segunda-feira, 4 de maio de 2009

PENSAMENTO DO DIA

“Nossa própria chegada à modernidade mais tardia do capitalismo foi acidentada, e nos ajuda a compreender ao menos parte dos problemas atuais. Entre 1964 e 1984, como sabemos, o país explodiu em termos capitalistas. Expandiu suas forças produtivas, internacionalizou a economia, dinamizou a agricultura e consolidou sua industrialização. Movimentou-se freneticamente. Tornou-se mais capitalista, mais moderno, mais autoritário e mais injusto, radicalizando uma tendência que vinha se acentuando desde a década de 1950. O conjunto das mudanças repercutiu com força na política, alterando comportamentos, fazendo proliferar novos interesses e transformando os padrões de participação.”


(Marco Aurélio Nogueira, no artigo “O ano político de 2009 e os príncipes ausentes” , revista Política Democrática /FAP, nº 23 , págs. 70-71)

200 dão adeus a Boal ao som de Chico

Mário Magalhães
Da Sucursal do Rio
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Cerimônia antes de cremação de dramaturgo teve execução de "Meu Caro Amigo", de Francis Hime e Chico Buarque

Criador do teatro do oprimido morreu anteontem; cremação aconteceu no cemitério São Francisco Xavier, no Rio


Veja o vídeo de “meu caro amigo”

http://www.youtube.com/watch?v=EbVm1EXbAuA

Um violinista executou "Meu Caro Amigo" e o ator Celso Frateschi leu um trecho do musical "Arena Conta Zumbi" na despedida ao dramaturgo, encenador e pensador do teatro Augusto Boal, no começo da tarde de ontem, no cemitério São Francisco Xavier (zona portuária do Rio).

Boal morreu aos 78 anos na madrugada do sábado, de complicações decorrentes de leucemia. Seu corpo seria cremado após a cerimônia em sua homenagem, da qual participaram em torno de 200 pessoas.

"Meu Caro Amigo", de Chico Buarque e Francis Hime, foi composta (ou "endereçada") a Boal na década de 1970, quando ele se encontrava no exílio.

A peça "Arena Conta Zumbi" foi escrita por Boal com Gianfrancesco Guarnieri e musicada por Edu Lobo. Boal a dirigiu meses depois do golpe de Estado que instaurou a ditadura militar no Brasil em 1964.

Ao comentar a trajetória de Boal, amigos seus do teatro, da cultura e da política avaliaram a envergadura histórica daquele que possivelmente foi o homem de teatro brasileiro de maior projeção no exterior.

Na década de 1970, ele se tornou conhecido mundo afora pela criação do teatro do oprimido, sistema ou metodologia que conjuga arte e ação social.

"Boal é o único brasileiro que criou um sistema ao nível de Brecht [dramaturgo alemão], Stanislavsky [diretor russo] e Grotowski [diretor polonês]", afirmou o cineasta Orlando Senna. "É o cara mais importante do Brasil lá fora, o mais traduzido e mais inspirador", disse Celso Frateschi, ex-presidente da Funarte (Fundação Nacional de Artes). Para o atual presidente da instituição, o ator Sérgio Mamberti, "Boal foi um libertário, um dos grandes brasileiros do século passado".

O poeta Ferreira Gullar, colunista da Folha, conviveu com Boal quando o amigo dirigiu o show "Opinião", um dos primeiros espetáculos a contestar o regime militar. "Boal era um Quixote pelo mundo todo a pregar que o teatro deveria dar voz aos oprimidos."

Um dos dirigentes do MST, João Pedro Stedile, contou que o movimento mantém dezenas de grupos de teatro do oprimido. "Boal mesclava arte e política sem maniqueísmo, mas conscientizando", comentou.

"Boal lutava pela deselitização do teatro", disse o sambista Martinho da Vila. Na opinião do diretor teatral Amir Haddad, um dos legados de Boal é a ideia de que "ser artista e criador não é privilégio, é direito da cidadania". Para a atriz Renata Sorrah, o centro do pensamento de Boal era a noção de que "o teatro é modificador".

Augusto foi nosso Brecht

Aderbal Freire-Filho
Especial para A Folha
DEU NA FOLHA DE S. PAULO / ILUSTRADA

O TEATRO brasileiro no mundo tem um nome: Augusto Boal. Vá a Amsterdã, entre numa livraria e peça um livro de Boal. Você não vai conseguir ler, a menos que saiba holandês. Boal está traduzido muito além do espanhol, do francês e do inglês. Mas não estou aqui para falar dos livros, quero falar do homem. E começo ouvindo esse homem falando, o ritmo da fala, a música que vai juntando frases harmoniosamente, com um pensamento claro, a cadência das palavras, uma respiração buscada no fundo do peito para uma frase mais e, depois, quando o raciocínio se completa, um volteio e um final em que os temas se fecham, com extraordinária clareza.

Estou ouvindo uma explicação que me deu sobre um seminário seu com atores da Royal Shakespeare Company. Ali, o teatro ainda tem a força dos seus melhores tempos -se você abre o programa de uma peça, vai encontrar duas páginas com os nomes de quem faz aquele teatro existir, começando com os de sua patrona e de seu presidente, Sua Majestade, a Rainha e Sua Alteza Real, o Príncipe de Gales, indo até os contrarregras e o pessoal da maquiagem, passando pelos atores, o centro de tudo. Isto é, ali está a Inglaterra inteira.

Pois estava claro para a companhia que seus atores precisavam conhecer mister, dom Augusto Boal, artista capaz de fazer um teatro mais aberto para a sociedade do que qualquer outro, capaz de transformar o espectador em ator. E levaram Boal para conviver com eles, treinaram suas técnicas, sabendo que assim chegariam mais perto ainda do povo, como chegava o cidadão William Shakespeare.

E digo cidadão pensando na frase de Boal, dia desses, na Unesco: "Cidadão não é aquele que vive em sociedade, é aquele que a transforma". O Alcione Araújo me telefona, "não vou esquecer meu diálogo com o Boal para uma revista, à propósito da sua autobiografia". Geraldinho Carneiro me escreve, "as célebres façanhas poéticas e conceituais do Boal, o teatro invisível, o teatro do oprimido". Era preciso muitos fôlegos, por trás da voz mansa, para ter tanta presença no teatro do Brasil, do mundo, do seu tempo, de todos os tempos. Pode-se dizer muito dele.

Prefiro escolher nesse abraço a lembrança de uma ação nacional, que talvez não tenha muita valia na sua cotação internacional, mas, céus, como enriqueceu o teatro brasileiro. Em meados dos anos 50, Boal organiza o seminário de dramaturgia do Teatro de Arena, marco da história da nossa cena, e forma uma das nossas mais brilhantes gerações de autores, em que despontam Oduvaldo Vianna Filho, Gianfrancesco Guarnieri.

