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO ESTADO DE MINAS

Nunca criaremos uma democracia real se ela não se fundar no respeito integral a quem é e ao que deseja o eleitor

A população que vive nas cidades onde se capta o sinal das redes de televisão aberta ou do rádio, ou seja, a quase totalidade da população brasileira, está passando por uma experiência que vale a pena comentar. Menos no Distrito Federal, ela é alvo de uma das maiores e mais abrangentes campanhas de propaganda institucional de nossa história.

É a campanha que a Justiça Eleitoral está veiculando em todas essas emissoras, sobre as eleições municipais deste ano. Quem vê televisão ou ouve rádio nesses lugares, nem se quisesse, conseguiria deixar de receber seus efeitos.

Pelo que se pode perceber, ela se propõe a alcançar diversas metas. Comunicar aos eleitores que teremos eleições em 5 de outubro é apenas a mais óbvia e menos ambiciosa. Ela também quer ensinar coisas aos eleitores: a importância do voto, a necessidade de bem refletir antes de votar, que vender seu voto é errado, entre várias outras.

Parece algo tão normal que não haveria razão para discuti-lo. Mas há, pois a campanha nos permite ver quanto precisamos de uma reforma política.

No modo que fala, na forma que adota, ela revela o que temos pela frente, se quisermos melhorar o tônus democrático em nosso país.

Comecemos reconhecendo seu lado positivo. Em uma cultura como a nossa, onde a maioria do eleitorado tem níveis muitos baixos de escolaridade e existe obrigatoriedade de votar, são sempre bem-vindos os esforços de aumentar a informação da população sobre o processo político. A campanha contribui para isso, dizendo às pessoas quando será a eleição, quais os cargos em disputa, o que o eleitor deve fazer para registrar seu voto. São questões banais, mas que devem ser repetidas.

A pena é que a campanha fique nisso, no plano informativo. Se seus responsáveis soubessem quão sequiosa de informação é nossa população, talvez dedicassem mais tempo, da enorme quantidade de que dispõem, para essa finalidade. É de se perguntar por que não aproveitá-lo para explicar aspectos de nosso sistema político que poucas pessoas entendem. Para dar um só exemplo: por que determinados candidatos têm mais tempo que outros na propaganda eleitoral? Quase ninguém compreende uma coisa tão fácil de explicar.

O pouco que se investe na informação do eleitor é compensado pelo muito que é dedicado a tentar fazer algo totalmente diferente, sua pretensa formação. Parte expressiva da campanha é constituída por peças que visam a formar o eleitor, fazendo dele um “bom eleitor”. Nelas, se insiste na peroração de que “o eleitor não deve vender seu voto”, que deve “pensar bem”, que “votar mal prejudica o próprio eleitor”.

De onde seus autores tiraram que esses são problemas reais de nossa sociedade? A partir do que chegaram à conclusão que temos tantos eleitores irresponsáveis, inconseqüentes e venais que a Justiça Eleitoral “precisa fazer alguma coisa”? Que alguém precisa ser ensinado a pensar assim? Subjacente a esses “bons propósitos”, existe uma profunda desconfiança a respeito de nosso eleitor e de nosso povo. A reboque dela, sempre há um pedagogo, que se acha tão superior que se imbui da missão de “guiar os ignorantes”. Nunca criaremos uma democracia real se ela não se fundar no respeito integral a quem é e ao que deseja o eleitor. Não existe meia medida: toda vez que se quer proteger o eleitor, ensiná-lo a ser assim ou assado, evitar que seja alvo de qualquer coisa (influência, manipulação, etc.), o que se consegue é o oposto.

A campanha institucional da Justiça Eleitoral tem méritos, mas mostra muitas coisas que precisamos fazer (e outras que não devemos fazer) na hora que a sociedade brasileira se puser de acordo sobre a reforma política que tantos desejam. O lugar de onde fazê-la não é o Judiciário, mesmo que esteja cheio de pessoas com as melhores intenções. O espírito de uma verdadeira reforma não é proteger o povo, guiar seus passos, mas parar de tratá-lo com paternalismo e condescendência.


A safena e a especulação


Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - O pacote que o governo norte-americano está preparando para salvar a economia de um colapso equivale basicamente à colocação de uma ponte de safena para desentupir a artéria vital do capitalismo que é a circulação do crédito.

