sexta-feira, 4 de junho de 2010

Reflexão do dia - Brasilio Sallum Jr.


Tais conquistas não deixam dúvidas de que o Brasil contemporâneo, de 1995 para cá, é um país muito melhor do que o da Era Vargas.
Ainda assim, a redução da participação brasileira no produto mundial sugere que não temos conseguido combinar bem crescimento econômico, distribuição e estabilidade. Esta combinação nunca é tarefa fácil, mas entre nós tem sido particularmente difícil. É que cada um desses fenômenos consta como valor central de um dos três diferentes ideários econômicos que têm orientado as correntes políticas que disputam o poder de Estado desde 1988. Desses ideários, o mais discernível — porque teoricamente codificado e politicamente denegrido — é o neoliberal; ele tem sido o principal portador da demanda em favor da ‘estabilidade monetária’. Um segundo ideário, o da ‘inserção competitiva’, tem muito menos nitidez conceitual e política; suas diversas formulações são tentativas de ajustar o projeto do velho desenvolvimentismo — constituir no Brasil um sistema produtivo diversificado e integrado — ao novo contexto mundial em que predomina o liberalismo e a competição em escala global; sua demanda principal tem sido por investimento produtivo. Por último, distingue-se o estatismo-distributivo, que procura combinar presença forte do Estado, inclusive na produção, com ênfase em uma ‘democracia substantiva’ com repartição da renda para os assalariados e ‘excluídos’; o lema central deste ideário é a distribuição.
Embora cada um destes ideários seja predominante em distintos atores sociais e partidos políticos, nenhum governo brasileiro, desde os anos 1990 até agora, foi dominado de forma exclusiva e consistente por qualquer deles. A mescla de ideários, o sincretismo das orientações presentes nos governos desde os 1990 resulta, é claro, das alianças e conciliação entre as distintas forças em disputa; em nossos governos de coalizão tais forças têm assumido o comando sobre diferentes áreas do aparelho de Estado.



(Brasilio Sallum, no artigo, “É hora da ‘inserção competitiva’ do Brasil no mundo”, publicado, em Gramsci e o Brasil)

Antirrepublicano:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A campanha mal começou, e já há um clima de tensão no ar, com troca de acusações e ameaças de dossiês sendo brandidas. Além de revelar um hábito político recorrente nas campanhas, o que revela também um espírito autoritário, o ressurgimento desse submundo da política é o efeito colateral do clima de vale-tudo que a postura do presidente da República suscita.

Lula se coloca à frente de seu pelotão dando a orientação da estratégia desde o início do processo, que ele antecipou em anos para poder viabilizar uma candidata literalmente inventada por ele, que vem sendo reconstruída pelo caminho com bons resultados, digase de passagem.

Ora, se o comandante declara que a prioridade de seu governo é eleger a sucessora, sem o que não considerará sua tarefa bem cumprida, e para alcançar esse objetivo não se incomoda de infringir a lei, não há limites para a atuação dos subalternos.

O empenho em fazer a sucessão parece excessivo, e o ministro do Supremo Ayres Britto, em voto favorável à punição de Lula por propaganda antecipada, classificou de “antirrepublicano” um projeto de poder que inclui eleger o sucessor: “Quem se empenha em fazer o seu sucessor, de ordinário, pensa em se tornar ele mesmo o sucessor de seu sucessor”.

Uma coisa é considerar obsoleta, ou até mesmo hipócrita, a legislação eleitoral, outra muito diferente é desrespeitá-la.

Outra mais diferente ainda é abusar do poder político para influir no resultado da eleição a favor de sua candidata.

É ridículo ser obrigado a fingir que os candidatos não são candidatos, chamálos de pré-candidatos, até que se realizem as convenções partidárias que vão oficializar o que já está decidido.

O mais lógico seria que a desincompatibilização dos cargos públicos se desse no final de junho, depois das convenções partidárias, ou que elas se realizassem no início do ano, logo depois da data fatal para que os candidatos deixassem seus cargos públicos.

Assim como o normal seria permitir que os partidos políticos usassem seu horário gratuito da maneira que fosse mais interessante para os interesses partidários.

Se um partido está apoiando um candidato, nada mais importante que anuncie a seus eleitores a escolha, e utilize o programa gratuito para defender a decisão.

Como todos têm o mesmo tempo nesses programas e inserções fora da campanha eleitoral, não haverá desequilíbrio.

Ou melhor, o desequilíbrio fica por conta do excesso de generosidade da legislação, que permite a partidos literalmente inexistentes exibir suas inexistentes plataformas eleitorais, dando-lhes um poder que não merecem.

Na chamada propaganda eleitoral gratuita, que só é gratuita para os partidos políticos, o tempo proporcional de cada legenda, equivalente à bancada na Câmara, dá poderes de barganha a siglas que não têm relevância política, transformandoas em objeto de desejo dos partidos que realmente contam.

Nossa política partidária fica assim dependente de chantagens e negociações por baixo dos panos, sem que se leve em conta minimamente afinidades programáticas.

Seria preciso disciplinar o acesso ao horário gratuito durante a campanha eleitoral, para reduzir o número de usuários e evitar que partidos-fantasmas surjam nas eleições para literalmente vender seu espaço.

E impedir que o programa gratuito, que nasceu com o objetivo de equilibrar a disputa eleitoral, se transforme em fator de desequilíbrio pelo enorme gasto que exige, com a presença de marqueteiros e seus efeitos especiais cada vez mais intensos.

O ideal seria que a legislação reduzisse o tempo dos programas e limitasse a utilização dos recursos de tecnologia, para estimular o debate de ideias entre os candidatos.

O que a legislação não pode deixar de coibir é o abuso do poder político ou econômico, especialmente por parte dos políticos que buscam a reeleição no exercício dos mandatos, mas também dos prefeitos, governadores e presidente da República que, impedidos de se recandidatarem, procuram eleger seus sucessores.

Usar inaugurações para alavancar o prestígio de seu candidato, com discursos onde fica implícita a ameaça de descontinuidade administrativa se seu candidato não for eleito, é fazer chantagem com o eleitor.

No caso do presidente da República então, o problema é maior, já que se espera dele o exemplo de cumprimento da lei.

É claro que a opinião de um presidente popular e bem avaliado pelos cidadãos terá efeito na hora da decisão do eleitor, e, se a maioria escolhe aquele candidato que o presidente popular está apontando como o melhor, é porque quer a continuidade de seu governo, ou pelo menos acredita que esse será o melhor caminho para a continuidade.

Um presidente mal visto pelos cidadãos terá uma influência negativa se quiser apoiar um candidato, e geralmente nesse caso fica a uma distância prudente da disputa para não contaminar negativamente seu preferido.

Isso não quer dizer, no entanto, que as leis em vigor possam ser desrespeitadas, na presunção de que um presidente popular tem a procuração automática dos cidadãos para fazer o que bem entender.

Ou que as pesquisas de opinião que lhe dão 70% ou 80% de boas avaliações lhe dão também a condição de estar acima do bem e do mal.

O dom da infalibilidade não está certamente entre os atributos que a popularidade dá a um presidente, e é preciso que os poderes democráticos estejam em funcionamento para conter qualquer surto de onipotência que porventura ocorra.

Patinação nas nuvens:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A dez dias da convenção do PSDB que lançará oficialmente a candidatura de José Serra a presidente da República, o cardinalato do partido se reúne e decide o seguinte: até o dia da convenção, 12 de junho, é preciso escolher um candidato a vice.

Curiosa de tão óbvia, ainda assim a questão não é pacífica. Há quem defenda que não é preciso tanta pressa: aclamado o candidato, o nome do vice poderia ser anunciado no último dia do prazo, duas semanas depois.

Com qual objetivo? Quais as dificuldades que impedem o PSDB de formar uma chapa se o mais difícil já tem que é o candidato? Por que o partido se expõe por livre e espontânea vontade a uma agenda negativa de maneira tão desnecessária?

Em matéria de história mal contada essa é das piores.

Vamos que o PSDB no fim surpreenda a todos, atenda aos últimos moicanos ainda esperançosos e num gesto grandiloquente lance a chapa puro-sangue com Aécio Neves como candidato a vice-presidente.

Nessa altura haveria aquele impacto todo esperado? Dificilmente, já que os próprios tucanos trataram de esvaziar o feito. Uma questão que já foi estratégica, primeiro virou pinimba de província e agora é uma interminável discussão sobre o nada.

Perde espaço e importância na proporção inversa das tentativas individuais de valorização de cacifes.

Aécio já deixou claro quanto acha pífio o projeto. Tanto para si quanto para campanha presidencial.

Foram feitas publicamente contas de acréscimos de votos à candidatura de José Serra com a inclusão do nome do mineiro na chapa e, se a memória não falha, o resultado não ultrapassou a casa dos 5 pontos. Então, se o próprio Aécio diz e prova que não tem serventia a junção "São Paulo e Minas", assunto encerrado, não?

Assim pareceu estar várias vezes, desde dezembro quando o mineiro anunciou sua desistência de disputar a Presidência. Na ocasião, disse que preferia uma vaga no Senado.

