sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Serra diz que não vai polemizar com Lula porque não está em campanha eleitoral

Wagner Gomes - O Globo; Agência Brasil

BRASÍLIA, CABROBÓ (PE) e SÃO PAULO - O governador de São Paulo, José Serra (PSDB) disse nesta sexta-feira que não está em campanha eleitoral e, que, portanto, não vai polemizar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, as afirmações de Lula têm viés eleitoral.

Na quinta-feira, o presidente disse que estranhava o interesse de Serra pelos problemas do Nordeste perto das eleições . E nesta sexta, Lula voltou a criticar a oposição, dizendo que o papel dos adversários é "ver defeito". " Não vou fazer um debate eleitoral porque ele não é candidato no ano que vem e porque eu ainda não defini se serei candidato ou não "

- O presidente Lula falou em termos eleitorais. Não vou fazer um debate eleitoral com ele por dois motivos: porque ele não é candidato no ano que vem e porque eu ainda não defini se serei candidato ou não - disse Serra, em São José dos Campos (SP), ao inaugurar um trecho de ligação entre as rodovias Dutra e Carvalho Pinto.

Em seu terceiro dia de viagem pelo Nordeste, onde vistoria as obras de transposição do Rio São Francisco, Lula voltou a criticar a oposição , valendo-se novamente de uma metáfora futebolística:

- É como jogador que está no banco de reserva; diz que é amigo do que está jogando, mas fica doidinho para o que está jogando tomar cartão vermelho ou se machucar para entrar no lugar dele. O papel da oposição é ver defeito - disse Lula em Cabrobó (PE), onde voltou a defender a necessidade da obra de transposição, frisando que ela só será valorizada depois que estiver concluída.

Mais tarde, ao ser perguntado sobre as acusações de que a viagem de três dias para inspecionar obras de revitalização e transposição do Rio São Francisco é eleitoreira, Lula voltou a criticar:

- Pobre da oposição que não tem o que fazer. Acho que a ociosidade é a desgraça da humanidade. Em vez de olhar o que eu estou fazendo, deveriam olhar o que eles estão fazendo - disse, ao falar com jornalistas em Cabrobó (PE).
Na comitiva de Lula, estão dois pré-candidatos à Presidência: a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), e o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE).

Sobre as eleições de 2010, Lula disse que ainda é cedo para fazer qualquer avaliação sobre o panorama eleitoral. Sobre as possíveis candidaturas de Dilma e Ciro, ele afirmou:

- Acho que Dilma e Ciro são dois grandes companheiros, mas quem vai decidir o destino deles são os partidos.

Serra disse ainda que a decisão de ser candidato será tomada por ele e pelo PSDB somente no primeiro trimestre do ano que vem e que, por enquanto, continuará trabalhando pelo governo de São Paulo. O tucano afirmou ainda que, para ele, não seria difícil separar campanha eleitoral do governo, mas a imprensa teria dificuldade de fazer essa distinção. Logo em seguida foi perguntado se isso também seria difícil para o presidente Lula.

- Que cada um fale por si. No meu caso não há problema, porque eu não estou fazendo campanha.

Mais forte que a lei

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O presidente Luiz Inácio da Silva está, assumida e explicitamente, liderando uma campanha de desmoralização da lei e dos instrumentos de fiscalização do Estado que lhe provocam desconforto, Tribunal de Contas da União no destaque. Do palanque volante ao qual deu o nome de vistoria das obras do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco, jogou a culpa pelos atrasos nas obras federais no TCU e na Justiça, dando a entender que, se não existissem, o Brasil estaria muito mais avançado rumo ao desenvolvimento.

Em outras ocasiões o presidente já havia sugerido o mesmo em relação às exigências sobre impacto ambiental, bem como atacou a existência de leis que lhe criavam obstáculos, enquanto permitiu que seu governo ignorasse outras que, se respeitadas, restringiriam as ações (violentas) de seus protegidos.

Já teve oportunidade também de criticar duramente integrantes do Judiciário por manifestarem posições contrárias aos seus interesses e só é condescendente com o Congresso porque o Congresso lhe é subserviente.

Quando isso ainda não havia ficado claro, no início do primeiro mandato, Lula incluía o Legislativo entre as instituições descartáveis. “Não tem Congresso, não tem Judiciário, não tem cara feia”, só Deus, segundo ele, o impediria de levar o Brasil ao lugar de merecido destaque.

Foi criticado pelo cunho autoritário da declaração. De natureza semelhante à ofensiva palanqueira contra a atuação do TCU, que recentemente ordenou a paralisação de 41 obras do PAC por indícios de irregularidades.

O presidente diz a um público desprovido de discernimento, a aliados movidos pelo oportunismo e a uma oposição entocada em seu irresponsável imobilismo, que, em havendo dinheiro e popularidade, tudo o mais se ajeita. Sugere que, se não fossem as leis, os fiscalizadores, os controles, as regras, sua fantástica obra governamental seria ainda mais fantástica.

Não é surpreendente, pois, que admire tanto o colega venezuelano Hugo Chávez, que dominou as instituições do país a poder de populismo e dinheiro do petróleo. Não espanta, portanto, que se encante tanto com as realizações dos governos do Brasil na época do regime militar.

Não causa estranheza que critique tanto a imprensa nem que faça isso no exercício pleno do seu dom de iludir multidões, como fez ontem quando chamou de “azedos” os meios de comunicação do Brasil na comparação com a cobertura internacional à escolha do Rio para sediar a Olimpíada de 2016.

O noticiário francamente favorável, ufanista até, não satisfez o presidente Lula. Queria unanimidade e ficou contrariado com os alertas às responsabilidades correspondentes, com as cobranças em relação ao bom trato do dinheiro público a ser empregado nas obras.

Fosse Luiz Inácio da Silva presidente de quaisquer dos países (os democráticos e civilizados, bem entendido) que não analisam os cenários sem conhecimento completo de causa, seus constantes ataques às leis e suas permanentes defesas de toda sorte de malfeitorias com certeza absoluta não seriam recebidos com a complacência oferecida pelos nacionais a sua excelência.

Entre outros motivos porque democracia que se preze não aceita que governantes eleitos pela maioria subvertam impunemente seus valores e suas regras como se fossem donos da vontade de todos.

Se colar

Sendo para valer, é boa a decisão do governo de rever o confisco de parte das restituições do Imposto de Renda de 2008 devidas ao cidadão que cumpriu seus compromissos. Mas seria melhor se o governo tomasse decisões transparentes que merecessem – por piores que fossem – uma explicação consistente e não um recuo provocado pela repercussão negativa, pautado pelo receio da queda nos índices de popularidade do presidente da República.

Fica parecendo que Lula não fazia a menor ideia do alcance da medida quando a defendeu, assegurando que o contribuinte não perderia nada, pois receberia os atrasados corrigidos pela taxa Selic.

Em miúdos

Em meio a uma análise sobre o quadro em São Paulo, Ciro Gomes disse outro dia o seguinte: “Temos (o PSB) uma avaliação até positiva do governo Serra. O problema está no plano nacional, onde se associou ao projeto (FH) que destruiu o Brasil.”

Ciro disse, portanto, que o tucano é bom para governar São Paulo, mas é ruim para o país. Frase que sinaliza disposição de realmente disputar a Presidência, já que estabelece o contraditório no âmbito nacional.

Ou terá falado para fustigar o PT-SP?

Cassino

A “briga” entre Dilma Rousseff e Ciro Gomes está ficando igual à “briga” entre José Serra e Aécio Neves. Sabe como? Não é briga, é jogo. O problema é que não se sabe exatamente qual.

Boa coisa não sai daí

Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Depois de tomar de assalto o Banco do Brasil e a Petrobras e de patrocinar operações heterodoxas no caso Varig e na venda da Brasil Telecom para a Oi, o governo agora parte com tudo para cima da Vale do Rio Doce.