Nunca me esqueci da sua revolução na América do Sul, o teatro brasileiro moderno nascendo, sua geração botando o dendê no caldo que Nelson Rodrigues começara a preparar. E "Arena Conta Zumbi", Tiradentes, outros brechts pelo mundo, me lembro de Santiago García, da Colômbia, e ouço Eugenio Barba dizendo "é o Brecht deles", foi nosso Brecht o Boal.

Nos encontramos pela última vez na sala de espera do consultório do Flávio, para tratar de nossos corações, era véspera da sua viagem a Paris, onde receberia o título de embaixador mundial do teatro. E me disse, "na volta vamos tomar um vinho lá em casa".

Não sabíamos que entre esse encontro e o vinho prometido "ia passar o famoso rio Aqueronte, o insuperável". Mas imagino que, ao lado de Cecília, tua querida e admirável companheira, a única voz que ouço te chamar de Augusto, diante do Arpoador, visto da janela do teu acolhedor apartamento, tomas esse vinho, imortal Augusto Boal.

Aderbal Freire-Filho é diretor de peças como "Apareceu a Margarida", de 1973, e "As Centenárias", em cartaz em São Paulo

Oposição minimiza ampliação do Bolsa Família

Isabel Braga e Cristiane Jungblut
DEU EM O GLOBO

Para PSDB e DEM, falta de porta de saída enfraquece governo; aliados dizem que programa ajuda a enfrentar crise

BRASÍLIA. Líderes da oposição tentaram minimizar os dividendos eleitorais da ampliação do Bolsa Família, maior programa social do governo federal. Reportagem do GLOBO mostrou que o programa deve atingir um em cada três brasileiros em 2010. Ao mesmo tempo em que acusam o Planalto de uso político do projeto, os oposicionistas dizem que é preciso melhorar o Bolsa Família. Para PSDB e DEM, o programa é necessário, mas hoje carece de políticas que permitam o fim da dependência das famílias carentes dos recursos do governo. A base aliada, por sua vez, rechaça o rótulo de programa eleitoreiro e assistencialista, defende sua ampliação e afirma que o Bolsa Família é um dos pilares que permitiram ao país tranquilidade para enfrentar a crise internacional.

- O brasileiro está muito informado e não vai querer que Lula quebre o governo para eleger seu sucessor. A sociedade está atenta. É um programa (a ser mantido), mas vamos acrescentar condições de saída, oferecer ensino técnico e tecnológico - disse o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), completando: - A família quer se emancipar, quer um trabalho, qualificação. O governo Lula é lerdo, joga no benefício e ponto. É um governo conservador.

O presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), acrescenta que a solução é investir numa política social focada na família:

- Foi uma política que implementamos no governo passado, o Lula teve a inteligência e a capacidade, que não tivemos, de propor a unificação. Tenho certeza de que as famílias beneficiárias saberão distinguir em 2010 a melhor política para o futuro de seus filhos e netos. Se a gente mostrar isso, o eleitorado será sensível a uma proposta que entenda o problema de cada um como específico e dê solução, e não mera transferência de renda.

Para José Aníbal, programa tem viés político-eleitoral

José Aníbal voltou a enfatizar que o Bolsa Família é fruto de programas iniciados no governo anterior, do tucano Fernando Henrique Cardoso. Ele considera que o governo Lula, ao unificar os programas, acabou com as exigências que conectavam a transferência de renda a políticas de saída.

- Claro que é necessário atender à população com insuficiência de renda, mas o governo faz hoje com viés político-eleitoral. Passou a ser uma coisa dissociada de qualquer programa de saída, de emancipação, de formação profissional.

O DEM vem divulgando sua proposta de focar a saída, terceira etapa do programa, nas necessidades da família em várias capitais do país. Maia defende que a prioridade é trabalhar para que futuras gerações sejam menos dependentes da renda.

- O custo do Estado brasileiro é muito alto e este programa custa R$11 bilhões, R$12 bilhões. É uma fatia justa que temos que pagar. Mas a mera transferência de renda vai gerar nas futuras gerações a mesma dependência que gera nas famílias atuais.

O líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), rebateu as acusações da oposição, negando o caráter eleitoreiro e afirmando que o Bolsa Família é um programa de desenvolvimento econômico da população.

- O Bolsa Família não é um programa eleitoreiro, e sim de ajuda aos mais pobres, de desenvolvimento econômico. O povo precisa, e o Estado tem condições de sustentar. O aspecto mais importante é a ampliação do mercado interno.

Para o líder do PT, o aumento dos beneficiários ao longo dos anos é uma evolução natural e o programa ajudou inclusive neste momento de crise econômica mundial:

- É uma das medidas que criaram condições para o Brasil não mergulhar na crise. O Brasil está nadando na superfície da crise e não nos afogamos.

'Número é assustador e terá influência decisiva'

Adauri Antunes Barbosa
DEU EM O GLOBO

Efeito em 2010 é certo, dizem especialistas

SÃO PAULO. O historiador e sociólogo Marco Antonio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), considerou assustadora a informação de que o Bolsa Família deve atingir um em cada três brasileiros a partir do ano que vem, conforme reportagem de ontem do GLOBO. Segundo ele, a consequência desse número é a influência nas eleições de 2010.

- É um número assustador. Isso vai ter uma influência decisiva em qualquer processo eleitoral, e, como nós temos eleições a cada dois anos, a gente vai poder constatar isso tanto na esfera municipal como nas esferas estadual e federal - disse.

Fazendo coro à oposição, Villa lembra que os candidatos do governo vão se beneficiar dos efeitos do programa federal, especialmente os que concorrerem à reeleição. Segundo ele, o fantasma do candidato que quer acabar com o Bolsa Família vai perseguir os oposicionistas.

- Vai se construir um fantasma sobre o candidato opositor. Vai se construir o fantasma que o candidato opositor quer extinguir o Bolsa Família. É uma espécie de versão modernizada do "voto do marmiteiro", da eleição de 1945, quando foi imputado ao brigadeiro Eduardo Gomes, que supostamente não queria voto de quem era operário, cuja refeição era feita com marmita - lembra.

Consultor da Organização das Nações Unidas (ONU), o economista Ladislau Dowbor, professor titular no Departamento de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo nas áreas de economia e administração, questiona o argumento de que as políticas sociais são eleitoreiras ou demagógicas por terem como alvo os pobres, que são a maioria da população.

- Os pobres são muitos, e votam. O que se fizer pelos pobres rende votos. Logo, qualquer medida que favoreça os pobres constitui demagogia, autêntica compra de votos. Ah, se os pobres não pudessem votar, seria ideal, pois poderíamos fazer políticas para os pobres sem que isso deformasse a vontade popular e pesasse nas eleições. Mas votam, e, como há eleições a cada dois anos, pode-se fazer política para os pobres uma vez a cada dois anos.

O Novo Estado de Lula

Fernando De Barros e Silva
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Para um governo que se empenha em misturar pão e circo, as comemorações do 1º de Maio cumpriram a sua parte: entre shows e sorteios, sobraram palavras de elogio ao Estado nos eventos das centrais sindicais. Justo.