Deixou de lado a hipótese de aceitar o lugar de vice, mas de quando em vez abria uma brecha, deixava no ar um talvez e o assunto ficou nesse banho-maria por cinco meses no partido.

Até que, em maio, enquanto Aécio estava na Europa renasceram os boatos de que poderia integrar a chapa.

De onde surgiram? Primeiro de sua roda de amigos, depois de seu grupo político, em seguida ele mesmo deixou essa impressão em telefonema ao presidente do PSDB, Sérgio Guerra.

Na volta ao Brasil Aécio fez a mais veemente e aparentemente definitiva das negativas. O candidato José Serra declarou: "Há seis meses sei que ele não será o vice".

Mais uma razão para não improvisar na última hora um companheiro de chapa.

Não é uma escolha trivial. Não se trata de alguém que sentará no anexo do Palácio do Planalto, residirá no Palácio do Jaburu, fará o papel de peça decorativa e, como diz esperar o candidato, nunca causará "aporrinhação" (de onde já se pode excluir Itamar Franco da lista)

Trata-se da pessoa que, caso ele seja eleito, à falta do titular por motivo de força maior, governará o Brasil.

Papel trocado. O destino, assim como o Cupido, é moleque travesso. Fernando Pimentel que agora luta para não entregar a candidatura do PT a governador de Minas para o PMDB -atendendo a militância regional e enfurecendo a direção nacional = há dois anos fazia movimento oposto.

É o mesmo Fernando Pimentel que em 2008, prefeito de Belo Horizonte, juntou-se a Aécio Neves, governador do Estado, para eleger Márcio Lacerda prefeito da capital numa inédita aliança PT-PSDB.

Não conseguiram formalizar a coalizão porque, não obstante a simpatia de Lula que imaginava com isso cooptar Aécio para seus projetos eleitorais de 2010, os petistas mineiros resistiram. Assim como resistem agora ao PMDB.

Em 2008 a coisa ficou tão feia para o lado de Pimentel que Aécio Neves e José Serra davam como certa a saída dele do PT.

Talvez - ou certamente - por isso mesmo Fernando Pimentel seja hoje o mais petista entre todos os defensores dos direitos à preservação da identidade do partido em Minas Gerais.

Nossa esquerda direitista :: Nelson Motta

DEU EM O GLOBO

Ainda estou chocado com a pesquisa do Datafolha sobre a ideologia dos brasileiros: 35% dos entrevistados que se disseram petistas, por livre vontade e protegidos pelo anonimato, se declararam de direita. Como? Vamos tentar investigar esta peculiaridade politica brasileira.

Sim, as pessoas sabiam o que estavam falando, tanto que 25% responderam que não sabiam ou não queriam responder. As demais estavam seguras de suas opções e se dividiram entre esquerda, direita e centro, inclusive os petistas.

O lulismo não foi oferecido como opção, mas certamente teria muitos eleitores de todos os partidos, e nós, um peronismo tropical.

Zé Dirceu, que diz que tudo que não é de esquerda, de direita é, tem um dilema: como culpar a direita por tudo sem ofender tantos companheiros? Com alguma fantasia e ironia, é possível imaginar que os entrevistados petistas fossem tão politizados que tenham se posicionado ideologicamente — mas em relação às correntes do partido, umas mais à esquerda e, por consequência, outras mais à direita, como a de Zé Dirceu.

Ou seria uma parte autoritária e impetuosa do PT, que se identifica com os métodos do stalinismo e do fascismo? Se acham de esquerda, mas adotam o comportamento totalitário que atribuem à direita.

São aloprados ideológicos.

Outra interpretação, tola, seria que os entrevistados se disseram de direita porque confundiram com direito, como oposto de errado. Ou a teoria de Tim Maia, politizando a clássica frase “No Brasil, prostituta goza, traficante cheira, cafetão tem ciúmes … e pobre é de direita.” Como dizia Zé Dirceu nos anos 60, “é preciso conscientizar as massas”. Deve ser devastador aceitar que 2/3 dos brasileiros não querem saber da esquerda, por mais nobres e generosas que sejam as suas intenções. O pior é que alguns ainda vivem na ilusão de que todo mundo que se opunha à ditadura era de esquerda.

Mas talvez Leonel Brizola possa explicar.

Na campanha presidencial de 1994, num comício no Paraná, com 4% das intenções de voto e a três dias da eleição, bradou do palanque: “Não acreditem nas pesquisas. O povo está só despistando...”

Consumo move pêndulo na Igreja:: Maria Cristina Fernandes

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Há uma década havia mais de dez mil famílias de sem-terras acampadas no país. No ano passado esse contingente havia se reduzido para menos da metade. No mesmo período, pelas projeções da LCA, o estoque de postos com carteira assinada no campo cresceu 35%.

Somem-se esses dois números e já se está a meio caminho de se compreender as mudanças por que passa a Igreja Católica no Brasil. A mesma fatia do clero que abrigou o PT em sua origem é desbancada pelo surgimento dessa nova classe média pragmaticamente devota do consumo.

Em livro a ser lançado em breve sobre o lulismo, o sociólogo Rudá Ricci, explica por que as mudanças no catolicismo brasileiro são parte do que chama de modernização conservadora dos anos petistas.

Tomem-se os dois sustentáculos da esquerda católica - a Comissão Pastoral da Terra e a Cáritas. Com a maior fartura de emprego no campo, ambas perdem audiência e, com ela, terreno na disputa de rumos da CNBB. A entidade surgida do protagonismo de d. Hélder Câmara sempre foi dividida entre uma esquerda egressa da Teologia da Libertação, uma direita que vê na opção preferencial pelos pobres a exclusão dos mais ricos e um grande centro contrário à partidarização da Igreja.

A escolha do arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings, para comandar a principal comissão da assembleia da CNBB foi reveladora da nova correlação de forças da entidade. Há outros bispos no país capazes de assinar embaixo a declaração de que foram os direitos dos homossexuais que banalizaram a pedofilia. O que sinaliza a mudança é o arcebispo de Porto Alegre ter sido escolhido pelo comando da entidade para dar a primeira entrevista do evento.

Ricci atribui a dominância da centro-direita à fragmentação da esquerda. Uma parte está com a candidata do PV e afiliada da Assembleia de Deus, Marina Silva. Outra, com o candidato do P-SOL à Presidência da República, Plínio de Arruda Sampaio, cujo trânsito na batina vem desde seus tempos de deputado federal pelo PDC, nos anos 1960. Também está no P-SOL grande parte dos leigos que agitaram a greve de fome de Frei Cappio contra a transposição do rio S. Francisco.

A esquerda católica conserva ascendência sobre ribeirinhos, atingidos por barragens, quilombolas e populações indígenas - contingente de pouco peso político. É por meio deles que parte do clero brada contra as obras do PAC.

A audiência já foi muito maior. A Pastoral Operária, por exemplo, não é uma sombra do papel que teve nos anos 1980, quando surgiram CUT e PT. Naquela época foi o coordenador da pastoral, o ex-metalúrgico Waldemar Rossi, quem saudou o papa João Paulo II em sua visita ao Brasil e denunciou, numa fala emocionada, crimes da ditadura.

De lá pra cá, os sindicatos que a pastoral ajudou a proteger empanturraram-se do imposto compulsório e acomodaram-se sob asas do Estado comandado pelo metalúrgico que fazia suas assembleias na Matriz de São Bernardo do Campo.

Outras pastorais como a da Criança, ganharam sobrevida graças a convênios com o poder público. Fundos europeus que tradicionalmente sustentaram o trabalho de muitas dessas pastorais católicas minguaram nos últimos anos. Levantamento de Ricci junto a 41 organizações estrangeiras indica que o corte de alguns programas de apoio financeiro chega a 50%. Se a necessidade de investimentos no Leste Europeu e o deslocamento de ações de assistência para a África pontuaram a redução de recursos nos anos 1990, a crise financeira global acabou por sepultar as esperanças de que a solidariedade católica internacional pudesse voltar a irrigar as pastorais brasileiras.

Setores egressos das Comunidades Eclesiais de Base que viram secar suas fontes de financiamento relutam a se tornar ONGs para disputar recursos governamentais. Perdem terreno para congregações mais pragmáticas que, em São Paulo, por exemplo, já respondem por uma fatia importante da gestão da saúde pública no Estado.

Das pastorais católicas, conta Ricci, a que mais cresce é a carcerária. E a concorrência com as igrejas pentecostais não é a única explicação. Os encarcerados são uma audiência distanciada do consumo, cuja aceleração tem desnorteado os católicos à direita e à esquerda a ponto de a Campanha da Fraternidade este ano ter sido dedicada ao tema.

A esquerda católica petista murchou desde o mensalão e não conseguiu recuperar terreno frente ao centrão majoritário. Na dianteira está a tese de que o enfrentamento do pentecostalismo exige dos católicos uma vocação mais espiritualista. A agenda dos candidatos, coalhada de eventos dos chamados carismáticos, é a tradução mais terrena desse novo equilíbrio de poder entre os católicos.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

Pré-candidato volta a criticar a Bolívia

DEU EM O GLOBO

"O Brasil deveria pressionar vizinhos que se dizem amigos"

CURITIBA. O pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, disse ontem que o Brasil deveria pressionar governos vizinhos para ajudar no combate ao contrabando e tráfico de drogas.
Em entrevista à Rede Independência de Comunicação, filiada da TV Record, Serra voltou a mencionar a Bolívia.