De um lado, Lula e Dilma fritam o seu presidente, Roger Agnelli. Do outro, uma nova dupla do barulho surge no horizonte de 2010: o megaempresário Eike Batista e o megapetista Sérgio Rosa.

Eike, um dos financiadores do filme de Lula para a sucessão de Lula, foi expulso da Bolívia sob acusação de prejudicar os interesses do Estado e do povo boliviano. Rosa é desses que está sempre no lugar certo na hora certa. Quer ver?

Foi do Conselho de Administração justamente da Brasil Telecom, é do Conselho de Administração da Vale e preside a riquíssima Previ (fundo de pensão do BB) desde 2003, primeiro ano da era Lula.

Na campanha de 2002, Rosa era diretor de Participações do BB e mandou uma cartinha para os conselheiros da Previ em empresas privadas, com uma orientação: a participação das empresas na eleição seria "saudável, necessária e democrática". E uma ordem: ele cobrava informações "quanto à participação efetiva no processo".

Em bom português, Rosa pressionou as empresas para que contribuíssem na campanha. Só faltou dizer: "Lula, esse é o cara!". Nem precisava.

E por que Lula e Dilma querem mexer na Vale? Como registrou o editorial de ontem da Folha ("Assédio na Vale"), a empresa vai bem, obrigada. Desde a privatização, em 1997, o valor de mercado pulou de US$ 8 bi para US$ 125 bi, e os empregos, de 10 mil para 60 mil.

A motivação de Lula e Dilma pode, portanto, estar na equação Eike Batista-Sérgio Rosa-ano eleitoral. Com resultados previsíveis.

Mais experiente, Rosa não vai deixar a digital em novos bilhetes comprometedores, mesmo com costas quentes. Mas pode escrever: boa coisa não vai sair daí.

Onde está a direita?

Fernando de Barros e Silva
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


SÃO PAULO - Não faz muito, Lula festejava, como uma conquista do país, a ausência de "trogloditas de direita" entre os prováveis candidatos à sua sucessão. De fato: Dilma Rousseff, José Serra, Ciro Gomes, Marina Silva... inclua-se Aécio Neves na lista. Nenhum deles caberia no perfil do "troglodita". Quer dizer que não existe direita no Brasil? Ou, talvez, que a direita não esteja representada na política nacional?

Talvez seja útil separar "direita" de "trogloditas". Estes continuam por toda parte, fazendo valer seus interesses. A turma do velho patrimonialismo, por exemplo, encontra-se arrebanhada à sombra do lulismo, protegida e bem alimentada. Sob os tucanos também era assim, de modo menos despudorado.

O Brasil, FHC costuma dizer, é mais atrasado do que conservador. Pode-se pensar em termos de direita e esquerda, mas a política real se explica melhor pelo parasitismo do Estado do que pelo crivo ideológico.

A não ser da boca para fora, o país desconhece a figura do empresário liberal. O capitalismo aqui sempre foi anfíbio, patrocinado pelo Estado -sirva de exemplo o caso caricato das privatizações financiadas pelo BNDES. Bancos e empreiteiras nunca faturaram tanto como agora, na gestão "progressista" do PT. Com Lula, voltou ser de bom-tom mamar no Estado, basta invocar algum "interesse estratégico".

Mas e a direita, onde está? Se por isso entendermos o ideário liberal clássico, para o qual o Estado constitui um entrave à realização do indivíduo e a vida social deve ser regulada pelo mercado, então Lula tem razão: essa direita está politicamente órfã. O antigo PFL tenta ocupar o espaço, mas até mesmo a bandeira pela redução da carga tributária é uma impostura nas suas mãos.

O amálgama da direita é o antipetismo, sobretudo nas classes médias do Sul e do Sudeste.

Além da aversão à figura de Lula, essa direita se imagina espremida entre a farra dos ricos e a esmola dos pobres. E culpa o lulismo pela frustração de seus sonhos de exclusividade social. Se hoje vota em Serra, é menos por gosto do que por falta de opção.

Pela janela basculante

Maria Cristina Fernandes
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Tancredo Neves apostou no vazio político criado pelo empate entre um regime militar combalido, de um lado, e uma oposição sem força de outro. A opção pelo colégio eleitoral desempataria o jogo.

Vinte e cinco anos depois, é outra a polarização que move a política. Mas é o herdeiro da tradição do PSD mineiro que continua armando o jogo. Aécio Neves aposta que o vazio advindo de uma candidatura José Serra inviabilizada e uma opção Dilma Rousseff sem fôlego de vitória pavimente sua chegada ao poder.

Professor da Universidade Federal de Minas Gerais e um dos mais ativos intelectuais do PT, Juarez Guimarães formula a analogia na expectativa de que o neto de Tancredo não vingue a tradição a que se filia.

Sua aposta é que a polarização entre PT e PSDB, que pauta a política nacional desde 1994 e movimenta 70% do eleitorado, ainda não deu sinais de esgotamento.

É por esta polarização que certamente se pautam tanto o QG de Dilma Rousseff quanto os partidários de José Serra. Foi pelo desmonte dela que o governador de Minas Gerais levou, suado, a sucessão municipal em Belo Horizonte. E é nessa toada que tem construído o discurso pós-lulista de suas ambições presidenciais.

Só o pessedismo mineiro explica por que esse discurso destoa menos em Aécio do que em Serra. O PSD de Juscelino Kubitschek que inspira Aécio compunha a base política de Getúlio Vargas, a quem Luiz Inácio Lula da Silva é costumeiramente comparado.

Ao contrário dos liberais paulistas, que chegaram a fazer guerra contra a legislação trabalhista, explica Guimarães, os mineiros nunca encamparam um discurso radicalmente antiestatal.

A concentração financeira em São Paulo e a decadência da Praça Sete de Setembro, antigo centro bancário de Belo Horizonte, cunhariam as duas faces de uma mesma moeda.

São Paulo se desenvolveria sob a aliança entre o capital financeiro e industrial enquanto Minas continuaria a contar com a forte presença estatal para alavancar os investimentos estaduais.

É sob esta luz de popa que urge observar a posição do governador mineiro nesse imbróglio que envolve a Vale. O governador era líder do PSDB na Câmara quando fechou com seu partido em defesa dos leilões de privatização da empresa.

Uma crise mundial e um pré-sal depois, o discurso de Aécio está mais nacionalista. Fecha com o governo federal no modelo de partilha e busca tirar proveito da mudança na legislação para obter royalties mais gordos ao Estado na exploração dos minérios. Tenta dobrar os empresários do setor pela moderação, a contrastar com o mando petista.

Esta semana, Aécio recebeu Roger Agnelli no Palácio da Liberdade. Na foto posada, cobranças mútuas. Aécio por investimentos da Vale e Agnelli pelo empenho do Estado no desfazimento dos percalços ambientais.

A portas fechadas, encontraram-se ali um presidenciável com um discurso mais próximo da Casa das Garças do que dos fundos de pensão e um executivo por estes premido. Horas depois, Aécio e Lula seriam flagrados num registro fotográfico de discreto entrevero - "Não acredite em tudo o que vê pela janela basculante", diria Aécio negando desentendimentos.

Para vingar, o pós-lulismo de Aécio - estatismo mitigado de um liberal mineiro - já incensada pela postulação de Ciro Gomes, ainda precisaria contar com o esvaziamento de Serra, seguido pelo de Dilma.

Na oposição, cresce a hipótese de que Serra pode vir a optar pela reeleição face a um risco cada vez maior de a candidatura Dilma chegar ao carnaval em condição de empate técnico.

O risco é agravado pela perspectiva de o comando do Estado cair nas mãos de Geraldo Alckmin, uma opção que não agrada ao PSDB de Serra e, desde os entreveros da sucessão paulistana, nem ao DEM de Gilberto Kassab.