Em 2008, elas receberam só de imposto sindical quase R$ 150 milhões livres de qualquer fiscalização (10% do que foi descontado de forma compulsória do trabalhador) -uma inovação do lulo-getulismo.

Foi-se o tempo em que a CUT brigava para libertar o sindicalismo da tutela estatal e a Força pregava contra ideologização da pauta trabalhista pelo PT. Hoje estão unidas e satisfeitas sob o mesmo guarda-chuva, usufruindo o peleguismo de resultados. Reclamar do quê?

Quem aproveitou para reclamar no 1º de Maio foi Lula, mas da "hipocrisia" dos que se levantam contra o descalabro do Legislativo. E por que decidiu comprar essa briga, desqualificando a justa indignação do público? Defesa da democracia?

Antes fosse. Lula ouviu um apelo dos amigos José Sarney e Michel Temer, segundo quem a pressão popular por compostura está deixando muita gente insatisfeita no Congresso e isso cria riscos para o Planalto. Afinal, quem quer uma CPI da Petrobras, por exemplo?

Uma mão suja a outra, por assim dizer. Os eventos do 1º de Maio nos dão um retrato polaroid do lulismo.

Não se trata só de cooptação e aliciamento. Este é o governo do arrastão. De Sarney a Paulinho, do Congresso aos sindicatos, dos usineiros ("heróis nacionais") ao MST, dos banqueiros à massa miserável do Bolsa Família, dos empreiteiros (que ressuscitaram) às ONGs que beliscam as bordas do Estado -todos parecem participar da nova comunhão nacional, uma espécie de "CarnaLula" que prescinde de regras claras e tripudia da moral.

Pai dos pobres, mãe dos ricos. Só por preguiça mental ou má-fé alguém ainda chama isso de esquerda. Reinvenção do patrimonialismo com ganhos sociais, esse arremedo do getulismo tem data de vencimento e alto custo institucional. Quem é que vai pagar a conta?

Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

"Se o mal do Brasil fosse esse, o Brasil não teria mal"

( Lula, a propósito da farra de passagens aéreas no Congresso)

A cara do cara

“Ainda vou criar o Dia da Hipocrisia”, debochou Lula do auê em torno do uso ilegal por parlamentares de passagens aéreas pagas pelo Congresso . Tolice. O “Dia da Hipocrisia” é todo dia. E Lula, que chegou ao poder apontando o Congresso como reduto de 300 picaretas, é forte candidato a sair de lá como um caro símbolo da hipocrisia nacional.

Fernando Henrique Cardoso não sugeriu certa vez que esquecessem parte do que escrevera no passado? Pois bem: ou Lula retira sua famosa crítica aos picaretas do Congresso que “só pensam nos seus próprios interesses” ou escuta calado que ficou com a cara deles. O poder cobra um preço alto aos que o exercem. Para governar, Lula escolheu se aliar aos picaretas do Congresso, satisfazer seus desejos e até a sair em sua defesa. Foi o que fez novamente na semana passada sem trair o menor sinal de vergonha.

Depois de o Senado e a Câmara dos Deputados reconhecerem que a esbórnia por lá estava demais, e de anunciarem algumas providências para contê-la, surgiu Lula a destilar um monte de sandices. A primeira, por esperteza, a seu favor: “Não acho um crime um deputado dar uma passagem para um dirigente sindical ir a Brasília”. Ele já deu. A segunda em favor dos seus sócios: “Graças a Deus, nunca levei nenhum filho meu para a Europa. Mas um deputado levar a mulher para Brasília, qual é o crime”?

O crime é o seguinte, presidente: no Direito privado, tudo o que a lei não proíbe pode ser feito. No Direito público, só pode ser feito o que a lei expressamente permite. E a lei não permite o uso por particulares de passagens aéreas fornecidas pelo Congresso a senadores e deputados para viagens regulares entre Brasília e seus estados — com uma passadinha no Rio de Janeiro, é claro, que ninguém é de ferro. Quem paga as passagens somos nós, pagadores de impostos. Entendeu, presidente? Ou quer que desenhe?

Pouco importa que o desrespeito à lei fosse antigo. A antiguidade não desidrata o desrespeito nem absolve o crime cometido. Senadores e deputados se dizem perplexos com a reação da sociedade às suas velhacarias. Coitadinhos... Morro de pena deles. Não se deram conta a tempo de que a sociedade está mudando — mais devagar do que seria desejável, mas está. E que agora presta atenção ao que antes desprezava. Levem a internet a sério, seus estúpidos. Metade — ou mais — dos brasileiros está ligada nela.

Lula assegurou seu lugar na História por uma série de bons motivos. Evitou inovar em matéria de política econômica. O país cresceu. Pôs os pobres em definitivo na agenda nacional. E se conformou com os dois mandatos consecutivos previstos na Constituição. Mas é fato que também passará à História por ter sido um presidente tolerante, relapso e até mesmo cúmplice em episódios que só serviram para aviltar a política e seus principais atores. Exemplos? Poupem-me. Eles existem a mancheias.

Sem pressa alguma - Vinculada ao presidente da República, a Comissão de Ética Pública tem como missão “zelar pelo cumprimento do Código de Conduta da Alta Administração Federal, orientar as autoridades para que se conduzam de acordo com suas normas e inspirar assim o respeito no serviço público”. Seus sete membros se reúnem mensalmente e produzem uma ata. Sete, não. Em junho de 2007 só eram cinco. Do ano passado para cá, quatro — sendo que um deles, com a saúde frágil, é consultado por telefone. As atas de 2009 permanecem inéditas até aqui. Cabe ao presidente da República indicar os membros da comissão. Lula não tem a menor pressa para preencher as vagas abertas.

Só Lula contém PMDB pró-Serra na Câmara

Raymundo Costa, de Brasília
DEU NO VALOR ECONÔMICO



O PMDB do Senado deixou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a tarefa de articular o apoio do PMDB da Câmara à candidatura da ministra Dilma Roussef (Casa Civil). Os senadores acreditam que Lula permitiu o avanço dos deputados no partido e no governo, portanto, cabe agora a ele reverter a tendência pró-candidatura do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), detectada na Câmara.

Como ocorreu nas últimas eleições desde que concorreu com um candidato próprio, em 1994 (Orestes Quércia), o PMDB não deve disputar a Presidência da República, no próximo ano, mas apoiar o nome do PT ou do PSDB ou ainda dividir-se entre os dois, o que é mais provável. Com seis ministros no governo e cargos no primeiro escalão, atualmente tende por se aliar ao PT.

Essa aliança, por enquanto, não tem o apoio dos principais colégios eleitorais, a maioria dividida entre o apoio a José Serra e a Dilma Rousseff, quando não se inclina inteiramente em favor de Serra, como em São Paulo. Neste caso, o ex-ministro José Dirceu, que ajuda Dilma nas articulações com os aliados, está convocando o PT a pelo menos disputar as bases do PMDB em todo o Estado.

