terça-feira, 21 de setembro de 2010

Reflexão do dia – Carlos Correa

"Qualquer um que fale contra o governo [Chávez] é imediatamente classificado como traidor e lacaio do império americano. A estratégia do governo tem sido a de radicalizar cada vez mais, criminalizando a oposição, como se não houvesse alternativa honesta ao que temos hoje. "


(Carlos Correa, do Centro de Direitos Humanos e Liberdade de Expressão da Universidade Andrés Bello, de Caracas. O Estado de S. Paulo, 20 set. 2010.)

A democracia de Lula:: Merval Pereira

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Dando como liquidada a fatura eleitoral, com a eleição de sua candidata no primeiro turno, o presidente Lula resolveu soltar seus cachorros para cima dos que ainda resistem ao que pretende ser uma razia às hostes inimigas: os meios de comunicação e os partidos oposicionistas que têm a ousadia de andar elegendo senadores e governadores em alguns estados pelo país.

Em Minas, por exemplo, onde o ex-governador Aécio Neves, além de se eleger para o Senado, está elegendo seu candidato ao governo e mais o ex-presidente Itamar Franco para a segunda vaga do Senado, Lula foi em socorro de Hélio Costa, do PMDB, candidato de sua coligação, e para tal resolveu ameaçar os prefeitos que apoiam Antonio Anastasia.

Disse explicitamente que não será um candidato do DEM ou do PSDB que conseguirá trazer do governo federal petista as melhores verbas para Minas.

A linguagem de cabo-eleitoral estava na boca de quem pode concretizar a ameaça, neste e num próximo governo petista.

Uma atitude antirrepublicana a coroar tantos procedimentos aéticos cometidos pelo presidente da República durante a campanha eleitoral.

A reação negativa que provocou nos políticos mineiros, ciosos de seus compromissos com o estado a ponto de rejeitarem a candidatura Serra por a imaginarem em oposição aos interesses de Minas, foi imediata e pode se refletir em uma rejeição também ao PT.

Esse procedimento autoritário já acontecera em outros estados em que a oposição está vencendo, como quando disse em Santa Catarina que é preciso extirpar o DEM, ou quando, em Pernambuco, foi grosseiro com o ex-vice-presidente Marco Maciel chamandoo de marco zero, ou quando vai ao Rio Grande do Norte espezinhar especificamente o senador José Agripino Maia, do DEM.

Como sempre nessas ocasiões, o presidente Lula extrapola a luta partidária para se colocar em uma arena em que a regra é matar ou morrer, e para tanto se utiliza dos instrumentos do governo, como a TV estatal que filma todos os seus comícios para uso interno, ou as inaugurações improvisadas para estar à noite, fora do expediente, nos comícios de sua candidata previamente marcados em combinação com a agenda oficial.

Com seu comportamento marcadamente antirrepublicano, abusando do poder político que a presença eventual na Presidência da República lhe dá, e das regalias que o cargo lhe concede, Lula vai manchando essa campanha eleitoral e a provável vitória da candidata oficial.

E se irrita com os meios de comunicação que não se submetem a seus caprichos absolutistas, invertendo o sentido da História, como, aliás, é seu hábito fazer.

Ao discursar num comício ao lado da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, em Campinas, sábado passado, Lula vituperou contra jornais e revistas que, segundo ele, se comportam como se fossem partido político, e chegou ao auge de seus delírios de grandeza ao afirmar que ele, sim, formava a opinião pública.

Usou o plural majestático nós para se referir a si próprio e aos presentes ao comício como a opinião pública", que não precisa mais de formadores de opinião para se decidir.

Nas duas ocasiões quando se dispõe a aniquilar a oposição e quando fala mal dos meios de comunicação Lula está renegando suas próprias palavras, o que também já se tornou um hábito.

Ao final da campanha de 2002, vitorioso nas urnas, Lula fez questão de, em seu primeiro pronunciamento público, ressaltar que a Justiça Eleitoral e a participação imparcial do presidente Fernando Henrique Cardoso no processo eleitoral contribuíram para que os resultados das eleições representassem a verdadeira vontade do povo brasileiro.

Já com relação à imprensa, o presidente Lula, em 3 de maio de 2006, conforme relembrou em nota de protesto a Associação Nacional dos Jornais, declarou ao assinar a declaração de Chapultepec, um compromisso com a liberdade de expressão, que devia à liberdade de imprensa do meu país o fato de termos conseguido, em 20 anos, chegar à Presidência. Perdi três eleições.

Eu duvido que tenha um empresário de imprensa que, em algum momento, tenha me visto fazer uma reclamação ou culpando alguém porque eu perdi as eleições. Ao declarar que ele sim representa a opinião pública junto com o seu povo, o presidente Lula tenta inverter os termos da equação, distorcendo a própria gênese da opinião pública, ligada ao surgimento do Estado moderno no século XVIII, quando as forças da sociedade passaram a exigir espaço para suas reivindicações contra o absolutismo do reinado.

O papel da imprensa foi fundamental para que a opinião pública tivesse condições de se manifestar e enfrentar o poder absoluto dos reis.

A popularidade de Lula hoje lhe dá essa sensação de poder absoluto. Daí a desqualificar a grande imprensa e querer influenciar diretamente o eleitorado, sobretudo o das regiões mais pobres do país, através dos programas assistencialistas, e a tentativa de controle da mídia regional através de verbas de publicidade.

Da mesma maneira que aperfeiçoou e modernizou os instrumentos de controle dos oligarcas, se aliando com eles para influenciar o eleitorado com seus programas assistencialistas, Lula quer controlar os meios de comunicação através de financiamentos diretos, subsídios e propaganda governamental.

Para os que não se submetem a essa política, fica cada vez mais evidente que um eventual governo Dilma vai tentar aprovar no Congresso uma legislação especial que permita o controle dos meios de comunicação através dos mais diversos conselhos, o chamado controle social da mídia, a exemplo do que já acontece na Venezuela de Chávez e a Argentina dos Kirchner está tentando.

A reação desmesurada da candidata oficial a uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo que mostrou problemas em sua gestão à frente de uma secretaria no governo do Rio Grande do Sul dá bem a medida de sua tolerância à livre circulação de notícias críticas.

Uso exclusivo :: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Há uma expressão (chula) na política que os veteranos usam para definir o novato afoito prestes tropeçar nas próprias pernas. Diz assim: "Para cachorro novo, fulano está com muita pressa de entrar no mato."

É o que a memória de imediato seleciona diante da resposta da candidata Dilma Rousseff ao convite do senador Álvaro Dias para falar no Congresso sobre as andanças da ex-ministra Erenice Guerra, a respeito de quem a cada dia se descobre uma nova malfeitoria.

"Convite de Álvaro Dias, nem para cafezinho", disse ela. Se, como pareceu, está preocupada com o efeito eleitoral desse tipo de solicitação, Dilma teria várias maneiras de recusá-lo. Poderia, inclusive, ignorar a declaração do senador, dizer que esperaria a solicitação formal do Legislativo para então se pronunciar.

Mas, não. Dilma preferiu dizer o que lhe veio à cabeça e da forma mais arrogante, esquecida de como foi duro aquele curto período do início da campanha quando, na ausência do presidente Luiz Inácio da Silva, que andava pelo exterior, ela cometia uma impropriedade (às vezes até duas) por dia.

Por menor que fosse, era registrada como erro, comentada com constrangimento pelos aliados e celebrada pelos adversários.

A candidata já deve ter percebido, mas pelo jeito não compreendeu: determinadas barbaridades, manifestações de desrespeito e infrações só podem ser feitas ou ditas por Lula.

É o único com salvo-conduto para cometer disparates impunemente. Ou Dilma acha que teria ido longe se o presidente não reaparecesse logo transformando, em maio, o programa do PT em horário eleitoral? Ou pensa que desperta os mesmos sentimentos de gratidão, culpa ou intimidação?

Erenice Guerra cometeu o mesmo erro de que poderia ser arrogante numa nota oficial e perdeu o lugar.

Se de fato for eleita, é bom Dilma se acostumar: não sendo a operária nordestina que chegou à Presidência nem tendo o poder de controlar a massa, não poderá contar com a prerrogativa de desrespeitar a tudo e a todos impunemente, que é de uso exclusivo de Lula presidente.

Isso vale também para a modelagem "não sei de nada" em relação a escândalos de corrupção.

Currículo escolar. Lula disse na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) no fim da semana passada que "adoraria" ter curso superior e gostaria de voltar a estudar.

O que poderia parecer um tardio, mas bem-vindo, reconhecimento do presidente do valor do estudo era só um jeito de poder dizer que se considera pronto a "dar aulas sobre como governar o País".

Em outras palavras: falar todos os dias para registro dos meios de comunicação; dizer o que cada público gosta de ouvir sem compromisso com a coerência ou realidade; não enfrentar contenciosos; agradar malfeitores que poderiam ameaçá-lo; distribuir benesses sem pensar nas consequências; passar por cima de tudo, inclusive da lei; aniquilar o que ou quem lhe possa fazer sombra, nunca valorizar atributos que não sejam os próprios e jamais firmar pacto eterno com a verdade.

Vivendo e aprendendo. Em 1989 Fernando Collor foi eleito presidente praticamente sem críticas. Da imprensa, inclusive, que em sua maioria deslumbrava-se deixando em segundo plano seus atos como prefeito de Maceió e governador de Alagoas.

Na época havia o receio geral de criticar Collor e receber do burríssimo maniqueísmo nacional o carimbo de "sarneysista". Praticamente um insulto, dada a impopularidade do então presidente José Sarney.

Fato e ficção. A crucial e aterradora diferença entre o Tiririca de hoje e o cacareco de antigamente é que o voto neste não valia e os votos naquele valerão várias vagas na Câmara dos Deputados.

Paulada na imprensa:: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - De Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente com 80% de popularidade: "Nós não precisamos de formadores de opinião. Nós somos a opinião pública!".