A outra condição para Aécio emplacar - o esvaziamento da candidatura Dilma - é mais incerta. Além de manter os partidos aliados sob relativo controle, todos os indicadores da economia - do emprego às reservas cambiais - lhe servem de cabos eleitorais. É mais do que improvável que o principal deles - um presidente da República aprovado por 80% do eleitorado - seja incapaz de levar sua candidata ao segundo turno.

Ainda que derrotado, Aécio seria vitorioso numa disputa contra Dilma. Dela sairia como líder da oposição. Dezoito anos mais velho, duas vezes candidato derrotado à Presidência e com o Palácio dos Bandeirantes entregue de bandeja ao fogo amigo, Serra não poderia reivindicar a mesma posição.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

A recuperação se consolida

Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Mais importante do que os bons números é o fato de que alguns fantasmas estão sendo exorcizados

O ANO DE 2009 vai mostrar um quadro econômico bastante diverso do previsto pela maioria dos analistas no calor da crise econômica. Estados Unidos e Europa devem crescer, respectivamente, 3,5% e 2,5% ao ano no segundo semestre, deixando para trás um período de quatro trimestres de recessão. Embora essa recuperação não seja suficiente para compensar as perdas anteriores, hoje é razoável dizer que a volta sustentada do crescimento econômico é a hipótese mais provável.

No mundo emergente, a recuperação é ainda mais clara. O que tem surpreendido é a rapidez da volta dos indicadores aos níveis anteriores a setembro do ano passado. Na China, as vendas ao varejo e a produção industrial ultrapassaram com larga margem os valores anteriores à quebra do Lehman Brothers.

O mesmo comportamento ocorreu em outros países como a Coreia e a Índia. Mas o Brasil é o que mais chama a atenção. A volta do emprego aos índices pré-crise é uma jabuticaba brasileira.

Mais importante do que os números em si é o fato de que alguns fantasmas que andaram assombrando nos últimos meses estão sendo exorcizados. Os mais marcantes foram a volta da funcionalidade do mercado de crédito, a normalização dos estoques em setores importantes como o de bens de consumo e imóveis residenciais e o comportamento menos histérico do consumidor, principalmente o norte-americano, na redução de seus níveis de consumo.

A recuperação dos mercados de bônus corporativos privados compensou o corte brutal da oferta de crédito bancário, de maneira que nos primeiros nove meses deste ano a oferta total de crédito (a soma dos dois) é 4% superior à do mesmo período de 2008. Não há falta de financiamento para as empresas de maior porte, que estão com um nível de caixa em valores recordes.

São as empresas médias e pequenas que sofrem com a retração dos bancos, pois não têm acesso ao mercado de títulos de crédito. Mas essa é uma dinâmica clássica das economias de mercado que só será alterada com a estabilização do sistema bancário ao longo do próximo ano.

Já a normalização dos estoques, em um momento em que o consumo privado começa a crescer novamente, está levando as empresas a aumentar sua produção. Dentro da dinâmica normal, teremos pouco mais à frente uma normalização do mercado de trabalho, embora com índices de desemprego ainda elevados. Da mesma forma, a paralisação da atividade da construção imobiliária ao longo de 2009 criou as condições para a desova dos estoques acumulados devido ao pânico. Com isso, nota-se em alguns mercados importantes a estabilização dos preços e uma volta, ainda que tímida, da atividade da construção.

Finalmente, o consumidor está voltando às compras, movimento- -chave para a redução dos estoques acima citados e a volta da atividade econômica. No segundo trimestre deste ano, as vendas ao varejo nos Estados Unidos caíram a uma taxa anual de 4,1%, ficaram praticamente estáveis no terceiro e devem crescer neste quarto trimestre.

Talvez o maior potencial de surpresa positiva nos próximos meses -a despeito dos obstáculos estruturais ainda existentes- seja a sustentação de um ritmo acelerado de crescimento nos Estados Unidos e na Europa.

Luiz Carlos Mendonça De Barros , 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

Governo de facto apmplia pressão psicológica sobre aliados de Zelaya

Roberto Simon, Tegucigalpa
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Líder deposto e governo de facto retomam negociações hoje, após fim do prazo zelaysta para conclusão de acordo

Representantes do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e do governo de facto, liderado por Roberto Micheletti, continuarão hoje o diálogo para superar a crise política no país. A informação foi dada ontem por John Biehl, chefe da missão da OEA (Organização dos Estados Americanos). Segundo ele, falta pouco para a conclusão de um acordo. "Todos estão trabalhando muito para termos um acordo amanhã (hoje)", disse.

Em pleno feriado nacional, decretado pelo governo de facto para celebrar a conquista da vaga para a Copa do Mundo de 2010, o clima de distensão e otimismo da véspera deu lugar a uma tensão, causada,principalmente, pelo reforço do contingente militar que cerca a Embaixada do Brasil em Honduras.

Novas torres com holofotes foram instaladas perto da residência - onde está abrigado Zelaya - e a atividade dos soldados mostrava-se mais intensa, numa aparente intenção de ampliar a pressão psicológica sobre o campo zelaysta.

À meia-noite de ontem, venceu o ultimato dado por Zelaya para que seus representantes chegassem a um acordo político com Micheletti. Aparentemente,o líder deposto abandonou a exigência para que o diálogo prosseguisse hoje.

O consenso parecia mais próximo na véspera - quando as duas partes indicavam ter chegado a acordo sobre sete dos oito pontos fundamentais previstos na Proposta de San José, um texto apresentado pelo mediador da questão, o presidente costa-riquenho e Prêmio Nobel da Paz, Oscar Arias. Falta, porém, o ponto mais sensível de toda a questão: a restituição de Zelaya ao cargo do qual foi deposto por um golpe em 28 de junho.

Confinado desde o dia 21 na Embaixada do Brasil, o presidente deposto aumentou a pressão ontem ao insistir que o diálogo com os líderes golpistas era "extremamente delicado e perigoso".

O jornal hondurenho El Heraldo chegou a informar que Zelayajá teria aprovado o texto do acordo com o regime golpista. O documento seria apenas submetido a"algumas modificações",disse o negociador zelaysta Víctor Meza.

Micheletti, entretanto, negou qualquer tipo de acerto com os zelaystas. Segundo o líder de facto, resta ainda uma divergência sobre a instância de poder que deveria analisar a possível restituição. Zelaystas desejariam a aprovação pelo Congresso; golpistas, pela Suprema Corte.

Em meio a sinais de otimismo e retrocessos, aliados do presidente deposto declararam ontem que empresários estariam pressionando Michelettia não aceitar a restituição de Zelaya.

Ao Estado, o deputado zelaysta Marvin Poncé, do partido Unificação Democrática, acusou a Associação Nacional de Indústrias(Andi) de estar sabotando o diálogo. O presidente da organização, Adolfo Facussé, nega.

A Frente Nacional de Resistência (FNR), a ala mais radical da base de apoio de Zelaya, denunciou ontem a falta de"vontade política dos golpistas" para encerrar a crise.

O grupo também exigiu novamente a suspensão "imediata e total" do estado de sítio, imposto pelo governo de facto há três semanas. Micheletti recebeu ontem com festa no palácio presidencial a seleção de futebol hondurenha, que na quarta-feira à noite venceu El Salvador e contou com um empate no jogo entre EUA e Costa Rica para garantir sua segunda participação em Mundiais (a primeira, pouco gloriosa, foi em 1982).

Serra dá isenção para operadora baratear serviços de banda larga

Wagner Gomes
DEU EM O GLOBO

Objetivo é melhorar acesso de população de baixa renda à internet

SÃO PAULO. Em ritmo de pré-campanha eleitoral, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), assinou ontem um decreto que permite acesso rápido à internet para a população de baixa renda. A medida entra em vigor hoje e, segundo o governador, deve atingir 2,5 milhões de pessoas com computador em casa, mas que nem sempre têm acesso à internet. As operadoras que oferecerem o serviço de banda larga terão isenção de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Por enquanto, o programa tem parceria com a Telefonica.

