terça-feira, 25 de maio de 2010

Reflexão do dia – Tony Judt


O senhor dedica seu livro mais recente (“III fases the land”) “aos jovens” que parecem estar “confusos” sobre como agir contra o que acreditam estar errado no mundo. Que tipo de engajamento político é possível para os jovens hoje?

Não quis escrever um livro de receitas para os cozinheiros de amanhã. No entanto acredito que precisamos reaprender o que significa agir politicamente. Movimentos de base que agem pontualmente em nome de uma só causa quase sempre dão em nada – ou desaparecem após o sucesso da causa ou são apropriados por outros interesses e se perdem. Precisamos de um sistema através do qual possamos expressar visões universais sobre como somos governados e como gastamos nossas reservas: para isso precisamos examinar, de uma perspectiva crítica e ética, a forma como fazemos isso. O primeiro desafio é aprender mais uma vez a discordar com confiança daquilo que nos desagrada, em vez de dá as costas à política por desgosto ou desespero. E precisamos falar sobre “nós”, não apenas sobre “eu”.
(Tony Judt, na entrevista, sábado, em Prosa & Verso/O Globo)

Polarização :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O empate entre os dois candidatos à Presidência da República dos partidos que polarizam a política nacional nos últimos 20 anos José Serra pelo PSDB e Dilma Rousseff pelo PT demonstra que as estratégias de ambos para este início de campanha estão corretas. Serra adiou o quanto pôde seu lançamento, adiando assim o confronto direto com um governo bem avaliado.

E Lula antecipou o quanto pôde o debate eleitoral, fugindo a todas as regras tradicionais da política, para ter tempo de incutir no eleitorado o nome de sua candidata.

A polarização da eleição serve aos interesses de Lula, que sempre quis uma disputa plebiscitária, por considerar que tem mais o que vender ao eleitorado do que o rival PSDB.

Serra também queria o plebiscito, mas não sobre o governo Lula em contraposição ao de FHC, mas entre ele e Dilma.

Considera que tem uma vida política mais experiente e bem-sucedida do que sua adversária e espera vencer na guerra do currículo, político e administrativo.

É certo que não esperava que o presidente Lula transferisse com tamanha intensidade sua popularidade para a candidata oficial, enquanto Lula joga todo o seu empenho na aposta de que o eleitorado votará em Dilma confiando em sua escolha.

Contra todos os prognósticos, tirou Ciro Gomes do páreo sucessório para facilitar a polarização, uma jogada arriscada que se mostrou correta.

Contra as pressões do PT, obrigou seu partido a aceitar acordos com o PMDB onde pareciam impossíveis, como em Minas Gerais.

Hoje, a parceria com o PMDB está praticamente selada, e os problemas com os aliados parecem bem encaminhados.

Pontas estão sendo acertadas nos estados.

Quando não vai por bem, vai por mal, como no caso do Maranhão, onde Lula está impondo ao PT o apoio a Roseana Sarney.

O PMDB é uma federação de interesses e tem conseguido coisas que pareciam bastante complicadas. Minas é o principal sinal a vitória de Fernando Pimentel facilitou muito o apoio do PT a Hélio Costa, do PMDB, que está na frente nas pesquisas.

Outro avanço importante é no Ceará, contra a candidatura de José Pimentel ao Senado.

O governador Cid Gomes apoia Tasso Jereissati para o Senado, e o PMDB terá Eunício Oliveira como candidato a senador.

O Pará continua uma confusão só, com a disputa de projeto de poder entre Jader Barbalho e a governadora petista, Ana Carepa.

Mas no Pará e no Amazonas Lula tem 100% de popularidade, e dificilmente haverá brigas insolúveis.

No Sul, o PMDB está indo todo para Serra. A disputa no segundo turno vai ser com o PT, e, no Rio Grande do Sul, Serra tem o dobro de Dilma, e no Sul todo está na frente.

Mesmo que a diferença se reduza, como está se reduzindo, lá os programas sociais têm muito menos impacto.

Santa Catarina e Paraná também tendem para o acordo político com o PSDB.

Centro-Oeste, Norte e Nordeste ficam com Dilma, e Sul, com Serra. No Sudeste, o PMDB se divide: a ala paulista, controlada por Orestes Quércia, está com Serra, e Rio e Minas, com Dilma.

A avaliação dos governistas é que também Serra anda tropeçando. Procuram ressaltar que a irritação pública com jornalistas tem se repetido, e as duas vezes em que brigou foi com jornalistas mulheres.

A arrancada inicial cheia de tropeços não inviabilizou a caminhada de Dilma, que estranhamente está sendo construída em público, tanto física quanto politicamente, sem provocar rejeição.

No campo da plástica, a candidata já fez várias correções, culminando com uma mudança radical do corte de cabelo, que lhe deu um ar mais jovial.

Na parte política, está deixando de lado o tom radical que imprimiram à sua biografia no início da campanha, provavelmente para ganhar o eleitorado de esquerda, e está caminhando para o centro à medida que o ex-ministro Antonio Palocci vai se impondo dentro da campanha.

A exemplo de Lula, é na economia que a candidata oficial está se mostrando mais moderada. Aproveitando as críticas do candidato tucano ao Banco Central, especialmente sua posição não muito simpática à autonomia operacional da instituição, Dilma Rousseff passou a dar ênfase justamente ao contrário, realçando a importância do Banco Central na recente crise econômica mundial.

Essa dicotomia entre a política interna, mais à esquerda no segundo governo Lula, e a economia, sempre mais conservadora, está se repetindo no comando da campanha da candidata do PT.

Enquanto o partido ainda joga com a possibilidade de identificar o PSDB com uma política neoliberal que ameaça os programas sociais do governo Lula, a campanha vai enviando aos investidores mensagens moderadas, identificando o adversário com os perigos de uma guinada na política econômica.

Recentemente, em seminário em Nova York, foram muitas as mensagens de que Henrique Meirelles poderá continuar à frente do Banco Central num futuro governo Dilma. E o cicerone da candidata oficial foi Palocci, que continua com excelente trânsito junto aos investidores internacionais.

Também o discurso externo muda. Enquanto aqui dentro, para os militantes, o governo anterior é demonizado, lá fora a própria Dilma repete Palocci e atribui nossa atual prosperidade à continuidade das políticas econômicas dos últimos 20 anos.

A candidatura tucana provavelmente conseguirá algum gás com os programas eleitorais partidários de junho, e é possível que a campanha oficial comece com os dois ainda empatados.

A presença de Lula no programa do PT a exaltar as qualidades administrativas de Dilma exigirá, porém, que o programa do PSDB passe a atacar mais diretamente a candidata oficial, tentando levar a polarização para o campo da experiência política e administrativa. E será inevitável tentar desconstruí-la e aos programas do governo, como o PAC. A briga, então, chegará a Lula.

Lavoura anárquica:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S.PAULO

De tanto transgredir, reincidir e alcançar resultados práticos a ponto de levar seus adversários a aderir à lógica de que os fins justificam os meios, o presidente Luiz Inácio da Silva acabou por transformar as críticas à sua conduta em uma condenação implícita à Lei Eleitoral.

Ganha corpo um debate nos seguintes termos: não é bem o presidente que está errado ao desafiar a lei, mas a lei é que está equivocada ao se confrontar com a realidade e pretender controlar o incontrolável com a campanha eleitoral já em pleno desenrolar.

Considerando que a partir da aceitação desse tipo de premissa fica impossível discutir qualquer coisa com um grau razoável de bom senso, pois o raciocínio serve para a questão eleitoral ou para qualquer outra e parece nítida a deformação do silogismo por cultivado na anarquia, passemos a outro aspecto legal desse cenário de transgressões.

O artigo 37 da Constituição Federal, o primeiro do capítulo da Administração Pública "direta, indireta" diz que qualquer dos Poderes da União, dos Estados e do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá em seus atos a uma série de princípios sendo que entre eles o primeiro listado é o da legalidade.

"Qualidade ou estado do que é legal, do que está conforme com ou é governado por uma ou mais leis" (Antonio Houaiss).

Irrealista ou não ao juízo de alguns autores, não pode haver dúvidas de que a Lei Eleitoral é uma lei. Portanto, quem a infringe comete uma ilegalidade, ferindo o princípio estabelecido na Constituição para agentes públicos.

O Tribunal Superior Eleitoral por quatro vezes multou o presidente da República, mais recentemente fez o mesmo em relação ao ministro do Trabalho, ao prefeito de São Bernardo, ao presidente da Transpetro e ao presidente da Petrobrás, para tratar apenas dos ocupantes de postos previstos no artigo 37 da Constituição.

Esta não caiu em desuso nem é alvo da argumentação fora de foco que considera a Lei Eleitoral obsoleta face a uma circunstância específica, mas esquece que ela vigorou de 1997 até a última eleição sem contestação.

Tornou-se inadequada porque o presidente Lula resolveu antecipar a campanha e revogou a norma na marra. A Justiça Eleitoral aceitou até março deste ano a imposição dessa regra do jogo.