Em São Paulo é delicada a situação do presidente da Câmara, Michel Temer, especialmente se for Serra o candidato do PSDB: o deputado teria dificuldade para se colocar contra o governador de seu Estado, onde, aliás, já teve uma eleição muito difícil em 2006 - entrou na última vaga. Temer às vezes sonha com a vaga de vice na chapa de Dilma Rousseff, mas não tem o comando do partido em São Paulo, ainda hoje controlado por Quércia.

Quércia, a propósito, tem uma aliança firme com os tucanos que parece ir além dos acordos que fez com Serra em São Paulo, na eleição para a prefeitura da capital: recentemente ele esteve em Brasília e circulou pelo Congresso, em conversas com líderes pemedebistas, articulando o apoio do PMDB ao PSDB em 2010. Falou não só em nome de Serra, mas também do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que é a outra opção tucana.

No Rio de Janeiro, o terceiro maior colégio eleitoral, o PMDB também está dividido, e a situação pode piorar para o lado do governo. O governador Sérgio Cabral é aliado de Lula, inclusive tem a preferência do presidente para a vice de Dilma. Mas o PT não está conseguindo conter o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), que quer se candidatar ao governo do Estado e tirar o lugar de Cabral.

Cabral é candidato à reeleição, não se saiu muito bem nas últimas pesquisas de popularidade, mas tem tempo para se recuperar e boas condições para se reeleger, de acordo com as enquetes analisadas pelos partidos. A insistência de Lindberg pode tirá-lo do palanque de Lula.

Já Serra, que terá o apoio provável de Fernando Gabeira (PV), deve contar ainda, no Rio, com as forças do ex-governador Anthony Garotinho (PMDB).

Depois do Rio, a situação que mais preocupa o PT em relação ao PMDB é Minas Gerais, porque o líder das pesquisas de opinião é o ministro das Comunicações, Hélio Costa, que não quer abrir mão da disputa pelo governo estadual. E o PT está rachado entre as candidaturas do ex-prefeito Fernando Pimentel e a do ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento e Combate à Fome).

A situação é também majoritariamente pró-Serra no Rio Grande do Sul, onde o PMDB deve concorrer ao governo tendo como candidato o atual prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, com o apoio do PSDB da governadora Yeda Crusius. Esse quadro somente mudará na hipótese de uma recuperação espetacular de Yeda, hipótese que não é descartada por pemedebistas como o deputado Eliseu Padilha, por exemplo.

Arrumadas as contas estaduais, Padilha acredita que Yeda tem condições de se recuperar e disputar com chances a reeleição, em 2010. Quem polariza com o PT no Sul não é o PSDB, mas o PMDB. Yeda foi o ponto fora da curva, em 2006. O Rio Grande do Sul foi território hostil a Lula nas últimas eleições, mas Dilma, embora mineira de nascimento, fez carreira política no Estado gaúcho.

Pernambuco é outra seção do PMDB definida em favor de Serra, conforme reiteradas declarações do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB). Ele inclusive pode ser o candidato a vice na chapa tucana. O ponto de interrogação hoje, entre os pemedebistas, é a Bahia, onde o ministro pemedebista Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) tanto pode renovar sua aliança com o governador Jaques Wagner (PT), e concorrer ao Senado, como pode ser levado a disputar a vaga de governador contra Wagner.

Há outras situações delicadas, como a aliança no Pará entre a governadora Ana Júlia Carepa (PT) e o deputado Jader Barbalho (PMDB), que se encontram à beira de um rompimento político.

Jader tem um ótimo relacionamento com Lula, mas acredita que o diálogo com Ana Júlia é praticamente impossível, devido ao fato de seu governo ter sido tomado pela Democracia Socialista (DS), tendência do PT.

A agenda regional, fonte do poder do partido, é a agenda do PMDB nas discussões com o PT. Um entrave no andamento das negociações é o PT estar em processo de escolha de seu novo presidente, provavelmente o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, o que está previsto para o mês de novembro.

Atualmente o PMDB comanda oito Estados, seis em que elegeu governador (Amazonas, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro), nas eleições de 2006, um que trocou de partido (Tocantins) e um que ganhou o cargo na Justiça Eleitoral - Roseana Sarney (MA). Controla ainda seis ministérios e detém o controle do Legislativo, com as presidências da Câmara e do Senado.

Tanto poder bastaria para o partido negociar em condições vantajosas sua participação na chapa de Dilma ou do PSDB. O problema é a divisão. Para se ter uma ideia, quem lançou Michel Temer como candidato a vice na chapa de Dilma foi Renan Calheiros (AL), líder da bancada no Senado. Por um único motivo: provocar Geddel, também apontado como hipótese para o cargo.

Lula certamente teria considerado "abominável", se tivesse ouvido uma conversa franca entre pemedebistas governistas, a propósito do cargo de vice. Conversa vai, conversa vem, os caciques do PMDB constataram que o partido esteve nominalmente duas vezes na Presidência da República, desde a redemocratização. A primeira com José Sarney, e a segunda com Itamar Franco. Os dois eram vice-presidentes. Respectivamente, de Tancredo Neves e de Fernando Collor de Mello.

Moldar-se e acomodar-se

Fábio Wanderley Reis
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Uma velha regra do método sociológico, formulada pelo sociólogo francês Émile Durkheim, mandava "tratar os fatos sociais como coisas". Durkheim procurava realçar, com essa regra, o caráter "externo" e o aspecto de causalidade "objetiva" que marcaria os produtos da vida em sociedade, a cuja coerção a consciência dos indivíduos não poderia escapar.

Discussões mais recentes ligam esse traço objetivo e causal com o fato de que ele é a cristalização - que Jon Elster designa como causalidade "supraintencional" - das interações em que os agentes individuais e grupais atuam intencionalmente e buscam, no limite de modo "racional", objetivos próprios de qualquer natureza. Em contraste com esse tipo de causalidade, e "aquém" do nível do comportamento intencional e racional suposto especialmente pela ciência econômica, Elster fala da causalidade "subintencional", em que o comportamento humano é condicionado (eventualmente "determinado") por fatores de que se ocupam disciplinas como as ciências naturais e biológicas e a psicologia, em particular a chamada psicologia profunda. De qualquer forma, do ponto de vista do estudo da sociedade e da política, surge aqui o problema de como apreender adequadamente, para usar linguagem sugerida por Thomas Meyer, a tensão entre a possibilidade de "moldar" o contexto sociopolítico geral e a necessidade de tomá-lo como dado e "ajustar-se" ou "acomodar-se" a ele - e, naturalmente, o de como ir além da tensão por meio da "moldagem" que resulte realisticamente do "ajuste", ou do diagnóstico acurado dos mecanismos de causalidade em operação.

No plano da causalidade supraintencional, a crise econômica que vimos atravessando ilustra de maneira assombrosa como o comportamento intencional e supostamente racional de muitos redunda, com o funcionamento do mercado, em mecanismos causais deletérios no nível agregado. Se ela mostra, por outro lado, a necessidade de contar com o Estado como o foco de uma intencionalidade e racionalidade coletiva, os embaraços com que defronta a ação do Estado reiteram a evidência de que ele próprio é, em ampla medida, a resultante de fatos sociais "coisificados" que surgem como dados a que deve ajustar-se e que constrangem sua capacidade de iniciativa e moldagem.