Vale tratados de sociologia, história, política, comunicação e psicologia, mas o espaço aqui só é suficiente para reconhecer que ele tem razão, depois da política desenfreada de ocupação da informação e da mídia exercida pelo governo.

O Planalto usa a TV pública ilegalmente na campanha de Dilma, tem blog sem autoria para disseminar o que quer e planta em rádios e jornais do interior peças de propaganda travestidas de noticiário.

Tem mais: o BB, a CEF e a Petrobras fazem campanha subliminar pró-Lula e pró-Dilma na TV, e a imprensa regional está dominada pela publicidade federal. Sem contar o incomensurável espaço que Lula teve na mídia nestes oito anos, falando o que bem entendia, contra ou a favor do que bem queria.

O resultado é que Lula é a opinião pública mesmo. E como não haveria de ser? Não importa a barbaridade que diga, a sua verdade se dissemina como verdade nacional. Os fatos? Danem-se os fatos, o que vale é a versão de Lula.

Não satisfeito, ele e agora Dilma agridem ao vivo o derradeiro bastião democrático de crítica, provocação e cobrança -a imprensa. Lula bufando, de um lado para o outro num palanque em Campinas, e Dilma estrebuchando no Rio, dispensando até a barreira de microfones que vem usando na campanha.

Mais pareciam derrotados, e os marqueteiros devem estar furibundos. Um trabalhão danado para produzir a candidata, e a maquiagem borrou. Dilma como ela é.

Tudo porque foi a imprensa livre que expôs aos brasileiros um centro de corrupção justamente na Casa Civil, onde foi construída a candidata Dilma e fabricado o inexplicável poder de uma tal Erenice.

Pensando bem, Lula e Dilma têm razão: a imprensa incomoda muito, tanto quanto a verdade dói.

Lula é um fenômeno religioso :: Arnaldo Jabor

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Lula não é um político é um fenômeno religioso. De fé. Como as igrejas que caem, matam os fieis e os que sobram continuam acreditando. Com um povo de analfabetos manipuláveis, Lula está criando uma igreja para o PT dirigir, emparedando instituições democráticas e poderes moderadores.

Os fatos são desmontados, os escândalos desidratados para caber nos interesses políticos da igreja lulista e seus coroinhas. Lula nos roubou o assunto. Vejam os jornais, todos os assuntos são dele, tudo converge para a verdade oficial do poder. Lula muda os fatos em ficção. Só nos resta a humilhante esperança de que a democracia prevaleça.

Depois do derretimento do PSDB, o destino do País vai ser a maçaroca informe do PMDB agarrada aos soviéticos do PT, nossa direita contemporânea. Os comentaristas ficam desorientados diante do nada que os petistas criaram com o apoio do povo analfabeto. Os conceitos críticos como razão, democracia, respeito à lei, ética, ficaram ridículos, insuficientes raciocínios diante do cinismo impune.

Como analisar com a Razão essa insânia oficial? Como analisar o caso Erenice, por exemplo, com todas as provas na cara, com o Lula e seus áulicos dizendo que são mentiras inventadas pela mídia? Temos de criar novos instrumentos críticos para entender esta farsa. Novos termos. Estamos vendo o início de um chavismo light, cordial, para que a massa atrasada seja comandada pela massa adiantada (Dilma et PT). Os termos têm de ser mudados. Não há mais propina, agora o nome é taxa de sucesso. A roubalheira se autonomeia revolucionária assalto à coisa pública em nome do povo. O que se chamava vítima agora se chama réu. Os escândalos agora são de governos inteiros roubando em cascata, como em Brasília, Rondônia, e Amapá são girândolas de crimes. Os criminosos são culpados, mas sabem tramar a inocência. O não agora quer dizer sim.

Antigamente, se mentia com bons álibis, hoje, as tramoias e as patranhas são deslavadas, não há mais respeito nem pela mentira. Está em andamento uma revolução dentro da corrupção, invadindo o Estado em nossa cara, com o fito de nos acostumar ao horror. Gramsci foi transformado em chefe de quadrilha.

Nunca antes nossos vícios ficaram tão explícitos, nunca aprendemos tanto de cabeça para baixo.

Já sabemos que a corrupção no País não é um desvio da norma, não é um pecado ou crime, é a norma mesmo, entranhada nos códigos e nas almas. Nosso único consolo: estamos aprendemos muito sobre a dura verdade nacional neste rio sem foz, onde as fezes se acumulam sem escoamento. Por exemplo: ganhamos mais cultura política com a visão da figura da Erenice, a burocrata felliniana, a mãe coragem com seus filhos lobistas, com o corpinho barbudo do Tuminha (lembram?), com o make-over da clone Dilma (que ama a ex-Erenice, seu braço direito há 15 anos), com o silencio eufórico dos Sarneys, do Renan, do Jucá... Que delícia, que doutorado sobre nós mesmos!

Ao menos, estamos mais alertas sobre a técnica do desgoverno corrupto que faz pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas leprosas, hospitais cancerosos, esgotos à flor da pele, tudo proclamado como plano de aceleração do crescimento popular.

Nossa crise endêmica está em cima da mesa de dissecação, aberta ao meio como uma galinha. Meu Deus, que prodigiosa fartura de novidades imundas, mas fecundas como um adubo sagrado, belas como nossas matas, cachoeiras e flores.

Os canalhas são mais didáticos que os honestos. Temos assistido a um show de verdades mentirosas no chorrilho de negaças, de cínicos sorrisos e lágrimas de crocodilo. Como é educativo vermos as falsas ostentações de pureza para encobrir a impudicícia, as mãos grandes nas cumbucas e os sombrios desejos das almas de rapina. Que emocionante este sarapatel entre o público e o privado: os súbitos aumentos de patrimônio, filhinhos ladrões, ditadura dos suplentes, cheques podres, piscinas em forma de vaginas, despachos de galinhas mortas na encruzilhada, o uísque caindo mal no Piantela, as flatulências fétidas no Senado, as negaças diante da evidência de crime, os gemidos proclamando honradez e patriotismo.

Talvez esta vergonha seja boa para nos despertar da letargia de 400 anos. Através deste escracho, pode ser que entendamos a beleza do que poderíamos ser!

Já se nos entranhou na cabeça, confusamente ainda, que enquanto houver 20 mil cargos de confiança no País, haverá canalhas, enquanto houver Estatais com caixa preta, haverá canalhas, enquanto houver subsídios a fundo perdido, haverá canalhas. Com esse código penal, nunca haverá progresso.

Já sabemos que mais de 5 bilhões por ano são pilhados das escolas, hospitais, estradas, sem saneamento, com o Lula brilhando na TV, xingando a mídia e com todos os mensaleiros, sanguessugas e aloprados felizes em seus empregos e dentro do ex-partido dos trabalhadores. E é espantoso que este óbvio fenômeno político, caudilhista, subperonista, patrimonialista, aí, na cara da gente, seja ignorado por quase toda a inteligentsia do País, que antes vivia escrevendo manifestos abstratos e agora se cala diante deste perigo concreto que nos ronda. No Brasil, a palavra esquerda ainda é o ópio dos intelectuais.

A única oposição que teremos é o da imprensa livre, que será o inimigo principal dos soviéticos ascendentes. O Brasil está evoluindo em marcha a ré! Só nos resta a praga: malditos sejais, ó mentirosos e embusteiros! Que a peste negra vos cubra de feridas, que vossas línguas mentirosas se transformem em cobras peçonhentas que se enrosquem em vossos pescoços, e vos devorem a alma.

Os soviéticos que sobem já avisaram que revistas e jornais são o inimigo deles.

Por isso, si vis pacem, para bellum, colegas jornalistas. Se quisermos a paz, preparemo-nos para a guerra.

Traços em relevo:: Miriam Leitão

DEU EM O GLOBO

Em 2003, o Bom Dia Brasil me enviou para Caracas. Era um momento decisivo da fratura da sociedade venezuelana. Conversei com muita gente, vi imagens fortes, acompanhei passeatas e entrevistei Chávez. Diversas vezes ouvi, de um lado e de outro, que Lula era igual a Chávez.

Sempre reagi, ofendida, falando das convicções democráticas de Lula para acentuar a diferença.

Continuo achando que Lula tem mais virtudes que Chávez, mas para quem viu aquele momento, as semelhanças com esse final de governo são assustadoras.

Uma das táticas do presidente venezuelano era atacar a imprensa. Dizia que ela abusava da liberdade que ele concedia, tratava os jornalistas como inimigos, acusava os jornais de serem partidos políticos, gritava em comícios que havia uma unidade entre ele e a opinião pública, como se as pessoas fossem uma massa sem diversidade de pensamento.

Lula tem criticado a imprensa diariamente. Não é novidade. Mas no discurso de sábado, ele foi ainda mais fundo no modelo chavista, num ataque desconexo e impróprio aos órgãos de imprensa que, na opinião dele, são uma vergonha e destilam ódio e mentira. Prometeu derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como se fossem um partido político e firmou que esses órgãos não são democratas e pensam que são democratas.

A democracia não pertence ao presidente. Pela sua natureza, ela é construção coletiva. Foi construída por uma luta coletiva e só por ela será preservada.

O governante é apenas, por um tempo determinado, investido do poder de governar. Isso não lhe dá poderes divinos, nem o direito de ofender com a acusação de não ser democrata qualquer pessoa que pensa de forma diferente, ou que diz ou escreve o que ele não considera conveniente.

Por causa do que foi revelado pela imprensa nos últimos dias é que o governo demitiu, até agora, quatro funcionários: a ministrachefe da Casa Civil, um diretor dos Correios e dois funcionários do Palácio do Planalto. Ou bem a imprensa estava publicando matéria eleitoreira, e todos tinham de ser mantidos em seus lugares, ou o que foi publicado tem substância e, por isso, o governo precisa se livrar dos que se comportaram de forma inadequada.

Se todos saíram do governo, só pode ser a segunda hipótese e isso significa que as reportagens ajudaram uma depuração do próprio governo.