Mas, agora, é de se perguntar: estabelecida a ocorrência do ilícito, pode o presidente continuar a agir ao arrepio do princípio maior da legalidade seja qual for a lei transgredida?

Se for, substituiu-se em Dostoievski Deus pela Constituição e se conclui que tudo o mais é permitido.

Projeção. De acordo com a última pesquisa do instituto Datafolha, a candidata Marina Silva que aparece com 12% das intenções gerais de voto tem seu melhor índice por faixa de renda entre as pessoas que ganham de 5 a 10 mínimos: 22% a apoiam.

Esse grupo - salários de R$ 1.064 a R$ 5.100 - enquadra a classe C e um pouco da classe B, conforme critérios adotados pela Fundação Getúlio Vargas.

O segundo melhor índice de Marina está no item escolaridade: já chegou a 18% entre os eleitores com curso superior.

Esses dados confirmam uma impressão geral de que Marina é bem aceita entre as pessoas mais bem informadas e receptivas à entrada de novos personagens em cena.

Mas ainda não atendem à expectativa do PV de que a candidatura da senadora apresente um crescimento significativo entre as classes D e E nessa primeira fase da campanha.

Notadamente entre "as mulheres pobres e o povo cristão".

Na avaliação de dirigentes do partido, mais que os jovens e a elite, os intelectuais e artistas, que manifestam simpatia por Marina Silva, o eleitorado com potencial de adesão à candidata é o residente na periferia, majoritariamente feminino e evangélico -"povo cristão" é eufemismo - que estabeleceria com ela uma relação de empatia por identificação de biografia.

Foi essa a razão da escolha da Baixada Fluminense (RJ) para a realização da convenção do PV que lançou a candidatura de Marina Silva no último dia 16 de maio.

Para cima e para baixo:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Mais cedo ou mais tarde (de preferência a segunda hipótese), quem não se deixa ofuscar por pesquisas de opinião vai reconhecer que já deveria ter desconfiado de que o foco da sucessão deste ano realçou com mais tinta o presidente Lula em relação à sucessão em 2014 do que, daqui a quatro meses, a própria candidata Dilma Rousseff. Ouvirá a explicação de que foi razão tática. Até aqui a campanha eleitoral reincidiu exageradamente na embromação do eleitor com elogios que o próprio Luiz Inácio Lula da Silva não se poupa, enquanto a oposição ainda não sabe por onde recomeçar. A campanha empacou, e a Copa do Mundo serve de desculpa esfarrapada para tudo que está em jogo.

Quem é de se preocupar com fatos menores tende a se contentar com a aparência, mas nada tem a declarar sobre a candidata Dilma Rousseff, que acaba de pôr os pés no patamar que lhe permite ver de mais perto o parceiro José Serra dois pontos para cima ou para abaixo não importam no seu horizonte. Nenhum dos dois quer atirar a primeira pedra. O eleitorado não se recusa a arriscar juízos de valor definitivos sobre os personagens, e seus currículos, mas espera que as respectivas propostas de governo não venham a ser programas de índio.

Há dois anos dona Dilma vinha trotando na trilha presidencial, enquanto Lula se esquivava ao foco do terceiro mandato para não ficar mal com o que o país tem de melhor, que vem a ser a consciência democrática aguçada. Na segunda metade do século passado, a própria eleição indireta tornou-se a saída de emergência para a ditadura. E a oposição, antes de botar para fora a eleição indireta, a utilizou como última ratio para a ditadura sair de cena e não mais voltar. Foi a última gentileza e guardou como lembrança a honra de chegar ao poder graças à moral da fábula.

As pesquisas de opinião estão sustentando, nas movediças margens de oscilação para mais e para menos, o clima eleitoral, e contribuindo para a normalidade de eleições presidenciais desde que os constituintes de 1986/88, sentindo-se na própria casa da sogra, desataram alguns nós que perturbavam a vida republicana nos períodos legais e hiatos ditatoriais. Eram resultados francamente pífios para um país que se considerava herdeiro do futuro. A temporada democrática anterior (1945-1964) não havia resistido à maioria simples para eleger presidentes. Cada sucessão, uma baixaria golpista Finalmente, a maioria absoluta veio, viu e ficou. As pesquisas também vão para a História do Brasil.

Não foi só a maioria absoluta, cuja sabedoria é exigir do vencedor a metade do total de votos mais um de lambujem, que extirpou pela raiz o golpismo que contaminava a pureza democrática na fonte republicana. Por fora do constitucionalismo fervente, discreta como é da preferência mineira, a pesquisa eleitoral teve função didática que ainda espera o levantamento histórico de sua contribuição pelo menos no Brasil para a democracia, finalmente, dizer a que veio.

As pesquisas prepararam o brasileiro para aceitar o resultado da eleição sem desatino emocional. O teste foi a eleição de Lula, que veio devagar, pelas bordas, até o mingau esfriar, como preferia Leonel Brizola, mas ficou para ele. Elegeu-se, reelegeu-se e quase conseguia por fora um terceiro mandato. Em conclusão: aquele oposicionismo de chiliques está curado. O acompanhamento das oscilações, pequenas ou grandes, no curso das campanhas eleitorais, neutraliza os desatinos golpistas que privavam da razão a anterior oposição. O custo das pesquisas é muito inferior à farta distribuição de preservativos pelo Ministério da Saúde. E mais barato do que a oferta oficial de tranquilizantes ao eleitor médio, que se desincumbe do ato de votar e não mais quer saber do que será que será. Finalmente, o brasileiro descobriu que uma eleição perdida não é o fim do mundo. Nem sequer paga o custo de uma ditadura a mais ou a menos.

Em vez da criação de dias nacionais disto e daquilo, os legisladores poderiam juntar-se e propor, entre Rio e São Paulo, um monumento imponente às pesquisas de opinião como um dos pilares com que a democracia pode contar no Brasil. Claro, enquanto achar que vale a pena.

Ganhar Minas é a única opção de Aécio:: Raymundo Costa

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Após 25 dias de férias, Aécio Neves volta hoje à ativa sob pressão para aceitar a candidatura a vice-presidente na chapa do PSDB. O assunto seria naturalmente retomado com o retorno do tucano, mas ganhou candência com as novas pesquisas. O período de férias de Aécio foi péssimo para o PSDB em Minas Gerais: seu candidato ao governo estadual, Antonio Anastasia, continua no mesmo lugar desde que Aécio saiu de cena, enquanto José Serra perdeu terreno para Dilma Rousseff, embora o crescimento da candidata do PT tenha se dado no Sudeste como um todo, inclusive em São Paulo.

Aécio tem ouvido os argumentos dos dois lados. Um dos mais contundentes, favorável à composição da chapa puro-sangue do PSDB, é do Democratas (DEM). Diz que o ex-governador de Minas Gerais nada tem a ganhar sendo candidato ao Senado: na hipótese de José Serra ganhar a eleição, ele não teria por que ser agradecido ao mineiro; se perder, os paulistas teriam um argumento forte para tirá-lo da segunda colocação na fila dos presidenciáveis tucanos.

Candidato ao Senado, Aécio tem uma eleição assegurada. Mas só um milagre - segundo o enredo demista - pode fazê-lo presidente do Congresso, porque é improvável que o PSDB eleja a maior bancada do Senado. E se for eleito estará sujeito às crises periódicas que atingiram todos os que sentaram na cadeira atualmente ocupada por José Sarney desde 2000, pelo menos.

Também nunca ninguém saiu do Senado ou da Câmara dos Deputados para ser presidente da República, desde 1988. O senador Fernando Henrique Cardoso saiu do Ministério da Fazenda para ser o candidato do PSDB, com o crédito de ter feito o Plano Real e dado um fim à inflação.

Esses são os aspectos negativos. Aécio também pondera o argumento sobre aqueles que seriam os aspectos positivos de sua candidatura a vice-presidente na chapa encabeçada por Serra.

São eles:

1- Aécio será um vice forte, pode negociar uma parte do governo, ou seja, uma participação efetiva de Minas no governo José Serra;

2- Em qualquer hipótese, passa a ser o primeiro da fila de presidenciáveis do PSDB. É o próximo candidato tucano a presidente, Serra perca ou vença a eleição de outubro;

3- Na hipótese de Serra perder a eleição, Aécio automaticamente passa a ser o líder das oposições, mas para fazer um trabalho que o ex-governador de Minas Gerais nunca fez, que é rodar e conhecer o Brasil, sair em uma espécie de caravana como as que fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos noventa.

Essa é uma avaliação que Aécio ouviu de líderes do Democratas. O DEM não vai brigar pela vaga de vice-presidente da República na chapa de Serra, muito menos se o candidato for o ex-governador mineiro. Não adianta ter o vice e não ter o presidente da República, dizem os demistas. Mas esses também são os argumentos da cúpula nacional tucana. A novidade é a seção mineira do PSDB considerar a hipótese de Aécio como companheiro de chapa de José Serra.