- Atualmente, 1,75 milhão de usuários que tem computador em casa tem apenas acesso à internet discada. O restante nem tem conexão. Para quem utiliza a banda larga entre 200k e 1 mega, a economia será grande, de pelo menos R$20 na conta mensal. A parceria é com a Telefonica, mas as mesmas condições estão abertas para outros provedores - disse Serra, durante a Furecom, feira de telecomunicações, em São Paulo.

O governador explicou que a Telefonica abriu mão de R$10 do custo do seu serviço para reduzir o preço ao consumidor. Ele explicou que as pessoas com acesso até 1 mega pagam hoje R$50 pelo serviço. Com a redução do ICMS, o valor será reduzido para até R$29,80 por mês. Como não se sabe quantas pessoas vão aderir ao programa, o governo ainda não tem os cálculos do impacto que isso terá para os cofres públicos. Segundo Serra, São Paulo arrecada R$534 milhões ao ano com o ICMS sobre a banda larga.

Vale enfrenta agora ameaça de ter exportações taxadas

Eliane Oliveira
DEU EM O GLOBO

Após ser salvo da pressão de Lula para mudar o comando da Vale, o presidente da empresa, Roger Agnelli, agora tem pela frente nova batalha. Os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento preparam a criação de um imposto sobre as exportações brasileiras de minérios, com alíquota de até 5%. Das 282 milhões de toneladas vendidas pelo Brasil no exterior, que renderam US$ 22,8 bilhões no ano passado, 60% a 70% são de minério de ferro, principal item da pauta exportadora da Vale, que concentra 79% da produção no mercado nacional. A medida é uma alternativa à proposta do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, de elevar os royalties pagos por todo o setor de mineração - o novo imposto seria recolhido só pelo exportador. A um interlocutor, Agnelli revelou estar assustado com a pressão pública que vem sofrendo. Para ele, setores do governo querem tomar conta da Vale.

Nova ameaça à Vale

Governo quer taxar exportação mineral em até 5%. Empresa produz 79% do minério de ferro no país

Às voltas com um inferno astral no campo político desde que o presidente Lula passou a pressionar pela troca de comando na Vale, o presidente da empresa, Roger Agnelli, tem pela frente uma nova batalha, desta vez na área técnica. Os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento alinhavam nos últimos dois meses a imposição de um imposto sobre as exportações brasileiras de minérios, com alíquota de até 5%. Das 282 milhões de toneladas vendidas pelo Brasil no exterior, que renderam US$22,8 bilhões em 2008, 60% a 70% são de minério de ferro - principal item da pauta exportadora da Vale, que concentra 79% da produção no mercado nacional. Atualmente, o couro é o único produto brasileiro cuja venda ao exterior é tributada.

A medida é uma alternativa à proposta do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, de elevar os royalties pagos por todo o setor de mineração - o imposto seria recolhido apenas pelo exportador. Este é um dos principais pontos do projeto do novo Código Brasileiro de Mineração, que está sendo formatado pela pasta. Mesmo que a tributação não vingue, a Vale será afetada pelo aumento dos royalties, reduzindo na margem sua competitividade. Caberá à Câmara de Comércio Exterior (Camex) examinar e dar aval à taxação das exportações.

De um lado, os defensores do tributo argumentam que as cadeias produtivas que dependem do minério de ferro - com ênfase para o setor siderúrgico, que abastece áreas estratégicas como a automotiva e a de construção civil - serão atingidas pelo aumento de royalties, o que poderá desestimular investimentos. O ônus seria repassado ao consumidor final, provocando repiques na inflação.

O único temor é que o Imposto de Exportação, que seria transitório, passe a compor a expectativa anual de receita orçamentária - ou seja, o governo não abriria mão desses recursos. Foi o que aconteceu na Argentina, que não sobrevive mais sem a tributação de commodities como soja e milho, adotada há cerca de dois anos pela presidente Cristina Kirchner, para garantir o abastecimento interno.

Setor privado é contrário à medida

Além disso, o minério de ferro tem fatia de 9% do total exportado pelo país. Garantiu, somente no período de janeiro a setembro de 2009, uma receita maior que US$10 bilhões.

Uma fonte destacou que, se aprovado o imposto, que pode ficar entre 4% e 5%, a tributação não atingirá somente minério de ferro. Outras commodities exportadas pelo Brasil, como bauxita, alumínio, manganês, cobre, e níquel, também serão atingidas.

Um técnico observou que a China já aplica o imposto sobre esses itens, para assegurar o abastecimento interno. No Brasil, a ideia de elevar os royalties - que são distribuídos às cidades afetadas pela atividade - seria turbinar a arrecadação, que atualmente é de apenas R$500 milhões.

Na defesa pelo aumento de royalties incidentes sobre o setor de mineração, Lobão tem afirmado que um dos objetivos é igualar o Brasil a outros países, como Austrália, nosso principal concorrente no mercado externo.

As empresas mineradoras, como Vale e MMX, e o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) evitaram comentar a medida. Outros representantes do setor privado, como a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) e o Instituto Aço Brasil (IABr, antigo Instituto Brasileiro de Siderurgia), se posicionaram contra a criação do imposto.

- Sou completamente contra isso. Neste momento, o mundo virou uma bolsa de mercadorias em que as cotações das commodities sobem e descem, muitas vezes movidas por especulação. Além disso, o imposto de de hoje pode virar um confisco amanhã - afirmou o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro.

O vice-presidente do IABr, Marco Polo de Mello, disse não concordar com nenhuma das alternativas. O aumento de royalties encareceria o processo produtivo como um todo, retirando competitividade da indústria brasileira. A tributação da exportação de minérios teria um efeito nocivo sobre as exportações brasileiras.

- O minério de ferro é uma commodity que está em competição no mundo inteiro, e isso demonstra que o governo só está preocupado em arrecadar - afirmou.

O setor siderúrgico já está sob a ameaça dos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Miguel Jorge, de perder a proteção que conseguiu há cerca de dois meses, com a redução das tarifas de importação. O imposto foi aumentado para atender a preocupação das indústrias, que apontavam o aumento das importações e a perda de exportações em mercados vizinhos para a China. Mas foram acusadas pelo setor automotivo de reajustar indevidamente seus preços.

- Já asseguramos que não houve reajuste. Não aceitamos ser usados como instrumento para venda de outros segmentos - disse Marco Polo.

A medida também irá aumentar ainda mais a carga tributária que incide na mineração. Levantamento feito em 2008 pela consultoria Ernst & Young, para o Ibram, aponta que o Brasil é o país que cobra a maior carga tributária sobre 12 minérios, na comparação com outras vinte nações concorrentes no mercado internacional.

O Brasil é o campeão na cobrança de impostos sobre seis minérios (zinco, cobre, fosfato, níquel, potássio e rochas ornamentais), cobra a segunda maior carga sobre outros cinco (bauxita, carvão mineral) e é o terceiro em minério de ferro, atrás da Venezuela, que tem produção irrisória, e da China, que consome tudo o que produz.

Colaborou Gustavo Paul

Bradesco pode ceder 2 diretorias

Geralda Doca e Gerson Camarotti
DEU EM O GLOBO

Banco sacrificaria cargos "tucanos" na Vale para apaziguar ânimos

BRASÍLIA.
O Bradesco - acionista do bloco de controle responsável pela indicação de Roger Agnelli à presidência da Vale - estaria disposto a sacrificar duas das cinco diretorias-executivas da companhia a fim de dar uma resposta à insatisfação do governo com o executivo e apaziguar os ânimos. São áreas comandadas por indicações que o Executivo credita ao PSDB e que estão na empresa desde a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: Carla Grasso, (Serviços Corporativos e Recursos Humanos), mulher do ex-ministro da Educação Paulo Renato, e Fábio Barbosa (Finanças e Relações com Investidores), secretário do Tesouro na era tucana.