É essa a análise de José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.Diz Lima Gonçalves: "A fragilidade subjacente do sistema financeiro são os ativos hipotecários ilíquidos que perderam valor com o ajuste do mercado imobiliário. Esses ativos sufocam o crédito e (...) estão entupindo o sistema financeiro".

A pergunta seguinte inevitável é: a safena resolve o problema? Lima Gonçalves limita-se a dizer que "o programa precisa ser adequadamente desenhado e suficientemente grande para ter o impacto máximo, mas ao mesmo tempo proteger o contribuinte na maior extensão possível".

De acordo, mas qual é o tamanho adequado? Provavelmente monstruoso a julgar pelos números impressionantes colecionados em notável trabalho sobre a crise ("Dinheiro, ganância, tecnologia"), de Norman Gall, diretor-executivo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial.

Só um dos números da coleção: "Desde 2000, a especulação no mercado desregulado de trocas de garantias contra calotes (CDSs, da sigla em inglês) cresceu exponencialmente de US$ 900 bilhões para US$ 62 trilhões no início de 2008, duas vezes a capitalização do mercado acionário dos EUA e quase o equivalente à totalidade da riqueza das famílias dos Estados Unidos e dez vezes o valor de todos os títulos da dívida que podiam ser protegidos por seguros".

Toda a riqueza do mundo (o PIB mundial) é avaliada hoje em cerca de US$ 40 trilhões. Logo os US$ 62 trilhões da especulação são o mundo mais metade do mundo. Haja pacote para desentupi-la.

O que ficou


Míriam Leitão
DEU EM O GLOBO


A mais nervosa de todas as semanas deixou constatações. Algumas: não há lugar longe o suficiente de uma crise global; o FMI ficou espantosamente irrelevante; no limite, o Estado paga todas as contas; o mercado financeiro precisa de nova regulação, e fiscalização ágil e atualizada; o pacote reduziu espaço para gastos no próximo governo. Os pessimistas é que tinham razão sobre esta crise.

O próximo governo americano dificilmente poderá aumentar seus gastos. Nem poderá cortar impostos, como os candidatos democrata e republicano estão propondo. A dívida, hoje de 40% do PIB, vai crescer muito com o pacote, e o déficit orçamentário precisará ser combatido.

Um fato espantoso dessa crise é a total ausência dos organismos multilaterais, como o FMI e o BIS. O antigo xerife dos mercados financeiros e o assim chamado banco central dos bancos centrais ficaram inteiramente inertes diante da crise. Alguém ouviu falar do FMI nesta crise? Nem ouvido, nem cheirado, o fundo caiu na opacidade da irrelevância. Só no quinto dia de confusão nos mercados, um dos seus dirigentes fez uma palestra falando platitudes sobre a crise. O Fundo, chamado Monetário Internacional, nada tem a dizer quando surge a pior crise financeira e dos mercados de capitais e monetários desde 1929.

Ficou claro que, quando a crise é originada nos Estados Unidos, ele não sabe como utilizar seus mecanismos de supervisão. Não houve alertas, análises, nada. O silêncio do FMI é gritante. Como instituição monetária internacional, ele entrou em colapso e não há quem o resgate.

Quem alertou que a crise era grave, que se espalharia, que levaria anos e que o rombo atingiria a casa de trilhão de dólares, como Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, foi inicialmente tratado com desprezo. O mantra era falar da "resiliência" da economia americana e chamá-la de "robusta". Antes, a moda era falar nos "fundamentos" da economia. Uma das lições é que os economistas, analistas de risco e reguladores, quando estão envolvidos no mercado, abrem mão da capacidade de pensar, fecham os olhos para o óbvio.

Normalmente, quem não conhece o mercado financeiro condena as operações, como se tudo fosse um grande cassino. Já quem está dentro tende a apresentar tudo como se fosse virtuoso, como se o mercado tivesse dentro de si a capacidade de autocorreção dos excessos. O que se viu é que quando há falha de regulação e leniência dos reguladores, as distorções vão se tornando insustentáveis. E não, o mercado não tem capacidade de autocorreção. O Estado tem que regular e fiscalizar para evitar que aconteça o que acaba de acontecer diante dos nossos olhos.

Não há lugar longe o suficiente de uma crise global, não há economia robusta o suficiente para passar pela crise intacta. Se na crise de 1929, com o mundo muito mais tosco, o Brasil foi afetado no preço do café, o que dirá agora que os laços entre as economias aumentaram tanto. Existem formas de se fortalecer. É bom ter reservas, mas elas não são suficientes. Não basta ter bilhões em reservas, como está mostrando a Rússia, com seus picos de pânico e euforia, com suas saídas fortes de capital. A Rússia tem três vezes mais reservas que o Brasil.

