sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O presidente e a corrupção - Editorial

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O projeto de lei que endurece as penas para os crimes de corrupção, assinado na quarta-feira pelo presidente Lula, evidentemente já germinava no Planalto muito antes de rebentar o escândalo que envolve o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Mas o chamado mensalão do DEM foi providencial para o presidente. Proporcionou-lhe a oportunidade de aparecer nos telejornais também como o paladino da integridade nos negócios públicos, como se nunca antes na história deste país um político ousasse tanto na defesa do patrimônio comum. Na realidade, há anos tramitam no Congresso pelo menos 4 propostas similares àquela, entre cerca de 70 com o mesmo objetivo. É como se, nessa esfera, o governo Lula não tivesse entrado para a história com a operação de compra sistemática de votos na Câmara dos Deputados, que introduziu no léxico dos costumes políticos nacionais o termo mensalão. Sem falar que alguns dos melhores aliados do presidente não são, como se dizia, de entrar em casa de família ? embora entre esses "alguns" nenhum tenha "cara de anjo".

Nada disso inibiu Lula ao anunciar, no Dia Internacional Contra a Corrupção e no estilo que domina admiravelmente para se fazer ouvir pelo povo, a iniciativa de tornar mais rigorosa a punição dos corruptos. Quando se tratar de altas autoridades dos Três Poderes e dos três níveis de governo ? o presidente, governadores, prefeitos, ministros, secretários, parlamentares, dirigentes de autarquias e empresas estatais, desembargadores, juízes, promotores, comandantes das Forças Armadas ?, os seus delitos serão considerados crimes hediondos, o que privará os culpados do direito à fiança e ao indulto. Eles poderão ficar presos temporariamente por até 60 dias (em vez de 10, como é hoje). Condenados, a sua pena mínima aumentará dos atuais 2 anos para 8. Para o funcionalismo em geral, a mínima subirá de 2 anos para 4. A máxima, nos dois casos, será de 12 anos. Os delitos tipificados são corrupção ativa e passiva, peculato (quando o agente público rouba ou permite que outros roubem) e concussão (quando exige um pagamento para fazer ou deixar de fazer algo).

Bem ao seu modo, Lula apresentou o projeto como "mais um degrau no combate à safadeza com o dinheiro público". E se pôs a teorizar sobre as dificuldades de combatê-la. "Às vezes, a corrupção é como uma droga", ensinou, com a costumeira técnica de repetir palavras para dar força de verdade ao argumento. "Tem um pai que vê na televisão um adolescente sendo pego por droga, ele acha que é só o filho dos outros que tem droga. Ele não sabe que o filho dele está queimando um "baseadinho" no quarto. A corrupção é assim. Às vezes, ela está dentro da tua casa, ela está na tua porta e você não sabe." Há quatro anos, revelado o mensalão petista, Lula não se cansou de dizer que não sabia o que estava acontecendo nas suas barbas, embora tivesse sido advertido pelo menos duas vezes para os fatos que viriam a ser atestados pelo procurador-geral da República. À época, ainda chegou a admitir que os seus companheiros cometeram um "erro". Agora, nem isso. A denúncia, disse recentemente, foi uma "armação" para derrubá-lo.

Mas desde quando Lula se preocupa com a coerência? A mesma imprensa a que critica por tratar os suspeitos de corrupção como corruptos consumados, supostamente atropelando o princípio da presunção de inocência ? e cuja função, para ele, deveria ser informar e não fiscalizar ?, de repente foi promovida a instrumento de defesa da sociedade contra os malfeitores no setor público. "Prefiro que saia manchete para a gente poder investigar", concedeu, "do que não sair nada, e a gente continuar sendo roubado e continuar não sabendo o que está acontecendo." Só faltou acrescentar: no governo do Distrito Federal, chefiado pelo DEM. Justiça se lhe faça num ponto, no entanto. Ele não sucumbiu à tentação de prever que a corrupção desaparecerá quando o seu projeto virar lei. "Obviamente" isso não acontecerá, afirmou. Só não tirou as devidas consequências dessa verdade quando falou de países onde existe pena de morte "e assim mesmo as pessoas continuam praticando corrupção". O problema, obviamente, não se esgota no desejável rigor das penas. O que conta é a certeza de que serão aplicadas. Levantamento da Associação dos Magistrados Brasileiros mostra que o STF jamais condenou uma autoridade por corrupção.

Alberto Carlos Almeida:: A estratégia da oposição em 2010

DEU NO VALOR ECONÔMICO

No dia 3, uma quinta-feira, mais uma vez o caos se instaurou no trânsito de São Paulo. Foi por causa de muita chuva. Formou-se um engarrafamento de mais de 200 quilômetros. Eu provavelmente percorri uns 25 desses 200. Isso me tomou 2 horas e 15 minutos. Era início da noite e no rádio do táxi, além das músicas, tive a chance de ouvir a propaganda partidária do PSDB e do PT. No PSDB falaram José Serra, Aécio Neves e o presidente do partido, Sérgio Guerra. As falas foram otimistas e propositivas, foram evitadas críticas frontais ao governo Lula.

Serra e Aécio enfatizaram que são realizadores. Mostraram muito do que fizeram e vêm fazendo à frente de seus respectivos governos.

O programa do PT foi mais conflituoso. Compararam-se as realizações do PT com as do PSDB. O locutor dizia que o PT quebrou tabus, que no passado havia o tabu de que o Brasil não pagaria a dívida externa e o PT pagou; que havia o tabu de que aumento de salário mínimo gerava inflação, o PT fez vários aumentos reais e não houve aumento de custo de vida. O esforço da propaganda do PT foi de comparação insistente com o PSDB, mostrando sempre, como é praxe em propagandas dessa natureza, que o PT e os seus são melhores do que o PSDB.

Os leitores de jornais já sabem que o governo adotará, na campanha de 2010, a estratégia de comparar o que foi feito durante o governo Fernando Henrique com o governo Lula. Ademais, há sinais claros de que o governo tentará também levar o debate eleitoral para um plebiscito de aprovação do que Lula vem fazendo. Algo como: quem aprova o governo que dê continuidade a ele votando em Dilma, quem não gosta do governo pode votar nos demais candidatos. Como a soma de ótimo e bom do governo gravita entre 65 e 70%, uma grande conversão dessa aprovação em votos levaria Dilma à vitória.

Do lado da oposição, para esses mesmos leitores, depreende-se que sua estratégia é de comparação de biografias. Em 13 de outubro, o marqueteiro de Serra, Luiz González, em entrevista ao Valor, disse justamente isso. Serra e Aécio têm biografias densas e consistentes. Dilma era a regra-três da regra-três. O nome dela só passou a ser considerado depois do naufrágio de José Dirceu e de Palocci. Dilma nunca disputou uma eleição, Dilma foi guerrilheira, Dilma não veio de baixo e por aí vai.

Com a comparação o eleitorado veria que personalidade, que pessoa é melhor para governar o Brasil. Como o nosso voto é na pessoa, como o país é personalista, então a comparação de biografias daria a qualquer candidato do PSDB uma vantagem folgada sobre Dilma.