O Bradesco, porém, pretende manter Agnelli. E avisou ao presidente Lula que não quer vender suas ações da Vale, seja para Eike Batista ou qualquer investidor. Lula esteve com um representante do banco em Copenhague há 15 dias. O presidente tem dito a interlocutores que ficará satisfeito se Agnelli ceder à pressão e alterar pontualmente sua gestão.

Lula já foi informado também que a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) não pretende se desfazer das ações da Vale para favorecer Eike - movimento com o qual Lula concorda, até porque este investimento na mineradora é considerado o melhor negócio para os segurados.

Conforme definiu ao GLOBO um executivo do Bradesco, a troca nas diretorias seria uma forma de "criar uma zona de conforto (na Vale)". A ala do governo que destila veneno contra Agnelli e os fundos dizem não ver razão especialmente para a permanência de Carla no cargo, pois ela não seria "o único gênio para administrar a área de recursos humanos da maior empresa do Brasil".

A contratação e a demissão dos diretores-executivos é prerrogativa de Agnelli, que submete as decisões ao Conselho Administrativo. Porém, ex-funcionário do Bradesco, ele pode ser aconselhado a fazer as trocas, que poderão ocorrer agora ou num segundo momento, assim que a poeira baixar, contou uma fonte.

Carla chegou à companhia em 1997 pelas mãos de Benjamin Steinbruch para trabalhar com recursos humanos e, em 2000, foi promovida à diretora-executiva de Serviços Corporativos. Pouco antes do encerramento do primeiro semestre, o antigo diretor de Recursos Humanos, Marco Dalpozzo (que comandou as criticadas demissões deste ano), deixou a Vale e Carla acumulou a área.

Já Barbosa chegou em 2002, quando deixou a secretaria do Tesouro Nacional. Antes, era o representante da União na Vale.

Entre os diretores-executivos da Vale, só Tito Botelho Martins Junior (área de Não-Ferrosos) é funcionário de carreira. Eduardo de Salles Bartolomeo (Logística, Gestão de projetos e Sustentabilidade) veio da AmBev, e José Carlos Martins (Ferrosos), da Latasa S.A.

Fundos de pensão criticam o "jogo duplo" da Vale, que manteria nomes ligados aos tucanos para fazer média com o partido, enquanto o espaço dos fundos, acionistas da mineradora, na diretoria não é ampliado.

Enquanto isso, Roger tenta recuperar a confiança de Lula. Anteontem, o presidente recebeu uma ligação do executivo. Foi uma conversa rápida, relatou um interlocutor, eles ficaram de voltar a conversar.

O Bradesco não quis se manifestar. A Vale afirmou que não há substituições de diretorias programadas.

Em PE, Lula ironiza Serra e ataca TCU, Justiça e bispo

Simone Iglesias
Enviada Especial A Custódia (Pe)
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Presidente rebate críticas e diz que "não sabia" de preocupação de governador de SP com o NE

Em discurso, petista ainda comparou transposição à obra feita pelo presidente americano Roosevelt na região do vale do Tennessee

Em um raro ataque direto ao presidenciável tucano José Serra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o governador paulista começou a se preocupar com o Nordeste apenas por conta da campanha eleitoral do ano que vem.

Lula, no segundo dia de vistoria de obras da transposição do rio São Francisco, respondia às críticas de Serra de que a obra não levava em conta as populações ribeirinhas, por haver "absoluta ausência de investimentos em irrigação".

"Não sabia que o Serra tinha alguma preocupação com o Nordeste, mas se começa a ter um pouquinho perto das eleições é um bom sinal. O que é triste é isso, vai passando o tempo, as pessoas não falam, ficam mudas, e quando vai chegando perto das eleições as pessoas começam a preparar o discurso para a campanha", disse.

Serra tem alguns de seus mais baixos níveis de intenção de votos em regiões do Nordeste, redutos eleitorais lulistas em que a aprovação do presidente tem seus picos.

"Serra que fique esperto porque a gente vai inaugurar [obras de] irrigação no Nordeste nesses próximos meses. Quem sabe eu até convide ele para participar de algumas para compreender o que está acontecendo", afirmou Lula, em entrevista a rádios nordestinas.

O tucano não foi o único alvo do petista, que depois discursou. Lula voltou a criticar a ação do TCU (Tribunal de Contas da União), cujos embargos a obras federais vêm provocando reações no governo, e chamou o Judiciário de "irresponsável". Por fim, criticou também o bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, que fez greve de fome contra a transposição.

"Durante 25 anos este país não cresceu e, pelo fato de ele não crescer, nós fomos criando uma máquina poderosa de fiscalização infinitamente superior à máquina de execução. É como se uma seleção tivesse o time reserva melhor do que a titular", disse especificamente sobre o TCU.

Em entrevista à Folha no início do mês, o presidente do TCU, Ubiratan Aguiar, disse que "o tribunal não pode ser visto como algoz pelos Poderes, mas como parceiro". Em sua avaliação, "quem é fiscalizado nunca fica muito à vontade, mas cada um tem de cumprir a sua parte".

Lula também disparou contra a Justiça: "[Houve] projetos que ficaram parados anos e não por nossa culpa, mas por irresponsabilidade do Judiciário, da Justiça, por erros de projeto que estamos recuperando".

Sem citar o nome de dom Luiz, afirmou: "Teve um bispo que fez até greve de fome para que não se fizesse essa obra. De vez em quando aparece um movimento em São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro, contra. Eles não têm conhecimento do bem que essa obra está fazendo. Não quero que a gente mate um passarinho, um calango, uma cobra, agora, não posso deixar o povo pobre morrer de sede e de fome", disse.

Lula citou estudo da FAO (agência da ONU para alimentação), segundo o qual 1 bilhão de pessoas passam fome no mundo. "Se a gente não cuidar, o principal animal em extinção no mundo será o ser humano, não é pouca coisa. E acontece isso não é por falta de tecnologia, por não investir. É que quando a gente quer fazer uma obra como essa os que tomam café da manhã, almoçam, jantam, tomam água gelada todo dia são contra a gente fazer."

E continuou: "Resolvi fazer [a obra] não porque sou engenheiro, mas porque eu, com sete anos, carreguei pote de água na cabeça e sei o sacrifício".

A seu lado, a presidenciável de sua escolha, Dilma Rousseff (Casa Civil), não discursou.

Em discurso a operários do trecho 11 da obra, Lula se comparou ao presidente Franklin Roosevelt (1933-1945). "Só tem coisa igual [à obra] quando o presidente Roosevelt pegou o lugar mais pobre dos EUA, chamado vale do Tennessee, e resolveu transformar aquela região em produtiva. É isso que estamos fazendo com nosso querido Nordeste", afirmou.

Lula ironiza ''preocupação de Serra com Nordeste perto das eleições''

Leonencio Nossa,
Enviado Especial, Sertânia
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Presidente ficou irritado com declaração do governador tucano sobre ''ausência de investimentos em irrigação''

Críticas aos órgãos de fiscalização, como o Tribunal de Contas da União (TCU), e ao governador paulista José Serra (PSDB) marcaram ontem o segundo dia de visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a canteiros de obras da transposição do Rio São Francisco. No sertão pernambucano, Lula ironizou os comentários ao projeto feitos por Serra. Provocado por um radialista, afirmou que o tucano estava "mudo" e, agora, começou a fazer discurso de campanha pela Presidência em 2010. "Eu não sabia que o Serra tinha alguma preocupação com o Nordeste", disse. "Mas, se começa a ter um pouquinho, perto das eleições, já é um bom sinal."

Lula aproveitou uma entrevista a rádios, num dos canteiros da obra, a 360 quilômetros do Recife, para rebater críticas à sua viagem ao Nordeste - que conta com a presença da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata à sucessão presidencial. Um radialista comentou com o presidente que o governador paulista, possível rival de Dilma na disputa do próximo ano, afirmara que havia "absoluta" ausência de investimentos em irrigação.