O Brasil perseguiu por anos um modelo de estabilização que tem dado certo. Mas os avanços não são suficientes. O dólar disparou, o risco disparou, fecharam-se as linhas de crédito à exportação e a bolsa despencou. Os países viram meros joguetes que respondem aos movimentos de portfólio dos grandes investidores. Sem que o Brasil tenha saído do lugar, ou alterado qualquer dos seus indicadores, o risco-país chegou a subir 36,5% nos três primeiros dias da semana, e depois caiu 23,4%. Houve um momento que chegou a ser negociado em 379 e na sexta-feira fechou em 278. Faz sentido?

O Brasil tem cometido erros que podem custar caro numa conjuntura tão fluida. O aumento de superávit primário foi feito apenas com parte do aumento da arrecadação. Não é suficiente nem para compensar a alta do custo da dívida pública com a elevação dos juros. O governo tem criado gastos permanentes numa proporção alarmante e acha que todos os problemas podem ser resolvidos por uma entidade estatal. Na semana passada, quando ficou claro que o mercado de crédito estava encurtando, o governo falou em aumentar o financiamento via BNDES, através, inclusive, de flexibilização de normas prudenciais. Isso é arriscado. O FAT, funding do BNDES, passará a ter déficit em 2010 e o banco está sendo capitalizado com dívida pública.

Os desatinos do mercado americano vão ser contabilizados no pacote que sairá esta semana. O que será detalhado, discutido, negociado e aprovado é como o contribuinte vai pagar pelos erros cometidos no mercado financeiro. Para resumir: os bancos financiaram hipotecas a quem não podia pagar; transformaram essas hipotecas em novos produtos financeiros e passaram adiante, para fundos dos próprios bancos ou de alheios; os novos papéis tiveram boa recomendação de risco, dada pelas agências; parte das transações era feita por novas instituições que não estavam sob fiscalização. Para tudo dar certo, era preciso que a alta dos imóveis durasse para sempre, porque a valorização é que permitia que mesmo o mau pagador pagasse, já que seu ativo, sempre se valorizando, era usado como garantia para novos empréstimos.

O Estado prepara, agora, a tábua de salvação de todos. Todo erro será premiado. Um convite a novos erros no mercado futuro.

Hora do chimpanzé


Alberto Dines
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

O apocalipse adora disfarçar-se, fingir que o pior já passou. Os sinais de otimismo dessa sexta-feira são mais preocupantes do que as evidências de hecatombe do último fim de semana. Se o processo econômico tem algo de humano, antropomórfico, pode-se dizer que a euforia é mais letal do que o ceticismo.

A bolha que começou estourar em fevereiro de 2007 e continuou rolando por mais 17 meses foi fabricada pelo "mix" euforia-irresponsabilidade que reeditou em setembro de 2008 a quinta-feira negra de 24 de outubro de 1929.

O jornalista-banqueiro Alcides Amaral, ex-presidente do Citibank teve a coragem de colocar o dedo na ferida nesta quinta-feira num contundente artigo no Valor Econômico. Enquanto sofisticados analistas escondiam-se atrás da esfarrapada desculpa da falha sistêmica - que não explica coisa alguma - Amaral apontou com precisão as falhas humanas que provocaram o tsunami.

A mais importante situa-se na área da detecção. O Senhor Mercado -criatura-divindade inventada por exaltados idólatras - atribuiu-se a responsabilidade de criar os seus próprios radares e todos acreditaram nas suas avaliações. A ninguém ocorreu colocar sob suspeita não apenas os ratings, mas a própria credibilidade enquanto agências autônomas. Sustentadas pelo mercado financeiro jamais seriam suficientemente estridentes para avisar que o sistema corria o risco de desabar.

E aqui Alcides Amaral chega à outra das brutais falhas humanas que causaram o maior rombo na economia mundial desde o crash de 1929: a "filosofia do bônus". Ao invés de pagar polpudos salários o mercado adotou o sistema de bônus para recompensar os mágicos capazes de produzir exuberâncias em rapidíssimos lances. Balanços anuais aptos a indicar políticas sustentáveis foram trocados pelos balancetes mensais ou trimestrais onde o que importa são "resultados" imediatos. Um grupo de golden boys ficou milionário da noite para o dia enquanto milhões de tomadores de empréstimos e certamente seus descendentes estão condenados à inadimplência.