O problema dos tucanos mineiros é que o candidato do PSDB ao governo do Estado, Antônio Anastasia, continua empacado na terceira posição, de acordo com as pesquisas inclusive partidárias. Tanto em Minas como nacionalmente atribui-se o fraco desempenho do partido no Estado à ausência de Aécio. A dúvida agora é qual será a via escolhida por Aécio para alavancar Anastasia: ele vai fazer como Lula e praticamente sozinho levar seu candidato à cabeça das pesquisas, como ocorreu com Dilma, ou vai entender que é essencial jogar com Serra para manter o poder em Minas Gerais?

Para os planos futuros de Aécio é fundamental manter a posição mineira, seja ou não José Serra o próximo presidente da República. O peso de Aécio Neves no Senado será maior ou menor de acordo com o poder que mantiver em Minas Gerais, o que hoje é praticamente absoluto, independentemente do sobrenome do tio-avô Tancredo Neves que carrega.

O PSDB mineiro queria Aécio candidato a presidente e torcia o nariz à eventual composição na chapa de Serra. No encontro PSDB-DEM-PPS que indicou o ex-governador de São Paulo, Aécio pela primeira vez acenou com a possibilidade de vir aceitar a vice. Agora, o PSDB de Minas reagiu a uma especulação segundo a qual o presidente do partido, senador Sérgio Guerra, poderia ser o indicado para o cargo, de vez que ele desistiu de concorrer à reeleição e vai disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados. A indicação de Guerra teria a vantagem de agregar um político do Nordeste à chapa.

Em férias, Aécio pediu para a cúpula tucana não tomar nenhuma decisão na sua ausência. Isso foi entendido como outra sinalização do mineiro no sentido de que poderá aceitar a Vice-presidência. Leitura errada, segundo quem esteve mais recentemente com Aécio. Ele continua dizendo que é candidato ao Senado; é o que deve repetir quando reaparecer publicamente, sempre com a ressalva de que só a morte é uma fatalidade.

Na prática, para a cúpula do PSDB e para José Serra o que importa é juntar os colégios eleitorais de São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores do país. De certa forma, Minas também contemplaria o Nordeste, pela identidade regional de uma vasta área de divisa com a Bahia. Mas na hipótese de o candidato a vice sair do Nordeste, o mais provável é que o indicado seja o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Ex-presidente do partido, além de agregar o Nordeste a indicação de Tasso seria, segundo os tucanos, uma sinalização segura do engajamento de Aécio Neves na campanha eleitoral de José Serra. Tasso é aliado e defendeu a candidatura do governador mineiro no processo preliminar de seleção dos tucanos.

Os tucanos esperam resolver tudo até 12 de junho, data da convenção para formalizar a candidatura de Serra. No dia 17, vai ao ar o programa nacional partidário e o PSDB já quer apresentar a chapa completa a dos seus candidatos a presidente e vice. Os tucanos deram azar: o programa será exibido em plena Copa do Mundo.


Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

Serra explora inserções de TV estaduais para reagir

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O PSDB quer usar as inserções estaduais do partido no rádio e na TV para ajudar o pré-candidato à Presidência José Serra. O objetivo é dar uma "superexposição midiática" a Serra, que perdeu terreno nas pesquisas para a petista Dilma Rousseff. O tucano será também a estrela do programa do DEM que irá ao ar nesta quinta-feira e servirá para atacar o governo Lula.

PSDB aposta em inserções estaduais de Serra na TV para recuperar terreno

Julia Duailibi e Ana Paula Scinocca

O PSDB usará as inserções estaduais do partido no rádio e na TV para turbinar o pré-candidato à Presidência da República, José Serra. O objetivo é conferir ao tucano uma "superexposição midiática" nas próximas semanas, de modo que ele recupere a liderança nas pesquisas em junho.

Além do programa nacional do partido, que será no dia 17 do mês que vem, o PSDB requisitou as inserções de trinta segundos aos diretórios estaduais. A ideia é que nos locais em que não haja pré-candidato ao governo estadual o tempo de rádio e televisão migre integralmente para Serra.

O caso de Pernambuco é o mais emblemático. Como o partido não usou nenhuma das inserções a que tem direito - e como o PSDB também não tem candidato a governador por lá -, Serra aparecerá em 40 filmetes de trinta segundos - a quantidade de inserções varia por Estado.

O tucano também será protagonista de inserções em outros locais, como no Rio Grande do Norte e na Bahia. "Foi uma decisão partidária. Todo Estado sem candidato próprio vai ceder seu tempo a Serra. Trata-se de racionalidade", disse o líder do PSDB na Câmara, João Almeida (BA). Nos Estados em que há aspirante tucano ao cargo de governador, haverá divisão do tempo. É o caso do Paraná, onde Serra dividirá o tempo com Beto Richa.

Em Minas, segundo maior colégio eleitoral do País, a situação ainda está indefinida. Os mineiros resistiam a conceder o tempo de TV para Serra, alegando que o pré-candidato mineiro, o governador Antônio Anastasia, precisaria do espaço para impulsionar a tentativa de reeleição.

A exposição na televisão e na mídia regional é a principal aposta que o PSDB faz para reverter as últimas pesquisas de intenção de voto, que apontaram empate entre Serra e a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff. Para os tucanos, a petista cresceu nas pesquisas em razão da aparição excessiva na mídia recentemente.

"Mês de junho vamos levar vantagem. Vamos concentrar os programas de rádio e TV do partido e dos aliados", disse o presidente do PSDB, Sérgio Guerra.

O DEM e o PPS, que têm programas na próxima semana e no dia 10 de junho, respectivamente, também resolveram usar parte das programações nacionais em cadeia de rádio e TV, para expor Serra. Nos dois casos, as aparições devem ser imagens do tucano durante o encontro nacional do PSDB, em 10 de abril.

Viagens. Ontem, o comando da campanha de Serra realizou a reunião semanal, em São Paulo, durante a qual foi traçada uma operação para marcar a presença dele em todas as regiões. Pesquisa Datafolha divulgada no final de semana mostra que o tucano não lidera mais nas regiões Norte e Centro-Oeste, perdeu pontos na preferência do eleitorado do Sudeste e vai mal no Nordeste, onde nunca liderou.

"De hoje a sábado, Serra visitará Estados distintos, cada um em uma região diferente", resume o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA). Depois do debate dos principais presidenciáveis na Confederação Nacional da Indústria, marcado para hoje, Serra deve correr atrás das intenções de votos perdidas na região Sul.

Nesta quarta-feira, deve seguir para Gramado, onde participa de Encontro de Secretários Municipais de Saúde de todo o Brasil. Na quinta-feira, a programação mira o Sudeste. Serra voltará ao Rio de Janeiro. Fará a primeira visita ao candidato do PV a governador, Fernando Gabeira, lançado oficialmente no domingo, com o tucano Márcio Fortes na vice e coligado com o DEM do ex-prefeito Cesar Maia, que disputará uma vaga no Senado.

Também já está decidido que o candidato tucano fechará a semana no Nordeste. A agenda em Pernambuco estará voltada para o lançamento oficial da candidatura do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) ao governo.

A programação de sábado ainda não está confirmada, mas a previsão é uma visita a Cuiabá (MT). O PSDB disputa o governo de Mato Grosso com candidato próprio - Wilson Santos, em aliança com o DEM e o PTB.

Mobilização. Também foi discutida na reunião de ontem a mobilização para a convenção nacional do partido em Salvador, que lançará oficialmente Serra presidente no dia 12 de junho. "Não escolhemos a Bahia por razão eleitoral, mas para passar na convenção o espírito de alegria, de festa. E claro: com a ajuda de todos os santos", brincou o deputado Jutahy Junior.

Colaborou Christiane Samarco

Início do conteúdo Tucano vai estrelar programa do DEM

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Discurso de Serra no lançamento da pré-campanha vai se sobrepor às falas dos líderes democratas

Eugênia Lopes / BRASÍLIA

O tucano José Serra, pré-candidato à Presidência da República, será a estrela do programa partidário de televisão do DEM, que vai ao ar nesta quinta-feira, dia 27. Sob a coordenação do jornalista Luiz Gonzales, o marqueteiro da campanha tucana, a cúpula do DEM vai usar o programa partidário para fazer críticas ao governo do PT.

A ideia é entremear a fala dos democratas com as imagens e o discurso de Serra durante o pré-lançamento de sua campanha, no dia 10 de abril, em que o DEM estava na condição de partido aliado.

Com o programa, o comando da campanha de Serra espera alavancar sua candidatura, com uma superexposição da imagem do tucano. A estratégia pretende reverter as últimas pesquisas de intenção de voto em que Serra apareceu empatado com a pré-candidata petista, Dilma Rousseff.

Além de Serra, o programa de dez minutos terá a participação do presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), e os líderes do partido na Câmara, Paulo Bornhausen (SC), e no Senado, José Agripino Maia (RN).

Pela primeira versão do roteiro, a abertura do programa será feita pelo líder Bornhausen. Nela, o deputado fala das conquistas do partido, como a derrubada da Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF) e aprovação, na semana passada, do projeto de lei conhecido como Ficha Limpa, que impede a candidatura de políticos que forem condenados por órgãos colegiados.