O presidente não tem tido serenidade, não tem exercido o papel de presidente de todos os brasileiros, ajuda a fraturar o país; como Chávez tem feito. Suas manipulações dos fatos são grosseiras, como quando disse: A oposição tem saudade do tempo em que se governava em cima dos tanques.

Lula desrespeitou e ofendeu inúmeros brasileiros que são oposição ao governo e que resistiram, com atos e palavras, contra o poder dos que governavam em cima dos tanques. Já os com-tanques daquela época foram aceitos na vida democrática, porque o tempo passou, e é momento de concórdia.

Do lado do presidente está, por exemplo, José Sarney, que foi diligente seguidor dos que governavam sobre tanques; outra pessoa que ele admira é o ex-ministro Delfim Netto. Existem vários. O presidente sabe.

Mas em cima de um palanque, usa seu dom de iludir.

A Venezuela tem uma história diferente tanto no governo quanto na imprensa.

Mas hoje, há semelhanças com a busca, pelo governante venezuelano, de minar a credibilidade dos órgãos de imprensa para executar seu projeto de fechamento de órgãos, suspensão de concessões, cerceamento do direito de informação e opinião. Foi o caminho da fratura da sociedade venezuelana, que não pode, nem deve ser, imitada.

Num ataque digno de Luís XIV, Lula sentenciou: Nós somos a opinião pública.

Errado de novo. Ninguém é a opinião pública.

Ela é diversa, tem várias facetas, se organiza hoje numa direção, muda no dia seguinte, se divide e se agrupa dependendo do tema.

A opinião pública é feita e desfeita diariamente. Não tem dono. Só os governantes autoritários acharam que podiam controlá-la e, quando conseguiram, foi por pouco tempo e com trágicas consequências.

Lula avaliou que seu legado seria reconhecido, se ele elegesse o seu sucessor.

Escolheu a candidata Dilma Rousseff, tem sido capaz de transferir votos e ela, de manter e atrair eleitores. Deveria estar contente, mas entrou num redemoinho com a excitação da campanha e aprofunda os ataques descabidos à imprensa, à oposição, às instituições. Assim, corre o risco de ganhar a eleição, mas deixando como legado uma democracia mais fraca, um padrão de comportamento do governante e do governo que abastardam o processo eleitoral, fortalecendo o grupo entre seus seguidores que tem projeto autoritário.

Chávez mantém o poder há 12 anos e permanecerá por mais tempo, mas ele é um perdedor. Hoje, a economia, a política, a democracia e a sociedade venezuelana carregam as sequelas dos seus erros e excessos.

Continuo acreditando que Lula e Chávez são diferentes, mas é doloroso reconhecer no presidente brasileiro alguns detestáveis traços do presidente venezuelano.

Nos últimos dias, esses traços estiveram em relevo.

Os fatos e as aparências:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

O incêndio que lavrou na casa civil nos últimos dias é daqueles cuja origem é tão recorrente quanto os que começam nas casas de máquina dos navios em alto-mar. Não foi simulação para treinamento mas tentativa de confundir os fatos com as aparências, sem esquecer que o presidente Lula gosta de ser o último a saber, mas o primeiro a falar mal da imprensa. A sucessora de Lula terá de se contentar com as sobras da tentativa de abafar o casoe com as consequências. Não há memória de que a Casa Civil trabalhe com produto quecostuma ser classificado nos jornais como material de fácil combustão.

Na Casa Civil da Presidência da República, a propagação do fogo chamuscou a figura de Erenice Guerra, que ia ser o eixo da articulação entre o governo Lula e o governo Dilma. Erenice não fez bem o papel de Joana d’Arc. Falhou a tentativa de salvar a cabeça de ponte construída, de fora para dentro do Brasil, com trânsito numa única direção. O resto foi de cambulhada. Para não perder o hábito dos excessos verbais, Lula falou mal dos jornais antes que a imaginação do público suprisse com versões depreciativas a fartura de abusos que se apresentam ao fim dos seus dois mandatos.

No apertado espaço oficial, José Dirceu mantém a forma e consola o petismo nos momentos finais. O problema do PT é depender da informação alheia, pela persistente falta de coragem de criar e manter jornais, revistas e editoras que sustentassem uma linha própria de ideias e informações.E, de resto, alimentasse o debate político acima desta mesmice e ocupasse o centro de um debate nacional permanente, sem se dedicar ao varejo periférico no vazio de ideias.

A esquerda já desempenhou papel mais atuante no pensamento brasileiro. O velho PCB,cuja lembrança sobrevive no respeito geral e no carinhoso aumentativo, mantinha canais diretos e indiretos para levar ao público pontos de vista críticos sobre fatos e ideias políticas, no Brasil e no mundo, ambos em transformações. De jornais diários a editora de livros e revistas, discursos e ensaios faziam ou arejavam as cabeças enquanto existiu liberdade de imprensa.

O presidente Lula costuma lembrar aos petistas que ficou devendo sua eleição à imprensa, mas não ressalva que teve tratamento objetivo mesmo nas três campanhas em que abria à esquerda, sem considerar a distância que o separava da sociedade. Não foi diferente na eleição e na reeleição de Lula, nas quais ele se comprometeu, em carta aberta, em ter na Constituição a referência responsável. Nem no episódio do mensalão, no qual os jornais podem ter faltado à objetividade, na corrida pelos fatos, mas não inventaram o que foi publicado e nunca desmentido.

No primeiro mandato, quando o mensalão se apresentou, o presidente se declarou o último a saber (e, mais tarde, quando a Justiça o ouviu, retificou que, desde o começo, esteve a par do que se passara). Lula deve à liberdade de imprensa e aos eleitores, mas não aos jornais, a eleição e a reeleição. Não ficou devendo o terceiro mandato, porque sentiu em tempo que estava na contramão da democracia e que a opinião geral repudiou a hipótese, contornada por ele com a candidatura Dilma Rousseff, do mandato tampão, até agora suficiente para lhe reservar o acesso ao quarto governo petista em 2014.

Claro, se tudo correr normalmente e contar com os pequenos partidos mas grandes mercadores da República. Se o presidente tem alguma questão de consciência em relação ao incêndio na Casa Civil, que cumpra então aquela sentença com que fulminou os quedeixarem impressões digitais nos fatos já públicos e nos que ainda virão. Como, mais uma vez, o próprio Lula vociferou, sem pretensão de ser original, “doa a quem a doer”. Sem doer é que não.

A História tem um cemitério de jornais que pretenderam dispor de liberdade exclusiva, mas que não passa de negação da própria liberdade.

A elite que Lula não suporta – Editorial/O Estado de S. Paulo

Nas encenações palanqueiras em que o presidente Lula invariavelmente se apresenta como o protagonista da obra de criação deste país maravilhoso em que hoje vivemos, o papel de antagonista está sempre reservado às "elites". Durante mais de 500 anos, as elites mantiveram o Brasil preso aos grilhões do subdesenvolvimento e da mais perversa injustiça social. Aí surgiu Lula, o intimorato, e em menos de oito anos tudo mudou. Simples assim.Com essa retórica maniqueísta, sem o menor pudor Lula alimenta no eleitorado de baixa renda e pouca instrução - seu público-alvo prioritário - o sentimento difuso de que quem tem dinheiro e/ou estudo está do "outro lado", nas hostes inimigas. Mas a verdade é que o paladino dos desvalidos nutre hoje uma genuína ojeriza por uma, e apenas uma, categoria especial de elite: a intelectual, formada por pessoas que perdem tempo com leituras e que por isso se julgam no direito de avaliar criticamente o desempenho dos governantes. Por extensão, uma enorme ojeriza à imprensa. Com todas as demais elites Sua Excelência já resolveu seus problemas. Está com elas perfeitamente composto, afinado, associado, aliado e, pelo menos em outro caso específico, o das oligarquias dos grotões maranhenses, alagoenses, amapaenses e que tais, acumpliciado.

Até por mérito do próprio governo na condução da economia (nem sempre a imprensa ignora os acertos do poder público...), os ventos favoráveis que hoje, de modo geral, embalam o mundo dos negócios, muito especialmente os negócios financeiros, não permitem imaginar que o "poder econômico" considere Lula um inimigo ou uma ameaça e vice-versa. É claro que em público o jogo de cena é mantido, com ataques, sob medida para cada plateia, aos eternos inimigos do povo. Mas na intimidade o presidente se vangloria, em seus cada vez mais frequentes surtos apoteóticos, de que hoje o poder econômico, nacional e multinacional, está submisso à sua vontade. Não é, portanto, essa elite que tem em mente nas diatribes contra os malvados que conspiram contra sua obra redentora.

A revelação de seu verdadeiro alvo Lula oferece cada vez que abre a boca. Como no dia 18, em Juiz de Fora: "Essa gente não nos perdoa. Basta que você veja alguns órgãos e jornais do Brasil (...) Porque na verdade quem faz oposição neste país é determinado tipo de imprensa. Ah, como inventam coisa contra o Lula. Olha, se eu dependesse deles para ter 80% de aprovação neste país eu tinha zero. Porque 90% das coisas boas deste país não é mostrado (sic)."

Então é isto. Imprensa que fala mal do governo não presta, extrapola os limites da liberdade de informar. Não é mais do que um instrumento de dominação das elites.

Assim, movido por sua arraigada tendência ao autoritarismo messiânico que é a marca de sua trajetória na vida pública, Lula parece cada vez mais confortável na posição de dono de um esquema de poder que almeja perpetuar para alegria da companheirada. Um modelo populista, despolitizado, referendado pela aprovação popular a resultados econometricamente aferíveis, mas que despreza valores genuinamente democráticos de respeito à cidadania, coisa que só interessa à "zelite". Tudo isso convivendo com a prática mais deslavada do patrimonialismo, coronelismo, clientelismo, tráfico de influência, cartorialismo, aparelhamento e tudo o mais que Lula e seu PT combateram vigorosamente por pouco mais de 20 anos, para depois transformar em seu programa de governo. E em toda essa mistificação o repúdio às elites é a palavra de ordem e a imprensa, o grande bode expiatório.