Semana passada, Serra disse que o governo, boliviano é cúmplice do tráfico.

— Devemos pressionar os governos vizinhos que se dizem amigos, como a Bolívia, para combatermos juntos o tráfico de drogas.

Perguntado se adotaria um tom mais agressivo durante a campanha, o tucano adotou a diplomacia.

— Não tendo a ser agressivo, acho que não é produtivo — afirmou Serra.

O pré-candidato tucano viajou a Curitiba no início da tarde, logo depois de participar da missa de Corpus Christi celebrada pelo padre Marcelo Rossi, em São Paulo. Serra ainda tenta costurar uma aliança política no Paraná envolvendo o senador Osmar Dias (PDT). A proposta é que Dias abra mão de disputar o governo estadual, em favor de Beto Richa (PSDB), e se lance à reeleição ao Senado com o apoio do PSDB.

Perguntado sobre a possível aliança com o PDT no estado, Serra evitou responder diretamente. Disse apenas que “o assunto será resolvido na próxima semana”, referindo-se à convenção do partido, marcada para a próxima sexta-feira.

Enquanto isso, os petistas também flertam com Dias, acenando com a possibilidade de uma aliança em que Dias seria cabeça de chapa. Mas, para isso, o presidente Lula deveria ter convencido o governador em exercício, Orlando Pesutti, (PMDB) a desistir da reeleição, o que não aconteceu.

Serra diz que, se eleito, vai desonerar a cesta básica

DEU EM O GLOBO

Para tucano, fortuna paga em impostos não volta em bons serviços

Silvia Amorim

SÃO PAULO. O pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, contestou anteontem à noite a defesa que o presidente Lula fez da alta carga tributária brasileira para que o Estado seja forte e atenda aos pobres. O tucano disse que a tese seria aceita se a fortuna paga em impostos fosse revertida em serviço público satisfatório. Em entrevista ao “Jornal da Noite”, da Rede Bandeirantes, ele prometeu, se eleito, desonerar itens da cesta básica.

—É normal num país mais desenvolvido que a carga de impostos seja maior porque eles são mais ricos. Mas, no caso dos países em desenvolvimento, o Brasil tem a maior de todos. Agora, qual é a contrapartida? O serviço público no Brasil não é satisfatório — afirmou Serra. — Os R$ 500 bilhões (arrecadados com impostos no país) em cinco meses é uma fortuna que está se pagando e não tem uma contrapartida — prosseguiu.

Serra reagiu à declaração feita por Lula anteontem no encerramento do Seminário de Alto Nível da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), em Brasília.

— É só percorrer o mundo para a gente perceber que exatamente os Estados que têm as melhores políticas sociais são os que têm a carga tributária mais elevada. Vide Estados Unidos, Alemanha, França, Suécia e Dinamarca. E os que têm a carga tributária menor não têm condições de fazer absolutamente nada de política social — defendeu o presidente.


Serra critica critérios de corte no Orçamento Em outra direção, Serra defendeu a redução de tributos no país e citou o Chile como exemplo de eficiência com baixa carga tributária.

— O Chile tem uma carga tributária menor e um serviço público melhor (que o do Brasil).

Ao criticar o sistema tributário brasileiro, Serra fez uma promessa. Se eleito, comprometeuse a desonerar itens da cesta básica.

— Eu acho que tem de começar a mudar essa situação e eu vou mudar através de medidas que simplifiquem e desonerem a cesta básica. Pasta de dente, escova, manteiga, tudo paga.

Até implante de dente. São coisas que você nem pode dizer que arrecadam muito, mas para essa área pesa.

O pré-candidato retomou os ataques à política de gastos do governo Lula e questionou os critérios para o último corte de R$ 7,5 bilhões no orçamento da União.

— Tem também o problema de como o gasto é feito. Por exemplo, agora o governo anunciou cortes de gastos.

Cortar onde? Na saúde, o setor que está em pior situação no país, e na educação — disse.

Serra também repetiu o discurso de uma carga tributária menor para os mais pobre: — O problema não é só o imposto. É quem está pagando.

Aqui quem ganha até três salários mínimos paga o dobro de imposto do que quem ganha acima de 30.

Governo privilegia aliados na liberação de emendas

DEU EM O GLOBO

Um balanço das emendas parlamentares empenhadas pelo governo Lula até o fim de maio mostra que os partidos aliados estão recebendo tratamento privilegiado em relação à oposição. O PMDB foi o que mais obteve liberações, com R$ 45,5 milhões este ano, o que representa 10,2% do total autorizado no Orçamento de 2010 (R$ 445,9 milhões) para o partido. O PT aparece em segundo, e o PSB, em terceiro. Para a oposição, o contingenciamento das emendas tem sido muito mais rigoroso. O PSDB do pré-candidato José Serra só conseguiu liberar i,8% do aprovado por seus parlamentares no Orçamento (R$ 6,1 milhões), percentual parecido com o do DEM. Políticos aliados, como o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), têm recebido tratamento especial. Foram empenhados 72% do valor das emendas de Sarney, uma das quais, de R$ 7,3 milhões, é maior que o total liberado para os 70 parlamentares tucanos que apresentaram emendas. Das propostas feitas pelo petista Delcídio Amaral (MS), foram empenhados 96% .

Aos aliados, o dinheiro das emendas

Em ano eleitoral, governo privilegia parlamentares de PMDB, PT e PSB na liberação de verbas

Regina Alvarez

BRASÍLIA - O presidente da Comissão Mista de Orçamento, deputado Waldemir Moka (PMDB-MS), é um dos principais beneficiados com a liberação de emendas parlamentares no ano eleitoral: até maio, 90% das propostas que Moka apresentou ao Orçamento de 2010 já foram empenhadas, ou seja, autorizadas para pagamento. Um balanço das emendas empenhadas até o mês passado mostra que os partidos aliados do governo Lula e alguns caciques dessas legendas, como o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), têm recebido tratamento muito diferente em relação à oposição.

Moka faz parte desse grupo de privilegiados que, mesmo com os cortes no Orçamento anunciados pela equipe econômica em maio, conseguiu liberar a maior parte do dinheiro de suas emendas no primeiro semestre. De um total de R$ 10,850 milhões em emendas, o parlamentar teve empenhados R$ 9,850 milhões, equivalente a 90,7% do total. O empenho é a primeira etapa de liberação de uma emenda. Equivale à garantia de que os recursos serão liberados mais para a frente, o que é muito útil em ano eleitoral.

O senador José Sarney (PMDB-AP) também conseguiu o que a grande maioria dos parlamentares nem sonha: empenhar emendas no valor de R$ 8,3 milhões de um total de R$ 11,5 milhões (72%) para o estado pelo qual foi eleito, o Amapá, sendo que uma é de R$ 7,3 milhões, valor maior do que o total liberado até agora para os 70 parlamentares do PSDB que apresentaram emendas ao Orçamento (R$ 6,1 milhões) ou para os 66 políticos do DEM (R$ 5,1 milhões).

Para Ciro, emenda de R$ 6,6 milhões

O senador Delcídio do Amaral (PTMS) — do partido do presidente Lula e do mesmo estado do presidente da Comissão de Orçamento — também recebeu tratamento vip em relação às emendas de sua autoria. De um total de R$ 6,5 milhões, conseguiu empenhar R$ 6,25 milhões (96% do total).

A decisão de empenhar as emendas é do Executivo, assim como a ordem de pagá-las. E, nos dois casos, segue o rito do interesse político. A Casa Civil da Presidência acompanha e influencia o processo. Nenhuma liberação acontece por acaso ou pelo critério técnico puro. A maior parte é feita no último trimestre.

O caso do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) é um exemplo clássico de como os interesses políticos estão prevalecendo.

Ciro teve emenda no valor de R$ 6,6 milhões paga em maio entre os “restos a pagar”, ou seja, valores empenhados ano passado e transferidos para o Orçamento deste ano. O montante está próximo do total pago para todos os parlamentares dos dois maiores partidos da oposição: R$ 7,5 milhões (PSDB e DEM). Ciro estava magoado com o governo por ter frustradas suas expectativas de ser candidato à Presidência, mas recebeu um afago substancial para o seu estado.

Outro cacique aliado muito bem tratado pelo governo é o deputado Luciano Castro (PR-RR). Ele já conseguiu liberar 95,9% do total de emendas de sua autoria. Dos R$ 3,6 milhões, foram empenhados R$ 3,5 milhões.

O balanço mostra que os aliados estão sendo beneficiados tanto na liberação do Orçamento de 2010, como no pagamento das emendas empenhadas em anos anteriores. O PMDB é o campeão de liberações, com R$ 45,5 milhões este ano, 10,2% do total autorizado (R$ 445,9 milhões). O PT aparece em segundo, com liberação de R$ 23,5 milhões, 6% do total autorizado. E o PSB é o terceiro, com R$ 11,4 milhões — 8,3% do total de R$ 136,3 milhões.