O presidente pediu para o repórter repetir o comentário, para rebater a declaração. "O que é triste é isso, é que vai passando o tempo, as pessoas não falam, ficam mudas, e quando vai chegando perto das eleições começam a preparar o discurso", atacou.

Na avaliação de Lula, a demora no andamento das obras se deve a dificuldades impostas pela Justiça e por órgãos de fiscalização, como o TCU. "O Serra que fique esperto, porque ele vai ver o que nós vamos inaugurar de irrigação no Nordeste nesses próximos meses, projetos que estavam parados não por nossa culpa, mas por irresponsabilidade do Poder Judiciário." Em tom de provocação, afirmou que poderia convidar Serra para integrar sua comitiva nas próximas viagens ao principal reduto do lulismo. "Quem sabe eu até convide ele para participar, comigo, da inauguração de alguns projetos, para ele compreender o que está acontecendo", afirmou.

GÁS
Sem perder o foco no eleitorado, Lula disse que a ideia de baixar o preço do gás de cozinha não sai da "cabeça" dele e de Dilma. "As pessoas pobres pagam caro o tonel. Tem lugar em que está a R$ 40, tem lugar em que está a R$ 38."

Logo depois da entrevista, Lula subiu num palanque armado no canteiro de obras. A uma plateia de operários, se referiu a "pessoas" de São Paulo, sem citar Serra. "Elas estavam habituadas a ver os pobres do Nordeste irem para São Paulo procurar emprego na construção civil", disse. "Agora, quem quer trabalhar na construção civil não precisa ir a São Paulo, porque tem emprego aqui."

Também alfinetou os ambientalistas. "Não quero que matem um passarinho, um calango ou uma cobra, mas não posso deixar o povo pobre passar fome."

PSDB pretende acionar TSE por campanha antecipada

Carol Pires, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Partido pede informação sobre gastos da viagem para encaminhar pedido contra Lula e Dilma


O PSDB pretende acionar a Justiça Eleitoral por ver na caravana palaciana de vistoria das obras de transposição do Rio São Francisco todos os ingredientes de um comício eleitoral fora de época - palanques, discursos e críticas à oposição. O partido pedirá à Casa Civil, na próxima semana, informações sobre o custo da viagem capitaneada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela ministra Dilma Rousseff.

O partido planeja usar as informações para ingressar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra o presidente e a ministra por uso de recursos públicos em campanha eleitoral antecipada. O documento está sendo elaborado pela liderança do partido na Câmara.

Em declaração classificada como ato falho por sua assessoria, o próprio Lula reconheceu participar de um "comício". "Nosso projeto original de fazer essa viagem não estava previsto a gente fazer comício. Estava previsto fazer visita às obras", declarou ele, na quarta-feira, em Buritizeiro (MG).

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), classificou como "escandalosa" e "espalhafatosa" a viagem de Lula, junto com Dilma e o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), também pré-candidato à Presidência. "A presença de Ciro Gomes e de outros mais são apoio descarado à divulgação do nome da candidata do Lula, a ministra Dilma", criticou.

HELICÓPTERO

Na avaliação do tucano, as obras poderiam ser vistoriadas de helicóptero, em uma viagem de pouco mais de duas horas. "O que o governo está fazendo é campanha política deslavada", criticou. "Por que o presidente não foi visitar os projetos de irrigação parados, os assentamentos do Incra a poucos metros do Rio São Francisco que não têm água para beber? Eles foram lá é fazer festa."

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC), líder do governo no Congresso, rebateu os ataques e disse que a viagem apenas cumpre "agenda de governo".

"Se isso for campanha, o que o José Serra e Aécio Neves fazem? Viajam para fazer campanha, ainda por cima em horário de expediente, fora dos Estados deles. O presidente e a ministra estão governando o País e têm obrigação de fiscalizar as obras", reagiu Ideli. "Como a oposição não tem proposta decente, adequada, não tem projeto do que fazer com o País, critica o trabalho dos outros."

Aécio critica baixo valor investido

Ivana Moreira
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), afirmou que cabe ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas da União (TCU) verificar se há uso indevido do dinheiro público na viagem presidencial para visitar obras do Rio São Francisco. O presidente Lula chegou a chamar de comício o evento em Buritizeiro (MG) de "comício". "A crítica que faço não é à andança do presidente ou se há mau uso do dinheiro público'', disse. O tucano critica o baixo valor investido nas obras.

"Apenas o governo do Estado, na bacia do Rio das Velhas, está investindo R$ 1,4 bilhão e pode investir um pouco mais", exemplificou o governador. "Esse é o total anunciado, mas não investido - olha a diferença - pelo governo federal para todo o País."

Um dia após Lula ter declarado que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), e o deputado Ciro Gomes (PSB) têm condições de sair em "candidatura solo", Aécio comentou que isso quebraria estratégia do presidente de criar clima de polarização na eleição presidencial. Mas frisou que a possibilidade não preocupa seu partido. ''Na oposição, não há motivo para açodamento até porque, o fundamental é que o governador José Serra e eu, os nomes colocados pela oposição, temos compromisso que supera todos os outros, o de estarmos juntos'', afirmou. Aécio negou que teve conversa tensa com Lula na quarta-feira, em Pirapora: "Levantei o dedo para dizer que a única reivindicação pendente dos Estados é a Lei Kandir.''

''Fico feliz se ajudar a ter irrigação'', reage tucano

Silvia Amorim
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Foi a resposta do governador, que não quis se estender no embate após declaração do presidente

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), reagiu com ironia à declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o tucano está começando a preparar seu discurso de campanha ao criticar as ações de combate à seca do governo federal no Nordeste. "Se aquilo que eu disse ajudar a ter um metro a mais de irrigação no sertão de Pernambuco, eu vou ficar feliz. Fico felicíssimo", respondeu Serra, após participar de um evento na capital paulista ontem à tarde.

O governador não quis se estender no embate e limitou-se a fazer uma única declaração.

O estopim da troca de farpas foi uma declaração dada por Serra anteontem. Ao ser perguntado sobre o que achava das obras de transposição do Rio São Francisco, motivo da maratona de três dias de visita de Lula no Nordeste nesta semana, o governador criticou a falta de investimentos do governo federal em irrigação para as comunidades que ficam na margem do rio.

"Você vai fazer a transposição do São Francisco, tudo bem. Agora atenda também as áreas que estão na beirada do rio e que deveriam ser irrigadas. Isso foi paralisado", disse. O tucano visitou no sábado passado a região de Petrolina, em Pernambuco. "Eu estive num assentamento feito há alguns anos que não tem água nem para beber, apesar de estar perto do rio", afirmou.

ESTRATÉGIA

Acompanhado de lideranças políticas do Estado, ele visitou dois projetos criados ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso e, à noite, foi à Festa da Uva e do Vinho, em um programa típico de candidato.

Serra tem usado os finais de semana para viajar pelo País, especialmente pelo Nordeste. O objetivo é ampliar sua popularidade e a do PSDB na região, onde Lula leva maior vantagem - o PT derrotou o PSDB nas duas últimas eleições presidenciais (2002 e 2006) no Nordeste.

O governador paulista lidera, por enquanto, as pesquisas de intenção de voto para a corrida eleitoral, mas tem um desempenho tímido na região. Além disso, enfrenta dentro do próprio partido uma disputa pela vaga de presidenciável com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Essas incursões pelo interior do País também cumprem a tarefa de fortalecê-lo na legenda.

Amanhã o tucanato desembarca em Goiânia para mais um encontro político. Desta vez discutirá emprego e inclusão social. Serra ainda não confirmou presença.