O diagnóstico seguinte foi feito, com as habituais competência e sutileza, por um dos mais notórios fantasmas de Lula, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista publicada no Estado de domingo: "Achei que (Lula) fosse mais inovador, capaz de deixar uma herança política democrática, mostrando que o sentimento popular, a incorporação da massa à política e a incorporação social podem conviver com a democracia, não pensar que isso só pode ser feito por caudilhos como Perón, Chávez, etc. (...) Mas Lula está a todo instante desprezando o componente democrático para ficar na posição de caudilho." Falou e disse
.

Lula e a visão autoritária da imprensa – Editorial/O Globo

É nos improvisos que o presidente Lula se deixa levar, fala o que não seria conveniente do ponto de vista político, mas transmite o que lhe vai no fundo da alma. Inebriado por índices recordes de popularidade, nunca antes alcançados neste país, Lula tem radicalizado na autoindulgência, como se o apoio popular o colocasse acima de leis e limites institucionais.

São exemplos desse desvio as sucessivas vezes em que o presidente age como chefe de partido, numa deplorável mistura de papéis, porém bem ao estilo de um governo que, na ocupação da máquina burocrática, exercita ao extremo a confusão entre interesses privados e a esfera pública.

É nessa zona cinzenta que a grande família de Erenice Guerra se aboletou, e corporações sindicais sentam praça nos cofres do Tesouro, ao lado de movimentos ditos sociais que atuam em estado de semiclandestinidade, em parte financiados pelo contribuinte.

À medida que se envolvia no projeto de eleger a sua desconhecida ministra Dilma Rousseff, enquanto mantinha e até elevava a popularidade, o presidente foi jogando às favas o equilíbrio. Principal atração dos comícios de sua candidata, Lula radicaliza na insensatez. Pode-se dar desconto pelo inevitável aumento de temperatura característico das campanhas eleitorais, mas não é possível ser condescendente quando se invade de maneira desvairada o campo vital das liberdades democráticas.

Até porque o ataque feito por Lula à imprensa, num comício em Campinas, sábado, não é um acidente de rota, um fato isolado no seu governo de quase oito anos; tampouco no seu partido, onde se destilam propostas formais para a democratização da mídia, o controle social dos meios de comunicação, eufemismos para designar a destruição da independência da imprensa profissional, assim como fazem os governos de Cristina Kirchner e Hugo Chávez, aliados preferenciais da diplomacia companheira no continente.

No sábado, Lula, como se tomado pelo espírito do Rei Sol, um Luis XIV tropicalizado, bradou: Nós somos a opinião pública. Em meio a ataques a alguns jornais e revistas que se comportam como se fossem um partido político(...), Lula, na verdade, externou toda a dificuldade que ele, auxiliares diretos e líderes petistas têm de entender o papel da imprensa numa sociedade aberta. Há tempos emana do Planalto a visão de que o governo Lula acabou com os formadores de opinião, e agora se sabe que eles foram substituídos, segundo este contorcionismo intelectual, pelo presidente e seu grupo no poder. Numa reedição de um pai dos pobres de figurino getulista, o presidente teria hipnotizado as massas, alimentadas por um assistencialismo bilionário, e por isso elas só reproduzirão a opinião do seu redentor.

Mais do que uma tosca engenharia de raciocínio, porém, esta percepção lulista da imprensa deriva de um entendimento autoritário da função dos meios de comunicação: segundo a vulgata ideológica dos intelectuais orgânicos do lulopetismo, a imprensa é um instrumento de manipulação da sociedade.

E, sendo assim, precisa estar subordinada ao partido e ao Estado, os quais, no imaginário desses militantes, se confundem. É inconcebível para esses que a imprensa profissional que precisa ser rentável para se manter independente, e o mais distante possível de verbas administradas pelos poderosos do momento cumpra uma função pública, e disto têm consciência profissionais e acionistas das empresas de comunicação.

A visão maniqueísta lulopetista da imprensa leva a que se procure intrincadas conspirações por trás de reportagens de denúncia, um truque que também serve para jogar uma cortina de fumaça à frente de desvios éticos cometidos pela companheirada. Foi assim que o mensalão se tornou produto de uma imprensa golpista, bem como a ação dos aloprados.

Denunciado por um aliado desgostoso, Roberto Jefferson, do PTB, o esquema de coleta e lavagem de dinheiro sujo para alimentar uma bancada parlamentar governista gerou um processo que tramita no Supremo Tribunal Federal, depois de aceita denúncia da Procuradoria Geral da República contra essa organização criminosa. No escândalo da tentativa de compra de um dossiê falso contra o tucano José Serra, na campanha de 2006 para o governo de São Paulo, petistas proeminentes os aloprados, nas palavras do próprio Lula foram apanhados em flagrante delito.

Nada porém abala o discurso petista contra manobras golpistas da imprensa independente.

Mas não houve qualquer crítica quando, no primeiro governo FH, reportagem do GLOBO derrubou o então presidente dos Correios, Henrique Hargreaves, ao revelar que ele tinha um contrato com o Sebrae, do qual recebia sem trabalhar.

Não se ouviu, também, qualquer reclamação petista quando a Folha de S.Paulo relatou histórias de compra de votos de deputados federais a favor da emenda constitucional que permitiria a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Ou na revelação feita pelo GLOBO de que o esquema do mensalão, antes de José Dirceu, Delúbio e Genoino, fora acionado pelo PSDB mineiro no financiamento da campanha frustrada de reeleição do governador Eduardo Azeredo, delito também a ser julgado no STF. E nenhuma admoestação à imprensa partiu do PT na divulgação de cenas pornográficas de corrupção patrocinadas pelo DEM de Brasília.

Imprensa boa é imprensa chapa-branca, deduz-se.

Outra prova cabal de como o PT se equivoca sobre o jornalismo profissional foi dada por José Dirceu, cassado no escândalo do mensalão e considerado pelo Ministério Público o chefe da tal organização criminosa.

Considerado líder importante no partido, até visto como herói por ter se imolado pela causa petista, Dirceu demonstra continuar com bom trânsito em Brasília, e continua a pontificar.

Na semana passada, ao doutrinar sindicalistas petroleiros na Bahia, o ex-ministro da Casa Civil de Lula comemorou o fato de uma provável vitória da companheira de armas Dilma Rousseff facilitar a execução do projeto político do PT, difícil de ser aplicado com Lula, pois o presidente em contagem regressiva para voltar a São Bernardo é algumas vezes maior que o partido, explicou. Do projeto, consta o de sempre: democratização dos meios de comunicação etc.

Além de considerar que a imprensa brasileira abusa do direito de informar uma pérola do pensamento da esquerda autoritária , Dirceu reclamou de uma suposta tentativa das redações de interferir na formação do futuro governo Dilma, algo digno de ficção.

Ora, isto não é função da imprensa.

A não ser que se entendam os meios de comunicação pela ótica do PT: não passam de instrumentos de manipulação política e social.

É gigantesca também a dificuldade de Lula e companheiros entenderem que veículos de comunicação podem não defender partidos e candidatos, mas princípios, e, em função deles, criticar ou elogiar partidos e candidatos.

Trata-se de outro equívoco tentar comparar a postura da imprensa brasileira diante de governos, candidatos e legendas com a de países onde práticas democráticas são seguidas há séculos e existem partidos enraizados na sociedade por gerações.

Deturpar a realidade em razão de cacoetes ideológicos não chega a preocupar.

Costuma acontecer na política e mesmo no mundo acadêmico. O perigo está quando se chega ao poder com este tipo de percepção distorcida.

Aner vê ataques de Lula à mídia com 'preocupação'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Associação Nacional dos Editores de Revistas diz que críticas do presidente são uma amostra do que pode acontecer num eventual governo Dilma

Daniel Bramatti

O presidente da Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner), Roberto Muylaert, disse ver com "extrema preocupação" as críticas feitas à imprensa pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no sábado, durante comício em Campinas."Vemos isso como um prelúdio, uma amostra do que pode acontecer no próximo governo em termos de liberdades democráticas, já que a liberdade de imprensa é a grande garantia de todas as demais", disse Muylaert, referindo-se a um eventual governo de Dilma Rousseff (PT).

No sábado, em evento de campanha de Dilma, Lula disse que alguns jornais e revistas se comportam como partido político. "Outra vez nós vamos derrotar nossos adversários tucanos, vamos derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como se fossem um partido político", declarou.

Para o dirigente da Aner, as manifestações de Lula vão além dos "excessos de toda natureza" que são esperados em uma corrida eleitoral. "Aparentemente, a popularidade crescente do presidente da República está fazendo com que ele perca qualquer tipo de autocensura."

O ataque do presidente coincidiu com um uma série de reportagens a respeito de tráfico de influência e irregularidades praticadas por funcionários ligados à Casa Civil. "Existe uma revista que não lembro o nome dela (sic). Ela destila ódio e mentira", afirmou Lula, em referência indireta à revista Veja.

No discurso, o presidente afirmou ainda que "eles não se conformam" com o suposto fato de que "o pobre não aceita mais o tal do formador de opinião pública". "Nós somos a opinião pública e nós mesmos nos formamos."

A Aner se uniu a outras entidades que já haviam criticado as manifestações de Lula no fim de semana.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcanti, definiu a atitude como "um desserviço à Constituição e ao Brasil".

Em nota, a Associação Nacional dos Jornais (ANJ) considerou "lamentável e preocupante que o presidente da República se aproxime do final de seu segundo mandato manifestando desconhecimento em relação ao papel da imprensa nas sociedades democráticas".

Sem autocensura

ROBERTO MUYLAERT
PRESIDENTE DA ANER
"A popularidade do presidente está fazendo com que ele perca qualquer tipo de autocensura"

Centrais sindicais e MST em ato contra imprensa

DEU EM O GLOBO

Após o presidente Lula acusar jornais e revistas de agir como partido politico, CUT e Força Sindical vão se juntar ao MST e à UNE para um ato contra a imprensa. O convite do evento, divulgado pelo PT, acusa a imprensa de "castrar o voto popular", mas não faz menção à onda de denúncias de corrupção que atinge a Casa Civil.