Para a oposição, vale o contingenciamento das emendas. O PSDB conseguiu liberar apenas 1,8% do total aprovado no Orçamento — R$ 6,1 milhões de R$ 337,5 milhões. O DEM teve 1,7% das emendas liberadas — R$ 5,1 milhões de R$ 297,2 milhões. E o PPS está em situação pior: nem um único centavo das emendas, que somam R$ 61,7 milhões, foi liberado.

Governo lança novo ataque ao TCU

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2011, que está para ser votada na Comissão Mista de Orçamento do Congresso, ressuscita regra que torna menos transparente o cálculo dos custos dos projetos e facilita ainda mais os superfaturamentos de obras
Edna Simão

O governo ressuscitou a meta de reduzir a fiscalização das obras públicas e voltou a propor, também na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2011, a regra que torna menos transparente o cálculo dos custos dos projetos e facilita ainda mais os superfaturamentos.

A LDO está para ser votada na Comissão Mista de Orçamento do Congresso e o governo conta agora com o apoio do relator, o senador petista Tião Viana (AC), para emplacar as duas propostas.

No caso da paralisação das obras ordenada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), Tião Viana está propondo que o governo faça um relatório de contraposição, argumentando por que os projetos têm de continuar a ser tocados. Só depois da avaliação desse relatório do governo é que o TCU e o Congresso decidiriam pela paralisação ou não das obras.

"Preço global". A maior polêmica dentro da Comissão Mista de Orçamento, porém, envolve o interesse do governo em que as fiscalização das obras públicas seja feita com base no "preço global", e não pelo "preço unitário", como é hoje. A equipe econômica alega que a mudança vai reduzir os custos e dar mais agilidade à fiscalização. Os técnicos do Legislativo, do TCU e da Controladoria-Geral da União (CGU), contudo, são unânimes em dizer que a proposta facilita o superfaturamento das obras.

Na LDO de 2009, o governo já havia feito essa manobra de trocar as palavras "custos unitários" das obras públicas por "custos globais". O controle sobre o chamado "jogo de planilhas" fica mais difícil e a técnica está sendo ressuscitada agora, na LDO de 2011.

Compensação. O "preço global" permite que alguns itens de uma obra sejam orçados a custos mais altos do que a média apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e isso seja compensado com custos mais baixos em outros itens. Essa conduta não é permitida pela legislação em vigor, que estabelece que sejam obedecidos os limites do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi) e do Sistema de Custos de Obras Rodoviárias (Sicro).

É essa operação contábil - que os fiscais só vão analisar com base no "preço global", sem referência para os "preços unitários" - que facilita, segundo os técnicos do TCU, o superfaturamento desenfreado no orçamento das obras.

Apesar de o governo ter sido derrotado nas tentativas anteriores, Tião Viana colocou novamente o assunto em pauta e estuda uma alternativa de inserir instrumentos que estimulem a fiscalização por "preço global". Ele pode exigir, por exemplo, que na fiscalização por "preço global" o responsável pela obra assuma também o projeto. Ou seja, ele não poderia alterar os preços iniciais. A avaliação é de que com isso não haverá espaço para superfaturamento das obras. Viana diz que o preço total da obra continuaria sendo definido com base nos valores "unitários" dos insumos.

Projetos precários. Tanto a CGU quanto o TCU são contrários à fiscalização das obras pelo critério do "preço global" por causa da precariedade dos projetos apresentados para a construção das obras.

Para a CGU, essa possibilidade só deveria ser examinada quando o Ministério do Planejamento criar uma agência ou escritório específico para avaliar a qualidade dos projetos. O ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage Sobrinho, considera temerária a proposta da LDO exatamente por não confiar na qualidade dos projetos apresentados pelas empresas para participar de uma licitação.

Os projetos, não raro, são montados menos para fazer a obra ou prestar o serviço e mais para ganhar a licitação.

Responsabilidade. Para o Tribunal de Contas da União, a fiscalização por "preço global" só faz sentido se o governo exigir que a empresa contratada para executar a obra assuma também a responsabilidade pela execução do projeto. "Fiscalizar pelo preço global pressupõe projetos de boa qualidade e isso não é o que ocorre na administração pública", argumentou um técnico do TCU.

Disputa de poder marca campanha da ex-ministra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Bastidores:

Vera Rosa

Disputas de poder, rede de intrigas e cotoveladas marcam os bastidores da campanha de Dilma Rousseff à Presidência. Preocupado com a brigalhada, que serviu para o PSDB jogar combustível no comitê petista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao deputado Antonio Palocci que reforçasse a estratégia para proteger a candidata do PT.

O ex-ministro da Fazenda dedicou os últimos dias à tarefa de apagar o incêndio provocado pela notícia de um suposto dossiê contra o candidato do PSDB, José Serra. Tomou café, almoçou e jantou cuidando do assunto.

Palocci passou como relâmpago pela Câmara, na quarta-feira, e seguiu para reunião de coordenação da campanha. Encontrou-se ali com o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, que está ajudando a domar o PT e o PMDB e a montar palanques para Dilma nos Estados. Amigo de Rui Falcão, chefe da comunicação petista, Dirceu acabou escalado para a tarefa de desidratar a crise do dossiê.

Enquadrado por Dilma, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT) desistiu de concorrer ao governo mineiro e anunciará na segunda-feira o apoio a Hélio Costa (PMDB).

Mas o fogo amigo contra ele não terminou: uma ala do PT quer afastá-lo, agora, do comando da campanha.

Pré-candidato ao Planalto, Requião prega resistência

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

CURITIBA - Um dia após ter a pré-candidatura à Presidência registrada pelo senador Pedro Simon (RS) para a convenção do PMDB, o ex-governador Roberto Requião (PR) disse que vai entrar na disputa para o partido deixar de "ser manobrado" pela ala governista.

"Vamos dar uma tomada direta de oxigênio para o MDB velho de guerra. [A pré-candidatura] é uma oportunidade para o partido voltar a respirar", declarou Requião, em entrevista à Folha.

O ex-governador afirmou que "numa convenção, a candidatura própria ganharia em qualquer circunstância".

"A não ser que ela fosse ditada da forma absoluta como está sendo ditada. O PMDB está sendo manobrado."

Requião também admite disputar uma das duas vagas ao Senado pelo Paraná."Está lá no estatuto do PMDB que nós somos o partido das classes populares, e não dos bancos", disse.

A declaração foi feita para alfinetar a filiação do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, um dos responsáveis pela elaboração do programa de governo do PMDB nas eleições de 2010. "Alguém já viu esse programa? Eu não", disse Requião.

Ele afirmou que Simon pediu que sua pré-candidatura, lançada em 2009, fosse mantida. O ex-governador disse que o governo Lula "tem uma grande política social", mas criticou a área econômica.

PT leva Serra à Justiça por acusar Dilma por dossiê

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

PSDB reage e afirma que adversários tentam transformar a vítima em réu

Petistas dizem que, se Serra reafirmar a frase de que petista está por trás de dossiê contra tucano, vão processá-lo

Nancy Dutra e Noeli Menezes

BRASÍLIA - O PT anunciou ontem que irá interpelar na Justiça o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, para que confirme a declaração que atribuiu à concorrente petista, Dilma Rousseff, a responsabilidade pela confecção de um dossiê contra tucanos.Caso reafirme, será processado por danos morais, afirmou o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

A campanha tucana reagiu ao anúncio e classificou a iniciativa petista de tentativa de tirar o foco de Dilma, que deveria explicar "quem fez o dossiê, como fez e com qual objetivo e dinheiro".

"Estão querendo transformar o Serra, que é vítima de uma política nefasta, em réu", afirmou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra.

A decisão de interpelar (intimar a dar esclarecimentos) o tucano foi tomada em reunião na manhã de ontem entre Dutra e o secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo. Ambos negam que o partido tenha investigado Serra.

"Um candidato à Presidência não pode ficar fazendo acusações ao léu. Se Serra reafirmar o que disse, entraremos com uma ação por danos morais. Ele terá de provar o que falou. Essa declaração é uma lesão à imagem de Dilma", disse Cardozo.

"TRAPALHADA"

Para Sérgio Guerra, a interpelação representa "o cúmulo da inversão ética".

"Quem deve alguma explicação a respeito dessa fábrica de dossiês é o PT e a campanha de Dilma. Se ela não manifesta repúdio ao que foi feito, não manda embora nem entrega os malfeitores, assume a responsabilidade por mais essa trapalhada."

O tucano disse que conversou com Serra, que não demonstrou preocupação. Dilma passou o dia em Brasília, sem dar declarações.

Na interpelação, Serra poderá optar entre confirmar a acusação contra Dilma ou manter-se calado.

No final de semana, a "Veja" divulgou que uma equipe dentro da campanha da ex-ministra articulou a montagem de um "grupo de inteligência" para confeccionar dossiês contra adversários.

O grupo de arapongas teria obtido pelo menos dois conjuntos de papéis, aos quais a Folha teve acesso.

Mas a estratégia, atribuída pelo PT ao jornalista e consultor Luiz Lanzetta, não teria sido concluída por reação de outra ala do partido, segundo relato da revista.