O jornalista Nicholas Kristof, do New York Times, aponta números estarrecedores: nos tempos da estabilidade, presidentes de empresas financeiras ganhavam salários de 30 a 40 vezes o salário de um funcionário médio. Ao longo do turbilhão especulativo que deveria terminar agora, o salário dos presidentes das grandes companhias cotadas em bolsa passou a ser 344 vezes maior do que o dos trabalhadores médios. Richard Fuld, que continua presidente do Lehman Brothers, botou no bolso, entre 1993 e 2007, quase meio bilhão de dólares. O jornalista fez as contas: 17 mil dólares por hora para jogar pela janela uma instituição de 164 anos construída em cima de rígidas noções de pudor e respeitabilidade.

O perigo representado pela quase euforia desta sexta-feira está no poder deletério da roleta. Pequenos curativos nos tremendos rombos só servirão para maquiar a situação e enfraquecer a determinação de substituir o irresponsável laissez-faire em vigor pela disposição de regulamentar o mercado e torná-lo confiável. Sobretudo para convertê-lo numa instituição a serviço da sociedade e não mais a serviço dos interesses de um bando de adolescentes de todas as idades, igualmente delirantes.

O nome do jogo agora é credibilidade. O diagnóstico de falha sistêmica é insuficiente porque o problema é anterior, conceitual. O sistema capitalista não está em discussão, não existe outro para substituí-lo. O que se tornou imperioso é a sua readaptação a um mundo policêntrico, necessariamente equilibrado, minimamente equitativo.

Não há mais lugar para corsários. Os mecanismos do Estado de Direito devem funcionar em todas as esferas, o império da lei deve valer para todos, depositantes e depositários. O contribuinte não pode ser penalizado pela insanidade e vocação criminosa de alguns financistas que não têm mandato para cuidar do interesse público. Não é justo que a poupança de uma família japonesa seja torrada para bancar o dominó consumista nos subúrbios americanos. Ou que projetos de desenvolvimento nacional sejam comprometidos pela inclinação perdulária daqueles que se apoderaram dos canais de circulação de riqueza.

A noção de perigo coletivo é indispensável para criar uma disposição efetiva de mutualismo. Isso pressupõe a aposentadoria dos tradicionais totens de Wall Street. Hora de mandar para o zoológico o urso deprimido, símbolo da baixa e o seu rival, o touro indomável, efígie das altas. Antes que todos se convertam em dinossauros e desapareçam, melhor convocar um chimpanzé, para coçar a cabeça e pensar.

» Alberto Dines é jornalista

Os queridinhos do presidente

Eleições 2008
Luiz Carlos Azedo
Da equipe do Correio

Lula fará o possível para ajudar o PT a ganhar as disputas municipais na Grande São Paulo. Região é estratégica para diminuir a força do governador tucano José Serra, candidato a presidente em 2010

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará o que puder para apoiar os candidatos do PT na Grande São Paulo, a começar pela campanha da ex-ministra Marta Suplicy, que tenta voltar à prefeitura da capital. Lula pretende se engajar também nas campanhas petistas de Guarulhos, Osasco e municípios do chamado ABC, principalmente São Bernardo, Santo André, São Caetano, Diadema e Mauá, redutos históricos do partido.

Lula quer fortalecer o PT em São Paulo e, assim, neutralizar a vantagem estratégica que o governador do estado, José Serra (PSDB), tem com o eleitorado paulista como candidato tucano a presidente da República em 2010. A jóia da coroa é a capital, onde Marta Suplicy lidera a disputa, mas corre o risco de perder no segundo turno.

As simulações na capital paulista, segundo a pesquisa Datafolha divulgada quinta-feira passada, mostram que Marta está tecnicamente empatada no segundo turno com o prefeito Gilberto Kassab (DEM), que concorre à reeleição, e com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). Na avaliação da cúpula petista, no cenário atual, Marta só vence as eleições se receber um forte empurrão de Lula, que hoje tem uma avaliação positiva na capital que suplanta em muito a da ex-prefeita.