DEM pressiona por definição rápida da candidatura tucana

Marcelo de Moraes, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Maia tem conversado com Guerra, temendo o fortalecimento de Dilma

Integrantes do comando nacional do DEM não escondem a preocupação com a movimentação de campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que percorre vários pontos do País, acompanhada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em reunião da Comissão Executiva Nacional, ontem em Brasília, dirigentes do partido admitiram que gostariam que a candidatura de oposição se definisse o mais rápido possível para neutralizar eventual crescimento da ministra nas pesquisas.

O DEM não pretende forçar o PSDB a acelerar sua opção pelo lançamento oficial do governador de São Paulo, José Serra, ou pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Mas o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), diz que tem conversado com o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), para discutir cenários políticos e expôs, na terça-feira, a preocupação em relação à movimentação de Dilma e também do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE). "A definição do lado de lá está angustiando o lado de cá", afirma Maia.

Na reunião da Executiva do DEM, dirigentes reconheceram que o cenário político do País sofreu alterações nos últimos meses e avaliam que a oposição precisa se preparar para esse novo momento. "Há seis meses, Dilma estava se tratando de uma doença e não fazia campanha. Agora, ela se recuperou e está na rua. A conjuntura está mudando muito rápido. E hoje está bem diferente da que tínhamos em março", diz Maia.

Setores do DEM avaliam que a demora em confirmar o candidato da oposição abre espaço para consolidação da ministra. A sequência de eventos e a exposição de sua imagem podem fazer Dilma subir nas pesquisas, reduzindo sua distância de Serra, o que poderia afastar aliados em potencial do tucano.

"Quando se tem 40 e poucos por cento nas pesquisas, isso gera expectativa de poder entre os políticos. Quando vai para 35%, a expectativa é diferente. E com 30% muda de novo. São situações que precisamos ficar atentos", acredita Maia.

Nesta semana, a ministra ocupou a mídia com sua participação, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em visita a cidades do Rio São Francisco. Tanto DEM como o PSDB acham que esses atos representariam uma campanha fora do prazo previsto em lei.

"O governo não vai hesitar em fazer campanha fora de época, como fez ontem. Esse é outro problema que precisamos levar em conta e que ajuda na campanha da ministra", explica Rodrigo Maia.

Outro problema, apontado pela cúpula do partido, é a possibilidade haver desmobilização regional da campanha da oposição. "Há dois patamares: por cima do mar e embaixo do mar. Por cima, tanto faz definir ou não. Por baixo do mar, correntes são mais importantes. A pré-campanha deveria estar quente, mas está fria, quase gelada", compara o ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia (DEM), pai do presidente do partido.

"O problema é que embaixo do mar as costuras regionais precisam ser feitas com alguém credenciado. De outra forma pode-se criar situações irreversíveis prejudiciais à campanha.
Lembro que o que diferencia Serra ou Aécio de Dilma é a capilaridade das candidaturas regionais e o tempo de TV. A capilaridade não deve ser um processo espontâneo, pois o risco é grande num país continental e com partidos inorgânicos", argumenta o ex-prefeito.

Final de governo e campanha: Presidente ironiza 'preocupação' de Serra com NE

Chico de Gois
DEU EM O GLOBO

"O Serra que fique esperto"
NAVEGANDO EM ÁGUAS POLÊMICAS

Sempre ao lado de Dilma e Ciro, Lula responde a crítica do tucano com ataques e ironias

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu o tom e atacou ontem, de forma irônica, o governador de São Paulo, José Serra, pré-candidato do PSDB à Presidência. Na véspera, Serra criticara o que chamou de falta de projetos de irrigação na transposição do Rio São Francisco. Lula - que visita as obras desde quarta-feira sempre acompanhado dos também pré-candidatos Dilma Rousseff (PT) e Ciro Gomes (PSB), seus aliados - disse não saber que Serra tinha preocupação com o Nordeste, e estranhou o fato de, para ele, só agora o tucano ter começado a falar do assunto. Recomendou que Serra, possível adversário de Dilma, "fique esperto" porque seu governo pretende inaugurar sistemas de irrigação na região.

Anteontem, Serra dissera que os investimentos do governo federal haviam sido paralisados:

- Vai fazer transposição do São Francisco, tudo bem. Agora, as áreas que já estão na beira do rio deviam ser irrigadas. É curioso cuidar da transposição e esquecer os que estão nas margens do rio.

Ataques também a Jarbas Vasconcelos

Perguntado sobre as declarações de Serra, Lula respondeu:

- Não sabia que o Serra tinha preocupação com o Nordeste, mas, se começa a ter um pouquinho perto das eleições, é um bom sinal - afirmou, em entrevista a emissoras de rádios regionais. - Olhe, o triste é isso: vai passando o tempo, as pessoas não falam, ficam mudas, e quando vai chegando perto das eleições começam a preparar o discurso. O Serra que fique esperto porque o que a gente vai inaugurar de irrigação no Nordeste, projetos que estiveram parados anos não por nossa culpa, mas por irresponsabilidade do Judiciário... Quem sabe eu até o convide para participar de inaugurações para compreender o que está acontecendo no Nordeste brasileiro.

Ao lado do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), candidato à reeleição, Lula atacou, sem citar nome, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), crítico do governo e adversário de Campos. Lula disse que no primeiro mandato, quando ia a Pernambuco e Jarbas era governador, o peemedebista não o acompanhava.

- Você (Eduardo Campos) não estava comigo porque não era governador, e o outro governador não ia comigo. Não ia porque não queria ou porque tinha medo de ser vaiado.

Disse que quem governa não tem tempo para ficar de mau-humor, e, em vez de falar, faz:

- Quem está governando não tem tempo de ficar mal humorado. Quando a gente é oposição, radialista, jornalista, quando está de fora, pensa tudo, sabe tudo. No governo, você não pensa, não acredita, você faz ou não faz. O que fizer está feito, o que não fizer paga o preço.

Ele criticou o bispo dom Luiz Flávio Cappio, que fez greve de fome contra a obra.

- Teve um bispo que fez greve de fome. De vez em quando aparece movimento contra. Eles não têm conhecimento do bem que a obra está fazendo.

Serra: 'Se o que disse ajudar a irrigação, fico feliz'

DEU EM O GLOBO

Serra também responde com ironia, e Jarbas chama Lula de mentiroso contumaz

SÃO PAULO, BRASÍLIA e RIO. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), reafirmou ontem sua preocupação com o que chamou de falta de investimentos para a irrigação das áreas ribeirinhas do Rio São Francisco. Irônico, ao reagir às afirmações do presidente Lula, disse que vai ficar contentíssimo se o projeto for levado à frente.

- Se o que eu disse ajudar a ter um metro a mais de irrigação no sertão de Pernambuco, vou ficar feliz. Ficarei felicíssimo se o que eu disse aumentar um metro, um hectare de irrigação na região - disse o governador, que visitou um trecho do São Francisco no último fim de semana.

O governador de Minas, Aécio Neves, voltou ontem a criticar o governo federal por, segundo ele, investir pouco nas obras de revitalização do Rio São Francisco. Ele negou ter discutido com o presidente Lula no encontro dos dois no aeroporto de Pirapora. Segundo Aécio, na conversa ele cobrou do governo federal as perdas com a Lei Kandir e falou sobre as obras do São Francisco.

- A única ponderação que fiz é que acho pouco expressivos os recursos utilizados em Minas Gerais para a revitalização do São Francisco. Citei um exemplo e repito. Apenas o governo do estado, na bacia do Rio das Velhas, está investindo R$1,4 bilhão e pode investir até um pouco mais. Esse é o total anunciado, não investido - olha a diferença -, pelo governo federal para todo o país. Obviamente, devemos concordar que é algo pouco expressivo - disse o governador, acrescentando que não é seu papel criticar o presidente por eventual campanha antecipada nas visitas às obras do PAC.