O senador Agripino Maia deverá ser o segundo democrata a falar e terá uma inserção mais crítica, com ataques dirigidos ao governo do PT. Já o presidente Rodrigo Maia não gravou participação para o programa: o marqueteiro Gonzales decidiu usar trechos de seu discurso no pré-lançamento da candidatura de Serra. "Ainda não há uma decisão se o Serra vai aparecer ou não no programa", desconversou Maia.

As falas dos democratas deverão ser bem curtas. A maior parte dos 10 minutos será dedicada ao discurso do tucano. Com essa fórmula, o DEM espera escapar da Justiça Eleitoral e evitar que o programa seja suspenso.

O temor do partido é que o Tribunal Superior Eleitoral conceda liminar, a exemplo do que ocorreu na semana passada com o DEM de São Paulo, que teve a inserção desta quinta suspensa sob o argumento de que o programa fugiu dos propósitos de mera propaganda partidária.

PRÓXIMOS PROGRAMAS PARTIDÁRIOS

Quinta-feira
O DEM, de Rodrigo Maia (foto), terá 10 minutos de programa em rede nacional

Dias 3 e 10 de junho
No dia 3, o PRP terá 5 minutos de programa. No dia 10, será a vez do PPS, que terá 10 minutos17 de junho

O programa partidário do PSDB vai ao ar cinco dias depois da convenção nacional do partido

24 e 30 de junho
PTB e PCB serão as últimas legendas a exibir seus programas antes do início da campanha

Na Europa, Aécio ainda resiste à convocação para papel de vice

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Esperado para retomar as viagens com Anastasia, mineiro deve comunicar à direção do PSDB que vai disputar vaga no Senado

Christiane Samarco / BRASÍLIA

Assim que desembarcar de volta da viagem de férias à Europa, amanhã, o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves vai comunicar à direção nacional do PSDB que não mudou seus planos políticos e, portanto, não aceita a vice na chapa presidencial do tucano José Serra.

O próprio Aécio confirmou a um líder do tucanato próximo de Serra que vai mesmo disputar uma cadeira no Senado. Como Aécio era aguardado "secretamente" em Minas no sábado passado, um expoente do PSDB ligado a Serra não tem dúvida de que o adiamento da volta, em meio ao impacto das últimas pesquisas que apontam um empate entre a petista Dilma Rousseff e o tucano, foi de caso pensado. Seria um recado de que ele, Aécio, não quer se envolver na disputa nacional como candidato a vice.

Pressão local. O PSDB de Minas não vê a hora de Aécio retomar a campanha pela reeleição de Antonio Anastasia. O tucano ficou estacionado nas pesquisas ao longo deste mês em que seu antecessor esteve fora do País. Mas a situação de Anastasia não configuraria uma emergência. O raciocínio que prevalece é o de que, seja como for, Anastasia saiu de 4% para a faixa dos 20% na preferência do eleitorado.

Chapa puro-sangue. Apesar de o secretário-geral do PSDB de Minas, deputado Lafayette Andrada, pregar a chapa puro-sangue, um tucano adverte que ele não é porta-voz de Aécio e fez chegar a Serra a informação de que o apelo público de Andrada é fruto de "uma ansiedade pessoal por conta da pressão das bases".

Tucanos mais próximos de Anastasia não querem que Aécio divida atenções com a disputa nacional. Temem que ele seja muito requisitado, o que poderia atrapalhar a campanha de Anastasia. Setores do partido mais afinados com Serra argumentam, no entanto, que, a esta altura, Aécio de vice impulsionaria os candidatos a presidente e a governador no Estado.

Aliados dizem que 'maio vermelho' fez Dilma crescer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Foi muita exposição neste mês, diz Alckmin. Depois do "oba oba", eleição será ganha na comparação da gestão, afirma Aníbal

Adriana Carranca

Em discurso ensaiado, tucanos atribuíram ao "maio vermelho" o empate entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) nas pesquisas para o pleito presidencial. "Foi resultado de exposição extensa da candidata durante todo o mês, dos palanques às festas do 1.º de Maio. E teve a campanha do PT que foi ao ar", disse o pré-candidato a governador, Geraldo Alckmin, em evento do diretório nacional, ontem, em São Paulo.

Alckmin disse que "fará campanha como se tivesse apenas 0,5% de intenção de voto", embora lidere as pesquisas à frente de Aloízio Mercadante (PT). Os tucanos prometem guerra de "biografias".

"Biografia é a nossa grande diferença", lançou Felipe Soutello, conselheiro de Alckmin e Serra na campanha de 2006 que já integrou a equipe do marqueteiro Luiz Gonzales. "Não devemos ter medo de comparar Serra e Alckmin com Dilma e Mercadante. O que fizeram, quantas salas de aula construíram, quantos postos de saúde? "

O deputado José Aníbal disse que depois do "oba oba" - referindo-se às ações petistas em maio - a eleição será ganha na comparação da gestão e dos investimentos em saúde, saneamento, ensino técnico. "Tem muito espaço para comparar. Eles só têm o discurso."

Coordenador do programa de governo do Serra, Chico Graziano disse que a campanha na TV vai "desmistificar" Dilma que "vive na cola da popularidade do Lula".

Ficha Limpa como início da reforma política

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Tema foi consenso em debate com participação de representantes de 10 partidos que defenderam o financiamento público de campanha

Moacir Assunção e Roberto Godoy


O projeto Ficha Limpa deve ser parte de uma reforma política mais ampla que inclua o financiamento público de campanhas. Este foi o principal consenso entre os representantes de dez partidos políticos paulistas com assento na Câmara que participaram de debate no Estado na sexta-feira.

O encontro discutiu o Ficha Limpa e sua aplicação prática já para as eleições de outubro. O projeto - aprovado na semana passada pelo Senado - foi enviado para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que deve ocorrer nos próximos dias.

Outro tema que dominou o debate foi a possibilidade de haver um compromisso dos pré-candidatos à Presidência em fazer uma reforma política logo no início do governo. "Vamos levar este compromisso ao nosso pré-candidato José Serra (PSDB)", afirmou o presidente do PPS, Roberto Freire. O deputado Carlos Sampaio, do PSDB, disse não ter dúvidas de que o tucano levará adiante a proposta.

O presidente do PT estadual, Edinho Silva, afirmou que a reforma política também é uma prioridade da pré-candidata Dilma Rousseff (PT), assim como a tributária. "É necessário, entretanto, que a sociedade seja mobilizada nesse sentido", ponderou.

A secretária executiva do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Jovita José Rosa, já havia dito ao Estado em entrevista há 15 dias que a reforma política será a nova luta das 44 entidades - entre as quais a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - que fizeram o Ficha Limpa .

"Caso o Congresso não faça a reforma, esse será o próximo tema de uma lei de iniciativa popular", assegurou. O MCCE já aprovou, além do Ficha Limpa, a Lei 9.840, que pune venda de votos e foi responsável pela cassação de 600 políticos desde 2002.

Fundamental. Embora a reforma política seja vista como um tema fundamental para debate no Congresso, os discursos demonstraram que não há consenso sobre como ela deve ser.

O financiamento público de campanhas com a criminalização do financiamento privado parece ser a única questão consensual. Praticamente todos os representantes dos partidos disseram considerar que o financiamento privado das campanhas é a maior fonte de corrupção do Legislativo brasileiro.

"A empresa que financiou o candidato, depois vai colocar argolas e dizer o que o parlamentar deve fazer. O financiamento público garante autonomia ao deputado", defendeu Ivan Valente, do PSOL. O ex-senador Roberto Freire concordou com o deputado. "Até por uma questão numérica o financiamento público é melhor. Hoje são milhares de candidatos para a Justiça fiscalizar. Com financiamento público, serão apenas 30 partidos", afirmou. "Claro que pode haver caixa 2, mas o controle é maior."

Dúvidas. De resto, há dúvidas sobre votação em lista ou distrital e até mesmo sobre a forma de se fazer a reforma política, se com o Congresso atual ou por meio de Constituinte exclusiva.

"Não há consenso nem nas legendas sobre o tema. O deputado do nosso partido, Ronaldo Caiado, um ardoroso defensor do financiamento público, apresentou a proposta, que não seguiu adiante. Mas nem ele próprio ou suas ideias são consenso no partido. Afinal, qual reforma queremos?", questionou o deputado paulista Guilherme Campos, do DEM.

Representante do PMDB, o advogado Ricardo Vita Porto resumiu discordâncias sobre o assunto. "Voto em lista tira a liberdade de escolha do eleitor. O financiamento público, por sua vez, não impede o privado. O ideal é o voto distrital", argumentou.

Constituinte. Pedro Bigardi, do PC do B, disse que o tema é controverso: "Há enorme conjunto de polêmicas." Marco Antonio Mroz, representante do PV, defendeu uma Constituinte exclusiva para tratar da reforma. "Com esse grau de contaminação que o atual Congresso tem, não dá para se discutir a reforma", disse.

O tucano Carlos Sampaio também apontou questões polêmicas no financiamento público. "Há uma visão dúbia sobre o assunto. A sociedade pode ficar indignada porque pode considerar que pagará (as campanhas), mas continuará existindo o (financiamento) privado, como imaginam alguns mais céticos."