Mas o noticiário da última semana, ou pouco mais, nos tem exposto intensamente ao impacto de fatores que operam antes no plano da causalidade subintencional. Há, para começar, o câncer da ministra Dilma Roussef, com respeito ao qual uma ocorrência alheia ao campo intencional do jogo de manobras e estratégias da política interfere nesse jogo ao ameaçar afastar uma candidata potencialmente forte da disputa presidencial de 2010. Não obstante as razões óbvias para que o assunto seja tratado com delicadeza, é fatal que ele seja objeto de especulações e cálculos nos meios políticos. Naturalmente, o desafio do equilíbrio entre moldar e ajustar-se assume feições pessoais dramáticas para a própria ministra, mas se coloca também para o governo e as forças políticas que a têm como candidata virtual.

Há, além disso, o susto mundial do surto de gripe suína. Dependendo da força que venha a adquirir, ele pode tornar em boa medida irrelevantes muitos dos problemas que têm recheado a agenda política e econômica de governos e atores variados em diferentes países. Ao lado dos efeitos imediatos que se têm feito sentir sobre a dinâmica econômica já comprometida pela crise, sua importância política potencial tem também transparecido nos poucos dias desde a emergência do tema no noticiário. Que responsabilidade atribuir a este ou aquele governo ou autoridade quanto a possíveis atrasos ou deficiências nas providências iniciais? Estarão diferentes governos, incluído o brasileiro, em condições de agir com rapidez e eficiência a respeito? Qual o eventual impacto do surto sobre as relações entre países?

Mas mesmo o entrevero ocorrido há dias no Supremo Tribunal Federal merece ser visto na ótica da causalidade subintencional, o que sem dúvida é parte importante do que o episódio teve de chocante. Afinal, o STF é o lugar por excelência em que se esperaria o comportamento racional e a operação zelosa e lúcida da intencionalidade na condução da deliberação sobre assuntos frequentemente de crucial importância. É lamentável, e daí o choque, ver seus integrantes envolvidos em bate-boca em que turvos motivos psicológicos afloram e lhes escapam ao controle. Numa dinâmica em que o presidente do colegiado e da sessão obviamente a conduziu desde antes de maneira inepta, fui pessoalmente impactado em especial por sua risada de escárnio fazendo fundo sonoro, a certa altura, para a imagem do ministro Joaquim Barbosa a dirigir-lhe acusações pesadas e inequivocamente ofensivas. Se é inadmissível que o presidente do STF tenha o escárnio como recurso na condução de suas sessões, as coisas se tornam mais feias diante da patente nota falsa do escárnio - o riso forçado e nervoso de quem se vê atingido e, levado ao descontrole, não encontra a reação apropriadamente sóbria que se esperaria das responsabilidades institucionais do chefe do poder Judiciário que ele próprio invocara semanas antes.

Como forma de ajustar-se ao desastre como dado, o ensaio de desagravo da sessão do dia 29 era provavelmente recomendável do ponto de vista institucional. Pena, de certo modo, que a própria psicologia do STF tenha impedido que fosse unânime mesmo na ausência de Joaquim Barbosa.

Fábio Wanderley Reis é cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. Escreve às segundas-feiras

Remédio da oposição, veneno do governo

Rodrigo Maia
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O governo rendeu-se ao que preconiza a oposição ao reduzir impostos para tentar amenizar os impactos da crise

O GOVERNO rendeu-se ao que preconiza a oposição ao adotar a redução de impostos como instrumento de política econômica para tentar amenizar os impactos da crise. Antes tarde do que nunca.

A boa doutrina de que a redução tributária é o melhor e mais eficaz instrumento de promoção do desenvolvimento e oxigenação do setor produtivo em tempos de crise será mais cedo ou mais tarde consagrada. Não custa lembrar, no entanto, que este mesmo governo esperneou violentamente e acusou a oposição até de jogar contra a governabilidade, em dezembro de 2007, porque se recusava a aceitar o fim da CPMF. Quem diria! Mal se completou um ano da sua maior derrota no Congresso e o governo já esqueceu de tudo o que dizia.

A coerência não existe para obrigar ninguém a insistir no erro, mas bem que o presidente da República, em um gesto de lealdade, mais que de humildade, poderia retirar as acusações solertes que lançou sobre a oposição -e especialmente sobre o Democratas, partido que assumiu a linha de frente na campanha contra a CPMF.

Todos se lembram do que Lula e seus partidários disseram tentando fazer da oposição a grande vilã da redução de recursos destinados à saúde, aos programas sociais e à previdência social.

Aliás, a reação do governo não foi passiva. Em maio de 2008, cinco meses depois da memorável madrugada de 13 de dezembro de 2007 que derrubou a CPMF, a chamada base aliada do governo iniciou a frustrada tentativa de recriar o veneno com o nome de Contribuição Social para a Saúde, CSS. A votação foi iniciada na Câmara com margem de apenas dois votos a mais que o quórum necessário. Felizmente, a CSS estava sem chances de aprovação no Senado.

Na questão fiscal, o governo age como todo oportunista, que não sabe o que quer, muito menos para onde vai. Sobrevive de expedientes e funciona como uma biruta de aeroporto, ao sabor das contingências, deixando de fazer hoje -corretamente- o que acabará tendo de fazer amanhã -improvisadamente.

A oposição tinha razão. A CPMF, um tributo perverso que onerava, sem alterar a gradação, ricos e miseráveis, não faz falta. Pelo contrário, depois da sua extinção, a arrecadação do Tesouro cresceu, suplantando substancialmente a perda com os 0,38% da alíquota sobre o valor da movimentação de valores, créditos e direitos de natureza financeira.

A belíssima vitória da oposição, que foi para as ruas com apelos populares, como o grito "Xô, CPMF!", firmou a doutrina -para o Democratas, um principio partidário- da necessidade de contenção do excesso dos tributos federais, que comprometem a atividade produtiva e a competitividade dos produtos de exportação.

Embora minimizada irracionalmente pelo presidente Lula como insignificante, a crise atinge no Brasil as proporções de uma ressaca, com grandes ondas de desemprego e redução da produção e do consumo.

E qual é a reação mais consistente do governo? Ora, adotar o remédio da oposição, de reduzir e até zerar impostos. Na contramão do que pregava há um ano, quando lançou cobras e lagartos contra a oposição. O governo mudou. Com um agravante: enquanto a extinção da CPMF beneficiou toda a população, a redução do IPI de automóveis, motos e cimento -e o governo promete fazer o mesmo com outros produtos, em detrimento de outras indústrias que empregam até mais trabalhadores- implica sensível redução do Fundo de Participação dos Municípios.