Qualquer decisão acerca da adoção desta ou daquela estratégia de campanha depende de como se analisa a disputa eleitoral. Análises diferentes levam a estratégias diferentes. Se alguém acredita que ao atacar o governo a avaliação dele piora, então haverá a tendência de criticar as (não) realizações do governo. Se, como eu, você acredita que o ataque ao adversário não leva à piora de sua avaliação, então adotará uma estratégia que se adaptará à boa avaliação do governo Lula.
Assim, considero que há alguns pressupostos muito importantes que devem ser levados em conta antes de se tomar a decisão sobre a estratégia de comunicação da campanha de 2010.

O primeiro deles, já mencionado acima, é a impossibilidade de desconstruir, como os políticos gostam de falar, a imagem de um governo simplesmente por meio da crítica. Fernando Henrique desfrutou de uma excelente avaliação de governo durante todo o seu primeiro mandato. No mesmo período o PT só fez criticar o governo: atacou as relações do Brasil com o FMI, disse que o Plano Real era o Plano Cruzado dos ricos, promoveu um plebiscito para defender não pagar a dívida externa, votou sempre contra o governo na Câmara e no Senado, etc. O que tudo isso influenciou na avaliação do governo? Nada.

A popularidade de Fernando Henrique caiu de forma significativa duas vezes, uma por causa da desvalorização do real, a partir de janeiro de 1999, e outra logo após o apagão. Em suma, eis o primeiro pressuposto baseado em dados: a popularidade de um governo não depende das críticas da oposição, mas de fatos políticos efetivos que resultam em sua melhora ou piora. Lula passou todo este ano com a soma de ótimo e bom gravitando em torno de 65%. Assim, a tendência, na ausência de um fato político relevante, como uma crise de desemprego ou um escândalo semelhante ao mensalão, é que a eleição ocorra com o governo tendo esse mesmo nível de popularidade.

O segundo pressuposto é que podemos dividir o eleitorado em três grandes grupos: aqueles que sempre votam em candidatos do PT, aqueles que sempre votam em candidatos do PSDB e aqueles que mudam de voto em razão da conjuntura. Se Lula fosse candidato em 2010, ele teria uma votação estrondosa. Todavia, uma determinada proporção do eleitorado acabaria votando no candidato de oposição. Esse contingente varia entre 25 e 30%. Ou seja, Lula pode ser o máximo, pode ser um semideus, a economia pode estar superaquecida, a pessoa pode estar comprando mais e muito satisfeita com a vida, mas mesmo assim ela não vota em Lula, não vota em candidatos do PT.

É assim em qualquer país. Obama venceu McCain com uma vantagem de aproximadamente sete pontos porcentuais no voto popular. Foi uma vantagem pequena, um resultado muito apertado.
Por que isso aconteceu se a crise era muito aguda naquele momento? Porque há eleitores que jamais votaram e nunca votarão em um candidato democrata. O mesmo vale para o voto em um candidato republicano. O mesmo vale para votar no PT e no PSDB. Isso significa que uma estratégia de comunicação de sucesso tem que ser dirigida para o eleitor que muda de voto.
Atualmente, o eleitor que muda de voto tem uma avaliação positiva do governo federal.

O terceiro pressuposto, também baseado em dados e em estudos empíricos, diz respeito ao perfil do eleitor que vota em Lula e o eleitor que rejeita o PT e tudo a ele associado e sempre vota contra Lula. O eleitor de Lula é majoritariamente de classe baixa, quanto mais pobre uma pessoa é, maiores as chances de ela gostar de Lula. Por outro lado, o eleitor dos candidatos do PSDB é mais de classe média. Não deve ser entendido aqui como classe média quem mora na zona sul do Rio ou nos Jardins em São Paulo. Isso é classe alta. A classe média tem um rendimento familiar mensal de aproximadamente R$ 1.200,00. Assim, quando se sobe na pirâmide social brasileira, aumenta-se a chance de se votar em Serra ou Aécio. Quando se desce na mesma pirâmide, aumenta-se a chance de se votar em Lula e no PT.

Fundamentado nesses pressupostos eu diria que a estratégia mais eficiente da oposição não é a pura e simples comparação de biografias. A estratégia mais eficiente teria que adotar as seguintes linhas mestras:

1) Assim como ocorreu no programa de rádio que menciono no primeiro parágrafo, não atacar Lula nem seu governo. Seria preciso ir além, dar um passo mais ousado: propor dar continuidade ao que foi feito no governo Lula e é muito aprovado pelo eleitorado. Seria preciso se apresentar como o mais qualificado para dar continuidade ao que foi feito de bom durante o período Lula. Lula não fez isso em 1994. Pelo contrário, atacou duramente uma coisa muito aprovada pelo eleitorado, o Plano Real. Fazendo isso, ele facilitou sobremaneira a tarefa do governo na campanha eleitoral. Aproximar-se de um governo bem avaliado é estrategicamente equivalente a afastar-se de um governo mal avaliado, justamente o que fez a campanha de Serra em 2002, ao dar no "Programa do Jô" e no "Jornal Nacional" nota 7,5 ao governo Fernando Henrique;

2) Mostrar que Lula é Lula e Dilma é Dilma, que são dois entes inteiramente diferentes e por isso Dilma não tem condições de dar continuidade ao que Lula fez. Lula é simpático, Dilma é antipática; Lula veio de baixo, enquanto Dilma era guerrilheira; Lula é do Nordeste, Dilma é gaúcha, e assim por diante. Entre os dois há mais contrastes do que similitudes. É nesse contexto específico que entra a comparação entre biografias. As biografias do PSDB são todas melhores do que a biografia de Dilma para dar continuidade às coisas boas feitas no governo Lula;

3) Criticar Lula quanto a uma característica importante que todo político tem que ter e Lula não tem. Lula não sabe escolher seus auxiliares: veja-se José Dirceu e o mensalão, Palocci e o caseiro e tantos outros que deixaram o barco petista porque não eram realmente qualificados para o que estavam fazendo. Dilma é mais um desses casos. Dilma é resultado deste defeito de Lula: ele não sabe escolher seus principais auxiliares;

4) Por fim, o quarto elemento central da estratégia visa a embaralhar um pouco as cartas entre os pobres e a classe baixa. Lula é mais do que Getúlio entre os pobres, Lula é o pai dos pobres, o rei dos pobres, a mãe dos pobres, o deus dos pobres. Lula nada de braçada entre os pobres, sem nenhuma oposição realmente efetiva. É preciso diminuir a influência de Lula entre esse eleitorado por meio de propostas. Propostas que também serão uma espécie de crítica a Lula e seu governo. A crítica que considero ser a mais surpreendente e a mais efetiva: Lula ficou oito anos na Presidência e nunca liderou o país para reduzir os impostos que incidem sobre o consumo, em particular sobre os alimentos. Essa proposta lança dúvidas sobre o compromisso de Lula para com os pobres. Essa proposta mobiliza e agrada ao eleitorado. Essa proposta, se posta em prática, aumentaria de imediato o consumo do eleitorado.

Há certa incredulidade, da parte de alguns políticos da oposição, em relação à efetividade do tema dos impostos. Não há um tema novo para 2010, um tema novo relacionado ao consumo, que é o que realmente decide uma eleição presidencial. Em 1994 e 1998, o Plano Real e a redução da inflação, com o consequente aumento do consumo, foram os temas da eleição. Em 2002, o tema foi o desemprego e os efeitos negativos que teve sobre a renda.

Em 2006, o tema foi o Bolsa Família. E agora, qual será o tema?

Se a oposição ousar, poderá pôr na ordem do dia a redução dos impostos sobre o consumo.

