quinta-feira, 9 de junho de 2011

Opinião – Ricardo Noblat

O governo de Dilma carece de ministros hábeis na articulação política. Quase todos os ministros morrem de medo de ser destratados por ela. São menos ministros e mais serviçais temerosos e obedientes. A Dilma serena é uma invenção da mídia.

Ricardo Noblat, jornalista. Sócios na crise. O Globo, 6/6/2011

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO

Vasco, um campeão está de volta
PMs se unem a bombeiros para pressionar por reajuste
Despedida de companheiro
De olho em 2012, BC sobe juros de novo
Supremo manda soltar Battisti
Conselho pede cassação de Jaqueline Roriz

FOLHA DE S. PAULO

Dilma demitiu Palocci na hora certa, diz Lula
STF decide e italiano Cesare Battisti é solto
BC aumenta taxa básica de juros em 0,25 ponto
Relator do Cade pede veto à fusão Sadia-Perdigão

O ESTADO DE S. PAULO

Dilma nega imobilismo e diz que escolha de Gleisi foi sua
Decisão do Supremo mantém Battisti no Brasil
Relator do Cade rejeita fusão de Sadia e Perdigão
Como previsto, BC eleva juro em 0,25 ponto

VALOR ECONÔMICO

Fusão da Perdigão com a Sadia corre risco no Cade
Gleisi já era a preferida de Dilma
Índios temem conflitos por terras na área de Belo Monte

ESTADO DE MINAS

Começar de novo
Supremo liberta ativista italiano Cesare Battisti
Reforma de Confins exigirá muita paciência
Juro básico sobe para 12,25% ao ano

CORREIO BRAZILIENSE

Economia ajuda Dilma a espantar a crise
Festa para Gleisi, choro para Palocci
Caixa de Pandora: Cassada pela ética
Battisti sai da Papuda
Copom sobe os juros de novo

ZERO HORA (RS)

STF solta Battisti e desagrada à Itália
Metáforas na posse: Trator, iPad e delicadezas
Estado apoia aeroporto com parceria privada

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Dilma busca recomeço
Battisti deixa a prisão por ordem do STF e causa revolta italiana
Juros mais altos

PMs se unem a bombeiros para pressionar por reajuste

Após reunião com o comandante-geral do Corpo de Bombeiros, Sérgio Simões, associações de cabos, soldados e oficiais da PM decidiram apoiar o movimento dos bombeiros, criando uma Frente Unificada das Entidades de Classe da Segurança Pública, com apoio também do Sindicato dos Policiais Civis. A reivindicação, agora de todos, é elevar o piso de R$ 1.190 para R$ 2.900 - R$ 900 acima do reivindicado inicialmente pelos bombeiros. Antes mesmo de oficializada a adesão dos PMs, mais de cem policiais participaram de uma carreata com bombeiros em Cabo Frio. De Campos, reduto eleitoral do ex-governador e deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), bombeiros partiram em caravanas para a invasão do QG na sexta-feira. Ontem, em seu blog, Garotinho acusou o governador Sérgio Cabral de "iniciar o processo de destruição do Corpo de Bombeiros"

A PM entra na briga

Movimento dos bombeiros ganha a adesão dos policiais militares e entidades criam Frente Unificada, para exigir piso de R$2.900

Gustavo Goulart e Vinícius Lisboa

Aonda vermelha desencadeada pelos bombeiros após a invasão do Quartel Central, na sexta-feira passada, ganhou um novo tom: o azul da Polícia Militar, que aderiu ao movimento ontem. Representantes de entidades de classe da segurança pública do Rio se reuniram com o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Sérgio Simões, e apresentaram, além da unificação da pauta de reivindicações das duas corporações, a proposta de elevar o piso salarial para R$2.900. A quantia é R$900 acima do reivindicado anteriormente pelos bombeiros. Antes mesmo de a adesão dos PMs ser oficializada, mais de cem policiais participaram de uma carrreata com bombeiros em Cabo Frio.