A polêmica em torno do dossiê foi impulsionada anteontem quando o próprio Serra comentou o episódio. "A principal responsabilidade desse dossiê é da candidata Dilma. Não tenho dúvidas", afirmou o tucano.

A petista rebateu. "Não vou ficar batendo boca, mas isso é uma falsidade."

Segundo Jutahy Magalhães, um dos coordenadores da campanha tucana, Serra se baseou em informações da imprensa, que tem sido "alimentada por depoimentos dos integrantes da campanha de Dilma".

"Pelo jeito, Dilma vai continuar fazendo o que sempre fez. Negar. Negar é o hábito dela. Deveria vir a público se desculpar", disse o tucano.

Papéis mencionam auxiliares e familiares de tucano

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Os papéis que circularam pelo comando da campanha de Dilma Rousseff (PT), tratados oficialmente por sua equipe como algo alheio à candidata e pelos tucanos como obra dela, tratam de transações financeiras que envolvem antigos colaboradores e familiares de José Serra (PSDB).

A Folha teve acesso a dois conjuntos de papéis. Um cita dados da CPI do Banestado (2003-2004), e o outro é sobre negócios atribuídos à filha de Serra, Verônica.

Os papéis da CPI relatam operações financeiras registradas entre 1997 e 2001 em nome de empresas que pertenciam ou pertenceram a Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-arrecadador informal da campanha de Serra ao Senado, em 1994, e ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil no governo FHC.

Oliveira deixou o cargo no BB em 1998, após o escândalo dos grampos no BNDES.Os papéis também relatam movimentações financeiras do empresário Gregorio Marin Preciado, casado com uma prima do presidenciável e sócio de Serra até 1995 em um imóvel.

O principal papel do conjunto é um relatório datado de 2004, assinado pelo relator da CPI, o deputado federal José Mentor (PT-SP).

O relatório foi enviado pela CPI à Justiça de São Paulo num processo movido em 2002 por Ricardo Sérgio contra a "IstoÉ", que havia citado os dados. A revista pediu ao juiz do caso que fosse possível buscar os documentos guardados pela CPI.

No relatório, Mentor descreveu que a CPI detectou operações de até US$ 2,7 milhões entre uma empresa então ligada a Ricardo Sérgio, a Consultatum, e uma "offshore", por meio de operações de remessas de dinheiro que fugiam às regras do BC.

O relatório de Mentor também transcreve remessas totais de US$ 410 mil de uma empresa com interesses no setor telefônico brasileiro.

Sobre os negócios de Verônica, a Folha manuseou, mas não obteve cópia dos papéis nem conseguiu verificar sua autenticidade. Eles tratam de operações contábeis feitas por empresa ligada a Verônica e seu marido.

Aliados pressionam Serra

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Caciques tucanos se reúnem sem o presidenciável do partido e definem que a campanha precisa ser descentralizada urgentemente, inclusive com a indicação do vice. Em outra frente, democratas reivindicam posto de número dois na chapa

Ezequiel Fagundes

O lançamento da candidatura de José Serra (PSDB) à Presidência da República já começa com uma saia-justa. O local escolhido, Salvador (BA), deveria marcar o pontapé inicial da ofensiva tucana na Região Nordeste. Mas esbarrou na briga paroquial entre o ex-governador Paulo Souto (DEM) e o ex-líder do PSDB Jutahy Magalhães. O tucano, adversário histórico dos aliados do falecido cacique Antônio Carlos Magalhães, vetou o discurso de Paulo Souto, pré-candidato do DEM ao governo do estado. Embora pareça distante, esse tipo de descuido acendeu o sinal de alerta da cúpula tucana. Jutahy é aliado de primeira hora de Serra.

Em reunião realizada na quarta-feira em São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso encontrou-se com o ex-governador Aécio Neves, com os senadores Sérgio Guerra — presidente do partido —, e Tasso Jereissati — um dos cotados para vice na chapa —, e com o ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga. Na oportunidade, a cúpula do tucanato chegou à conclusão de que é grande o risco de desgaste na demora da escolha do candidato a vice.

Preocupado com os rumos da campanha, especialmente depois da ascensão da presidenciável do PT, Dilma Rousseff, nas pesquisas de opinião pública, Fernando Henrique Cardoso determinou que Serra abandone sua rotina “solitária” de articulação.

Além de cobrar informações sobre o andamento da campanha, FHC expôs a importância de abrir nova frente de diálogo com aliados nos estados. O ex-presidente entende que Serra está cada vez mais restrito aos conselhos do marqueteiro Luiz González, que há 16 anos presta serviços ao PSDB.

Especula-se, nos bastidores, que a aproximação exagerada do pré-candidato com González se deu depois da divulgação das últimas pesquisas eleitorais, que colocaram Serra empatado com Dilma na corrida pelo Palácio do Planalto. Depois de analisar os números, Serra teria ficado abatido com o resultado.

Postura

Sem a presença de Serra, a cúpula tucana se reuniu para propor correções no rumo da pré-campanha presidencial. O encontro informal tratou também da escolha do candidato a vice.
Depois de mais de três horas de conversa, a reunião terminou com uma certeza: que é necessário mudar a postura do candidato. Apesar da resistência de Serra, existe um movimento muito forte para emplacar o senador Francisco Dornelles, presidente do PP do Rio de Janeiro, na chapa liderada por Serra. O argumento é que o PP pode agregar segundos preciosos além do tempo de que a coligação PSDB, DEM e PPS já dispõe na TV. O PP tem direito a um minuto e vinte segundos.

Entretanto, outros nomes foram apresentados na reunião, entre eles, dois do DEM: o senador José Agripino Maia (RN) e o deputado federal José Carlos Aleluia (BA), sendo que o último teria maiores condições de abocanhar a vaga. Sem Aécio no páreo, a formação de uma chapa puro sangue sofre pressão dos democratas.

Lembrando que seu partido detém praticamente o mesmo tempo de TV que o PSDB, o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia voltou a reivindicar ontem a vaga de vice para os democratas. “Somos o segundo maior partido da oposição e achamos natural formar a chapa majoritária com o ex-governador José Serra”, afirmou.

Pré-candidato na missa

José Serra participou ontem da missa de Corpus Christi no Santuário do Terço Bizantino, zona sul de São Paulo. O presidenciável tucano estava ao lado do prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab (DEM). Havia cerca de 15 mil pessoas no local, e o pré-candidato do PSDB foi aplaudido quando sua chegada foi anunciada. O convite foi feito pelo padre Marcelo Rossi e pelo bispo dom Fernando. O tucano, que rezou e comungou, foi convidado a ler um trecho da Bíblia, do livro do Gênesis, e foi embora sem falar com a imprensa.

Guerra não quer a vice

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Josué Nogueira

Recife — O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), descartou ontem a possibilidade de ficar com a vice de José Serra, pré-candidato do partido à Presidência da República. “Não há condição alguma”, frisou. Ele adiantou que as discussões sobre o complemento da chapa estão suspensas por enquanto. “Firmamos um acordo com os presidentes do DEM e do PPS para que só voltemos a colocar isso em pauta na próxima segunda-feira. Rodrigo Maia (DEM) e Roberto Freire (PPS) já sinalizaram para isso. Combinamos que só voltaremos a falar (sobre o assunto) na segunda”.

Coordenador nacional da campanha de Serra, o pernambucano aparece ao lado do senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE) na lista dos que entendem que a entrada de um nordestino na chapa poderia diminuir a rejeição do pré-candidato na região.

Quando começaram a surgir as especulações sobre o nome de Guerra, alguns de seus aliados em Pernambuco chegaram a afirmar que ele poderia aceitar a missão. Disseram que o senador conciliaria as obrigações de coordenação da campanha com a candidatura. Ontem, porém, Guerra afirmou que o trabalho tem sido extenuante e incompatível com a tarefa de assumir a vice.

Projeto nacional

Ao explicar, mais uma vez, por que não concorrerá a novo mandato ao Senado, optando por tentar cadeira na Câmara dos Deputados, Guerra enfatizou que fez uma opção pelo projeto nacional do partido. Disse que a dedicação exigida na disputa de senador é incompatível com a agenda de coordenador da campanha de Serra e de presidente nacional do PSDB.

Lembrou, inclusive, que o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, e o deputado federal Antonio Palocci (SP) desistiram de se candidatar para terem mais tempo para a campanha da ex-ministra Dilma Rousseff , pré-candidata petista à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Sérgio Guerra chegou ao Recife por volta das 3h de ontem. No início da tarde, seguiu para Campina Grande (PB), a fim de preparar o terreno para a visita que Serra fará hoje à Paraíba.

Para Guerra, ação “é o cúmulo da inversão ética”

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

SÃO PAULO – O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), criticou o PT por dizer que irá processar o pré-candidato tucano à Presidência da República, José Serra. De acordo com ele, o processo do PT “é o cúmulo da inversão ética”. “(José Eduardo) Dutra (presidente nacional do PT) deveria partir pra cima dos aloprados dele. Por que não o faz? Talvez porque não possa!”, escreveu o senador no Twitter. E continuou: “Quem deve alguma explicação a respeito dessa fábrica de dossiês é o PT e a campanha da Dilma”, postou o senador na sua conta no microblog.