Em 2008, segundo os dados do Ipea, quem ganha até dois salários mínimos foi atingido por uma carga tributária de 53,9%. Porém, quem ganha mais de 30 salários mínimos teve uma carga de apenas 29%. É muita injustiça. A nossa estrutura tributária, única no mundo e de inspiração escravista, que Lula não modificou uma vírgula sequer, produz pobreza e desigualdade. Lula e o PT admiram o sistema francês e gostam de controlar recursos, daí a obsessão pelo aumento da carga tributária. A oposição apenas precisa ousar para modificar de fato a face do debate público no Brasil. Menos impostos e mais consumo, já!

Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário, é autor de "A Cabeça do Brasileiro" (Record

Merval Pereira:: Sinal dos tempos

DEU EM O GLOBO

O historiador americano Henry Brook Adams cunhou a definição de prática política como sendo a arte de "ignorar fatos". O presidente Lula, provavelmente por intuição, há muito tempo adota esse comportamento, e parece cada vez mais convicto de que sua popularidade inabalável o protegerá até mesmo da sua própria língua. Já se dá ao desplante de falar palavrões em comício e, modestamente, garante que a Conferência do Clima em Copenhague ganhou nova dimensão depois que o Brasil saiu na frente dos países desenvolvidos e anunciou metas de redução das emissões de carbono na atmosfera.

Como a revista inglesa "The Economist" previu, parece que o pecado da "hubris" - que na mitologia grega representa o excesso, a arrogância - está tomando conta do "filho do Brasil".

O problema climático não constava da pauta de prioridades do governo Lula, e só passou a fazer parte dela quando a senadora Marina Silva colocou-o na agenda da sucessão presidencial, ela mesma saída do Ministério do Meio Ambiente por absoluta impossibilidade de fazer com que a questão ambiental fosse uma política de governo.

Colocada lá ainda no primeiro ministério, Marina não aceitou ser apenas um símbolo, depois de diversas derrotas na tentativa de impor uma agenda ecológica ao governo.

Lula fazia blague com a proteção dos "bagrinhos" e, mais que isso, ele e a candidata oficial à sua sucessão, ministra Dilma Rousseff, consideravam que os ambientalistas atrasavam as obras do PAC e o progresso do país.

Até o último momento o governo hesitou em fixar metas para a redução do efeito estufa, e o "compromisso voluntário" só saiu a muito custo. Pois agora Lula arvora-se a ecologista pioneiro, em mais um ato explícito de oportunismo político.

Não foi outro o espírito da legislação que enviou ao Congresso supostamente para combater a corrupção no país. Transformar em hediondo os crimes de corrupção não fará diferença alguma se a postura dos governantes continuar sendo de leniência com os corruptos, e a Justiça não os colocar na cadeia.

O Lula que discursou sobre os males da corrupção, afirmando num ato falho que os que mais gritam contra ela geralmente são os mais corruptos, é o mesmo Lula que durante mais de 20 anos perambulou pelo país com a bandeira da corrupção como sua principal arma eleitoral.

Chegou a afirmar que a chegada do PT ao poder central reduziria de imediato a corrupção. Sabe-se hoje que o PT, enquanto se colocava como exemplo de moral e bons costumes, fazia uma política corrupta nas prefeituras para as quais elegia seus filiados, montando um esquema de caixa dois que financiaria as diversas campanhas presidenciais do próprio Lula.

Quando estourou o escândalo do mensalão, em 2005, o ponto mais dramático foi o depoimento do marqueteiro Duda Mendonça na CPI da Câmara, na qual confessou que seu trabalho na campanha eleitoral de Lula em 2002 foi pago em parte com dinheiro ilegal depositado no exterior.

Um depoimento que ligava diretamente o candidato à corrupção de sua campanha eleitoral, da mesma maneira que a formação do caixa dois na campanha para o governo de Minas de 1998 levou o hoje senador Eduardo Azeredo a ser incluído no processo aberto pelo Supremo Tribunal Federal.

Lula livrou-se do processo do Supremo sobre o mensalão, que identificou uma "quadrilha" atuando a partir do gabinete do então ministro José Dirceu no Palácio do Planalto, por um detalhe político: a oposição ficou com receio de pedir seu "impeachment", ou pelo menos de tentar ouvi-lo na CPI.

Mas, para quem não tem memória curta, é uma ousadia, que talvez só a "hubris" explique, Lula encher a boca para falar em combate à corrupção.

Sua tentativa de tirar proveito político da acusação contra o governador José Roberto Arruda, de Brasília, que é do DEM, quando se portou de maneira leniente e conivente com os políticos de sua base congressual acusados de participar do mensalão, é um sinal dos tempos em que, incentivados pela impunidade, todos fazem como ele, falam uma coisa e fazem outra, na certeza de que o cidadão comum perdeu o discernimento do que é certo e errado. É assim que os chamados "movimentos sociais", os mesmos que ameaçavam sair às ruas não para protestar contra o mensalão, mas para defender o mandato de Lula, agora estão nas ruas de Brasília contra o mensalão do DEM.

Não se mobilizaram também contra Renan Calheiros nem contra José Sarney, apadrinhados de Lula, mas estão indignados com Arruda.

O sinal trocado dos tempos também faz com que o governador do Distrito Federal, apanhado com a boca na botija com direito a vídeo e áudio, ainda tenha forças para reprimir as manifestações contra ele.

E se sinta em condições políticas de tentar se manter à frente do governo, apoiado por uma maioria de deputados distritais envolvidos nas mesmas tenebrosas transações, todos flagrados em vídeo. E ainda falando em mudar "os hábitos políticos".

Quando prenderam aquele petista com dólares na cueca, não houve imagens. Desta vez, temos imagens e som de deputados e jornalista colocando bolos de Real na cueca, nas meias, nos bolsos. E estão todos soltos.

Ao mesmo tempo em que o presidente Lula se mostra indignado seletivamente com a corrupção dos outros, o PT faz uma festa para seus ex-presidentes e consuma a reabilitação de todos os mensaleiros, a começar pelo que está sendo julgado pelo Supremo como o "chefe da quadrilha", o ex-ministro José Dirceu, identificado como figura "imprescindível" na campanha presidencial de Dilma Rousseff.

Que, por sinal, deu entrevistas classificando de "chocantes" as imagens do mensalão do DEM para, em seguida, confraternizar com os mensaleiros do PT.

Dora Kramer:: Efeitos especiais

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Quem pode o mais pode o menos. Se o presidente Luiz Inácio da Silva tem convicção para propor e condições objetivas para fazer aprovar no Congresso lei tornando a corrupção de "altas autoridades" um crime hediondo, tem também disposição e meios para ajudar na aprovação da emenda popular que veda candidatos "fichas-sujas".

A emenda, agora já com 1,5 milhão de assinaturas, está na Câmara desde 29 de setembro e propõe alterar a Constituição para permitir o veto ao registro de candidaturas de gente que tenha sido condenada pela Justiça em decisão de primeira instância.

Os líderes dos partidos já avisaram ao presidente Michel Temer que não vão mexer com isso porque acreditam na universalidade do direito à presunção da inocência até a condenação transitada em julgado em todas as instâncias, demore o tempo que demorar, tenha isso o efeito que tiver sobre a qualidade da composição do Parlamento.

É mais ou menos como a história do fracasso da reforma política: não mudam aquilo que os favorece.