A queda da CPMF, que era uma "contribuição", e não um "imposto" -ah, essas perversas e marotas classificações das receitas tributárias!-, não reduziu as verbas dos municípios, como ocorre com a redução da arrecadação do IPI, que hoje provoca uma onda de desemprego no país inteiro. A expectativa, porém, é que a arrecadação, apesar da crise, reaja. Os estímulos à produção -e nenhum estímulo é maior do que a redução competente de impostos- costumam responder em proporções quase sempre geométricas.

Cada real arrecadado de impostos (ou contribuições) sofre perdas substanciais ao ser processado pela onerosa máquina do Estado e só retorna ao cidadão, por meio de obras, serviços e benefícios, quem sabe, representando 50%, 60%, talvez 70% do seu valor. Já a redução de impostos permite que permaneça na mão do contribuinte o valor integral dos recursos não arrecadados, o que pode diminuir o custo dos produtos, além de estimular a produção e o consumo.

Rodrigo Maia , 38, é deputado federal pelo DEM-RJ e presidente nacional do seu partido.

Licença política

Carlos Alberto Sardenberg
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Avança no Congresso Nacional, com apoio de parlamentares de todos os partidos, um projeto de lei cuja aprovação abriria um rombo nas contas da Previdência, já deficitárias, e ampliaria o desequilíbrio no Orçamento do governo federal. O projeto determina uma forte correção das aposentadorias e pensões de valor superior a um salário mínimo, em reajuste retroativo que gera também uma pesada conta de atrasados.

Para marcar bem o ponto: uma ampla maioria de deputados e senadores, inclusive do PSDB e do DEM, que no governo FHC ajudaram a aprovar a reforma da Previdência, apoia um texto que arrasa as contas do INSS. Parlamentares da base governista também aprovam o projeto, visto com apreensão no governo e pavor na área econômica.

O objetivo da oposição não tem nada que ver com justiça social. Trata-se de impor um custo político ao presidente Lula. É também uma saborosa vingança. No governo FHC, Lula e seus petistas torpedearam todas as propostas de reforma da Previdência e carimbaram nos tucanos e então pefelistas (os democratas de hoje) a marca de inimigos dos aposentados.

Agora, caiu no colo da oposição o projeto que dá um reajuste geral nas aposentadorias superiores ao mínimo. Tucanos e democratas querem ajudar a aprovar o texto, pois entendem que o presidente Lula, em nome do equilíbrio das contas públicas, será obrigado a vetá-lo. Perto de um período eleitoral, nada mais interessante. Dá para imaginar tucanos e democratas esfregando as mãos, só esperando a hora de se colocarem ao lado dos velhinhos e velhinhas contra o governo.

Pela mesma razão, parlamentares da base governista não querem se comprometer com um voto contrário. Primeiro, porque muitos desses integrantes da base já estão pensando no próximo governo, que pode não ser do PT. E, segundo, porque, mesmo no caso dos petistas, é melhor deixar o ônus para Lula.

Suponhamos, entretanto, que tucanos e democratas voltem ao governo federal nas eleições de 2010, com José Serra ou Aécio Neves. Isso significa que os aposentados terão a correção que teria sido vetada por Lula?

Claro que não. Nenhum presidente pode topar um tal aumento de gastos. E os petistas, na oposição, obviamente voltarão ao papel de atacar qualquer programa do governo, correto ou não.

É assim: a oposição no Brasil, qualquer que seja, acredita ter uma licença política para fazer qualquer coisa que atrapalhe o governo.

Lula não pode se queixar. Ele usou e abusou dessa prática. E a justificou explicitamente quando, no governo, lhe perguntaram por que, no governo, mantinha políticas e programas que condenara quando na oposição.

Aliás, embora tenha se oposto a todas as reformas aprovadas no governo FHC, Lula, presidente, não fez qualquer movimento para revertê-las.

Além disso, Lula não se pode queixar da ação eleitoral da oposição porque ele, afinal, continuou no palanque, preparando sua reeleição. E agora permanece no palanque para eleger Dilma Rousseff.

Ainda agora atacou o uso político da doença de Dilma e, ato seguinte, em palanque, pede ao povo para rezar pela candidata. Ora, se ele está na campanha, por que os outros não podem? E tome irresponsabilidades.

O PROJETO

O projeto de reajuste das aposentadorias parte do seguinte ponto: pessoas que se aposentam ganhando, por exemplo, dez salários mínimos, com o tempo passam a ganhar nove mínimos, depois oito, sete, e assim sempre para baixo. A proposta, portanto, é aplicar um reajuste que ponha todas essas aposentadorias no valor em que estavam no momento da concessão, valor esse medido pelo número de salários mínimos. E que essa equivalência seja garantida para sempre.

Parece correto, mas a proposta ignora a realidade.

Desde a introdução do real, em 1994, no governo FHC, tomou-se a decisão política de aplicar uma valorização acelerada do salário mínimo. Com isso, o mínimo passou a ser reajustado sistematicamente acima da inflação, acumulando ganhos reais. Neste ano, por exemplo, teve um reajuste de mais de 12%.

Como o piso das aposentadorias do INSS é o salário mínimo, deu-se a diferença. Isso porque as aposentadorias de valor superior ao mínimo foram reajustadas de acordo com a inflação. Mantiveram seu poder aquisitivo real, mas perdendo em relação ao mínimo.

Como o governo Lula aprovou uma regra permanente de valorização do mínimo (reajuste anual equivalente à inflação mais o crescimento da economia), enquanto as demais aposentadorias terão apenas a reposição da inflação, é claro que haverá um achatamento.

No longo prazo, todas as aposentadorias se aproximarão do mínimo.

Isso, aliás, estava no espírito das reformas. A ideia era que a Previdência pública deveria garantir apenas uma aposentadoria básica, mínima. Quem quisesse mais do que isso deveria recorrer à previdência privada. É o sistema vigente em muitos países - e o brasileiro se encaminha para isso.

A razão é simples. Não há dinheiro para financiar aposentadorias de 10, 20 mínimos.

Ora, o projeto em tramitação no Congresso é uma reversão total. Dá a todas as aposentadorias os expressivos ganhos reais dados ao mínimo desde 1994, restabelece a grande desigualdade entre as aposentadorias e impõe um custo enorme à Previdência e, pois, aos contribuintes brasileiros.

Para falar francamente, é uma total irresponsabilidade. Que tenha o amplo apoio parlamentar é apenas uma demonstração da situação deplorável da política brasileira.

*Carlos Alberto Sardenberg é jornalista

União triplica despesas mesmo com lei fiscal

Regina Alvarez
DEU EM O GLOBO


Regras que freiam estados e municípios não afetam governo federal

ALei de Responsabilidade Fiscal, que completa nove anos hoje, tem sido usada pelo governo federal para enquadrar estados e municípios nos princípios da austeridade fiscal. Se não cumprirem os limites da lei, esses entes ficam impedidos de contratar empréstimos e receber recursos e aval da União. Mas o governo federal adota um comportamento menos rígido em relação aos seus próprios gastos: na vigência da LRF, as despesas correntes da União triplicaram: subiram de R$171,371 bilhões (14,5% do PIB) para R$564,457 bilhões (18,2% do PIB), um aumento de R$393,086 bilhões, o equivalente a 12,7% do PIB.