Se o segundo turno fosse realizado hoje, 46% dos eleitores da capital paulista votariam na candidata do PT e 45% optariam pela reeleição do democrata. Há uma semana, Marta obteve 48% e Kassab, 44%. A simulação de uma disputa com Geraldo Alckmin mostra um empate entre os dois, com 47% de intenções de votos para cada um, resultado igual ao da pesquisa anterior. A participação de Lula na campanha de Marta neste fim de semana é que vai dizer se o presidente realmente é capaz de transferir seus votos para a ex-prefeita (leia mais na página 4).

Primeiro turno

Marta continua em primeiro lugar na preferência dos eleitores paulistanos, com 37% das intenções de voto, segundo pesquisa realizada pelo Datafolha em 17 e 18 de setembro. O segundo lugar segue disputado por Alckmin e Kassab, ambos com 22%. O ex-prefeito Paulo Maluf (PP) tem 7% e Soninha (PPS), 3%. Ivan Valente (PSol) atinge 1% das intenções de voto. Anaí Caproni (PCO), Ciro (PTC), Edmilson Costa (PCB) e Renato Reichmann (PMN) não chegaram a 1% das menções. Levy Fidelix, do PRTB, não foi citado. Se a eleição fosse hoje, 4% votariam em branco ou anulariam o voto, mesmo percentual dos que não saberiam em quem votar. Foram ouvidos 1.666 eleitores da cidade de São Paulo, a partir dos 16 anos de idade.

O jogo paulista

São Bernardo

Os candidatos Orlando Morando (PSDB) e o petista Luiz Marinho (foto) estão empatados tecnicamente com 27% e 26%, respectivamente, segundo o Ibope. Alex Manente (PPS) tem 15%, seguido por Evandro de Lima (PTdoB) e Aldo Santos (PSol), ambos com 1%. Brancos ou nulos somam 9% das intenções de voto. A margem de erro também é de quatro pontos percentuais e foram consultadas 504 pessoas entre 26 e 28 de agosto. A pesquisa está registrada sob o número 7/2008 na 174ª Zona Eleitoral de São Bernardo.

Osasco

O prefeito petista Emídio de Souza lidera a disputa pela prefeitura com 42,3% de preferência do eleitorado, seguido por Celso Giglio (PSDB), que tem 30,3%. O ex-prefeito e atual deputado federal Francisco Rossi (PMDB) tem 10,2%. Délbio Teruel (PDT) aparece com 1,4%, segundo pesquisa do Instituto Brasmarket, registrada em cartório com o número 05/2008, e realizada entre 3 e 5 de setembro. Foram ouvidos 801 eleitores e a margem de erro é de 3%. A pesquisa revela que 15,1% ainda não decidiram o voto ou pretendem anulá-lo.

Guarulhos

O petista Sebastião Almeida lidera a disputa pela prefeitura, com 25% de intenções de voto, contra o candidato do PV, Jovino Cândido, que concorre à reeleição e tem 18%. Carlos Roberto (PSDB) vem com 14% (entre 10% e 18%). Ou seja, há empate técnico tanto entre o primeiro e o segundo, quanto entre o segundo e o terceiro. Jorge Tadeu (DEM) aparece em quarto lugar com 5%, seguido de Adriana Afonso, com 3%. Adílson Valente (PCd B) e Orlando Fantazini (PPS) têm 1% cada, Edson Albertão (PSol) vem com 0,3%. No total, 9% dizem que não votam em nenhum candidato, enquanto 25% responderam não saber. A disputa deve ir para o segundo turno. O Instituto Opinião, contratado pelo jornal Guarulhos Hoje, ouviu 600 eleitores entre 6 e 8 de setembro. A pesquisa foi registrada como o número 07/2008, na 176ª Zona Eleitoral.

Santo André

Vanderlei Siraque (PT) lidera com 33% das intenções de voto, mostra o Ibope. Newton Brandão (PSDB) tem 15%, seguido por Aidan Ravin (PTB) empatado com Raimundo Salles (DEM), ambos com 13%. O levantamento foi realizado entre 26 e 29 de agosto e está registrado na 156ª Zona Eleitoral do município, sob o número 1220/08.

São Caetano

O prefeito de São Caetano, José Auricchio Jr. (PTB), disparou na pesquisa do Ibope: tem 72% dos votos. O segundo colocado, Horácio Neto (PSol), aparece com 5% das intenções. O petista Jayme Tortorello aparece na última colocação, com 3%. Como a margem de erro é de cinco pontos percentuais, os dois estão tecnicamente empatados. Brancos ou nulos somam 7%. A sondagem foi feita entre 25 e 27 de agosto com 350 eleitores e está registrada na 166ª Zona Eleitoral da cidade, sob o número 068/2008.