Tampouco brigam com os fatos que os beneficiam. O mais vistoso em tela, a popularidade do presidente Lula, que faz a quase totalidade do mundo político ficar ao lado dele ou evitar contestá-lo de maneira contundente.

De posse desse capital, o presidente teria força suficiente para enfrentar de forma efetiva o mal da corrupção. Falta-lhe, porém, autoridade moral por ele mesmo solapada na constante e insistente defesa que faz de gente suspeita, na proteção que dá a acusados de faltas graves e no tratamento fidalgo que confere a transgressores comprovados e, não raro, assumidos.

Nessa seara, entretanto, a palavra do presidente está desacreditada por seus atos. Daí a desconfiança com que foi recebido o anúncio do envio ao Congresso do projeto de agravamento de penas aos corruptos dos altos escalões.

Se um dia reivindica tratamento especial para um aliado político cercado de denúncias por todos os lados, no outro considera que "não falam por si" imagens tidas pela Polícia Federal e pela Justiça como provas de corrupção explícita, não há como acreditar na franqueza do gesto de propor penas mais duras para corruptos.

Ainda mais quando o discurso vem sozinho, sem a companhia do compromisso de torná-lo uma ação objetiva no Congresso.

O próprio presidente alimenta a desconfiança de que não fez mais que aproveitar a chance da passagem do Dia Mundial de Combate à Corrupção para se promover. "Pode ser (que a lei) não resolva o problema, mas ajuda a passar à sociedade a ideia de que não há impunidade".

Quer dizer, ele mesmo já reconhece que entra na história com uma proposta provavelmente fadada à inconsequência.

Mas ao departamento de publicidade e incremento do espetáculo do crescimento da popularidade do presidente do Palácio do Planalto isso basta, porque a intenção é "passar à sociedade" a ideia de que Lula é o general desse combate e nada mais.

A questão é que o entendimento do recado não pode ser absorvido como pretendido sem que haja uma atitude diferente daquela que pautou o envio de outras tantas propostas enviadas ao Congresso e lá deixadas no limbo, como a reforma política, para citar apenas a de caráter correlato.

A ausência de atos que sustentem o discurso do "combate à safadeza com o dinheiro público" desqualifica a palavra e reduz o gesto a apenas mais um lance de propaganda enganosa.

Versão paulista

O discurso oficialmente preponderante entre os aliados do governador José Serra é o de que Geraldo Alckmin será mesmo o candidato ao governo de São Paulo.

E, de fato, essa é a linha de trabalho mais visível. Mas há outra que direciona Alckmin para a candidatura ao Senado e ainda aposta em Aloysio Nunes Ferreira, chefe da Casa Civil do Palácio dos Bandeirantes.

Com o seguinte raciocínio: deixar o governo na mão de Alckmin equivaleria a abrir mão da cidadela de poder para o grupo adversário. Em português claro, perder o controle político sobre São Paulo.

Mas, e as pesquisas que dão a Alckmin 60% das preferências? No entendimento do grupo, ganha quem tiver o apoio de Serra.

Qualquer semelhança com o pensamento predominante no PT sobre a relação Lula-Dilma Rousseff não é mera coincidência.

No telhado

Ao pedir que o PMDB indique "três nomes" para ocupar a vaga de vice da chapa de Dilma, o presidente Lula desmancha a esperança acalentada pelo presidente da Câmara, Michel Temer.

Era vidro

Depois da série de desventuras - fraude, questão anulada e gabarito de prova errado - com o Enem, nunca mais se ouviu falar na candidatura ao governo de São Paulo do ministro da Educação, Fernando Haddad, que já foi o preferido de Lula.

Fernando de Barros e Silva:: Homem de partido

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO -
Depois que deixou o poder -defenestrado da Casa Civil, cassado pela Câmara no escândalo do mensalão-, José Dirceu se tornou uma pessoa desimportante para o público.

A quem iria interessar a vida e os "combates na planície" daquele que o ex-procurador-geral da República colocou à testa de uma organização criminosa?

Fora do poder, Dirceu, o socialista, poderia ter dedicado o tempo ocioso e a experiência acumulada àqueles que ainda lutam pela sua causa. Não consta, porém, que tenha se convertido ao MST, participado de cooperativas agrícolas ou se engajado no trabalho do próprio governo com a economia solidária.

Na planície, o advogado Dirceu preferiu ganhar a vida como "consultor". E se dedicou a um nicho muito valorizado desse mercado emergente: o das empresas com interesses nas decisões do governo ou que têm negócios com o Estado.

Dirceu nunca deixou que sua vida profissional um tanto esquiva o afastasse do PT. Pelo contrário, manteve vínculos com o partido, onde é uma figura (talvez mais) idolatrada. Para muitos, "Zé é PT" de uma maneira que Lula jamais foi.

Dirceu é, de fato, o artífice da conversão do PT, aquele que o transformou de veículo de massa em máquina de poder. A burocratização, a realpolitik -tudo, enfim, que, com Lula-lá, foi desembocar no mensalão tem ou teve a sua colaboração.

A recente eleição de José Eduardo Dutra para a presidência do partido representou uma vitória do grupo de Dirceu. Ele aposta em Dilma Rousseff para voltar ao poder e, como ela, vem tentando reescrever a história ao dizer que "o PT não desviou recurso público, o eleitorado sabe que não houve mensalão".

Talvez nem seja o caso de perder tempo com esses panetones retóricos, que nada devem à fábula de Arruda. A diferença é que a farsa do PT vem recheada com as frutas cristalizadas do stalinismo. Mais relevante é saber por que a esquerda - e qual esquerda- precisa desse "bolchebusiness" para ser feliz.

Eliane Cantanhêde:: Dia de cão

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Ontem foi um dia de cão em Brasília, começando pela economia, passando pela política, resvalando no Judiciário e atingindo até o bom senso na área mais falada no mundo neste momento: o meio ambiente.

Não bastasse o resultado do PIB do 3º trimestre, menor que os 2% previstos pelo governo, o que já é um tranco de bom tamanho, houve uma sucessão de decisões, anúncios e gastos que não animam ninguém, muito menos são um bom presente às vésperas do Natal do brasileiro.

Na Câmara dos Deputados, fica-se sabendo que foram necessários três minutos para aprovar um aumento médio de 15% dos funcionários, aumentando a folha de pagamento na bagatela de uns R$ 400 milhões ao ano.

Na crise do panetone, o governador José Roberto Arruda se desfilia do DEM na véspera de ser expulso e por puro cálculo político. Em vez de mea culpa, trata-se de uma nítida tentativa de evitar a expulsão e de manter-se vivo no governo agora e na política depois.

No Supremo, por seis a três, os ministros decidem manter a censura ao jornal "O Estado de S. Paulo", impedido de publicar reportagens sobre a operação Boi Barrica, da PF, que pega de jeito os Sarney. A Corte alega erros técnicos para a decisão. Com certeza tem lá suas razões, mas o difícil é explicar para a opinião pública, seca por transparência e liberdade.

"Censura" é uma palavrinha difícil de engolir.

Em meio a tudo isso, lá vem a competente repórter Marta Salomon descobrir o projeto do governo para suspender a cobrança das multas aos desmatadores que passarem a fazer o que tinham de ter feito sempre: cumprir a lei. Além de esdrúxula, a decisão é sobretudo inoportuna. Copenhague corre para um lado, o Brasil, para o outro. Ou o discurso é um, e a prática, outra.