Segundo o tucano, se Dilma não manifesta repúdio ao que foi feito, não manda embora e nem entrega os malfeitores, então ela assume a responsabilidade “por mais essa trapalhada”. “Não adianta inverter as coisas.”

Também ontem, diante de 15 mil católicos, o padre Marcelo Rossi pediu uma oração em especial para o pré-candidato do PSDB José Serra. O tucano e o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), foram convidados pelo padre e pelo bispo de Santo Amaro, dom Fernando Antônio, a participar da missa de Corpus Christi, no Santuário do Terço Bizantino (SP).

O convite, porém, não garantiu a Serra uma declaração pública de voto do padre. “Nem a minha mãe sabe em quem eu voto”, afirmou.

Durante o evento, no entanto, pediu aos fiéis que, em ano de eleição, orassem “pelo nosso amigo Kassab, e, em especial, pelo governador Serra”. Depois, em tom de desagravo, Rossi emendou novo pedido. “Uma oração para toda a política. A igreja acolhe a todos”, disse.

Durante o louvor, o padre, após pedir pelas famílias dos fiéis, fez uma prece pelo Brasil. “Vai mudar, eu sei que o meu país vai mudar”, disse, em referência à política. O tucano chegou ao evento às 10h30, antes do anfitrião. “Ele brincou comigo. Disse: ‘Quem falou que eu chego atrasado? Cheguei antes de você’”, narrou o padre, após a missa.

Serra acompanhou o evento de cima do púlpito, ao lado de Kassab e do coordenador de campanha, Caio de Carvalho. Logo no início do evento, foi aplaudido pelos fiéis. Serra não falou com os jornalistas. Durante o evento, permaneceu compenetrado, recebeu a hóstia e orou.
Também leu um trecho do livro bíblico de Gênesis – sua única fala no evento.

Jarbas e Maciel sem Guerra no ato de Carpina

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Peemedebista critica o prefeito Manoel Botafogo – que aderiu ao governo – e acusa “cooptação de prefeitos” por parte do Palácio das Princesas

Paulo Augusto

CARPINA – Menos de uma semana depois de ter iniciado sua corrida pelo interior do Estado, com o almoço na fazenda do deputado José Mendonça (DEM), em Belo Jardim (Agreste), o senador e pré-candidato ao governo Jarbas Vasconcelos (PMDB) deu mais um passo na luta para recuperar o tempo perdido pelas oposições e, ontem à noite, participou de evento promovido pelo deputado estadual Antônio Moraes (PSDB), em Carpina (Mata Norte). E, apesar do organizador ter sido um parlamentar tucano, o principal alvo dos ataques do senador foi justamente um representante da legenda: o prefeito do município, Manoel Botafogo (PSDB), ex-aliado que aderiu ao bloco de apoio ao governador Eduardo Campos (PSB), que disputará a reeleição. “O prefeito aqui me procurou porque queria hospital e eu liberei R$ 1,5 milhão. Me pediu para endireitar estradas e isso foi feito. Se ele quer nos deixar, não posso fazer nada. Se ele quer votar lá (com o governo), vote. Mas não venha com agressões e mentiras, porque vai ficar muito feio”, disparou Jarbas.

Além das críticas a Botafogo – que pela manhã recepcionou o governador Eduardo no Agreste (leia na página 4) –, reforçadas por vários políticos participantes do evento em Carpina, o senador Sérgio Guerra (PSDB), aliado do prefeito, também não compareceu ao evento. Segundo aliados, o presidente nacional do PSDB estava em João Pessoa, resolvendo pendências sobre as alianças naquele Estado e tentaria chegar a tempo – o que acabou não acontecendo. Nos bastidores, especula-se que Guerra, antes nome certo para tentar a reeleição, preferiu evitar o constrangimento de presenciar as críticas que seriam feitas a Botafogo. Questionado se o colega de Congresso fez falta, Jarbas refletiu antes de responder: “Se ele teve outro compromisso... Ele é presidente nacional do partido, eu soube que ele estava na Paraíba. Não fez falta não”.

Além de Jarbas e Antônio Moraes, participaram do evento o senador Marco Maciel (DEM), a deputada estadual Miriam Lacerda (DEM) e vários políticos aliados da região – entre eles o vice-prefeito de Carpina, Antônio Coelho (PMDB), Lebre, e o prefeito de Condado, Ediberto Quental (DEM).

Todos discursaram e mantiveram o tom forte contra Manoel Botafogo. “Jarbas ajudou muito Carpina e, quando precisou de um ombro amigo, lhe foi negado”, alfinetou Lebre, em clara referência ao gestor de Carpina. “Diversos prefeitos não sabem honrar seus partidos. Se não dão a confiança a seu povo, não merecem respeito”, complementou Ediberto Quental.

Além das críticas ao prefeito de Carpina, Jarbas também mirou em Eduardo Campos pelo que chamou de “cooptação” de prefeitos. “O governo continua com sua política de cooptação. Um prefeito tem que votar nele, senão não terá obras no município. Quando eu me elegi (em 1998), eu tinha 50 prefeitos e nunca persegui prefeitos que não estavam comigo. Um governador tem que ter visão, sensibilidade e grandeza para governar Pernambuco”.

Indiretamente, Jarbas fez críticas à última gestão de Miguel Arraes (1995-1998), avô do governador, que o antecedeu no Palácio das Princesas. “O governador (Eduardo) está fazendo coisas porque pegou o Estado equilibrado e não como eu peguei, sem projetos, com atraso no funcionalismo. Ele pegou o filé e não o osso como eu”.

DEBATE

Hoje, a agenda do senador peemedebista começa com a participação no debate do Programa Geraldo Freire, às 11h, na Rádio Jornal.

Adversários criticam apoio de policiais federais a Tarso

DEU NO ZERO HORA (RS)

Decisão de sindicato da PF serviu de munição para aliados de Yeda Crusius

Aline Mendes

Menos de 24 horas depois de o Sindicato dos Policiais Federais declarar apoio à candidatura do ex-ministro da Justiça Tarso Genro ao governo do Estado, tucanos reagiram com indignação. – Isso confirma o que vínhamos alertando. A Polícia Federal (PF) não estava a serviço da população, mas do ministro – afirmou o deputado Ruy Pauletti, vice-presidente do PSDB estadual.

Desde 2007, aliados da governadora Yeda Crusius sustentam que Tarso, como ministro e chefe da PF, facilitava o vazamento de informações que prejudicavam a gestão.

– É ruim quando agentes de Estado formulam posicionamentos políticos, independentemente de qual partido – avaliou ontem um interlocutor do candidato José Fogaça (PMDB).

Tarso diz ter orgulho do apoio dos policiais federais

O apoio declarado a Tarso, explicou o presidente do sindicato, Paulo Renato Silva Paes, tem origem nas ações do então ministro em respostas às demandas da PF e na área da segurança. Sobre um eventual uso político do apoio, o dirigente foi enfático:

– Quem nos procurou foi Tarso. Nenhum candidato nos procurou. Estou há 31 anos na Polícia Federal, já passei por vários governos e sei o que cada um apresentou na área da segurança.

Na noite de ontem, o candidato petista negou que tenha procurado o sindicato, mas declarou que “tem orgulho desse apoio”. Em resposta às críticas, afirmou que não está por trás das ações da PF no Estado, mas “pela frente”, e que se orgulha de ter sido protagonista da “inédita” campanha de combate à corrupção.

– Quem não gosta do trabalho da Polícia Federal normalmente tem algum vínculo com a corrupção ou com o crime – declarou.

Os principais partidos adversários de Tarso na disputa pelo Piratini avaliam que as suspeitas de que ele estava por trás do vazamento de informações terão espaço na campanha eleitoral.

– Tomara que utilizem – cutucou Tarso.

Na encruzilhada da transição tecnológica :: Sérgio Besserman

DEU EM O GLOBO

Desde José sabemos pelo Livro que há tempos de vacas gordas e tempos de vacas magras. Nos tempos de vacas magras não há necessidade de muita sabedoria. É no tempo das vacas gordas, portanto, que residem os perigos.

Um perigo tangível é a imprevidência.

Agir como a cigarra e não como as formigas ou, em versão mais elaborada, deixar de aproveitar os bons momentos para levar a boas transformações, fazer reformas, melhorar enfim.

Mas há também um perigo intangível e de consequências igualmente ruinosas quando finalmente chegarem as contas dos tempos mais difíceis: o pensamento fica obliterado pelo bem-estar generalizado e passa a pensar o futuro com as lanternas da popa. Em um país diagnosticado certa vez pelo genial Tom Zé como de “doentia autocomplacência”, pode ser tão perigoso como dirigir na estrada olhando apenas pelo retrovisor.

Os avanços da sociedade brasileira nos últimos 16 anos nas áreas econômica, social e institucional eram e continuam a ser dívidas do século XX. O desenvolvimento nos próximos anos e décadas depende de uma agenda distinta e de uma trama que será representada em um ambiente altamente competitivo.

No clássico “Formação econômica do Brasil”, Celso Furtado escreveu um capítulo com um nome que gerou uma expressão consagrada na historiografia econômica do século XX : o deslocamento do centro dinâmico.