Fórum. Edinho Silva, do PT, sugeriu que o Estado organize um fórum permanente dos partidos para discutir a reforma política. "O Estado, que demonstrou liderança em todo o processo do Ficha Limpa, assim como a Rádio Eldorado, poderia usar sua força para levar adiante essa proposta."

QUEM PARTICIPOU DO DEBATE

Roberto Freire. Presidente nacional do PPS, Ex-senador pelo PPS e primeiro suplente de senador pelo Estado do Pernambuco, é advogado de profissão e procurador aposentado. Já teve um mandato de senador, cinco de deputado federal e dois de estadual pelo Pernambuco.

Edinho Silva. Presidente estadual do PT, Ex-prefeito de Araraquara (SP) por dois mandatos, de 2001 a 2008, é sociólogo e professor. Graduou-se em Ciências Sociais pela Unesp e é mestre em Engenharia da Produção pela Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).

Ivan Valente. Deputado federal (PSOL) Deputado federal por São Paulo, integra a direção nacional do PSOL. Foi deputado estadual por dois mandatos pelo PT, partido que ajudou a fundar e do qual saiu em 2005 para integrar o Partido Socialismo e Liberdade.

Carlos Sampaio. Deputado federal (PSDB) Promotor de Justiça, integra a direção nacional do PSDB. Foi vereador em Campinas pelo partido e deputado federal durante dois mandatos -eleito em 2003 e reeleito em 2006. Também foi o presidente municipal dos tucanos na cidade.

Pedro Bigardi. Deputado estadual (PC do B) Líder da bancada do PC do B na Assembleia Legislativa de São Paulo, é engenheiro civil e professor de planejamento ambiental. Natural de Jundiaí (SP), Bigardi também foi secretário de Obras de Campinas.

Guilherme Campos. Deputado federal (DEM).Vice-líder do partido na Câmara, empresário e comerciante, foi vice-prefeito de Campinas pelo PFL (atual DEM) entre 2005 e 2007. Natural de Campinas, integra a direção estadual do partido em São Paulo.

Eliseu Gabriel. Vereador (PSB). Líder da bancada do partido na Câmara Municipal de São Paulo, é professor de física formado pela USP. Integra a coletiva estadual do PSB. É vereador no terceiro mandato e presidente municipal do PSB. Escreveu vários livros didáticos.
Marco Antonio Mroz. Presidente da Fundação Verde Herbert Daniel. Secretário de Relações Internacionais do PV, dirige a fundação ligada ao partido. Administrador de empresas de profissão, coordenou a Frente de Entidades Ambientalistas na Constituinte.

Waldomiro Ramos. Ex-vereador e membro da direção estadual do PTB. Advogado e contador, foi vereador de Guarulhos, na Grande São Paulo, pelo PTB, exercendo cinco mandatos. É membro da direção nacional do partido e secretário da executiva estadual da legenda.

Ricardo Vita Porto. Advogado do PMDB. Especializado em direito político eleitoral, trabalha para o diretório estadual do PMDB de São Paulo. É membro da comissão de direito político eleitoral da OAB-SP e do conselho técnico da Associação Paulista de Municípios.

Abusos ameaçam eleição de Dilma, diz procuradora

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Sergio Torres

BRASÍLIA - A candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff (PT) à Presidência caminha para ter problemas já no registro e, se eleita, na sua diplomação.

A afirmação é da procuradora da República e vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, que avalia que esses problemas podem surgir se casos de desrespeito à legislação eleitoral continuarem na pré-campanha.

Cureau diz haver "uma quantidade imensa de coisas" na pré-campanha de Dilma que podem ser interpretadas como abusos de poder econômico e político.

O Ministério Público Eleitoral está reunindo informações sobre os eventos dos quais a ex-ministra tem participado para pedir ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a abertura de uma Aije (Ação de Investigação Judicial-Eleitoral) por abuso de poder econômico e político.Em tese, a Aije poderá resultar na negação do registro ou no cancelamento da diplomação pela Justiça Eleitoral, como já falou, há dez dias, o ministro Marco Aurélio Mello, do TSE.

ABUSOS

"A repetição desses fatos, evidentemente, vai configurar abuso na propaganda", disse a procuradora à Folha, em seu gabinete.

Os fatos a que Cureau se referia eram as multas que o TSE tem aplicado no presidente Luiz Inácio Lula da Silva e em Dilma. Lula já foi multado quatro vezes por propaganda eleitoral antecipada. Dilma, duas.

"Um dos casos em que se cassa o registro ou que se cassa a diplomação é quando há abuso de poder econômico ou político. E nesse caso poderia se configurar as duas coisas até", disse.

Segundo ela, um evento custeado com dinheiro público é abuso de poder político e também de poder econômico. "Um abuso de poder econômico até pior porque feito às custas de contribuições da população, que, afinal de contas, é quem paga impostos", reiterou.Para a procuradora, que trabalha em eleições desde 1985, Lula -"infelizmente", diz ela-, em seus pronunciamentos públicos, participa diretamente da pré-campanha da petista.

USO DA MÁQUINA

As constantes aparições de Dilma em eventos do governo depois de seu desligamento do ministério da Casa Civil, em março, foram classificadas pela vice-procuradora como uma "situação até mais estranha".

"Teve época em que ainda se justificaria, dependendo do caso, a presença da ministra-chefe da Casa Civil, porque ela estava no cargo. (...) Atualmente ela está afastada para concorrer.

Então, há eventos que não tem porque estar presente", disse.

Para Cureau, a presença da ex-ministra indica desrespeito à legislação eleitoral. "Por que ela estava lá, se ela não é ministra, se ela não é nada? Ela estava lá para fazer campanha", afirmou.

Sobre os principais adversários de Dilma -José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV)-, as representações sobre desrespeito à lei são bem menos numerosas. "Talvez por não terem a máquina pública [do governo federal]", disse.

De volta à pressão tucana

DEU NO ESTADO DE MINAS

Ex-governador Aécio Neves retorna de viagem e retoma as conversas sobre a sucessão em Minas. No plano nacional, deve ouvir mais apelos de aliados para que seja vice de José Serra

Isabella Souto

Os rumos do PSDB nas eleições de outubro começam a ser definidos hoje com o retorno do ex-governador Aécio Neves a Belo Horizonte. Ele se reúne pela manhã com seu sucessor e pré-candidato do partido à reeleição, Antonio Augusto Anastasia, quando será informado das últimas articulações no estado. O tucano ficará a par das reivindicações dos principais partidos aliados – DEM, PP, PTB, PPS e PDT – para a composição da chapa, que tem um número menor de vagas a oferecer: a de vice-governador, de senador e de suplente ao Senado. Também ouvirá de companheiros de partido novos apelos para que aceite ser o candidato a vice na chapa presidencial encabeçada pelo ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), como forma de tentar barrar o crescimento de sua principal adversária, Dilma Roussef (PT).

Em relação à sucessão do Palácio da Liberdade, Aécio será o protagonista nas articulações com os aliados. Especialmente em relação ao DEM, que já anunciou intervenção do diretório nacional na costura para a candidatura a vice-governador. Representantes do DEM alegam que sempre estiveram ao lado do PSDB e reivindicam a vaga para um dos parlamentares mineiros. O PP quer garantir a vaga para o presidente da Assembleia Legislativa, Alberto Pinto Coelho, enquanto o PDT indica o deputado estadual Zezé Perrela – que também poderia ficar na suplência para o Senado.

“O governador vai nos chamar para conversar sobre as questões de Minas. Haverão vários encontros para isso”, afirmou ontem o secretário-geral do PSDB nacional, deputado federal Rodrigo de Castro. A expectativa é de que apenas em junho sejam definidos os papéis de cada partido aliado, até porque qualquer decisão em Minas passará pela configuração da chapa de José Serra para o Palácio do Planalto. E também do futuro político de Aécio Neves, até agora pré-candidato a uma das duas cadeiras mineiras em disputa para o Senado.

A primeira aparição pública do ex-governador de Minas deverá ocorrer na quarta-feira à noite, quando participa da abertura da 14ª Conferência Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais (Unale). No dia seguinte, o tucano fará uma palestra sobre a importância do planejamento no desenvolvimento urbano. Foram convidados para o mesmo evento os três principais presidenciáveis, José Serra, Dilma Roussef (PT) e Marina Silva (PV), para falar sobre desenvolvimento urbano e os desafios das grandes cidades, projetos de infraestrutura e observância às leis ambientais – respectivamente. As assessorias dos pré-candidatos não confirmaram a presença no evento.

Na sexta-feira, Aécio e Anastasia visitam juntos Ipatinga, no Vale do Aço, onde participam de evento com o vereador Robson Gomes (PPS), candidato a prefeito nas eleições extemporâneas marcadas para domingo. Anteontem, Anastasia afirmou que não vai ceder às pressões dos aliados e que o nome de seu vice será escolhido por meio de um acordo entre as legendas. “É uma decisão que será feita por consenso no mês de junho”, afirmou.