Quanto ao palavrão falado em bom e alto som pelo presidente da República? Sem comentários.

Roberto Freire:: Interesses privados

DEU NO JORNAL BRASIL ECONÔMICO

Um dos aspectos negativos da vida pública brasileira e que reiteradamente tem se manifestado nos últimos anos é o fenômeno da tomada do Estado pelos interesses privados, sejam os de partidos, empresas ou corporações. O processo democrático tem avançado, mas a Republica não. Essa aparente contradição é fruto da "res-privada" em que se transformou o Estado brasileiro, qualquer que seja sua instância, pelos interesses espúrios de grupos que tem avassalado nossa "res-pública", em prejuízo de toda a sociedade.

Tal fenômeno, inclusive, está na raiz da desmoralização da política como efetivo instrumento de mudança e exercício da cidadania em busca da realização de seus direitos. Confundindo-a, aos olhos do povo, como uma ação de caráter criminoso dos mandatários eleitos. Por isso, acreditamos que as eleições que se avizinham não serão presididas por discursos moralistas, ou uma confrontação de acusações de ilicitudes, visto que lideranças expressivas dos grandes partidos, e eles próprios, foram denunciados pelos mesmos crimes. A culpa no cartório nivela (por baixo) a todos. Mas isto não significa que o tema não estará no jogo, pelo contrário: também no silêncio poderá estar o germe da destruição da nossa democracia. Para além de propostas de boa governança para o país, devemos exigir de todos uma ênfase especial em projetos concretos para o combate a corrupção.

Precisamos de mulheres e homens comprometidos com a garantia da democracia e uma reforma do Estado que favoreça a articulação de um projeto anticorrupção e que tenha como eixo e base a mais premente de todas: a reforma política. Precisamos do fortalecimento das instâncias de fiscalização do Estado (CGU, TCU e MP), com o aperfeiçoamento das leis com uma precisa tipificação dos crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e correlatos. E que os processos de corrupção que envolvam mandatários, agentes da esfera pública e empresários, tenham prevalência e sejam julgados pela Justiça prioritariamente.

Necessitamos, afinal, de quem defenda e faça valer uma reforma política com base no financiamento público de campanha, voto distrital misto e, no limite, um novo sistema de governo baseado no parlamentarismo, um governo de maioria consolidada por meio do voto e não, como hoje, nas artimanhas do executivo eleito, seja presidente, governador ou prefeito. Nesse sentido defendemos a realização de um plebiscito visando a indagar ao eleitor-cidadão sobre a necessidade de se promover uma reforma que dê transparência, maior controle, e combata a corrupção da política, comprometendo o futuro Congresso Nacional, a ser eleito em 2010, com a sua elaboração.

Assim, para termos um país mais democrático e equânime, impõe-se estabelecer uma correta relação entre as instituições e o povo, avançando na construção de uma cidadania mais preparada para intervir no processo político. A par do compromisso ético dos mandatários, educação, cultura e instituições democráticas sólidas são os instrumentos mais eficazes para caminhar na direção de um Brasil democrático e justo.
Roberto Freire é presidente nacional do PPS

Lula quer lista tríplice do PMDB para vice

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Temer e Edison Lobão estão no páreo para compor chapa de Dilma

Silvia Amorim, Enviada Especial, São Luís

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu em visita ao Maranhão que o PMDB apresente uma lista tríplice para o posto de vice na chapa da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência em 2010. Lula afirmou que a escolha tem de ser de Dilma e não da legenda aliada. "Primeiro, eu defendo a ideia de que o vice seja dos partidos aliados. Segundo, o PMDB é o maior partido aliado da base do governo", disse. "O correto não é nem o PMDB impor um nome forte. O correto é o PMDB discutir dentro do partido e indicar três nomes para a ministra Dilma, para que ela possa escolher."

Lula participou de três eventos na capital maranhense. Só no último, ele dividiu o palanque com o presidente do Senado, José Sarney. Foi a primeira aparição dos dois juntos após o caso dos atos secretos no Senado.

Estão no páreo para vice de Dilma o presidente da Câmara, deputado Michel Temer, e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão - este acompanhou toda a visita de Lula ontem. A ministra também participou de todos compromissos. Lula desconversou quando perguntado sobre qual dos dois preferia para o posto: "Tem que fazer essa pergunta para ela porque quem escolhe o vice é o candidato."

A declaração foi feita na entrevista a rádios locais no aeroporto de São Luís. Foram 36 minutos de conversa em que Lula falou dos investimentos para o Maranhão, de reforma política, da aliança com o PMDB e do projeto de lei que vai enviar ao Congresso para transformar em hediondos os crimes de corrupção, peculato e concussão, tornando-os inafiançáveis, se forem praticados por autoridades.

Ao sugerir a lista tríplice, Lula explicou que é preciso afinidade: "É que nem casamento.

Quem vai casar com o vice é a candidata. Você não pode empurrar para ela alguém que não tenha afinidade com ela." Ele considerou, porém, essa discussão prematura e afirmou que o assunto deve entrar em pauta a partir de março. "Agora acho prematuro ficar discutindo nomes."

Ao defender as alianças feitas por seu governo, Lula disse que aprendeu a ser pragmático. "Quem quiser fazer política com pé no chão, faça. Quem quiser ficar na estratosfera, fique. Eu sou muito pragmático em política, aprendi a ser pragmático, porque quando você chega na Presidência da República precisa construir a maioria."

CORRUPÇÃO

Lula pediu aprovação rápida do projeto para tornar mais rigorosa a punição para crimes de corrupção. Ele voltou a cobrar do Congresso uma reforma política e defendeu o financiamento público das campanhas eleitorais: "É muito mais barato e mais limpo do que pegar dinheiro de empresário para fazer campanha." Indagado sobre o caso do "mensalão do DEM" envolvendo o governo de José Roberto Arruda no Distrito Federal, Lula disse que "todo mundo está enojado com tanta denúncia".

Dilma na TV: ''Penso igual ao senhor, presidente''

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Partido insiste nas comparações com governo FHC e usa ministra e Lula como estrelas do programa

Clarissa Oliveira

Em uma prévia do que planeja para a campanha eleitoral do ano que vem, o PT preencheu ontem seu programa partidário no rádio e na televisão com comparações entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a administração do antecessor Fernando Henrique Cardoso. Como já era esperado, o presidente e a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, foram as estrelas do filme.

Criado com a ajuda do marqueteiro João Santana, o programa mostrou a pré-candidata petista ao Palácio do Planalto encenando um diálogo com Lula. Sempre que o presidente aparecia encampando frases - como "provamos que é possível haver democracia com crescimento econômico" -, Dilma surgia em seguida, com afirmações nessa linha: "Presidente, eu penso igual ao senhor."

"Tem governo que fez pouco e acha que fez muito", continuou Dilma, em uma de suas aparições, vestindo um terno vermelho escuro. "Nós não. A gente fez muito. Mas sabe que é preciso fazer muito mais. O Brasil melhorou. Mas, como o senhor mesmo disse, devemos sempre fazer mais."

As comparações mais ácidas com o governo tucano ficaram a cargo de atores e locutores. No filme, o PT afirmou que Lula criou 12 milhões de empregos com carteira assinada, contra 5 milhões no governo FHC. Ressaltou ainda que, na atual gestão, 30 milhões de brasileiros ingressaram na classe média e 20 milhões saíram da pobreza absoluta. "Com FHC, a ascensão social foi insignificante", continuou o locutor.