Lula faz campanha antecipada escancaradamente, diz Jarbas

Tão logo soube das declarações de Lula, insinuando que ele, enquanto governador, nunca o recebera em Pernambuco porque não queria ou tinha medo de ser vaiado, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) reagiu de pronto. Em nota, Jarbas acusou o presidente de estar se transformando "num mentiroso contumaz". Ele ressaltou que, como governador, nunca deixou de participar das programações organizadas pelo Planalto, "mesmo quando eram transformadas em eventos eleitoreiros por parte dos aliados do presidente".

O senador disse que quem tremeu diante de vaias foi o próprio Lula, "quando foi vaiado fortemente em pleno Maracanã".

A nota critica o comportamento do presidente, acusado de fazer campanha aberta para tentar eleger sua candidata à sucessão presidencial, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff:

"É vergonhoso e acintoso ver o presidente em campanha eleitoral escancarada e antecipada sob a passividade da Justiça Eleitoral e do Ministério Público. A verdade é que Lula usa e abusa do dinheiro público para empinar a sua candidata".

Final de governo e campanha: 'Seremos nós contra eles, pão, pão, queijo, queijo'

Letícia Lins
DEU EM O GLOBO

Presidente defende eleição plebiscitária, com candidato único da base

FLORESTA (PE). Ladeado por dois pré-candidatos à sua sucessão - a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), e o deputado Ciro Gomes (PSB) -, o presidente Lula fez um apelo pela unidade da base governista, que, segundo ele, deve disputar a eleição em 2010 com apenas um candidato. Para o presidente, a iniciativa atribuiria caráter plebiscitário ao pleito. Anteontem, ele afirmara que gosta de Dilma e Ciro, e que os dois tinham vocação para carreira solo. Ontem, mudou o tom:

- Seremos nós (da base governista) contra eles (da oposição). É pão, pão, queijo, queijo.

Lula fez a afirmação em entrevista no município de Floresta (a 439 km de Recife), sertão de Pernambuco, onde supervisionou obras do Eixo Leste da transposição das águas do Rio São Francisco. Bem-humorado, abraçou repórteres e se misturou com operários que tentavam apertar-lhe as mãos. Voltou a dizer que vai passar o país para o sucessor com uma "prateleira de projetos" e bastante dinheiro em caixa, para que o próximo presidente possa começar "bombando". Só começou a dar entrevista depois que a ministra se aproximou - "Cadê a Dilma?" - e disse que não tem pressa em montar o jogo do xadrez eleitoral.

- Temos seis meses pela frente para definição do quadro eleitoral em 2010. Se a gente não se entender nacionalmente... Tanto que Dilma e Ciro estão sempre juntinhos, olha aí, ó - disse apontando para os dois.

Lula afirmou não se ver nos palanques dos governadores socialistas Eduardo Campos (PE) e Cid Gomes (CE) se "a gente não se entender". Eles vão disputar a reeleição e defendem a candidatura de Ciro.

- Eu gostaria, e o momento vai prever se vai ser possível ou não, que todos nós tenhamos um só candidato, que fizéssemos uma eleição plebiscitária. Se isso não for possível, paciência.

Disse que preparará outro PAC para até 2015, apesar de o mandato se encerrar em 2010. Afirmou não temer que a iniciativa seja chamada de eleitoreira:

- Se dependesse da oposição, não faríamos nem o primeiro, nem o segundo PAC, ninguém faria nada. A oposição quer que o país pare para que eles tenham razão. A situação quer trabalhar, para não dar razão à oposição. Eles tiveram chance de fazer e não fizeram. Estamos fazendo.

Lula afirmou não temer que seu sucessor interrompa as obras da transposição:

- É irreversível. As pessoas que vierem depois de mim vão terminar e fazer obras mais importantes.

Final de governo...: Obra visitada tem baixa execução orçamentária

DEU EM O GLOBO

NAVEGANDO EM ÁGUAS POLÊMICAS: Segundo dados do Siafi, até dia 9 foram pagos 3,68% de um total de R$1,68 bi

PSDB vai pedir à Casa Civil explicações sobre custos da viagem de Lula e comitiva à região do São Francisco

BRASÍLIA. As obras de revitalização do Rio São Francisco, que integram o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), inclusive as visitadas pelo presidente Lula esta semana, têm uma baixa execução orçamentária. Segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo federal (Siafi) do último dia 9, este ano foram efetivamente pagos R$61,84 milhões - o que correspondente a apenas 3,68% de uma dotação total de R$1,68 bilhão ou a 7,91% dos R$781,1 milhões empenhados (garantia de pagamento futuro).

Os dados integram o levantamento feito por técnicos da assessoria do DEM na Câmara. Outro partido de oposição, o PSDB, vai apresentar requerimento cobrando da Casa Civil, na próxima semana, explicações sobre os custos da viagem do presidente Lula pelo São Francisco.

Segundo dados do DEM, o orçamento de R$1,68 bilhão para a obra este ano é para projetos divididos em 16 diferentes rubricas e com o objetivo de recuperar ou revitalizar o rio. Num ano de queda na arrecadação, a baixa execução orçamentária repete o comportamento de outros setores: grandes valores empenhados, mas pouco efetivamente pago. Os números sobre a verdadeira velocidade das obras do PAC e do São Francisco se transformaram em guerra de dados entre governo e oposição.

Para as obras de integração do São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional foram pagos R$33,9 milhões, correspondentes a 6,45% de total orçado de R$525,97 milhões. Nesse caso, foram empenhados R$321,5 milhões (10,54% dos R$33,9 milhões). Essa é a melhor execução dentre as obras.

Já para as obras de integração das bacias do São Francisco com as dos rios Jaguaribe, Piranhas-Açu e Apodi, os valores efetivamente pagos somaram R$17,58 milhões, ou 2,45% do total orçado para 2009, de R$718,77 milhões. Foram empenhados R$227,19 milhões.

Para o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), a viagem de Lula é escandalosa e espalhafatosa. Segundo ele, comprova a intenção eleitoral uma vez que o presidente está acompanhado da ministra Dilma Rousseff e do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), ambos pré-candidatos à Presidência.

- A presença de Ciro Gomes e de outros mais são apoio descarado à divulgação do nome da candidata do Lula, a ministra Dilma - disse Guerra.

O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), disse ontem que os números sobre a execução orçamentária das obras mostram que o presidente Lula está "fazendo campanha em cima de uma falácia".

Final de governo...: 'Lula manda. O resto que se exploda'

Chico de Gois
DEU EM O GLOBO

CUSTÓDIA (PE). O secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, João Reis Santana, lembrou ontem o personagem Justo Veríssimo, de Chico Anísio, durante exposição sobre a obra de transposição do Rio São Francisco para o presidente Lula, ministros, governadores e outras autoridades. Santana - peemedebista e baiano como o titular Geddel Vieira Lima - falou por cerca de 50 minutos, quando alguém da seleta plateia lhe fez um sinal, mostrando o relógio. Ele então disparou, usando um dos bordões do personagem:

- Não estou preocupado. Quem manda é o presidente Lula. O resto que se exploda.

Ao perceber o mal-estar, tentou remediar:

- A ministra Dilma também manda. Na Bahia, nós temos muita consideração com as mulheres.

Quando ele disse isso, o telão, do lado de fora, mostrou a ministra com um sorriso no rosto. Santana e as autoridades estavam numa sala com ar-condicionado, enquanto os trabalhadores e familiares aguardavam do lado de fora, num sol de meio-dia e temperatura de 35 graus no sertão.

Santana pode virar ministro da Integração Nacional em abril, com a saída de Geddel, que disputará a eleição na Bahia. O presidente Lula tem dito que prefere manter nos ministérios os secretários-executivos. Santana assumiu o cargo atual em julho, após seu antecessor, Luiz Antônio Eira, funcionário de carreira do Legislativo, pedir demissão por conflito com Dilma.

Antes do longo discurso de Santana, a comitiva ouviu um breve relato de Geddel no canteiro de obras do lote 11 do Eixo Leste. Após a apresentação, o presidente Lula e ministros reuniram-se com trabalhadores e moradores da área de influência do projeto.