Integrados. O governador Antonio Anastasia anunciou, ontem, que, na busca de votos para tentar a reeleição, vai fazer um trabalho integrado com o pré-candidato a presidente José Serra. "A nossa campanha será completamente integrada, para presidente e para governador", disse Anastasia, que faz uma nova peregrinação pelo interior do estado, a fim de se tornar mais conhecido e crescer nas pesquisas. Domingo, esteve em Patos de Minas. Ontem, depois de visitar Patrocínio, pela manhã, seguiu para o Norte de Minas, indo à pequena Patis. Hoje, cumpre agenda em Montes Claros e Januária. Mesmo ressaltando que descarta a hipótese de criar ou fomentar uma frente da chamada "Dilmasia", o governador admitiu que existem prefeitos e lideranças, integrantes da base do presidente Lula que apoiam a ex-ministra Dilma Roussef para a presidente e votam nele para o governo.

Jarbas já acertou vice com Miriam Lacerda

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Senador peemedebista fez o convite na sexta (21) e a deputada do DEM já aceitou a missão. Dúvida agora só com a segunda vaga das oposições ao Senado. O tucano Bruno Araújo volta a ser cogitado

Manoel Medeiros Neto

A deputada estadual Miriam Lacerda (DEM) foi convidada pelo senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) para se candidatar ao cargo de vice-governador em sua chapa, aceitou a missão e aguarda apenas o senador anunciar a novidade para iniciar as movimentações como pré-candidata. A conversa aconteceu na última sexta-feira (21), no escritório político de Jarbas, o Debate. Desde o encontro, Miriam conversa com suas bases em Caruaru para acertar quem ocupará seu espaço na luta por um mandato na Assembleia Legislativa. O consenso é que a vaga será preenchida pelo seu filho, Antônio Geraldo, o Toninho. Com 25 anos, esta pode ser a estreia dele em disputas eleitorais. Toninho acompanha os pais nas campanhas há anos.

Apesar da costura, Jarbas só anunciará a novidade na festa de pré-lançamento de sua candidatura, sexta-feira (28), no Chevrolet Hall, se a hipótese de acertar quem ocupará a segunda vaga ao Senado – ao lado de Marco Maciel (DEM) – prosperar. Antes favorita, a possibilidade de Raul Jungmann (PPS) – que nega o intuito – concorrer a uma das duas vagas em disputa na Casa Alta perdeu espaço. Hoje, a possibilidade mais provável é que um candidato do PSDB ocupe a vaga. Os tucanos estariam se articulando para isso. Resistente, o deputado federal Bruno Araújo (PSDB) é a opção dos sonhos. “Se ele se convencer, fechamos na hora”, admitiu um jarbista em reserva.

Esposa do ex-prefeito de Caruaru Tony Gel (2001-2008), Miriam sempre ressaltou ser uma política de projeto. Segunda parlamentar mais votada no pleito de 2006, quando estreou como candidata, a democrata obteve 67.380 votos. Em conversas com aliados, tem dito que o projeto de acompanhar Jarbas será positivo para sua carreira. Ela está preocupada, porém, com a manutenção do espaço político, por acreditar que o mandato é a maneira mais eficiente de atuar em prol do eleitorado e preparar o terreno para disputar a Prefeitura de Caruaru em 2012. A candidatura de Toninho à Assembleia e de Tony Gel à Câmara solucionariam a questão.

Sobre a possibilidade de a Justiça exigir que o PSDB indique o candidato a vice para que Jarbas possa vincular seu projeto ao do presidenciável Serra, a cúpula da campanha chegou à conclusão de que o entendimento é que a participação do PSDB na coligação já faria a vincularia. Mesmo assim, em entrevista ontem à Rádio Pajeú, de Afogados da Ingazeira, Jarbas disse que “se não puder falar no nome de Serra” a campanha será feita, apesar das dificuldades.

Peemedebista afirma não temer comparações

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Disposto a viajar pelo Sertão a partir da próxima semana, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) deu sinais mais claros de que não vai fugir de uma eventual comparação com o governador Eduardo Campos. Em entrevista à Rádio Pajeú, de Afogados da Ingazeira, por telefone, o pré-candidato ao governo do Estado disse que não teme a discussão e enumerou obras realizadas na região, em seus dois mandatos como governador.

“É um debate que está sendo proposto (a comparação) e entendo que é correto, objetivo, racional. Eu não vou chegar aí, no Pajeú, de mãos abanando, não vou chegar aí como um homem que desconheceu o Pajeú”, afirmou. Entre as obras citadas, várias estradas da região, além de reformas em dois cine-teatros: o Guarany (Triunfo) e o São José (Afogados da Ingazeira).

Segundo Jarbas, após o lançamento de sua pré-candidatura, vai percorrer o interior. “Vão nos ver no Pajeú, no Araripe, no São Francisco, no Sertão Central. Vamos procurar percorrer o Estado todo para levar nossa mensagem”.

Isolado, Garotinho terá menos de 2 minutos na TV

DEU EM O GLOBO

Coligação de Cabral teria maior fatia da propaganda eleitoral na televisão, podendo chegar a quase nove minutos

Ludmilla de Lima e Rafael Galdo

As dificuldades do pré-candidato ao governo do Rio Anthony Garotinho, do PR, de fechar alianças para a corrida eleitoral podem lhe custar caro num fator fundamental da campanha: o tempo de TV. Se seu partido continuar isolado, o ex-governador corre o risco de ter um tempo parecido com o dos nanicos: 35 segundos do PR, mais uma parcela dos seis minutos divididos igualmente entre os candidatos.

Desta forma, considerando um cenário hipotético com seis candidatos, Garotinho teria um minuto e 35 segundos de tempo de TV, dos 18 minutos destinados à propaganda.

Em compensação, seus principais adversários, Sérgio Cabral (PMDB) e Fernando Gabeira (PV), teriam muito mais espaço.

A maior parcela do tempo seria de Cabral. As alianças costuradas por ele até agora lhe renderiam, pelo menos, sete minutos e 12 segundos (ou oito minutos e 12 segundos considerando um pleito com seis candidatos).

Já Gabeira contaria com três minutos e 53 segundos (ou quatro minutos e 53 segundos na mesma hipótese acima), que equivalem à soma das cotas de PV, PSDB, DEM e PPS.

Os cálculos foram feitos com base em estimativas da direção nacional do PSDB, fornecidas pelo deputado Otávio Leite (PSDB). Já na pré-campanha de Cabral, fala-se em cerca de nove minutos de tempo de TV, enquanto Gabeira acredita que terá aproximadamente seis minutos.

Marina nega atrito com Gabeira no Rio

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Pré-candidata atribuiu omissão de seu nome em evento a cautela em relação à lei, mas juiz contesta explicação

Responsável por fazer fiscalização do pleito no Rio afirma que nome da verde em faixas de ato de Gabeira não fere a lei

Bernardo Mello Franco

SÃO PAULO - O juiz que fiscaliza as eleições no Rio descartou a versão de Marina Silva para a censura ao seu nome no lançamento do pré-candidato verde ao governo fluminense, Fernando Gabeira. O episódio abriu crise no PV. Para disfarçar o incômodo com o aliado, que também é apoiado por José Serra (PSDB), Marina alegou que as faixas foram tampadas para evitar multa eleitoral.

"Não tem nada a ver com política", afirmou, em entrevista à rádio CBN. "Foi uma orientação de quem entende da legislação e não quer extrapolar, como estão extrapolando aí a torto e a direito." A explicação foi contestada pelo juiz Paulo César Vieira de Carvalho. "Não havia propaganda antecipada", disse à Folha. "O evento era do PV, e ela é pré-candidata do partido à Presidência."

A lei eleitoral permite a exposição dos nomes de políticos em reuniões partidárias em ambiente fechado. Como o evento de domingo foi realizado no ginásio de um clube carioca, o juiz disse não ver motivos para a censura ao nome de Marina.

"Se as faixas ficaram na parte interna, não havia problema algum", disse.

EXPLICAÇÃO FREUDIANA

Integrantes da campanha da senadora manifestaram desconforto com o episódio. "É estranho, porque o Gabeira tem compromisso com o partido. Quero vê-lo empunhando a bandeira da Marina", cobrou Luciano Zica, da Executiva Nacional do PV.

Rompido com Gabeira, o coordenador da campanha verde, Alfredo Sirkis, ironizou a repercussão do caso. "Freud explica. Em termos freudianos, é a volta do sublimado. Você sublima uma pessoa e no dia seguinte ela reaparece em todos os jornais", disse ele, que não compareceu à festa.

Uma semana antes, o nome de Gabeira havia aparecido em faixas e cartazes de Marina no lançamento pré-candidatura dela, em Nova Iguaçu (RJ). A festa teve fiscalização do TRE, que não viu irregularidades.

No domingo, além do incidente com as faixas, Gabeira omitiu o nome da aliada em seu discurso. Serra foi citado uma vez. Por acordo de bastidores, nenhum dos presidenciáveis compareceu à festa.