O filme investiu no tema da crise econômica. Ao citar que o País viveu duas grandes recessões nos últimos anos, o programa indicou que FHC aumentou impostos, enquanto Lula fez o contrário. "Com o PSDB, o Brasil faliu e pediu socorro ao FMI. Com Lula e o PT, o Brasil venceu a maior crise das últimas décadas."

Quando começou a desenvolver o programa, o PT chegou a cogitar dar espaço a vários ministros no vídeo, para evitar acusações de campanha antecipada. Depois de ver que o PSDB também preencheu seu filme com os governadores de Minas, Aécio Neves, e de São Paulo, José Serra, ambos pré-candidatos, o partido mudou de linha.

Ainda assim, restou espaço para um rápido cumprimento do presidente nacional do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), e do ex-senador José Eduardo Dutra, que comandará a sigla a partir de 2010. Mas o encerramento do programa ficou a cargo de Dilma e Lula. "O melhor é que construímos uma base sólida para o País continuar avançando nos próximos anos", disse Lula.
"Sem dúvida, presidente", emendou Dilma.

Dilma ainda não existe, só Lula, diz FHC

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

De Washington

Pré-candidata petista à sucessão presidencial, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) não decola nas pesquisas porque não existe de fato, sua candidatura é uma decisão tomada unilateralmente pelo presidente Lula. A opinião é do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Para ele, Dilma "é candidata de Lula, ainda não é do partido, porque Lula nunca perguntou [ao PT] e nem mesmo a ela, ele decidiu. Então, para a opinião pública, quem existe até agora é Lula, não uma candidata".

Em Washington, o tucano comentou ainda sobre a capacidade de Lula de transferir votos para Dilma, que tem ficado em segundo lugar nas pesquisas no cenário mais provável para a disputa.

"Mas [ele] já fez isso! Ela não tinha nada, zero, nunca teve posição política, nunca foi candidata, ninguém a conhece." (Sérgio Dávila)

Irritado, Brasil critica Estados Unidos

DEU EM O GLOBO

Chanceler Celso Amorim diz que houve excesso de tolerância com golpe

Eliane Oliveira

BRASÍLIA. A negativa ao pedido de salvo-conduto para que o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, deixasse a embaixada brasileira em Tegucigalpa e partisse para o México irritou Brasília, que não descartava, a médio prazo, um possível reconhecimento das eleições presidenciais hondurenhas, realizadas no dia 29 de novembro, a partir de uma negociação. Além disso, o governo brasileiro criticou os EUA, a que considerou "excessivamente tolerantes" com o governo interino do país centro-americano.

- Os EUA devem estar frustrados com os recentes desdobramentos da crise em Honduras.

Deve ser uma frustração muito grande, acho eu, para os Estados Unidos, cuja diplomacia se envolveu até muito mais que a nossa. Essa frustração advém do fato de você ter sido excessivamente tolerante com um governo golpista - disse o chanceler Celso Amorim.

Segundo um integrante do governo brasileiro, as declarações do presidente eleito de Honduras, Porfirio Lobo, de que não mediria esforços para conseguir o apoio do presidente Lula teriam sido vistas como uma possibilidade de diálogo, uma janela aberta na posição até então inflexível das autoridades interinas hondurenhas.

- Com essa história de salvo-conduto, não há como flexibilizar - disse a fonte.

Brasil buscará apoio de países menores na OEA

A estratégia, agora, é buscar o apoio dos países menores que são associados à Organização dos Estados Americanos (OEA) para que, em um enfrentamento direto com os EUA, o Brasil consiga obter uma posição mais firme do organismo em relação ao cenário político naquele país. Segundo o assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, a maioria dos países da OEA é favorável ao não-reconhecimento das eleições.

- Há muita inquietação, principalmente da parte dos países pequenos, que estão assustados. Imagine se se legitima um golpe de Estado, o que você acha? Vamos deixar para a OEA resolver - disse ele.

Esse clima de indignação também era evidente ontem no Itamaraty. Mais cedo, em entrevista ao programa de rádio "Bom dia, ministro", o chanceler Celso Amorim comentou:

- Confesso que acordei hoje (ontem) pensando que o Zelaya já estaria no México, mas fui surpreendido com a informação de que teria havido essa dificuldade por uma exigência absurda.

Amorim não descartou uma conversa entre Brasília e Porfirio Lobo, mas disse que não é possível um reconhecimento "a curto prazo" das eleições.

- A preocupação principal do momento é manter a segurança de Zelaya e permitir que ele saia do país. Se tiver que haver um diálogo entre uma parte e outra, haverá. Com o passar do tempo, o povo hondurenho encontrará a sua solução. Agora, que as eleições não foram legítimas, não foram - criticou.

Amorim: "Não vamos enxotar Zelaya"

Ele classificou a rejeição ao salvo-conduto de "truculenta" e avisou que Zelaya continuará na embaixada até quando quiser.

- Vamos ver o que acontece, mas não vamos ficar enxotando o presidente Zelaya da nossa embaixada. Demos proteção a ele, proteção reconhecida pela OEA e pelo Conselho de Segurança da ONU.

O ministro explicou que a ideia de Zelaya ir para o México - e de lá, segundo um integrante do governo, provavelmente para Cuba - foi negociada com o governo mexicano por Brasil e Argentina. Disse ter partido do próprio presidente deposto o desejo de buscar abrigo no México.

Chile: candidatos já se articulam para 2º turno antes mesmo do 1º

DEU EM O GLOBO

Frei mexe no comando da campanha; Piñera deve defender governo de unidade

Partidários num comício de Frei: candidato da Concertação negocia frente com terceiro colocado nas pesquisas


Cristina Azevedo

SANTIAGO. Os dois principais candidatos à Presidência do Chile ainda ensaiavam seus discursos de encerramento de campanha ontem, quando seus comandos já trabalhavam de olho no segundo turno. Se as pesquisas mostram que Eduardo Frei, da coalizão de governo, deve chegar à noite de domingo como o adversário de Sebastián Piñera na segunda rodada, indicam também que sua diferença para o candidato da Aliança para Mudança é agora ainda mais preocupante. Mais do que uma mudança na campanha, caciques da Concertação já admitem a necessidade de a coalizão se reinventar e realizar um congresso para ouvir todos os setores.

- Precisamos entusiasmar o eleitor que está com Jorge Arrate ou Marco Enríquez-Ominami - admite Jorge Pizarro, chefe político de campanha de Frei.

Treze pontos à frente de Frei nas pesquisas, chegando a 44,1% das intenções de voto, Piñera pediu ontem aos chilenos "a oportunidade de ser presidente". Para o segundo turno, ele deve defender um governo de unidade nacional e prometer ampliar as políticas sociais de Michelle Bachelet - embora seja seu opositor.

No comando de Frei, foi um dia de reuniões com os presidentes dos quatro partidos da coalizão, e uma outra já está marcada para segunda-feira. Jorge Pizarro admitiu que haverá mudanças na equipe, mas prefere falar em "incorporações" à campanha. Um dos nomes que deverão ganhar destaque estratégico é o do ex-ministro Ricardo Solari. Ele teria se reunido ontem com o terceiro colocado nas pesquisas, o independente Marco Enríquez-Ominami, segundo rumores. Pizarro confirma que "há conversas" com Ominami e Jorge Arrate, do Partido Comunista, mas não negociações.