O aumento da carga tributária no período - da ordem de 5% do PIB - abriu espaço para a ampliação das despesas da União com pessoal, custeio da máquina e programas de assistência como o Bolsa Família, além dos benefícios do INSS. Os gastos com pessoal passaram de R$58,240 bilhões em 2000 (4,9% do PIB) para R$168,795 bilhões em 2009 (5,4%). Em nove anos, a folha de pessoal e encargos sociais da União aumentou R$110,5 bilhões, 3,57% do PIB.

E os próximos orçamentos já estão comprometidos com aumentos autorizados e aprovados pelo Congresso até 2012.

O limite imposto pela LRF para as despesas de pessoal da União - de 50% da Receita Corrente Líquida - revelou-se folgado para conter gastos com pessoal, principalmente por conta do aumento das receitas federais. Em 2009, esses gastos alcançarão R$168,795 bilhões, mas ainda ficarão abaixo do limite da lei.

Os demais gastos correntes pularam de R$113,131 bilhões para 395,662 bilhões no período. A diferença, de R$282,531 bilhões, equivale a 9,13% do PIB. A lei determina que, para cada despesa nova, seja indicada a fonte de receita, mas isso não travou o aumento das despesas da União.

- A LRF representa uma revolução no relacionamento entre o governo central e os governos subnacionais. Daqui a 50 anos, quando a história das finanças públicas for contada, haverá o antes e o depois da lei. Mas, em relação ao governo central, é claramente insuficiente - afirma o economista Fábio Giambiagi, do BNDES.

Limite depende de votação no Congresso

Especialista em finanças públicas, Giambiagi defende a LRF e critica a expansão dos gastos. Em 2007, o governo encaminhou projeto ao Congresso para conter gastos, complementando os limites da LRF.

- É um assunto que clama para entrar na pauta do Congresso - afirma Giambiagi.

Um indicador que reflete a performance da União, de estados e municípios na vigência da LRF é o superávit primário (economia para pagar juros). Entre 2000 e 2008, enquanto o superávit do governo federal cresceu 13,8%, passando de 2,59% para 2,95% do PIB, o de estados e municípios aumentou 76,5% - de 0,64% do PIB para 1,13%.

O economista José Roberto Afonso, um dos pais da LRF, vê com preocupação as contas públicas na conjuntura de queda da arrecadação, combinada com a elevação dos gastos da União. Ele reconhece que o aumento da receita na vigência da lei beneficiou os entes da federação, mas pondera que os estados fizeram sua parte ajustando seus orçamentos.

- O ajuste fiscal da União estava baseado no aumento contínuo e cada vez mais intenso da carga tributária. Agora, o castelo está ruindo porque os ventos da carga tributária apontam no sentido inverso - afirma Afonso.

O economista chama a atenção para o fato de que os limites de endividamento só valem para estados e municípios, enquanto a União continua livre. Os projetos que regulamentam limites das dívidas consolidada e mobiliária estão no Congresso, e o governo não se mexe para fazê-los avançar.

Estados e municípios, por sua vez, tiveram que apertar o cinto para se enquadrar. No caso dos estados, os limites correspondem a duas vezes a Receita Corrente Líquida e, nos municípios, a 1,2 vez. Em 2000, sete estados estavam com dívida acima do limite da LRF, enquanto em 2008 apenas o Rio Grande do Sul se encontrava nessa situação.

- Governos estaduais e municipais respondem por 3% da dívida pública bruta do país, que chega a 62% do PIB. Os outros 97% são de responsabilidade do governo federal e não estão sujeitos a limites - alerta Afonso.

Mudança no ganho da poupança perto de eleição divide e preocupa o governo

Leandra Peres
Sheila D"Amorim
Da Sucursal De Brasília
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O debate no governo sobre a redução no rendimento da caderneta de poupança está dividido. Os técnicos da equipe econômica consideram pouco viáveis as propostas que querem garantir rendimentos mais altos aos pequenos poupadores, solução que é tida como preferencial nas avaliações políticas sobre a mudança.

A saída recomendada pelos técnicos é manter o atual sistema de remuneração da caderneta de poupança, mas reduzir o valor referente à taxa de juros, que é fixado em lei e que precisa de aprovação do Congresso para ser mudado.

Dessa forma, a TR -indexador calculado a partir dos juros pagos pelos bancos a seus clientes- continuaria corrigindo a poupança, como atualmente. Mas o juros anuais de 6% cairiam, diminuindo o ganho final dos poupadores.

Para evitar uma queda brusca no rendimento da aplicação, os técnicos envolvidos na discussão trabalham numa fórmula que permita suavizar a perda dos poupadores no curto prazo. Dessa forma, em vez de o corte na taxa de juros de 6% ao ano gerar uma perda repentina, que seria sentida de um mês para outro, a intenção é fazer com que ela seja diluída ao longo de um período determinado.

Apesar de o tema ser considerado como "emergencial" para parte da equipe econômica, há receio dentro do governo em mudar as regras da poupança num período em que o presidente Lula prepara a sua sucessão. Na sexta, o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, disse que novas regras estarão valendo já em junho.

Teme-se a repercussão que mudanças nas regras de remuneração da caderneta terá, sobretudo, entre a população de menor renda. Além do uso político da oposição, que já vincula um ajuste na forma de correção da aplicação ao confisco do Plano Collor, na década de 1990.

No entanto, a discussão sobre o rendimento da poupança vem ganhando fôlego à medida que avança a queda na taxa Selic, referência de juros para toda economia. Desde setembro, o Banco Central já reduziu os juros em 3,5 pontos percentuais, para 10,25% ao ano.

Com isso, cria-se um problema no mercado financeiro. Os fundos de investimento, que têm rendimento próximo à taxa de juros e pagam imposto sobre esses ganhos e taxa de administração, passam a render menos do que a caderneta de poupança. Isso estimula a migração nos investimentos, um movimento que pode até prejudicar a venda de títulos da dívida do governo.

A proposta da área técnica, no entanto, não é a única. A preferida da área mais política do governo, incluindo assessores diretos de Lula, é criar rendimentos diferenciados.

Os pequenos poupadores receberiam juros mais altos, e os depositantes com saldos mais elevados teriam taxas menores. Além de criar distorções e discriminar os investidores, essa alternativa estimularia saídas alternativas, como a abertura de várias contas de baixo valor.

Outra possibilidade é fixar um percentual da taxa de juros de mercado como correção dos depósitos na poupança.

O fim da era Thatcher

Luiz Carlos Bresser-Pereira
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A crise do neoliberalismo é muito mais grave do que a desaceleração que, nos anos 70, facilitou o assalto neoliberal

EM 2008 , antes do "outubro negro", escrevi nesta coluna (21/ 4) que a onda neoliberal havia chegado ao fim. Agora, Gideon Rachman ganhou a manchete do "Financial Times" (28/4) afirmando que "terminou a era Thatcher, tudo a que a dama de ferro se opôs está de volta".