Centrais fazem ato contra a imprensa

Evento contra "golpismo midiático", divulgado pelo PT, será na quinta-feira em SP, com políticos de siglas aliadas

Leila Suwwan

SÃO PAULO. Depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusar a imprensa de agir como partido político, as centrais sindicais, alguns sindicatos, partidos governistas e movimentos sociais farão na quinta-feira o Ato contra o golpismo midiático, em São Paulo. O convite para o evento, divulgado pelo PT, acusa a imprensa de castrar o voto popular, deslegitimizar as instituições e destruir a democracia.

E não faz menção explícita à onda de denúncias de corrupção que atingem a Casa Civil da Presidência.

Conduzida pela velha mídia, que nos últimos anos se transformou em autêntico partido político conservado, essa ofensiva antidemocrática precisa ser barrada. No comando estão grupos de comunicação que, pelo apoio ao golpe de 64 e à ditadura militar, já demonstraram seu desapreço pela democracia, diz o texto.

De acordo com o site do PT, estarão presentes líderes de sindicatos e movimentos sociais.

São listados: CUT, Força Sindical, CTB, CGTB, MST e UNE. Também estão confirmados políticos de PT, PCdoB, PSB e PDT, todos partidos da coligação da candidata a presidente Dilma Rousseff.

Em comício em Campinas, no sábado, o presidente Lula acusou a imprensa de não agir de forma democrática. O discurso provocou reações da ANJ (Associação Nacional de Jornais) e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Lula disse que a população não precisa mais de formadores de opinião e acrescentou: Nós somos a opinião pública.

E continuou: Não vamos derrotar apenas nossos adversários tucanos. Vamos derrotar alguns jornais e revistas, que se comportam como se fossem um partido político e não têm coragem de dizer que são um partido político, que têm candidato e não têm coragem de dizer que têm candidato, que não são democratas e pensam que são democratas, disse Lula, para quem os pobres não precisam de formadores de opinião.

No anúncio do ato, o PT afirma que a imprensa busca forçar a ida do candidato do PSDB ao segundo turno. Em seguida, o convite afirma que boatos de campanha indicam que o jogo sujo irá piorar até a eleição. O ato está marcado para quinta, no auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, e é patrocinado também por blogueiros progressistas.

Dutra ironiza citando briga entre Obama e Fox News Sem citar a denúncia de tráfico de influência e cobrança de propina dentro da Casa Civil, em um esquema que supostamente era capitaneado pela ex-ministra Erenice Guerra, braço-direito de Dilma Rousseff, o convite do evento acusa os jornais de combinar suas manchetes com o programa eleitoral de José Serra (PSDB) na televisão.

O GLOBO não conseguiu contato ontem com o presidente do PT, José Eduardo Dutra, nem com o coordenador de comunicação da campanha de Dilma, Rui Falcão. Em seu microblog no Twitter, Dutra ironizou o tema.

Deve ser horrível viver em uma ditadura como esta, em que o presidente ataca um órgão da imprensa, escreveu Dutra, fazendo referência, na realidade, a uma notícia de que o presidente americano, Barack Obama, está em embate com o canal de televisão conservador Fox News.

Dilma: 'Ninguém sabe tudo o que acontece na família'

DEU EM O GLOBO

Piloto confirma propina a filho de ex-ministra, que continua conselheira de estatais
A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, reagiu às acusações de José Serra (PSDB) de que teria ligação com o esquema de favorecimento que resultou em sucessivos escândalos na Casa Civil e na demissão de Erenice Guerra. Em campanha no Rio com o governador Sérgio Cabral (PMDB), Dilma rebateu: "Não acredito que alguém saiba tudo o que está acontecendo na sua própria família. E que saiba tudo o que acontece no governo." Para Serra; Dilma ou não é capaz, ou é cúmplice". Acusada de comandar o esquema, Erenice continua nos Conselhos de Administração da Eletrobras e do BNDES. O piloto de motovelocidade Luís Corsini confirmou "ter pagado propina a Israel Guerra; filho de Erenice, para receber patrocínio de R$ 200 mil da E1etrobras em 2008.

"Ninguém sabe tudo do governo"

Dilma minimiza denúncias contra Erenice e diz que não se sabe tudo "nem sobre a família"

Cássio Bruno

Quatro dias após a demissão de seu braço-direito da Casa Civil, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, minimizou ontem as denúncias de tráfico de influência que envolvem a ex-ministra Erenice Guerra e o filho dela, Israel Guerra, além de outros integrantes do governo. Em campanha em São Gonçalo, no Rio, perguntada sobre as críticas do adversário José Serra (PSDB), que questionara a capacidade administrativa de Dilma afirmando que ela não é capaz ou é cúmplice dos supostos crimes, a petista reagiu: Nem uma coisa nem outra. Sabe por quê? Não acredito que alguém saiba tudo o que está acontecendo na sua própria família. E também não acredito que alguém saiba tudo o que acontece no governo.

Até porque eu tenho visto que o presidente da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A, empresa ligada à Secretaria Estadual de Transportes), que ele (Serra) nomeou, sumiu com R$ 4 milhões da campanha dele disse a candidata, referindo-se a uma acusação, não confirmada, de que um ex-diretor da estatal paulista teria arrecadado dinheiro para a campanha de 2010. Segundo a revista IstoÉ, os recursos não chegaram ao caixa da campanha de José Serra.

Não tenho acesso às informações

Dilma participou de caminhada ao lado do governador Sérgio Cabral (PMDB), que tenta a reeleição, e dos candidatos ao Senado Lindberg Farias (PT), Jorge Picciani (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB). A petista evitou falar sobre os escândalos envolvendo a Casa Civil e os Correios, que resultaram na queda de quatro integrantes do governo, entre eles o coronel Eduardo Artur Rodrigues, que deixou oficialmente ontem a direção de Operações dos Correios: Não tenho condições de avaliar, não estou dentro do governo.

Não tenho acesso a todas essas informações.

Pelo que eu vi nos jornais, ele pediu demissão disse, referindo-se ao diretor dos Correios.

Até o escândalo, a candidata se apresentava como a mãe do PAC e a grande gestora dos principais programas do governo Lula, como ministra da Casa Civil.

Dilma reagiu com irritação ao ser perguntada sobre reportagem publicada ontem na Folha de S.Paulo, sobre sua gestão à frente da Secretaria estadual de Minas e Energia do Rio Grande do Sul. Disse que suas contas foram aprovadas pelo Tribunal de Contas do estado e que ser acusada agora era má-fé.

Após caminhada, Dilma seguiu até o Bela Vista Futebol Clube, time da 3adivisão do Campeonato Carioca, para embarcar num helicóptero alugado com Sérgio Cabral e com o vice-governador, Luiz Fernando Pezão. Antes de decolar, Dilma e Cabral receberam camisas do clube com os números 13, do PT, e 15, do PMDB.


Colaborou: Fábio Vasconcellos

Em Pernambuco, Serra diz que Dilma menospreza o Nordeste

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Murillo Camarotto De Jaboatão dos Guararapes (PE)

Com menos de duas semanas para tentar levar a eleição presidencial para o segundo turno, o tucano José Serra (PSDB) elevou ontem o tom das críticas à candidata petista, Dilma Rousseff, durante visita a Pernambuco. Além de reiteradas menções ao escândalo envolvendo a Casa Civil, Serra reclamou dos atrasos em obras federais e disse que Dilma "menospreza o Nordeste".

A acusação do tucano referiu-se à ausência da petista no debate entre presidenciáveis promovido na noite de ontem pela "TJ Jornal", afiliada do SBT em Pernambuco. A pauta principal do debate, que além de Serra contou com a presença de Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), foi justamente a discussão de propostas para região Nordeste.

"A discussão de hoje [ontem] é sobre o Nordeste, onde vivem mais de 40 milhões de pessoas. Será que a região não merece um deslocamento da candidata?", indagou o tucano. "Não pensem que eu fico contente [pela ausência de Dilma]. Se ela viesse, eu poderia perguntar pelos projetos que o governo prometeu e não entregou", afirmou Serra, ao citar a Refinaria Abreu e Lima e a Ferrovia Transnordestina. "Não vou acabar com o Bolsa Família, vou acabar é com essa venda de ilusões", alfinetou.

Após enumerar outros empreendimentos federais atrasados no Nordeste, como o Canal do Sertão (obra de irrigação) e a fábrica de vacinas da Hemobrás, Serra afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva errou na escolha de sua gerente de obras. "Aqui tem grandes obras, como a refinaria, que seria inaugurada em agosto, e que agora ficou pra 2013 ou 2014", reclamou o tucano, que prometeu acelerar os projetos, caso seja eleito.

O candidato do PSDB também voltou à carga sobre o escândalo que resultou na queda da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra. Segundo ele, o suposto tráfico de influências na Casa Civil consistia basicamente em "desvio de dinheiro do povo para o bolso de corruptos".

Antes de seguir para o debate, Serra participou de caminhada e comício no município de Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife. Tucano, o prefeito da cidade, Elias Gomes, recrutou um verdadeiro exército de militantes pagos, no que foi o mais numeroso ato da campanha de Serra no Nordeste até agora, segundo avaliou o presidente nacional da legenda, o senador Sérgio Guerra.

'Vou acabar com a venda de ilusões para o nosso povo', diz Serra

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Candidato tucano fez caminhada em Jaboatão dos Guararapes (PE).

Segundo ele,'não vai haver escândalos', caso ele vença a eleição.

Do G1, em Brasília

O candidato tucano à Presidência da República, José Serra, afirmou nesta segunda-feira (20) que, caso seja eleito, vai tocar todas as obras que estejam sendo feitas. Segundo ele, os custos das obras serão revisados. Nesta segunda, Serra esteve em Jaboatão dos Guararapes (PE), onde fez uma caminhada.

"Vou acabar com a venda de ilusões para o nosso povo", disse Serra ao prometer tocar todas as obras, ao mesmo tempo, se eleito.