Para a nova fase, se a votação no domingo confirmar as pesquisas, Frei deverá reforçar as críticas a Piñera como uma volta ao passado, apresentar-se cada vez mais como "o herdeiro de Bachelet", e mostrar a coalizão mais aberta à participação da sociedade. Os indícios já estavam no discurso de ontem, em Concepción:

- É necessário reinventar a Concertação. Sobretudo, recuperar a confiança nos líderes.

Não é para menos. Na visão de Tomas Mosciatti, analista político, a Concertação pode levar até oito anos - dois mandatos presidenciais - para se recuperar de uma inédita derrota para a direita nestes 20 anos de redemocratização.

- Estas são as eleições mais competitivas pós-Pinochet. A transição política acabou. Ganhe quem ganhar, o Chile vai mudar - disse no Seminário "20 anos de democracia/200 anos de independência", da Fundação Imagem do Chile, em Santiago.

Governo investirá em direitos humanos na campanha

Pizarro fala com amargura de Ominami, certo de que sua candidatura custou votos a Frei:

- Ele não saiu (candidato) por falta de espaço. Ele teve todas as oportunidades que os jovens chilenos em geral não têm. Saiu por um projeto pessoal.

O governo pretende impulsionar a agenda de direitos humanos antes do segundo turno, em 17 de janeiro. O tema esquentou a campanha desde a descoberta de que o pai de Frei foi assassinado pela ditadura. Cinco projetos relacionados aos direitos humanos devem ser lançados em breve, entre eles o que anula a Lei de Anistia de 1978 - uma das promessas de Frei.

Miriam Leitão:: Dinheiro do clima

DEU EM O GLOBO

Um espectro ronda Copenhague: o dinheiro. Há discussões filosóficas, geopolíticas, científicas, ambientais mas tudo pega mesmo é na hora de discutir o financiamento. Dinheiro já oferecido some da mesa, moeda fácil é oferecida por milagreiros, e os lobbies correm atrás de miragens monetárias. No fundo, o que se discute aqui é quanto os poluidores pagarão e quem vai receber.

Alta, louríssima, voz forte, a jornalista da TV dinamarquesa cortou a fala diplomática do embaixador brasileiro Luiz Alberto Figueiredo Machado e pediu explicação sobre o adjetivo "robusto" que ele usou para qualificar a necessidade de financiamento dos países em desenvolvimento:

- O que é dinheiro "robusto"?

- São recursos de curto e longo prazo. Precisamos de dinheiro de curto prazo? Sim. Mas também precisamos de financiamento de longo prazo porque a luta contra a mudança climática é longa.

- Quanto? - insistiu a repórter.

Não recebeu a resposta quantitativa que queria. O que o embaixador havia dito, à imprensa, um pouco antes, era o recado que todos os países em desenvolvimento estão dizendo:

- No momento, não há nenhuma proposta de dinheiro na mesa e essa é a nossa preocupação.

O problema é que está tudo andando para trás. O negociador americano Todd Stern chegou aqui rejeitando a ideia de que há uma "responsabilidade histórica" dos países ricos na mudança climática. Isso derruba um dos pilares de toda essa negociação.

No começo do dia, ontem, George Soros apareceu prometendo solução fácil. Numa sala lotada de um evento paralelo, Soros explicou sua ideia: um fundo verde, de US$100 bilhões com Direitos Especiais de Saque do FMI para financiar proteção de florestas e países mais vulneráveis. Com uma proposta assim, ele agradou de Brasil a Bangladesh. Argumentou que o Fundo usou US$283 bilhões em DES para financiar países ricos na crise econômica.

A reação de descrédito também foi ampla. Paulo Adário, do Greenpeace, argumentou que isso pode tirar dos países ricos a obrigação de pagar pelo dano que fizeram. Os negociadores europeus rejeitaram a ideia de Soros:

- Nós desconfiamos muito de propostas assim. Dinheiro tem que vir de algum lugar, não se pode simplesmente imprimi-lo - disse Arthur Runge-Metzer, negociador-chefe da União Europeia.

Uma fonte do FMI informa que a ideia é inviável. Os países teriam que sacar dinheiro dos DES e para isso teriam que pagar juros. Se os países ricos estivessem dispostos a fazer isso, usariam seu próprio dinheiro.

Nas últimas horas, os diplomatas trabalharam na preparação da primeira versão do texto oficial do grupo de trabalho criado para isso na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-15). Um órgão poderoso que tem um nome inacreditável: AWG-LCA. O embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado é o vice-presidente. O presidente é Michael Jammit Cutajar, embaixador de Malta. A promessa é que o texto vai ser distribuído amanhã para as delegações. Ficaria pronto ontem, mas as negociações estão difíceis e um dos pontos é o de financiamento.

Os europeus tinham anunciado, tempos atrás, US$100 bilhões, mas para financiar "adaptação". Essa palavra indica que o dinheiro vai para os países mais pobres e vulneráveis. Se for usada a palavra "mitigação", pode ser para proteção à floresta, e aí entra o Brasil. Até agora, o que está realmente oferecido pelos Estados Unidos e Europa é um dinheiro de curto prazo, de US$10 bilhões.

A corrida ao tesouro trouxe aqui para Copenhague muitas ONGs, defensores de diferentes mecanismos de financiamento, empresas de diversos setores, inclusive os de alta emissão, produtores de equipamentos para diversas tecnologias de produção de energia. Os ricos pararam de oferecer o que vinham oferecendo antes. Falam da crise e de como os países emergentes se saíram tão bem, e usam um argumento difícil de refutar: a China é parte dos emergentes, mas tem US$2 trilhões de reservas.

O Brasil pode construir um discurso sustentável para seu pedido de recursos, mas para isso tem um enorme trabalho a fazer. Financiar a pecuária sem fazer exigências, mesmo sabendo o que o Inpe divulgou ontem, que metade das emissões brasileiras vem da produção de carne, é insustentável. Ou a pecuária muda, ou o Brasil fica sem argumento.

Enquanto essas negociações ocorrem, as sessões plenárias da Conferência terminam sempre suspensas por causa de Tuvalu. Ontem, de novo, o pequeno arquipélago parou a reunião e pode ficar assim até sábado. Ela está em obstrução, pegando uma boa questão regimental. Fez uma proposta há seis meses, e propostas nesse prazo têm que ser analisadas.

Num plenário conflagrado, com suas divisões inesperadas, Connie Heddegaard, a presidente da Conferência, deu a palavra para uma representante da sociedade civil. Uma jovem negra, africana, traz todos de volta à realidade:

- Os países ricos, que já tiraram trilhões de nós, agora oferecem US$10 bilhões. Esse dinheiro não dá para pagar os nossos caixões.

Quando falam os muito pobres ou os afogados, como Tuvalu, tudo fica mais cheio de vida, mais emocionante. Até um frio debate sobre dinheiro.