De fato, o governo de Margaret Thatcher no Reino Unido, eleito em maio de 1979, 18 meses antes de Ronald Reagan nos Estados Unidos, marcou o início da "experiência neoliberal".

Durante 30 anos, o mundo copiou suas políticas: "privatização, desregulação, redução de impostos, abolição dos controles de câmbio, assalto ao poder dos sindicatos, a celebração da criação de riqueza em vez da distribuição de riqueza". Engana-se, entretanto, Rachman quanto ao final da sua frase. A criação de riqueza foi antes de riqueza fictícia, não da riqueza real. A experiência neoliberal fracassou sob todos os ângulos: as taxas de crescimento econômico diminuíram, a renda concentrou-se em toda parte, a instabilidade econômica aumentou, e agora essa experiência termina de forma inglória com a crise global.

A tese de que as políticas neoliberais tornavam os países mais competitivos, porque ao diminuírem os salários os faria mais dinâmicos, não se confirmou. Os dois grandes países que as adotaram no limite foram a Rússia de Mikhail Gorbatchov e Boris Ieltsin e a Argentina de Carlos Menem. Sabemos quão desastroso foi seu resultado. Quanto mais um país adotou as políticas neoliberais, menos cresceu. A redução dos salários foi alcançada, mas:

1) essa redução causou insuficiência de demanda e obrigou os países a produzirem mais bens de luxo e menos bens de salário para compatibilizar oferta e procura;2) as políticas neoliberais de desregulamentação salarial minaram a solidariedade social, levando os trabalhadores a perder sua identificação com suas empresas e com seu país; e 3) a liberalização financeira tornou as economias nacionais mais sujeitas a crises, que se multiplicaram em todo o mundo: a desregulação "big bang" do setor financeiro promovida por Thatcher em 1986 está na origem da crise atual.

Em 1988, quando escrevi o trabalho "O ciclos da intervenção do Estado" (disponível em meu site), eu previa que a onda neoliberal terminaria dentro de algum tempo, como, naquela década, terminara o ciclo desenvolvimentista e social iniciado em 1930. Embora afirmasse que a tendência geral, porque compatível com a democracia, era a do aumento gradual da regulação estatal e da garantia universal dos direitos sociais, eu afirmava que esse processo não era linear, mas sujeito a ciclos. Confesso, entretanto, que não esperava que o final do neoliberalismo ocorresse tão depressa e de forma tão violenta.

Ainda que derrotado, o neoliberalismo não morreu. No final de seu artigo, Rachman duvida que o incentivo ao trabalho pregado pelo neoliberalismo tenha sido destruído pelos bônus recebidos por banqueiros enquanto estes levavam seus bancos à quebra; lembra a célebre frase de Thatcher: "Não há alternativa"; e cobra uma alternativa coerente. Tolice, as alternativas existem, mas não são exprimíveis em equações matemáticas coerentes com o que pretendem os economistas neoliberais.

São fruto da experiência e do bom senso combinados com modelos teóricos abertos, como são a teoria keynesiana e a teoria estruturalista do desenvolvimento econômico. O neoliberalismo não voltará tão cedo: sua crise é incomparavelmente mais grave do que a desaceleração econômica que, nos anos 1970, facilitou o assalto neoliberal.

Luiz Carlos Bresser-Pereira, 74, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".

Felizes campeões

Felizes campeões
Juca Kfouri

Guga está feliz.
O Avaí é campeão em Santa Catarina.
Djalma Santos está alegre.
O Furacão é mais uma vez campeão no Paraná.
Dirceu Lopes comemora.
Minas é cada vez mais disparadamente Cruzeiro.
Na Bahia deu Vitória, porque até o homem forte (?) do Bahia é do Vitória.
E o Goiás retomou a taça no Brasil Central.
Como o Fortaleza no Ceará.


Corinthians Campeão Paulista 2009

http://www.youtube.com/watch?v=SvEt26U_8e8

Viva, Ronaldo!
Juca Kfouri

Ronaldo voltou ao Brasil.
Definitivamente.
Acaba de fazer uma crítica que há anos se esperava que algum atleta fizesse.
Foi impiedoso com a esculhambação no gramado do Pacaembu no pós-jogo.
Reclamou que não pôde comemorar o título, tal a invasão de microfones e bicões.
Reclamou que por pouco o capitão William não se queimou com os fogos de artíficio da FPF.
O papagaio de pirata, Orlando Silva Jr., era um dos bicões.
Quer ser deputado federal, mas, ao que tudo indica, o voto de Ronaldo não terá.
Ronaldo se disse o homem mais feliz do mundo hoje.
Feliz mas crítico.
Ainda bem.
Falou de sua identificação com o povo brasileiro e homenageou a torcida que "não pára, não pára, não pára".

Flamengo Campeão Carioca 2009

http://www.youtube.com/watch?v=ot_fMp2aS3c

Rio Rubro-Negro!
Juca Kfouri

O primeiro tempo no Maracanã quase só rubro-negro foi bom apenas para o Flamengo.
O Botafogo não jogou nada e Klebérson fez dois gols, um bem esquisito, de cabeça, e outro em bola que desviou na zaga alvinegra.
O goleiro Renan errou no primeiro e teve azar no segundo.
Mas o segundo tempo foi o inverso.
Logo de cara o goleiro Bruno defendeu brilhantemente um pênalti, mão na bola de Juan, bem batido por Victor Simões.
Era o fim do Botafogo?
Não, por incrível que pareça.
Porque Juninho, batendo falta, mandou um foguete no ângulo, aos 16, com justiça pela pressão botafoguense.
E, dois minutos depois, em brilhante triangulação, Túlio Souza empata.
Inacreditável! Sem Maicossuel, sem Reinaldo, sem torcida, sem Maicosuel, sem Reinaldo, com dois gols atrás, o Botafogo se agigantava.
Aí, o Flamengo foi à loucura e à luta, diante de mais de 84 mil torcedores.
Pressionou, tentou, mas, nada.
E, no último minuto, perdeu seu capitão, Fábio Lucinao, expulso.
Vieram os pênaltis.
Kléberson fez 1 a 0, embora Renan tenha tocado na bola.
Léo Silva empatou, bola de um lado, Bruno do outro.
Juan fez 2 a 1.
Juninho bateu no meio do gol e Bruno defendeu com o pé.
Airton fez 3 a 1.
Gabriel diminuiu para 2 a 3.
Léo Moura fez 4 a 2.
Leandro Guerreiro bateu e Bruno defendeu.
O Flamengo é o maior campeão do Rio de Janeiro!
Pode parar com o estadual...
E é difícil escolher o maior herói da conquista: terá sido Kléberson, que fez dois gols e converteu seu pênalti, ou Bruno que pegou um pênalti no jogo e mais dois no desempate?
Na dúvida, o blog responde: AMBOS!