O candidato ainda afirmou que sabe "onde está o desperdício"

"Sei onde está o desperdício, a roubalheira", acrescentou.

O presidenciável ainda afirmou que, se eleito, não haverá escândalos na Casa Civil.

"Não vai haver escândalo como esse da Casa Civil desviando dinheiro do povo para o bolso de corruptos", afirmou o tucano. Ele disse ainda que, se eleito, o seu governo terá "um padrão de austeridade e de corte de desperdícios".

Após a caminhada, Serra fez um discurso em um palanque. Ele disse que sua adversária, Dilma Rousseff (PT), demonstrou "menosprezo" ao Nordeste por não ter aceitado o convite para o debate de ontem à noite sobre a região, promovido pelo SBT e pelo TV Jornal. Ele, a candidata do PV, Marina Silva, e do PSOL, Plínio Arruda Sampaio, compareceram.

Serra lembrou que a região tem 40 milhões de habitantes e que gostaria que Dilma estivesse presente para lhe perguntar porque os empreendimentos prometidos para o Nordeste, a exemplo da ferrovia Transnordestina, a refinaria Abreu e Lima, a transposição do Rio São Francisco e o Canal do Sertão ainda não se tornaram realidade.

Venezuela

Jarbas Vasconcelos, que foi elogiado por Serra como "um senador respeitado em todo o Brasil por ter a virtude cada vez mais escassa na vida pública, que é a coragem de dizer o que pensa e a verdade", disse, na sua fala, que Dilma "faz parte de uma quadrilha que se instalou dentro do Palácio do Planalto".

Segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abusa da sua popularidade e o Brasil está ficando "pior que a Venezuela".

Dilma falta a debate sobre Nordeste

DEU EM O GLOBO

Para José Serra, candidata petista menosprezou a região

Letícia Lins

RECIFE. A ausência da candidata do PT à sucessão presidencial, Dilma Rousseff, em debate realizado ontem com os presidenciáveis em Recife terminou rendendo críticas por parte do seu principal adversário, José Serra (PSDB), que já havia criticado a petista por se recusar a discutir os problemas do país e a ancorar-se apenas na popularidade do Presidente Lula. Ele lembrou que Dilma também não compareceu às sabatinas promovidas pelo GLOBO. O debate ontem foi promovido pelo Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC), através da TV Jornal do Commercio, filiada ao SBT.

Ela não vem ao debate. É isso que eu estava dizendo. Teve debate no UOL, na TV Gazeta, no GLOBO e ela não apareceu. Acho esquisito isso. Eu como candidato, meu maior interesse é me mostrar. Porque tenho confiança que se eu me mostro como sou, terei voto.

Quem não vai é porque não tem confiança disso.

E a discussão hoje (ontem) é sobre a Região Nordeste. São 40 milhões de habitantes. Não merecem que uma candidata se locomova até o Recife, para dizer o que pensa sobre o Nordeste, meu Deus do céu? indagou Serra,em tom de ironia, antes de chegar à TV.

E reiterou: O que é que tem demais? É um menosprezo à região. Não pensem que fico contente que ela não vá não. Porque eu ia perguntar, por que foi que prometeram siderurgia ou refinaria no Ceará e não saiu do lugar? Por que a Transnordestina só começou esse ano? No ano eleitoral? Que diabo... Por que não fizeram o canal do sertão, que nem começou acrescentou.

Serra criticou Lula, por inaugurar um navio que não saiu do lugar, referindo-se ao petroleiro João Cândido, o primeiro fabricado no estaleiro Atlântico Sul. Lula participou da transferência do navio de dique seco para o molhado.

A embarcação ainda está sendo concluída: Eu soube que lá só tinha um casco. Não sei como o navio andou. Acho que tinha remadores lá empurrando, como os navios de antigamente, ironizou. E completou: Estão governando à base da publicidade.

Não era ela (Dilma) que coordenava os investimentos? Acho que o Lula não escolheu bem no passado.

Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) participaram do debate. O debate foi mediado pelo jornalista Carlos Nascimento, com participação de jornalistas convidados de sete estados.

Cargos e família de Erenice

DEU EM O GLOBO

Conheça os cargos no serviço público já ocupados por Erenice Guerra ex-braço direito da presidenciável Dilma Rousseff que assumiu a Casa Civil em março e foi demitida semana passada, no escândalo de tráfico de influência no governo e por integrantes de sua família:

Erenice Guerra
Servidora de carreira da Eletronorte, subsidiária da Eletrobras
Foi também assessora do governo do Distrito Federal (GDF), chefe de gabinete da Secretaria de Segurança Pública e gerente-geral do Metrô do Distrito Federal
Foi ainda assessora da Liderança do PT na Câmara dos Deputados
Consultora jurídica do Ministério das Minas e Energia (MME) Conselheira da Eletronorte Conselheira da Eletrobras e do BNDES

Israel Guerra (filho)
Acusado de cobrar propina de empresas interessadas em contratos com o governo, foi gerente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac)
Foi também assessor da Companhia Imobiliária do Distrito Federal (Terracap), vinculada ao governo do Distrito Federal, cargo do qual foi demitido só na semana passada, já no meio do escândalo que derrubou também sua mãe da Casa Civil

Antônio Eudacy (irmão)
Funcionário da Controladoria Geral da União (CGU)
Assessor jurídico da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero)

José Roberto Campos (marido)
Prestador de serviços à Eletronorte
É acusado de lobby para empresas na área de energia e telefonia

José Euricélio (irmão)
Funcionário da Secretaria de Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades
Coordenador de projetos na Editora da Universidade de Brasília (UnB). Tocou projeto que está sob suspeita de desvio de recursos
Assessor da Secretaria de Governo do GDF
Assessor da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), vinculada ao GDF

Maria Euriza (irmã)
Assessora do Ministério do Planejamento
Consultora jurídica da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao MME

Gabriela Pazzini (ex-cunhada)
Assessora da Secretaria do Patrimônio da União (SPU)

Erenice mantém cargos em estatais

DEU EM O GLOBO

Mesmo afastada da Casa Civil, ex-ministra ainda integra conselhos consultivos do BNDES e da Eletrobras

Maria Lima

BRASÍLIA. Derrubada pelo escândalo de corrupção e suposto propinoduto instalado na Casa Civil, a ex-ministra Erenice Guerra continua como integrante dos conselhos de administração de duas importantes estatais: BNDES e Eletrobras. No caso da Eletrobras, onde a ex-ministra recebe R$ 5.122 mensais para participar de uma reunião a cada três meses, depende da União, a acionista majoritária, tomar a decisão e dar início ao processo burocrático para efetivar a substituição.

Até ontem à noite, a Casa Civil não havia se posicionado sobre a decisão de pedir ou não a substituição de Erenice Guerra no Conselho de Administração da Eletrobras.

No Conselho do BNDES, onde ela recebe R$ 33.934 mil por ano, já há a decisão de afastá-la imediata e automaticamente, só faltando agora a formalização.

Segundo a assessoria da Eletrobras, a substituição não é automática como no BNDES. Cabe à União tomar a decisão de convocar uma assembleia de acionistas, comunicar a troca de conselheiros à Bolsa de Valores, publicar essa convocação 15 dias antes e só então efetivar a indicação do novo conselheiro.

Como Erenice Guerra participa do Conselho representando a Casa Civil, caberá ao órgão providenciar a retirada da ex-ministra do Conselho.

O governo poderia, se assim desejasse, mantê-la como conselheira de estatais. Como fez com o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau, que mesmo derrubado do governo pelo envolvimento no escândalo de propina apurado pela Operação Navalha, em 2007, continua no Conselho da Petrobras.

Rondeau é apadrinhado político do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

No estatuto da Eletrobras, os requisitos para integrar o conselho incluem: integridade pessoal; ausência de conflitos de interesses; alinhamento com os valores da Companhia e conhecimento das melhores práticas de governança corporativa.

No Conselho do BNDES, as regras são claras: para integrá-lo, o conselheiro precisa ser representante oficial do governo, dos trabalhadores, do patronato e da sociedade civil. Como Erenice não está mais no governo, a decisão de afastá-la já está tomada.

Ela não poderá mais participar de reuniões ou receber remuneração. Só depende agora de um ato formal do ministro de Indústria e Comércio, Miguel Jorge, que está fora do país, para iniciar o processo de troca.

Dilma Rousseff quando deixou o governo para se candidatar à Presidência teve de sair dos conselhos que integrava.

Gastos crescem perto das eleições

DEU EM O GLOBO

Governo decide liberar R$ 1,7 bilhão para cobrir as despesas

Confiante de que a economia vai se manter aquecida e a arrecadação de impostos continuará crescendo, o governo decidiu abrir a torneira de gastos, desta vez em R$ 1,7 bilhão, a duas semanas das eleições. Em julho, já tinha feito liberação extra de R$ 2,5 bilhões. No primeiro semestre, no entanto, a disposição era diferente e o governo chegou a segurar quase R$ 32 bi. Para equilibrar as contas, o governo vem tornando algumas medidas, como a antecipação do pagamento de dividendos de estatais para reforçar o caixa do Tesouro. É uma das formas encontradas para fazer frente ao aumento de investimentos públicos (por meio do PAC, principalmente) e de gastos correntes.

Torneira aberta para gastos

Governo revê arrecadação e permite novas despesas, agora de R$ 1,7 bi


Martha Beck

BRASÍLIA - Convencido de que a economia vai se manter aquecida, o governo aumentou sua projeção de crescimento para 2010 de 6,5% para 7,2% e, mais uma vez, abriu a torneira para gastos, desta vez em R$ 1,7 bilhão. Segundo o relatório de avaliação orçamentária do quarto bimestre do ano, divulgado ontem pelo Ministério do Planejamento, a equipe econômica espera fechar o ano com uma arrecadação acima do esperado, o que dá maior margem para fazer despesas.

Somente com o pagamento de dividendos das estatais, a União espera receber R$ 19,11 bilhões em 2010. Esse montante representa uma alta de R$ 3 bilhões em relação à estimativa que havia sido feita no terceiro bimestre.