PIB é o pior em 10 anos e mostra recuperação lenta

DEU EM O GLOBO

Mantega previu número maior na véspera. Crescimento no trimestre foi de 1,3%

De julho a setembro deste ano, a economia brasileira cresceu abaixo das expectativas. O avanço do Produto Interno Bruto (PIB) ficou em 1,3%, mas as previsões - inclusive do ministro Guido Mantega, na véspera - eram de 2%. Com isso, em 12 meses, a economia encolheu 1%, o que não acontecia desde 1999, ano da maxidesvalorização cambial. Com o resultado divulgado pelo IBGE, analistas apostam que 2009 fechará com estagnação ou recessão, o que não acontece desde 1992, no governo Collor. Boa parte dos economistas acredita que o "pibinho" se deve ao fato de a saída de estoques ter demorado mais do que o esperado. A boa notícia, por outro lado, é que a indústria, a partir de agora, precisa retomar a produção num ritmo mais acelerado para atender à demanda, permitindo que o PIB cresça mais em 2010. Fica também mais distante a chance de o BC subir juros, pois a economia não está mais tão aquecida.

Produto Interno Baixo

Crescimento de 1,3% no 3º trimestre decepciona e país deve fechar o ano em estagnação ou queda

Cássia Almeida e Henrique Gomes Batista

Aeconomia brasileira avançou 1,3% de julho a setembro deste ano frente ao trimestre anterior. O número, bem abaixo das expectativas dos analistas, que giravam em 2%, surpreendeu o mercado e trouxe de volta o temor de que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) recue este ano. As projeções, revistas com o resultado, estão agora entre 0,2% e -0,5%. Se as estimativas se confirmarem, será a primeira queda no PIB desde 1992 (-0,47%), ano do Plano Collor, logo depois do confisco de 1990 (quando a economia recuou 4,35%). De janeiro a setembro deste ano, a economia encolheu 1,7% e nos últimos 12 meses a redução é de 1%. É a primeira vez desde 1999, ano da maxidesvalorização do real, que há retração no PIB num período de 12 meses. No ano, a economia produziu R$2,293 trilhões de bens e serviços.

- Não houve uma mudança de cenário, mas a economia está se recuperando mais devagar.

O consumo das famílias também teve desaceleração, se compararmos com as taxas registradas antes da crise. Mas os gastos continuam crescendo porque o crédito está crescendo, acompanhado pela expansão da massa salarial - explica a gerente de Contas Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis.

A desova de estoques, que parecia terminada no segundo trimestre, foi uma das explicações para o crescimento menor que o esperado. Essa é uma variável difícil de projetar, segundo analistas. Cálculos da LCA Consultores indicam que o PIB teria crescido 2,3% no trimestre, se os estoques permanecessem iguais de julho a setembro. Nas contas da Convenção Corretora, o ajuste de estoques tirou 1,8 ponto percentual na taxa acumulada no ano. Ou seja, em vez da queda de 1,7% no PIB, teríamos estabilidade.

- Havia ainda estoques no setor intermediário (insumos para indústria). A notícia boa é que a variação de estoques (de menos R$4,4 bilhões) não indica que a demanda está menor. Ela continua crescendo forte, e o crescimento de 2010 não será afetado - afirmou Fernando Montero, economista-chefe da Convenção Corretora.

Mesmo com PIB de 5%, país não cresce

E a alta de 1,3% no trimestre, que indica crescimento anualizado de 5%, foi puxada pelos setores que mais sofreram com a crise financeira internacional. O investimento cresceu forte, com alta de 6,5% frente ao segundo trimestre, embora ainda registre queda expressiva (-12,5%) contra o terceiro trimestre de 2008.

- A recuperação foi significativa. Passamos de uma taxa de investimento (em relação ao PIB) de 15,8% no segundo trimestre para 17,7%. Mas a poupança está muito baixa (15,5%, a menor desde 2001)- afirmou Armando Castelar, economista da Gávea Investimentos.

A indústria se destacou no terceiro trimestre. A alta foi de 2,9% frente ao período de abril a junho. Frente a 2008, a queda persiste. No terceiro trimestre foi de -6,9%.

A percepção de que o quarto trimestre será bem melhor está nos indicadores de atividade econômica já disponíveis. Em relatório divulgado ontem, o Itaú Unibanco afirmou que a surpresa negativa "contrasta com um conjunto amplo de indicadores que mostram expansão forte da atividade econômica em vários segmentos: indústria, comércio, emprego, renda e confiança de empresários e consumidores".

E o consumo se manteve em alta superior ao PIB no terceiro trimestre. Subiu 2% contra o período de abril a junho e 3,9% contra o mesmo trimestre de 2008. Há seis anos, o consumo das famílias vem crescendo, refletindo o aumento da massa salarial de 2,5% e do crédito para pessoas físicas de 17,9%.

Marco Antônio Chaves Novaes, presidente da Ingleza - fabricante mineira de ceras e produtos para limpeza -- confirma que o mercado interno sustentou a economia neste ano. A fabricação de alguns produtos caiu entre 5% e 7%, mas agora ele já recuperou totalmente as vendas e espera fechar 2009 com um faturamento entre 2% e 3% acima do bom ano de 2008:

- A queda não foi muito grande, houve sim um grande susto. Mas para nós, que destinamos 92% da nossa produção para o mercado interno, a recuperação foi melhor, tanto que planejamos crescer entre 12% e 14% em 2010.

Mesmo com o consumo em alta e a expectativa de expansão expressiva no fim do ano (acima de 4%), será preciso que a economia avance 5% frente ao quarto trimestre de 2008 para que a economia permanece do mesmo tamanho do ano passado. É um percentual que poucos analistas estão prevendo.

- Para chegar no mesmo nível de 2008, a alta frente ao terceiro trimestre tem que ser de 3,5%. Isso significa crescimento anualizado de 14%. Não é impossível, mas é improvável que isso aconteça - afirmou Castelar.

Menor contribuição do setor externo

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, teme que esse avanço menor do PIB faça o governo cair na tentação de ser mais ativo na política fiscal:

- A hipótese de os juros subirem no início do ano foi por água abaixo. O perigo é aumentar muito o déficit em transações correntes (contas com o resto do mundo) e o déficit público. Será que, em dois ou três anos, o investidor estará disposto a cobrir o rombo nas contas externas de US$70 bilhões? Qualquer pequena crise no mercado mundial pode ter efeitos no câmbio.

O setor externo ainda contribui de forma positiva para o PIB, mesmo com as exportações tendo registrado uma queda de 10,1% no terceiro trimestre contra o mesmo período do ano passado. Isso porque a queda das importações foi ainda maior: 15,8%.

- Essa contribuição será anulada em breve, pois as importações já estão crescendo por causa do real valorizado. E se a economia crescer 5% no ano que vem, as importações subirão 15%. Em média, cada 1 ponto percentual de alta no PIB eleva as importações em 3%. No total, prevemos que as importações cresçam entre 22% e 25%, contra aumento de 10% das exportações - afirmou José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Pequeno documentário: Alfonsín, esos años...

Entre agosto e setembro de 2005, os sociólogos Marcos Navaro e Vicente Palermo, entrevistaram o ex-presidente argentino Raúl Alfosin, em sua residência. Durante cinco sessões, e com intervalos, Alfonsín, respondeu e refletiu sobre as ações de seu governo, nos momentos mais dramáticos do período.

Neste curto documentário de 15 minutos de duração colocamos em foco, justamente “Esos Años”, e selecionamos momentos das entrevista nas quais Alfonsin responde sobre as decisões que adotou em relação àquelas questões chaves que agitaram a polêmica pública, durante sua gestão presidencial (1983-1989).

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