Ontem, Marina e Gabeira passaram o dia tentando negar problemas na aliança. A presidenciável admitiu que a coligação do deputado é "muito delicada", por reunir os partidos serristas PSDB, DEM e PPS, mas disse estar certa de que ele a apoia.

Gabeira repetiu a versão ao ser cobrado por eleitores no Twitter, dizendo que a polêmica estaria "resolvida" e que Marina é sua candidata. O Rio tem importância estratégica para a campanha do PV à Presidência. É o único Estado onde as pesquisas indicam chance de o partido chegar ao segundo turno na eleição para governador.

Para aliados de Marina, seria desastroso ter que dividir o pré-candidato verde com Serra. O tucano, por sua vez, ajudou a construir a aliança de Gabeira e não conta com outro palanque no Estado.

Na entrevista à CBN, Marina cobrou cautela sobre o acordo com o Irã. "O Brasil ainda deve ficar em compasso de espera. É bom não celebrar antes do tempo", disse.

Colaborou THAIS BILENKY, de São Paulo

Centrais de polêmicas

DEU EM O GLOBO

Entidades sindicais farão ato conjunto para divulgar reivindicações e devem declarar apoio a Dilma

Leila Suwwan

SÃO PAULO - As cinco centrais sindicais cujos dirigentes planejam declarar apoio conjunto à pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, preparam uma plataforma eleitoral polêmica para ser aprovada em 1ode junho, durante a primeira conferência nacional da classe trabalhadora, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. O esboço do documento contém mais de 270 diretrizes.

Entre elas, o direito irrestrito de greve, inclusive para servidores públicos, a descriminalização do aborto e de atos dos movimentos sociais e de luta pela terra, e a ampliação da tributação direta sobre propriedade, lucros e ganhos de capital.

Dilma, que ganharia um palanque no evento ao lado do presidente Lula, não deve mais ser convidada. E os sindicalistas já não aguardam a presença de Lula. O último evento conjunto das centrais, um debate no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, resultou na quarta multa a Lula por campanha antecipada.

Pela aclamação a Dilma nas festas dos sindicatos no 1ode Maio, o presidente Lula responde a mais processos na Justiça Eleitoral.

Além da cautela, as cinco centrais CUT, Força Sindical, Nova Força, CTB e CGTB discordaram sobre a presença de Dilma. Setores da Força Sindical, principalmente, não apoiam a petista. Não haveria garantia da ausência de vaias e de manifestações contrárias, vindas de alas minoritárias favoráveis à précandidatura de José Serra (PSDB). A CUT, principal defensora da presença petista, foi voto vencido. A União Geral dos Trabalhadores (UGT), que participou do planejamento inicial da conferência, ficou de fora.

A expectativa é de que a Agenda da classe trabalhadora seja aprovada por dezenas de milhares de sindicalistas e ativistas por aclamação, e que cada central apresente seu posicionamento para as eleições deste ano o manifesto político das centrais está guardado a sete chaves, ainda sob discussão. De acordo com o secretário-geral da Força Sindical, José Carlos Gonçalves, o Juruna, o documento não vai manifestar apoio aberto a Dilma.

É um documento forte, de posicionamento político. Mas sem declaração ou manifestação de apoio a qualquer candidato. As diretrizes serão discutidas, mas devem ser aprovadas por aclamação. As propostas vêm da base, será uma votação simbólica.

Convite para evento tem tom plebiscitário

Mesmo sem apoio declarado, o convite da conferência dá o tom plebiscitário do encontro, ao lembrar o crescimento econômico e o fortalecimento dos movimentos sindicais na gestão Lula: A campanha eleitoral será marcada pela acirrada disputa entre distintos e divergentes projetos políticos.

Dividido em seis eixos estratégicos, o documento prevê a participação dos sindicatos em quase todas as esferas de governo, como nas agências reguladoras, nas empresas estatais, no Conselho Monetário Nacional (CMN) e no Comitê de Política Monetária (Copom, responsável pela definição da taxas de juros básica).

O texto do documento incorpora metas ambiciosas como promover uma nova ordem econômica, monetária e política mundial até pontos mais pacíficos como a erradicação do trabalho escravo, ou mais populares como os preparativos para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Entre os pontos mais polêmicos, estão a descriminalização do aborto e revogação de atos que criminalizam movimentos sociais e de luta pela terra uma referência ao MST. Além disso, pedem o limite máximo de propriedade de terra em 35 módulos fiscais. A área do módulo fiscal varia de acordo com o município. Na região da Amazônia, por exemplo, 15 módulos fiscais são cerca de 1.140 hectares.

Esse é um dos principais pontos, que une a agenda com a plataforma da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), que faz sua própria assembleia dia 31, reunindo CUT, UNE e MST e outros movimentos sociais disse Antonio Carlos Spis, líder da CUT.

Esse grupo defende a inclusão de mais propostas como o fim das patentes de remédios e a democratização dos meios de comunicação, para desmontar a ação manipuladora dos monopólios da mídia.

Os sindicalistas pedem ainda a redução da jornada de trabalho para 40 horas e o direito irrestrito de greve, inclusive no serviço público hoje, cada categoria deve manter um percentual de servidores trabalhando durante a paralisação.

Nos capítulos sobre reformas, as reivindicações são a implantação do imposto sobre grandes fortunas, a desoneração da cesta básica, aumento dos impostos sobre propriedade e lucros, especialmente no mercado financeiro, e a revisão das alíquotas do Imposto de Renda.

Equipe econômica recomenda a Lula que vete aumento dos aposentados

DEU EM O GLOBO

Presidente, porém, deverá rejeitar apenas o fim do fator previdenciário

Luiza Damé

BRASÍLIA. A equipe econômica recomendou ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vete o aumento de 7,7% para aposentadorias e pensões do INSS superiores ao salário mínimo, mas até agora o presidente só decidiu barrar o fim do fator previdenciário. O projeto aprovado pelo Congresso ocupou parte da reunião de coordenação de governo, ontem, mas Lula deixou o encontro dizendo que iria pensar sobre o veto ao reajuste. Em ano eleitoral, não pretende tomar uma decisão impopular, mas ao mesmo tempo não quer ser responsável pelo desequilíbrio das contas públicas.

Esse assunto (aumento) ficou pendente de ele pensar um pouco, mas a questão do fator previdenciário está definido que será vetada disse o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

MP sobre reajuste de 6,14% vence dia 1ode junho Na reunião de coordenação, Paulo Bernardo e os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Carlos Gabas (Previdência) mostraram a Lula quanto custará aos cofres da Previdência cada uma das medidas. O aumento de 7,7% beneficiaria 8,3 milhões de aposentados e pensionistas que recebem mais de um mínimo e teria um impacto anual de R$ 8,5 bilhões mais de R$ 1,5 bilhão a mais do que o impacto que teriam os 6,14% propostos pelo governo.

O fim do fator previdenciário regra que retarda a aposentadoria dos trabalhadores da iniciativa privada custaria R$ 4 bilhões anuais.

Mantega fez uma rápida explanação sobre a situação da economia brasileira e a solidez dos parâmetros macroeconômicos, mas deixou claro que o aumento de 7,7% não cabe no Orçamento da União. Muito menos o fim do fator previdenciário.

A nossa posição foi a de que se fizesse o veto, por questões de manter a solidez orçamentária do governo, pensando nos gastos públicos e pensando, não tanto no presente, mas também no futuro.

É importante que a gente mantenha essa decisão de não aumentar os gastos nessa rubrica que é a mais alta do governo disse Mantega.

Diante do problema deixado pelo Congresso para o presidente resolver, Lula vai ouvir ainda a área social e aliados. O presidente deve conversar com os líderes do governo no Congresso, antes de tomar uma decisão. Acontece que Lula não tem muito tempo para chegar a uma conclusão. A medida provisória que estabeleceu o reajuste de 6,14% vence no próximo dia 1ode junho. E o próprio Paulo Bernardo reconhece a dificuldade do veto.

O compromisso que o governo fez com as centrais sindicais e com os líderes políticos foi de um reajuste de 6,14%. Se tivermos alternativa de mantermos esse compromisso, nós vamos fazer, mas ficou muito difícil porque, se ele vetar, não poderá fazer outro reajuste. Vamos ter que ver qual é a alternativa para resolver esse problema disse o ministro do Planejamento.

Hipótese de Congresso derrubar veto não é plausível Antes da decisão final do Congresso, a equipe econômica conseguiu dinheiro para bancar um aumento de até 7%, mas a própria base aliada não quis arcar com o ônus de votar a favor de um índice menor do que aquele que estava sendo proposto pela maioria dos deputados, os 7,7%.

Responsável pelas negociações com o Congresso, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que o presidente ainda não bateu o martelo: O presidente não fechou a sua ideia. Ele ouviu a área econômica, que apresentou a sugestão.

Muitas vezes a área econômica apresenta coisas, e o presidente força a busca de outras alternativas. Tudo está em aberto ainda disse Padilha, ressalvando: O presidente não vai permitir que o clima eleitoral ou qualquer proposta venha a comprometer a estabilidade fiscal do país.