O governo está fazendo mais do mesmo.

Não há nenhum sinal de controle de gasto nem de aumento da qualidade da arrecadação.

Você está elevando as receitas com base principalmente na antecipação de dividendos das estatais, o que não é algo duradouro. Já as despesas com pessoal e encargos se mantêm elevadas afirmou o especialista em contas públicas Raul Velloso. A liberação de R$ 1,7 bilhão para gastos não representa um valor significativo, mas sinaliza que a corda do gasto está solta.

Os técnicos da Fazenda têm buscado antecipar dividendos das estatais para conseguir fechar suas contas. Até agosto, esses dividendos chegaram a R$ 9,9 bilhões. Como os investimentos públicos, especialmente os do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), estão em alta, assim como as despesas correntes, o cobertor para cumprir a meta de superávit primário, de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), ficou curto. Em termos nominais, essa meta foi elevada ontem em R$ 206,8 milhões devido à revisão do crescimento da economia.

Inflação ficará em 5,1% e PIB avançará até 7,8%

Em julho, o governo já havia liberado R$ 2,5 bilhões para gastos. No primeiro semestre, temeroso da ocorrência de um quadro de superaquecimento, o governo promoveu dois contingenciamentos: um de R$ 21,8 bilhões e outro de R$ 10 bilhões, em maio. Na época, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a ideia era jogar um pouco de água na fervura e impedir que todo o controle da inflação fosse feito pelo Banco Central (BC), que já havia retomado a trajetória de aumento dos juros, em abril.

O relatório do Planejamento prevê que a inflação medida pelo IPCA feche o ano em 5,1%, acima do centro da meta do ano de 4,5% , mas abaixo da projeção que havia sido feita pela equipe econômica no terceiro bimestre, de 5,2%.

Já a taxa de câmbio permaneceu estável, com a cotação do dólar passando de R$ 1,80 para R$ 1,78, em linha com a apreciação global e no mercado interno da moeda americana.

Com pessoal e encargos sociais, R$ 98 bi a mais

A revisão da projeção de crescimento do ano contida no relatório ainda é modesta em relação às simulações feitas pela equipe econômica.

Diante do aumento de 1,2% no PIB do segundo trimestre em relação aos três meses anteriores, os técnicos do Ministério da Fazenda sabem que a expansão de 7% no ano já está assegurada. Isso significa que mesmo que a economia não cresça nada no segundo semestre, esse percentual será atingido. Mas não é esse o quadro que se desenha. A economia continua aquecida.

As projeções da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda traçam uma série de cenários para o PIB do ano. Entre eles, se a economia crescer, em média, 0,5% no terceiro e no quarto trimestres, o resultado do ano será uma alta de 7,4%. Já se o comportamento for um crescimento médio de 1% nos dois últimos trimestres do ano, o PIB de 2010 subirá 7,8%.

Na nova revisão orçamentária, a receita líquida da União (que exclui as transferências feitas a estados e municípios e a arrecadação com a contribuição previdenciária) de 2010 ficará R$ 872,1 milhões acima do projetado no terceiro bimestre, atingindo R$ 500,97 bilhões.

Já do lado das despesas, o governo prevê uma redução de R$ 745,2 milhões no déficit da Previdência Social, que deve fechar o ano em R$ 44,95 bilhões. Isso porque o governo espera arrecadar mais com o pagamento de contribuições previdenciárias pelo bom desempenho do mercado de trabalho.

No total, a estimativa de despesas, excluindo as previdenciárias, caiu em R$ 343 milhões. Essa queda nos gastos se explica principalmente pela redução do pagamento de sentenças judiciais e subsídios. Mas quando se observam apenas os gastos com pessoal e encargos sociais, a projeção é de alta de R$ 98,2 bilhões.

O governo confia em fechar suas contas puxando a arrecadação e mantendo o gasto corrente em alta. Isso é empurrar os problemas com a barriga alertou Velloso.

PSDB precisa passar por um processo de renovação, diz Tasso Jereissati

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Silvio Navarro
Enviado Especial a Fortaleza

Um dos poucos nomes da velha guarda da oposição que resiste à "onda vermelha" nas eleições, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), líder nas pesquisas à reeleição, afirma que o PSDB "precisará passar por um processo de renovação" se a vitória de Dilma Rousseff (PT) à Presidência se confirmar. Tasso aponta dificuldade em fazer campanha de oposição "quando a economia vai bem", e diz temer pela "influência despudorada" de Lula nas campanhas.

"Se o Senado não tiver oposição, resistência, a democracia e as instituições correm sério risco." Isolado num Estado onde Dilma e o atual governador, Cid Gomes (PSB), deverão obter índices acachapantes nas urnas, segundo pesquisas, o tucano retomou no interior o antigo jingle do "galeguinho dos zóio [sic] azul".

De acordo com os últimos levantamentos do Datafolha, Tasso lidera a corrida ao Senado com 52% das intenções de voto, seguido pelo deputado federal Eunício Oliveira (PMDB, com 31%) e pelo ex-ministro da Previdência José Pimentel (PT, com 27%).

Ele falou com a Folha no seu escritório, em Fortaleza (CE), na última quinta. Leia trechos da entrevista.


Folha - Esta é a sua eleição mais difícil?

Tasso Jereissati - É dificílima, porque tem um ponto que não se pode negar: fazer campanha de oposição quando a economia vai bem é difícil. Segundo, porque praticamente a política acabou no Brasil, os partidos estão se liquidando em função do processo de cooptação que agora se institucionalizou e passou a ser a regra.

O senhor ficou isolado no Ceará?

Todos os partidos ficaram de um lado só, com o objetivo claro de derrotar a força política que havia aqui.

Mas o senhor sempre teve aliados aqui. O que ocorreu?

Antigos amigos se juntaram a adversários e fizeram um trabalho bem feito.

Esses antigos aliados estão hoje com os candidatos do presidente.

O envolvimento pessoal do presidente é uma coisa que, com a força e o simbolismo do cargo, é muito importante para a população, principalmente a mais humilde. Quando ele perde todo o pudor e vira garoto-propaganda, entra diariamente na campanha se colocando como principal militante, isso é uma coisa forte, não se pode deixar de reconhecer.Mas, depois de jogar por terra os partidos, estão jogando por terra o respeito pela figura do presidente independente. Ele usa a Presidência para agir eleitoralmente.

Mas isso é apoio aos aliados...

Aqui, na campanha do Senado, eles não aparecem, é só o Lula. Nos Estados, todos os candidatos ao governo têm Lula ao lado. É uma mistura de vitória do populismo com aparelhamento fascista da máquina, usada de maneira despudorada, com recursos ilimitados. O adversário é visto por essa máquina como um inimigo a ser aniquilado. Sem a figura do Lula, essa massa se dissolveria.

E a liderança da Dilma nas pesquisas?

Ninguém é Dilma, não conheço ninguém que seja Dilma. Todo mundo vai votar na candidata do Lula.

As pesquisas apontam o crescimento do governo no Senado, como o senhor vê isso?

Se o Senado não tiver oposição, resistência, a democracia e as instituições correm sério risco.

Se Serra não vencer, a oposição precisará se reestruturar?

Não só oposição. Os partidos do governo também, porque formam uma massa disforme. O que há de comum entre José Dirceu, Dilma, Temer, Collor, Renan, Sarney e Maluf? Não há nada de ideológico. O que os une é a troca de vantagens no poder. É uma intensa busca por diretoria "fura-poço".

O senhor acredita que haverá segundo turno?

Numa eleição normal, um escândalo como o da Erenice [Guerra] causaria um tremor sem precedentes. O presidente e a candidata Dilma passaram toda a campanha dizendo que a Casa Civil era o coração do governo. Disseram que a Erenice era o alter ego da Dilma. Ou seja, é a corrupção no coração do governo. Só que ocorre uma coisa perigosíssima: banalizou-se o escândalo da corrupção. Então, não dá para prever.

O que o senhor espera de um eventual governo Dilma?

Não tenho dúvida de que será um desastre.

O senhor vai ser oposição no Ceará e no plano nacional?

Eu vou ser, alguém vai ter que dizer o que acontece. Anuncia-se coisa que não existe com facilidade, mente-se com facilidade espantosa.

Como o senhor avalia o futuro do PSDB?

O PSDB tem que se reorganizar. Acho que ainda sairá forte porque tem alguma homogeneidade. Sairá forte em São Paulo, Minas, no Paraná. Mas, do ponto de vista geral, precisará passar por um processo de renovação, não tenho a menor dúvida.

PSDB pede investigação sobre uso de TV estatal na campanha de Dilma

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Gabriela Guerreiro

DE BRASÍLIA - O PSDB vai pedir que o Ministério Público Eleitoral investigue o uso de funcionários públicos e equipamentos de TV oficial do governo para filmar comícios da candidata Dilma Rousseff (PT) que tenham a participação de Luiz Inácio Lula da Silva. Advogados do PSDB elaboram representação que será encaminhada até amanhã à PGR (Procuradoria Geral da República) com o pedido de investigações.

"Aparentemente, há indícios de que isso [uso da máquina pública] esteja acontecendo. Mas é preciso apresentar provas, por isso o Ministério Público Eleitoral tem melhores meios para investigar que os partidos", disse o advogado do PSDB, Eduardo Alckmin.

Reportagem publicada nesta segunda-feira pela Folha mostra que há, no governo, ordem para que cinegrafistas e auxiliares da NBR gravem todos os discursos do presidente nos eventos da campanha eleitoral. A TV NBR é o canal da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) que noticia atos e políticas do governo.

A direção da TV estatal determinou que esses servidores, antes de iniciarem as filmagens, tenham o cuidado de retirar os sinais de identificação da emissora estatal --a camiseta ou colete, a canopla (peça que tem a logomarca) do microfone e o adesivo colado na câmera. A legislação veda o uso eleitoral da máquina pública.

A determinação fere também o estatuto da NBR. Cabe à emissora divulgar somente os atos institucionais do Executivo, o que inclui os ministérios, com prioridade para a Presidência da República.