Diadema

Mário Reali (PT) e José Augusto da Silva Ramos (PSDB) estão com 40% e 35%, respectivamente, e tecnicamente empatados, porque a margem de erro do Ibope é de 4%. Em terceiro está o candidato do PMN, Ricardo Yoshio, com 5%, Foram feitas 504 entrevistas entre 26 e 28 de agosto. A pesquisa está registrada sob o número 05/08 na 222ª Zona Eleitoral de Diadema. Mauá

O petista Oswaldo Dias lidera com 44% das intenções de voto, segundo o Ibope. Francisco Carneiro (PSB), o Chiquinho do Zaíra, aparece tecnicamente empatado com Diniz Lopes (PSDB),com 19% e 14%, respectivamente. A margem de erro é de quatro pontos percentuais. A sondagem foi realizada com 504 pessoas entre 26 e 28 de agosto e está registrada na 217ª Zona Eleitoral, sob o número 1320/08.

Ribeirão Pires

O prefeito de Ribeirão Pires, Clóvis Volpi (PV), tem 59% das intenções de voto. O tucano Valdírio Prisco tem 13%, e o petista Mário Nunes aparece em terceiro, com 5%. A pesquisa do Ibope foi realizada no município entre 25 e 27 de agosto, tendo sido registrada na 183ª Zona Eleitoral de Ribeirão Pires, sob o número 05/2008.

Rio Grande da Serra

O tucano Adler Teixeira (PSDB), o Kiko, tem 69% das intenções de voto. O segundo colocado, Carlos Augusto César (PT), o Cafu, aparece com 13%. Nilson Gonçalves (PR) é o último colocado, com 2%. Brancos e nulos somam 5% e a margem de erro é de cinco pontos percentuais. A pesquisa está registrada sob o número 581/08

Líder, Eduardo Paes quer Lula neutro

Luciana Nunes Leal
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ex-tucano teme que presidente queira retribuir apoio de Crivella

A participação intensa do governador Sérgio Cabral na campanha eleitoral, a farta arrecadação, que já ultrapassa R$ 3 milhões, o bom tempo na TV e a promessa de uma inédita parceria da cidade com o governo federal deram ao candidato do PMDB à Prefeitura do Rio, Eduardo Paes, a liderança na disputa. A vaga praticamente assegurada no segundo turno, porém, não tranqüiliza o ex-tucano. No comando da campanha, a grande preocupação é garantir a neutralidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Com cinco candidatos de partidos aliados na briga, Lula optou por ficar fora do primeiro turno no Rio. Até agora, apesar da subida de alguns candidatos, as pesquisas indicam maior possibilidade de segundo turno entre Paes, aliado recente, e o candidato do PRB, senador Marcelo Crivella, antigo parceiro do presidente. É aí que entra a apreensão dos peemedebistas.

Em 2005, como deputado do PSDB e integrante da CPI dos Correios, Paes foi implacável nas acusações a integrantes do governo Lula. Crivella ficou ao lado do presidente. Agora, o temor dos peemedebistas é de que Lula compense, no segundo turno, a solidariedade do senador, até para agradar ao vice-presidente José Alencar, também do PRB.

“Não vou criar constrangimento para o presidente Lula. Ele tem sido corretíssimo. Não dá para pedir outra coisa que não seja a eqüidistância”, disse Paes na quarta-feira, acomodado na van que o levava de um ponto a outro da zona norte carioca, onde fez uma série de caminhadas, muitas delas longe da imprensa. É o corpo-a-corpo “sem patrulha”, nas palavras do candidato. A estratégia de Paes é divulgar apenas um, no máximo dois, compromissos de campanha por dia. O resto faz parte da agenda reservada.

Com poucos assessores e candidatos a vereador e muitos cabos eleitorais distribuindo bandeiras e cartazes, Paes segue o modelo da campanha vitoriosa de Cabral em 2006: dá atenção especial aos idosos, cumprimenta as mulheres com beijo na mão, conversa como se encontrasse velhos conhecidos.