Em suas palavras: “Ao manter-se a procura interna com maior firmeza que a externa, o setor que produzia para o mercado interno passa a oferecer melhores oportunidades de inversão que o setor exportador. Criase, em consequência, uma situação praticamente nova na economia brasileira, que era a preponderância do setor ligado ao mercado interno no processo de formação do capital.” A substituição de importações associada à urbanização e ao crescimento do mercado interno assegurou altas taxas de crescimento do PIB no Brasil por décadas. O modelo exauriu-se com a globalização acelerada e a revolução tecnológica das ultimas décadas do século passado e naufragou de vez com a leniência com o endividamento crescente e com a inflação.

Os anos de crescimento da economia mundial até a grande crise de 2008, somados à colheita dos frutos da abertura e modernização da economia e do êxito do combate à inflação e das políticas de responsabilidade fiscal e de inclusão social, permitiram a incorporação de vastos contingentes da população ao mercado interno, impulsionando o crescimento e dotando-o de resiliência frente aos impactos da crise mundial.

Mas é um grande equivoco imaginar que esse é o caminho para a sustentabilidade do desenvolvimento brasileiro. Essa é uma dívida com a agenda do século passado. A agenda macroeconômica até que tem sido objeto de debates, incluindo o indispensável aumento da taxa de poupança interna e as questões demográficas e previdenciárias.

Mas pouco tem sido observado sobre o verdadeiro desafio que está colocado para a competitividade da economia brasileira. Há um novo deslocamento do centro dinâmico. O dinamismo da economia brasileira, para além dos fatores conjunturais, dependerá de sua capacidade de enfrentar a mais ampla e acelerada transição tecnológica da história econômica : aquela que irá levar as sociedades desenvolvidas do planeta da civilização dos combustíveis fósseis à economia de baixo teor de carbono nas próximas décadas.

Para ser incisivo, cito as palavras de alguém muito mais conhecido pelo pragmatismo do que pela militância ambiental, o ex-ministro Delfim Netto: “É uma grande ilusão imaginar que o Brasil estará entre as cinco maiores economias do mundo na década atual se não realizar investimentos pesados num novo padrão de energia independente da utilização do petróleo” (“CartaCapital”, 15/01/2010).

A necessidade de evitar os piores cenários do aquecimento global, a firme disposição dos EUA e da União Europeia em conquistar segurança e maior autonomia energética e os custos ambientais crescentes da exploração das novas reservas de petróleo tornam a descarbonização da economia mundial uma solução robusta, sendo incerta, entretanto, a velocidade com que as decisões necessárias serão tomadas no plano global e nas economias nacionais.

O Brasil tem vantagens comparativas importantes, mas que dependem de muito trabalho, planejamento e conhecimento aplicado para que se tornem vantagens competitivas. O deslocamento do centro dinâmico do século XXI está visível no horizonte.

Saberemos pegar o bonde certo?

Os limites do crescimento:: Celso Ming

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Quarta-feira foi uma dessas raras vezes em que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu que o Brasil não pode crescer mais de 6% ao ano sem produzir distorções, especialmente inflação.

Fica assim admitido o conceito do crescimento potencial da atividade produtiva, quase sempre refugado pelos economistas chamados desenvolvimentistas, para os quais o mais importante é garantir a forte expansão do setor produtivo, que multiplique renda e emprego, e não o funcionamento harmônico, equilibrado e sustentável da economia.

Para esses economistas, ao contrário, o crescimento vigoroso da economia só acontece num regime de desequilíbrio. É, segundo eles, a demanda forte acompanhada de aumento de preços que estimula os investimentos e, portanto, o aumento da produção futura e da renda. É uma postura frágil, que desdenha a importância da poupança prévia que fundamenta o investimento.

O brasileiro é especialmente mau poupador. Não guarda mais do que 16% de sua renda, de longe insuficiente para dar conta de seus sonhos de economia forte. Os de sempre argumentam que o Brasil ainda é um país de baixa renda (média anual de apenas US$ 10 mil por pessoa) e que pobre não tem opção a não ser viver da mão para a boca, sem condições de se dar ao luxo de amealhar poupança.

Pura falácia. Na nação mais rica do mundo, os Estados Unidos, o atual nível de poupança está próximo do zero. Não fosse a importação de poupança, não conseguiriam fechar suas contas internas.

Em contraponto, o chinês é bem mais pobre do que o brasileiro, trabalha num regime que muitos identificam como próximo da escravidão e, no entanto, poupa nada menos que 51% do que ganha.

O padrão dos tigres asiáticos é um pouco mais baixo, em torno dos 35% do PIB, mas, ainda assim, é mais do que o dobro do índice de poupança do brasileiro. É, em grande parte, a diferença entre magnitudes de poupança que explica o alto dinamismo da economia asiática e, ao mesmo tempo, a vulnerabilidade da economia brasileira ao atual aumento do ritmo da atividade econômica.

Em boa parte essa alta propensão à poupança dos asiáticos é explicada por fatores culturais: eles são assim, não fazem tanta questão de conforto consumista e, além disso, têm de amealhar patrimônio para financiar seu tempo de aposentadoria. Por lá, não há previdência social.

No Brasil, um volume importante do investimento nacional é resultado de poupança compulsória, arrancada do assalariado e das empresas: Fundo de Garantia, PIS/Pasep e Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), parcelas de recursos muito mal remuneradas.

A outra implicação do reconhecimento do ministro Mantega é a de que o serviço mais ingrato acaba sobrando para o Banco Central. Tão logo a inflação põe a cabeça para fora, como passou a acontecer, os juros têm de ser puxados para cima de maneira a conter os desequilíbrios e a escalada dos preços.

Tudo seria diferente se o governo Lula mostrasse mais empenho em bloquear a expansão das despesas públicas e, ao mesmo tempo, em ser mais eficiente na redução do custo Brasil. Mas, neste ano, as prioridades são outras, porque passou a ser preciso pavimentar a estrada para garantir a boa vontade do eleitor.


Confira

Começou o processo

Ontem, a Petrobrás divulgou nota oficial em que comunica a contratação de um consórcio de bancos para a coordenação global da oferta pública de ações da empresa.

Bancões

O consórcio é formado por seis grandes bancos: Bank of America Merrill Lynch, Bradesco BBI, Citi, Itaú-BBA, Morgan Stanley e Santander.
Isso parece indicar que a diretoria da Petrobrás já desistiu de esperar pela aprovação do projeto de lei em tramitação no Congresso. Vai colocar em andamento o processo de capitalização da empresa sem contar com os 5 bilhões de barris de petróleo a receber da União como subscrição da parcela do Tesouro.

Bocca chiusa

A nota avisa ainda que, desde ontem, a diretoria da Petrobrás se encontra em "período de silêncio". Não se pronunciará sobre a operação de oferta pública, a não ser em condições oficiais, em obediência ao que determina a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Benefícios da abertura econômica:: Luiz Carlos Mendonça de Barros

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Com as importações, temos um sistema mais eficiente de preços e a economia como um todo fica mais produtiva

Tenho acompanhado com interesse o processo de abertura da economia brasileira no período do real forte. O que vem ocorrendo é um excepcional exemplo de como a racionalidade econômica constrói um processo de mudanças estruturais.

Tudo começou com o fortalecimento de nossas contas externas a partir da demanda chinesa. Com os preços das matérias-primas em alta e o aumento das quantidades exportadas, o Brasil passou a acumular elevados saldos comerciais. Em resposta a essa nova situação, o real passou a ser uma moeda confiável, permitindo que as empresas brasileiras utilizassem as importações como alternativas de produtos e matérias-primas aqui produzidos.

Na etapa seguinte, as cadeias de distribuição dos produtos importados foram implantadas de forma eficiente para responder ao aumento da demanda. A forma de produção das economias de hoje exige a disponibilidade quase imediata das mercadorias, sejam elas produtos intermediários ou finais. Para tanto, é preciso que os distribuidores tenham estoques e capacidade logística de entrega. E isso leva bastante tempo para ser conseguido.

Outro fator que retardou o processo de abertura no Brasil foi a existência de um certo terrorismo dos produtores locais, ameaçando com o corte do fornecimento os clientes que usassem as importações como fator de pressão por preços menores. Por tudo isso foram necessários vários anos para que, depois da volta da confiança no real, as importações passassem a funcionar como mecanismo de ajuste de preços em setores importantes da economia.

Trago essas reflexões motivado pela leitura de um relatório sobre a formação de preços no mercado de aço no Brasil. Historicamente os preços dos vários tipos de aço produzidos aqui apresentavam um prêmio de 25% em relação aos produtos importados. Ou seja, indústrias importantes como a automobilística e a de eletrodomésticos pagavam por essa matéria-prima 25% a mais do que os produtores de outros países. E claramente repassavam esse sobrepreço para os consumidores.

Com a abertura do mercado nos últimos meses, esse prêmio já é menor do que 10%. A Volkswagen brasileira já compra no exterior mais de 20% de suas necessidades de aço.

Outras empresas certamente estão adotando a mesma política. Com isso, a capacidade das siderúrgicas brasileiras de impor sobrepreços elevados foi muito reduzida.