CRÍTICAS

Para o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), a emissora terá que se explicar junto ao Ministério Público Eleitoral por usar servidores e a estrutura da máquina pública na campanha petista.

"Cabe investigação por uso da máquina pública e improbidade administrativa. A evidência exige um posicionamento da Justiça Eleitoral. Já temos um rosário de representações contra a campanha da Dilma, essa será mais uma."

O líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC), disse que o partido vai apoiar a representação dos tucanos. "A única PPP [parceria público-privada] que funciona é essa deles, do governo como pessoa física com candidatos do PT e a máquina governamental. É uma prática criminosa normal deles."

Dilma critica reportagem da Folha

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Fábia Prates

DO RIO - Em entrevista no Rio de Janeiro, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, criticou reportagem publicada na edição de hoje da Folha que mostra que, segundo auditorias do Tribunal de Contas do RS, ela favoreceu uma empresa quando esteve à frente da Secretaria de Energia do Rio Grande do Sul e da Fundação de Economia e Estatística (FEE).

Segundo a reportagem, auditorias do TCE feitas entre 1991 e 2002 apontam favorecimento a uma empresa gaúcha que hoje recebe R$ 5 milhões da Presidência.

"Quero fazer um protesto veemente contra a parcialidade do jornal Folha de S. Paulo. Todas as minhas contas foram aprovadas, mas essa informação relevante não está na matéria", rebateu a candidata petista.

Em 1992, os auditores constataram que a fundação presidida por Dilma favoreceu a Meta Instituto de Pesquisas, segundo eles criada seis meses antes para vencer um contrato de R$ 1,8 milhão (valor corrigido). A empresa gaúcha foi a única a participar da concorrência devido à complexidade e falta de publicidade do edital. Ela foi contratada para uma espécie de censo econômico nos domícilios gaúchos.

Segundo a auditoria, a negociação entre a empresa e o órgão do governo foi sigilosa e nem sequer constou em ata os termos negociados:

"Conclui-se que as irregularidades cometidas no decorrer do procedimento licitatório vieram a favorecer a empresa Meta", diz o parecer.

Após ganhar outros negócios no governo gaúcho, a Meta prestou serviços ao PT, à Fundação Perseu Abramo, ligada ao partido, e obteve contratos mais vultuosos na esfera federal --via Ministério do Desenvolvimento Social e Ministério da Justiça.

Em 2008, a Meta conseguiu seu melhor contrato: foi vencedora de uma concorrência de R$ 5 milhões da Secretaria de Comunicação da Presidência para fazer pesquisa sobre a aprovação e o alcance de programas sociais do governo, hoje bandeiras da campanha de Dilma: PAC, Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida.

Acionado por uma concorrente, o Tribunal de Contas da União chegou a suspender o contrato, liberado em 2009. A suspeita foi de direcionamento do edital. A Secom foi advertida, e o contrato foi proibido de ser aditado por mais de 24 meses.

A reportagem publicada ouviu a assessoria de Dilma, que afirmou que "todas as contas foram aprovadas pelo TCE-RS".

Nota da Redação: A informação de que as contas de Dilma Rousseff foram aprovadas pelo TCE do Rio Grande do Sul consta da reportagem criticada pela candidata do PT à Presidência.

Jarbas usa denúncias na Casa Civil para atacar Dilma

AGÊNCIA ESTADO

Angela Lacerda

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), candidato ao governo de Pernambuco, utilizou hoje o horário gratuito da propaganda eleitoral para levantar dúvidas quanto à capacidade da candidata petista Dilma Rousseff presidir o País. "Dá para acreditar numa candidata que deixou os assessores transformarem o Palácio do Planalto num escritório de recebimento de propina?", indagou. "Dá para deixar o Brasil, a sua vida, a vida dos seus filhos, nas mãos de uma candidata que não sabe, ou finge que não sabe, os crimes e irregularidades cometidos por assessores?"

Em tom incisivo, o candidato afirma que "esse dinheiro que enche as gavetas do Palácio do Planalto é dinheiro dos impostos que todos nós pagamos". Sua fala se seguiu à de um locutor lembrando que "nos últimos dias os brasileiros estão acompanhando a nova série de graves denúncias que culminaram com a demissão de Erenice Guerra, que era a principal assessora e sucedeu Dilma Rousseff na Casa Civil, o ministério que funciona ao lado do gabinete do presidente Lula".

Agora, continua o locutor, "a imprensa afirma que o filho da assessora de Dilma e ex-ministra negociava comissões para a compra de medicamentos em pleno Palácio do Planalto".

"Não acredito que política é isso que Dilma e os aliados dela fazem", afirma Jarbas. "Política não é reunião de espertos que enche as próprias gavetas com dinheiro de propina, gente que recebe dinheiro até para liberar remédio", diz o candidato que, de acordo com as pesquisas, deve ser derrotado no primeiro turno pelo governador Eduardo Campos (PSB).

Ele finaliza seu depoimento ao destacar que o tucano José Serra, candidato à Presidência da República pelo PSDB, já foi deputado e senador, secretário e ministro, prefeito e governador e "nunca teve um assessor envolvido em escândalos".

(VEJA O ITEM ABAIXO (GUIA ELEITORAL)

Para Marina, faltaram medidas 'preventivas' na Casa Civil

AGÊNCIA ESTADO

Candidata do PV afirma que problemas se repetem no governo

Monica Bernardes

RECIFE - A candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, voltou a criticar nesta segunda, 20, em Recife, o recente escândalo envolvendo a ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra e assessores - sobre supostas denúncias de tráfico de influência e cobrança de propinas.

Apesar disso, ela se esquivou ao ser questionada sobre o convite feito pelo senador Alvaro Dias (PSDB/PR) para que a petista e também presidenciável, Dilma Rousseff, compareça para prestar esclarecimentos sobre o episódio na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

"Isso (denúncia) precisa ser esclarecido institucionalmente, a ministra Dilma assumiu a Casa Civil a partir de uma grave crise, instalada após o caso grave envolvendo o mensalão", disse. "Naquele momento era fundamental ter tomado medidas profiláticas para que isso não voltasse a acontecer, é essa a explicação que precisa ser dada porque, ao que parece, nada foi feito e os problemas se repetem", acrescentou.

Ainda segundo a candidata do PV, a "inexistência de medidas preventivas" por parte do governo federal foi motivada pelos acordos com partidos aliados. "As pessoas só querem ligar seus nomes aos acertos e não aos erros". "A atitude correta é você reconhecer os ganhos, mas ter atitude de confrontar os erros, mesmo que isso incomode quem está na base aliada", disse Marina, acrescentando que "isso é cuidar adequadamente da gestão pública". Para Marina, a investigação do caso deve contar com a participação da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e o Tribunal de Contas da União.

Debate

Marina, que foi ao Recife para participar, hoje à noite, de um debate promovido por uma rede de televisão local, com foco nas propostas dos candidatos para o Nordeste, participou, à tarde, de uma caminhada pelas principais ruas do centro comercial da cidade. Durante pouco mais de uma hora, a candidata acenou para a população, abraçou e apertou a mão de algumas pessoas que acompanhavam a comitiva.

Animada com a receptividade, a candidata chegou a avaliar como "equivocados" os números das pesquisas eleitorais - nas quais ocupa o terceiro lugar. "O que eu vejo nas ruas é um movimento muito forte para me levar para o segundo turno, e tenho certeza de que no dia da eleição o Brasil terá uma grande surpresa", avaliou. "O que existe nas ruas é muito maior do que o que aparece nas pesquisas", acrescentou.

Convite para Dilma depor fica para depois da eleição

AGÊNCIA ESTADO

Andrea Jubé Vianna

O líder do PSDB em exercício no Senado, Alvaro Dias (PR), formalizou à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) o convite para que a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, preste esclarecimentos sobre as novas denúncias de distribuição de propina na Casa Civil. Mas o requerimento não será apreciado antes das eleições por falta de quórum na comissão.

O presidente da CCJ, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), afirmou que o requerimento do tucano dificilmente será apreciado antes da eleição porque não haverá quórum no colegiado. Ele lembrou que será difícil convocar uma reunião durante o recesso branco da Casa, já que os senadores estão dedicados às eleições. Ontem, Dilma declarou que não aceita convite de Alvaro Dias "nem para cafezinho" e o acusou de criar "factoides" para tumultuar o pleito.

Alvaro Dias protocolou nova representação à Procuradoria Geral da República (PGR) em que pede a investigação das novas denúncias veiculadas pela revista Veja de que haveria esquema de distribuição de propina na Casa Civil. Na prática, trata-se de um "adendo" à representação protocolada na semana passada, em que pediu ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que investigasse denúncia de prática de lobby na Casa Civil.

Na peça, a oposição pede que sejam investigados, além de Dilma e Erenice Guerra: Vinícius de Oliveira Castro, ex-assessor da Casa Civil, Stevan Knezevic, servidor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), cedido ao ministério, e o coronel Eduardo Arthur Rodrigues da Silva, ex-diretor de Operações dos Correios.

Segundo a Veja, Vinícius teria recebido, em julho de 2009, propina no valor de R$ 200 mil para não revelar suposta compra superfaturada de Tamiflu - medicamento utilizado no tratamento da influenza A (H1N1), a chamada gripe suína.

Na época, a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra - que deixou o cargo na última quinta-feira - era secretária-executiva da pasta e braço direito de Dilma Rousseff (PT), titular do ministério. Dilma deixou a Casa Civil em abril para se candidatar à Presidência da República.

Difícil de ser funcionário:: João Cabral de Melo Neto

Difícil ser funcionário
Nesta segunda-feira.
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho.

Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas, avenidas,
E outros não-fazeres.

É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores.

Eu nunca suspeitara
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras —
Funcionárias, sem amor.

Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas;
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool.

E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis:
Túmulos para todos
Os tamanhos de meu corpo.

Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança

Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar...
Fazer seu nojo meu...

Carlos, dessa náusea
Como colher a flor?
Eu te telefono, Carlos,
Pedindo conselho.