Questionado sobre o peso do governador em seu desempenho nas pesquisas, Paes não tem dúvidas: “Cem por cento. Ele foi fundamental.” Cabral, cada vez mais presente no programa de TV e na agenda de campanha de fim de semana, terá atuação decisiva também no segundo turno, não só para negociar apoio dos candidatos derrotados como para tentar garantir a distância de Lula da sucessão carioca.

Para o governador, tamanho empenho na campanha de Paes se justifica. Além de tentar garantir um aliado na prefeitura, ele acredita que sair vitorioso na capital lhe dará mais visibilidade no cenário nacional. Em 2010, no entanto, o plano de Cabral ainda é buscar a reeleição. Se for confirmada a disputa entre Crivella e Paes, o prefeito Cesar Maia (DEM), antigo aliado e padrinho político do peemedebista, provavelmente ficará com o candidato do PRB. Uma vantagem para Paes é o fato de que Cabral tem em seu governo partidos que hoje estão em outras candidaturas, como PT e PSB, mas que tenderiam a se aliar ao PMDB no segundo turno.

DIFICULDADES

Além da dúvida sobre o comportamento de Lula, a cautela da equipe de Paes se justifica também pelo fato de que o candidato ainda tem dificuldades em alguns pontos da cidade, apontadas em pesquisas internas encomendadas pelo PMDB. Em bairros da periferia com grande influência da Igreja Universal do Reino de Deus, da qual Crivella é bispo licenciado, e em grandes favelas, como o Complexo da Maré, Paes está em desvantagem. Por outro lado, os peemedebistas animam-se com o crescimento na zona oeste e também na zona sul, onde é forte o candidato do PV, Fernando Gabeira, em coligação com o PSDB.

Em três semanas, Paes subiu 15 pontos no Ibope, passando de 12% para 27%. Crivella caiu 5 pontos, de 28% para 23%. Pesquisa do Datafolha divulgada na sexta-feira confirmou tendência de queda de Crivella e mostrou Paes isolado na liderança.

O candidato do PMDB faz uma campanha rica. Até agora, arrecadou R$ 3,165 milhões, equivalentes a 68,3% da arrecadação de todos os adversários juntos. O maior doador é o empresário Eike Batista, com R$ 500 mil. Empresas da construção civil e imobiliárias também são colaboradoras.

Sempre que indagado sobre a aparente incoerência entre o comportamento na CPI dos Correios em 2005 e a defesa de Lula que faz agora, além do fato de já ter passado por outros quatro partidos (PV, PFL, PTB e PSDB), Paes diz que esses são seus “maiores pecados”. Ele não esconde o fato de ter sido afilhado político do prefeito Cesar Maia e também fala com orgulho da sólida formação liberal, dos tempos do PFL - hoje DEM.

Hoje, Paes se define como “político de centro, com visão importante do papel do Estado”. Fiel ao atual aliado, cita o governador fluminense como político que admira. “Estou numa fase Sérgio Cabral”, define. Entre os estrangeiros, cita o presidente dos Estados Unidos Franklin Roosevelt e o primeiro-ministro britânico Winston Churchill. Acha o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González “fantástico”, o ex-presidente americano Bill Clinton “sensacional” e a senadora Hillary Clinton “maravilhosa”.

TUCANOS

Embora tenha deixado o PSDB, Paes tem entre os tucanos não só amigos, mas colaboradores de campanha, como o vereador Luiz Guaraná e o deputado estadual Pedro Paulo. “Tenho muito orgulho dos apoios. Também não crio constrangimentos para aqueles do meu partido que não estão comigo”, diz Paes.

Entre os peemedebistas ausentes da campanha está o ex-governador Anthony Garotinho. Adversário de Cabral - embora militem na mesma legenda -, Garotinho avisou ao candidato que não participaria da campanha. Preferiu concentrar-se no esforço de eleger a filha Clarissa vereadora e a mulher Rosinha, ex-governadora, prefeita de Campos.

Segundo turno deve se generalizar

Raphael Bruno
DEU NO JORNAL DO BRASIL

Nas maiores cidades, apenas em Curitiba e Goiânia o prefeito deve ser eleito no dia 5

Faltam apenas duas semanas para as eleições municipais, mas, nos maiores colégios eleitorais do país, poucas cidades conhecerão o prefeito que as irá comandar nos próximos quatro anos já no primeiro turno. Na reta final da campanha, crescem não só as especulações sobre possíveis apoios na segunda rodada da disputa eleitoral, como também a troca de duras críticas entre prováveis aliados no futuro próximo. Vale tudo por um lugar ao sol, ou melhor, na urna, no próximo dia 26 de outubro, data marcada para a realização do segundo turno. Hoje, PT e PMDB seriam os partidos que mais emplacariam candidatos em dez das principais cidades do país.