O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PTSP), que viu seu relatório pelo reajuste de 7% ser rejeitado até por petistas na votação da Câmara, disse que a hipótese de o Parlamento se movimentar para derrubar um possível veto não é plausível. Ele destacou as dificuldades regimentais para a derrubada de um veto: votação secreta e o número de 257 votos na Câmara e 41 no Senado: Quem quiser movimentos para derrubar vetos aqui pode fazer, mas a hipótese de isso acontecer nesse caso não é plausível. Não acredito e não aposto nisso.

Obama recusa convite de Lula para vir ao país antes de eleição

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O presidente dos EUA, Barack Obama, recusou convite do presidente Lula para vir ao Brasil antes do pleito de 3 de outubro, informa Kennedy Alencar. O Planalto gostaria de usar a viagem em favor da candidatura da ex-ministra da Casa Civil Dilma Rousseff (PT).

Entre outros fatores, Lula atribui a recusa a divergências na política externa, como no caso do Irã.

Obama rejeita visitar país antes da eleição

Lula atribui recusa a divergências sobre política externa entre Brasília e Washington e à influência dos Clinton

Para diplomacia dos EUA, vinda às vésperas de importante decisão eleitoral seria incomum no âmbito diplomático

Kennedy Alencar

BRASÍLIA - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, recusou convite do presidente Lula para visitar o Brasil antes da eleição de 3 de outubro. Lula gostaria de usar a viagem para vitaminar a candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff (PT).

Segundo a Folha apurou, Lula atribui a recusa a dois fatores: divergências na política externa entre Brasília e Washington e uma suposta interferência dos Clinton para que Obama não fizesse uma visita que pudesse virar ato eleitoral pelo PT.

A diplomacia americana argumenta que seria inusual para a política externa do país uma visita do presidente dos EUA às vésperas de uma importante decisão eleitoral.Mais: a política externa americana não tem como prioridade para o segundo ano de governo de Obama uma visita ao Brasil.

INFLUÊNCIA

Segundo um ministro, o governo brasileiro acredita que o bom relacionamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com o ex-presidente dos EUA Bill Clinton e com a atual secretária de Estado, Hillary Clinton, frearam uma aproximação maior de Lula com Obama.

Na versão desse ministro, houve gestões do PSDB com os Clinton para evitar o encontro antes das eleições e, por extensão, um benefício eleitoral a Dilma.

A recusa provocou decepção no governo brasileiro, que via na oportunidade uma forma de demonstrar o prestígio de Lula no mundo e na América Latina.

Também foi entendida como um recado do presidente americano de que, se o Brasil vai se contrapor aos EUA em assuntos como o Irã, o país deverá arcar com alguma retaliação política da maior potência do planeta.

Apesar das negativas oficiais, Lula e sua chancelaria trataram com líderes mundiais e outras diplomacias do futuro do petista.

Publicamente, Lula trata com desdém a possibilidade vir a ser secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas) ou presidente do Banco Mundial.

Nos bastidores, porém, acalenta esperança de ter uma função de relevo na política internacional.

Erro de cálculo :: Rubens Barbosa

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A maior presença externa do Brasil começou a ser notada no final dos anos 1990, mas foi ao longo dos últimos oito anos que ganhou visibilidade. Por uma série de razões internas e externas, a projeção de nosso país no cenário internacional continuará a crescer em consequência do peso de sua economia e do nosso envolvimento nos principais temas da agenda global, como comércio, meio ambiente, clima e energia.

O ativismo da atual política externa procura um espaço de influência para bem além do contexto sul-americano, exigindo um esforço adicional da diplomacia brasileira para identificar o que de fato seja interesse nacional.

A busca de protagonismo para projetar o Brasil como um agente político global, como disse o presidente Lula, tentando ajudar a resolver conflitos por meio da negociação, pressupõe uma capacidade de avaliação e de coleta de informações que o serviço externo brasileiro está plenamente habilitado a desenvolver.

A intervenção do Brasil na crise entre os EUA e o Irã, relacionada com a suspeita de que o regime teocrático de Teerã estaria desenvolvendo um programa nuclear para fins militares, e não apenas para uso civil, foi positiva na medida em que propunha a negociação diplomática para superar as dificuldades e desconfianças existentes. A forma como se deu, entretanto, serviu para provar que temos um longo caminho de aprendizado ainda a percorrer antes de empunhar, de forma madura e com credibilidade, a bandeira de salvadores da paz mundial.

Poderíamos ter ensaiado nossos bons ofícios nos conflitos entre nossos vizinhos, tentando ajudar, por exemplo, a Argentina e o Uruguai a resolver suas diferenças no caso da instalação da fábrica de celulose na fronteira; ou as disputas entre a Colômbia e a Venezuela, que quase levaram os dois países a um conflito armado. Em ambas as questões o Brasil optou por se omitir, preferindo iniciar sua ação pacificadora no conflito entre palestinos e israelenses, no Oriente Médio, e na disputa entre EUA e Irã.

Essas decisões põem em causa o julgamento dos formuladores da política externa quanto à identificação do que deveria ser de fato nosso interesse e à capacidade de avaliação objetiva das informações coligidas pela eficiente rede do Itamaraty.

Sem entrar no mérito da discussão da crise em si mesma, e seja qual for seu desdobramento nas próximas semanas, ficou evidente a série de erros de avaliação por parte do governo brasileiro quando tomou a decisão de negociar o acordo com o Irã, que Teerã ameaça romper caso as sanções sejam aprovadas.

Superestimou-se a disposição da China e da Rússia, apesar dos seus interesses estratégicos e comerciais no Irã, de enfrentar os EUA para apoiar os esforços do Brasil. A percepção quanto ao estímulo indireto do presidente Barack Obama a Lula para negociar com Teerã e à determinação americana de levar adiante o projeto de resolução com sanções no Conselho de Segurança da ONU também foi mal dimensionada. Nossa diplomacia ignorou as pressões internas e externas sobre o governo Obama que forçaram o abandono das negociações com o Irã e a previsível reação de Washington contra a intromissão de novos atores em assuntos que, de forma monopolística, considera de sua exclusiva responsabilidade. O presidente Lula, apropriadamente, perguntou onde isso estava escrito, mas as duras palavras da Secretaria de Estado dos EUA, no dia seguinte ao acordo de Teerã, sinalizaram onde estava o poder.

Por outro lado, não houve uma adequada avaliação dos prejuízos que o apoio ao Irã poderia trazer para o Brasil. Ao tentar evitar as sanções e se inserir numa questão tão sensível e que envolve a própria segurança nacional dos EUA, atrás de ganhos incertos, o Brasil parece ter feito pouco-caso das suas perdas. Foi minimizado o risco de que as relações com os EUA pudessem ficar afetadas pela iniciativa brasileira, prevalecendo a percepção do PT de que os EUA estão em decadência e que outros centros de poder estão emergindo e transformando o mundo em multipolar. Embora isso seja verdade para as decisões nas áreas econômica e política, em que não há mais possibilidade de imposições dos países desenvolvidos sobre os países emergentes, a avaliação foi equivocada ao se julgar que o mesmo valeria também para as questões estratégicas e de defesa, nas quais os EUA continuam como a única superpotência, sem declínio ou perda de poder.

Mais grave foi o presidente Lula afirmar que sabia ser esse passo uma aposta grande e que não tinha nada a ganhar. Segundo se noticiou, um alto funcionário teria também declarado que os entendimentos com o Irã poderiam comprometer a intenção do Brasil de conquistar um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU e poderiam ser explorados pela oposição como aventura ou fracasso. Mesmo assim, valeria a pena.

À luz dessas declarações, não ficam claros os critérios do atual governo para a identificação do interesse nacional. O ingresso do Brasil como membro permanente no Conselho de Segurança é uma das maiores prioridades da atual política externa. Se nada tínhamos a ganhar, por que ameaçar a chance de sentar-se de forma permanente no diretório que zela pela paz e pela segurança internacionais? Vale a pena despertar suspeitas até sobre a natureza de nosso programa nuclear, como já começa a ocorrer?

O Brasil, nos próximos anos, por sua crescente projeção externa e pela importância de sua voz, certamente poderá vir a exercer o papel de negociador no encaminhamento de temas globais.

É árduo o caminho para assumir esse patamar. O aprendizado, que pressupõe erros e acertos, dependerá sempre de avaliações objetivas, fundadas na clareza da definição de nossos interesses permanentes, e não de prioridades partidárias dos governos da vez.

Foi Embaixador em Washington

Definição:: Affonso Romano de Sant'Anna


O corpo é onde
é carne:

o corpo é onde
há carne
e o sangue
é alarme.

O corpo é onde
é chama:

o corpo é onde
há chama
e a brasa
inflama.

O corpo é onde
é luta:

o corpo é onde
há luta
e o sangue
exulta.

O corpo é onde
é cal:

o corpo é onde
há cal
e a dor
é sal.

O corpo
é onde
e a vida
é quando.


Publicado no livro Canto e palavra (1965). In: SANT'ANNA, Affonso Romano de. A poesia possível. Rio de Janeiro: Rocco