Como ainda existe uma proteção tarifária de 12% e os custos de transporte do aço importado oneram seu preço final, as siderúrgicas locais perderam apenas parte de seu mercado. Com isso, foi possível acomodar os custos mais elevados de produção no Brasil sem abrir mão de uma dinâmica de concorrência e de preços com alguma flexibilidade para baixo. Um arranjo que me parece muito eficiente.

Outro setor em que as importações têm contribuído para um sistema mais eficiente de formação de preços é o da indústria automobilística. O mesmo processo de formação de cadeias de distribuição e contratos de fornecimento de longo prazo vem ocorrendo nos últimos anos.

Com isso temos um maior coeficiente de importação na cadeia de produção local e os automóveis importados reduzem a capacidade das montadoras de aumentarem seus preços. Estudo recente mostra que os preços dos automóveis no Brasil têm crescido sistematicamente abaixo do índice geral de preços ao consumidor.

O valor real de um automóvel popular deflacionado pelo salário mínimo caiu 40% entre 2005 e hoje. O aumento menor dos preços desse automóvel em relação ao IPCA do período representou 40% desse ganho para o consumidor.

São inúmeros os exemplos de setores industriais que tiveram o mesmo comportamento. Os ganhos com o aumento das importações nos últimos anos são expressivos e mostram que a crítica indiscriminada contra a abertura não fazem sentido. Perde-se do lado da produção interna, mas temos um sistema mais eficiente de preços e a economia como um todo fica mais produtiva.


Luiz Carlos Mendonça de Barros, 67, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso). Escreve às sextas, quinzenalmente, nesta coluna.

E nós com isso? :: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

O Brasil está numa situação bem diferente da Europa, mas foi só eles entrarem em crise que o Ibovespa teve em maio queda de 6,6%, pior taxa desde outubro de 2008; R$ 1,5 bilhão de capital externo deixou a bolsa; o Investimento Estrangeiro Direto ficou abaixo do esperado. O real perdeu 4,7%; o custo para rolagem de nossa dívida subiu 135 pontos; empresas adiaram projetos de aberturas de capital.

O impacto da crise europeia sobre o Brasil é diferente do impacto da quebra do Lehman Brothers. Porque em 2008 o que se temia era o colapso do sistema financeiro internacional e tudo foi agravado porque no Brasil algumas grandes empresas estavam expostas a risco cambial.

Não se espera aquele nível de tensão, mas evidentemente haverá reflexos.

A crise da Europa não tem solução à vista. O Banco Central Europeu estima que o sistema bancário da região terá que contabilizar prejuízos de US$ 240 bilhões em crédito podre até 2011. O desemprego na Zona do Euro passou de 10% em abril e o custo para a rolagem da dívida da Espanha atingiu o maior patamar histórico esta semana. A exemplo do que aconteceu na América Latina nos anos 80, a Europa tem pela frente alguns anos de baixo crescimento.

Os europeus representam mais de um quinto do PIB mundial. Têm um PIB maior que o americano e quase duas vezes o da China. Cerca de 20% de nossas exportações têm como destino os europeus. Em 2008, foram US$ 46 bilhões exportados; em 2009, US$ 34 bi; e nos quatro primeiros meses do ano, US$ 12 bilhões. O crescimento menor resultará numa queda das importações europeias, e numa queda dos investimentos europeus em todo o mundo, inclusive aqui.

A crise já afetou o índice de preços das commodities, o que poderá reduzir o valor das exportações brasileiras.

Depois de se recuperar 83% em 2009, o Ibovespa vem patinando este ano, com queda de 8%, fazendo com que o índice voltasse a rodar na casa dos 50 mil pontos na semana passada. Um efeito da volatilidade do índice é que a capitalização da Petrobras, que já estava emperrada no Congresso, agora enfrenta o mau humor e a insegurança de investidores internacionais. No ano, a queda das ações da empresa chega a quase 20%. Até mesmo a Vale, com todos os reajustes no preço do minério de ferro, tem uma valorização modesta: 2,5% em 2010.

— O PIB da Europa é o maior do planeta. Então se ela crescer menos, o mundo também pode crescer menos. Isso terá reflexos nas commodities.

O impacto no Brasil pode ser atenuado porque vendemos muito alimento para os europeus e esses preços são mais resistentes a crises — explicou o economista Joseph Tutundjain.

Mesmo sendo alimento, a União Brasileira de Avicultura registrou queda de 15% no volume de frango exportado para a Europa no primeiro quadrimestre. No ano, esperase queda de 10%, segundo o presidente da entidade, Francisco Turra. O impacto só não aparece no faturamento, que cresceu 1,9%, por efeitos de câmbio e preço.

— A Europa é muito importante para nós e estamos tendo que ir atrás de outros mercados, como o africano e o asiático, para compensar a queda no volume. Em janeiro, estivemos por lá e já sabíamos que seria um ano difícil de exportar para a Europa. Há menos linhas de crédito, os bancos estão reticentes, o consumo em queda e há dificuldade de importação por parte deles — disse Turra.

Com um déficit em transações correntes projetado para US$ 50 bilhões este ano e US$ 60 bilhões no ano que vem, a redução do Investimento Estrangeiro Direto (IED) preocupa porque é ele que vai cobrir o rombo. A projeção do Banco Central é de que o IED fique em US$ 45 bilhões este ano, mas de janeiro a abril o resultado ficou abaixo das expectativas: US$ 7,8 bilhões, volume menor do que o registrado no mesmo período do ano passado, US$ 8,7 bilhões, quando o mundo estava em recessão.

Pelas estimativas do Itaú Unibanco, em 2009, 50% do IED teve origem europeia. As empresas da Europa no Brasil estão reduzindo investimento, congelando projetos de contratação e aumentando remessas de lucros e dividendos.

Isso afeta o Brasil de diversas maneiras.

Ao mesmo tempo em que precisaremos de mais poupança externa, a Europa estará mergulhada no enfrentamento de seus problemas fiscais. O economista Antônio Corrêa Lacerda, da PUC-SP, acredita que o déficit em conta corrente poderá ser coberto por investimentos em renda fixa.

Mas isso ainda não se vê na Bovespa e também significa piora na qualidade do financiamento. Enquanto o investimento direto tem compromissos de longo prazo, o investimento de renda fixa é volátil, com os investidores pensando em embolsar lucros no curto prazo: — A Europa é grande investidor no Brasil e devemos ter redução no fluxo de ingresso de capitais. A projeção para este ano pode ser reduzida para algo em torno de US$ 25 bilhões. A vantagem atual é que temos US$ 240 bilhões de reservas internacionais e o BC tem munição para combater uma desvalorização mais forte do real.

Essa crise nos afetará de forma bem diferente, mas não estamos imunes aos seus efeitos.

A repercussão da coluna “Barrados na porta” foi grande.

A Atlas Schindler explica que a empresa não possui vagas em aberto e tem parceria com o Senai para suprir vagas de nível técnico.

Terrorismo:: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Israel quer transformar vítimas em culpados e culpados em vítimas ao acusar de "terroristas" os pacifistas de diferentes nacionalidades que estavam em águas internacionais e armados de cadeiras e bolinhas de gude.

Mas faz sentido, e eu mesma já saí da condição de turista para a de terrorista numa viagem de paz a Israel. A policial do aeroporto de Eilat, bela cidade praiana no mar Vermelho, entre o Egito e a Jordânia, não conseguiu engolir que uma mulher sul-americana tinha condições de viajar sozinha para os Estados Unidos e depois para Israel.

"Quem pagou?", perguntava, com um olhar de dar medo. "Ué!, eu", respondi várias vezes. Não adiantou, passei maus bocados. Ela desmontou meu laptop, confiscou minha mala e jogou tudo o que tinha dentro... no chão! Roupas, sapatos, maiô molhado, iogurte, água, dólar e cartão de crédito, tudo amontoado.

A viagem foi linda, mas aquela moça mais nova que minhas filhas confirmou uma sensação que me acompanhou durante todos aqueles dias: a de que israelenses em geral, inclusive as crianças, veem, em todos os demais, "terroristas" em potencial. É da cultura do país, com o argumento de que está cercado de inimigos, é permanentemente ameaçado e precisa se defender.

O pessoal que estava nos navios prometia quebrar o bloqueio a Gaza e providenciar ajuda humanitária aos civis ilhados. Uma provocação? Claro. E legítima.

A reação israelense foi um erro grave, até porque não é mais possível se agarrar a uma só potência, os EUA, especialmente quando ela enfrenta resistências, exportou uma crise para todo o mundo, tem futuro imprevisível e -pior- acaba de ser cutucada no fígado: um dos nove mortos era turco-americano.

O Irã estava isolado? Israel também está. Radicais se autoalimentam e radicalismo destrói.

Com a palavra, Barack Obama.

O luto no Sertão :: João Cabral de Melo Neto


Pelo sertão não se tem como
não se viver sempre enlutado;
lá o luto não é de vestir,
é de nascer com, luto nato.

Sobe de dentro, tinge a pele
de um fosco fulo: é quase raça;
luto levado toda a vida
e que a vida empoeira e desgasta.

E mesmo o urubu que ali exerce,
negro tão puro noutras praças,
quando no sertão usa a batina
negra-fouveiro, pardavasca.