Municípios como Curitiba e Goiânia, onde as eleições caminham para para um desfecho já no primeiro turno, são exceções entre as grandes cidades brasileiras. Na capital paranaense, nem mesmo todo o apoio do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, à candidata do PT e sua esposa, Gleisi Hoffmann, ameaça a reeleição do atual prefeito, Beto Richa (PSDB), que soma 74% da preferência do eleitorado, de acordo com último levantamento Ibope. Em Goiânia, o também candidato à reeleição, Iris Resende (PMDB), lidera com percentuais semelhantes e não aparenta dar muitas chances ao segundo colocado Sandes Júnior (PP).

– Num cenário de quadro partidário fragmentado como o nosso, é preciso analisar caso a caso as eleições que serão resolvidas no primeiro turno – observa o cientista político da Universidade de Brasília (UnB), Leonardo Barreto. – Geralmente, é necessário a combinação de uma série de fatores, como candidatos partindo para reeleição, avaliações positivas elevadas por parte da população e o apoio da máquina pública. Quando as eleições têm mais atores novos, fica mais difícil.

Atrás dos apoios

A perspectiva de que os pleitos municipais não se resolvam no primeiro turno já colocou muita gente em busca de aliados para a segunda rodada das eleições. Em Belo Horizonte, após a ascensão meteórica do candidato apoiado pelo prefeito Fernando Pimentel (PT) e pelo governador Aécio Neves (PSDB), Márcio Lacerda (PSB), seus principais adversários, Jô Moraes (PCdoB) e Leonardo Quintão (PMDB), fizeram um pacto de apoio mútuo em caso de segundo turno.

– Estamos com esse entendimento há uns 15 dias – admite Jô Moraes, revelando que há uma boa possibilidade de que o acordo se amplie para outros candidatos que podem sair derrotados no primeiro turno, como Sérgio Miranda (PDT). – Nos debates estamos sempre chamando a atenção para a importância de um segundo turno, dada a necessidade de que Belo Horizonte enfrente um processo democrático efetivo.

O rival Márcio Lacerda, que ao que todas as pesquisas indicam até o momento angariou todos os apoios que precisava para ser eleito já no primeiro turno, disfarça.

– Estamos nos empenhando para um bom desempenho nas urnas no dia 5 de outubro e temos certeza que os eleitores farão uma escolha consciente e livre que irá beneficiar toda a população de nossa cidade – diz. – Os eleitores é que decidirão se haverá ou não segundo turno e nós vamos continuar trabalhando sem nos preocupar, no momento, com esta questão.

Crivella polemiza

No Rio de Janeiro, o candidato do PRB, Marcelo Crivella, causou polêmica recentemente ao declarar que havia realizado acordo semelhante ao da capital mineira com Jandira Feghali (PCdoB), o que foi negado pela candidata. Mas, dada a proximidade de Crivella do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o cenário mais provável é que a parceria se concretize, com o acréscimo ainda do PT, de Alessandro Molon, no grupo que irá enfrentar o atual líder nas pesquisas de intenção de voto, Eduardo Paes (PMDB), caso Jandira não alcance o segundo turno.

Já Eduardo Paes, figura mais ligada ao PSDB, onde era deputado federal e esteve até outubro do ano passado, sonha em contar com o apoio da legenda e de Fernando Gabeira (PV). E, embora sua saída do ninho tucano não tenha sido das melhores, o ex-partido já apoiou, por exemplo, no segundo turno das eleições para governador do Estado em 2006, o grande patrocinador da candidatura do peemedebista, o governador Sérgio Cabral.

– É prematuro falar em apoio no segundo turno – esquiva-se um tucano carioca de elevada plumagem. – Tem que aguardar, ainda está muito cedo. Mas qualquer movimento de apoio no segundo turno não pode ser por questões pessoais, mas sim programáticas.

A declaração pode ser entendida como uma sinalização de que eventual apoio de Gabeira no segundo turno não poderá ficar restrito à preferência do candidato do PV e terá que passar por negociações partidárias. Mas o tucano não perde o tom vencedor e garante que este será sim o critério utilizado, mas por Gabeira, para angariar possíveis apoios à sua candidatura no segundo turno.