À noite, a juíza Ana Paula Monte Figueiredo Pena Barros, da Auditoria da Justiça Militar, negou o relaxamento da prisão de 431 bombeiros que estão presos. O pedido tinha sido feito pela Defensoria Pública. Na decisão, a juíza escreveu que a liberdade dos militares poderia pôr em risco a ordem pública e provocar transtornos aos cidadãos, por causa das manifestações, além de aumentar a certeza da impunidade. Há 439 bombeiros presos, mas apenas 431 são atendidos pela Defensoria Pública.

Após a reunião com o comandante, representantes da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, da Associação dos Oficiais Bombeiros, do Clube de Cabos e Soldados da PM e da Associação de Cabos e Soldados Bombeiros anunciaram a criação da Frente Unificada das Entidades de Classe da Segurança Pública. O Sindicato dos Policiais Civis do Estado apoiará o grupo.

O encontro, no Quartel Central, durou cerca de duas horas. Nilo Guerreiro, presidente da Associação de Cabos e Soldados Bombeiros, explicou que a comissão chegou ao mínimo de R$2.900 com base na média nacional de pisos da PM e do Corpo de Bombeiros. Hoje, o piso dos bombeiros é R$1.198; o dos PMs está em torno de R$1.100.

- Somos militares como os PMs. Os soldos são os mesmos. Não pode haver diferença. Estamos unidos com um mesmo propósito - disse Guerreiro.

O coronel Sérgio Simões disse esperar uma proposta oficial e que haja consenso entre os representantes dos manifestantes, já que existem discrepâncias, segundo ele, entre as reivindicações apresentadas por três bombeiros numa reunião anteontem e as feitas ontem.

Entidades sindicais apoiam militares

A escadaria da Alerj, onde manifestantes estão acampados desde domingo, serviu de palco ontem para o movimento sindical. Apesar de os bombeiros não terem direito a se organizar em sindicatos, representantes da CUT, do Sindicato dos Bancários e da Força Sindical discursaram para os manifestantes. A Força Sindical doou cem colchonetes para eles continuarem acampados. Um ônibus alugado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Asseio, Conservação e Limpeza Urbana levou cerca de 50 estudantes de escolas estaduais de Niterói ao local, que recebeu a visita de outros alunos de colégios públicos e privados.

Militares e alguns civis rasparam o cabelo em plena calçada, escrevendo o número 439 na nuca, numa referência ao total de bombeiros detidos após a invasão do Quartel Central. Um grupo de bombeiros pendurou numa grade um cartaz que pedia "anistia aos 439".

Enquanto os protestos aconteciam fora da Alerj, dentro da Assembleia um grupo de cerca de 50 parentes de bombeiros presos se reunia com defensores públicos, para saber da situação jurídica dos detidos. À tarde, os defensores visitaram o quartel de Charitas, onde estão os presos.

Representante do movimento, o paramédico Paulo Nascimento disse ontem que a prioridade agora é anistia dos 439 bombeiros.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, recebeu ontem um apelo de deputados federais de diferentes estados para intermediar um contato com o governo do estado, para minimizar a crise. Os parlamentares teriam discutido a possibilidade de o movimento se espalhar pelo país. Mais tarde, o Ministério da Justiça informou que Cardozo não prometeu fazer qualquer intermediação.

Os manifestantes levaram o protesto para além das escadarias da Alerj. Uma faixa de SOS foi pendurada por bombeiros no morro em que fica a Igreja Nossa Senhora da Penna.

FONTE: O GLOBO

Despedida de companheiro

Pela segunda vez, teve tom emocionado a despedida de Palocci de um governo petista. A presidente Dilma, com voz embargada, agradeceu ao "querido companheiro" e disse que "um amigo deixa o governo". Gleisi Hoffmann assumiu a Casa Civil rejeitando a alcunha de "trator" que ganhou no Congresso. O PMDB reclamou de não ter side ouvido

Dilma se despede do "amigo" Palocci

Presidente se emociona ao falar do agora ex-ministro na posse de Gleisi na Casa Civil

Chico de Gois e Luiza Damé

Emocionada, a presidente Dilma Rousseff se despediu ontem de Antonio Palocci, um dos coordenadores de sua campanha vitoriosa e que deixou a Casa Civil anteontem, após perder as condições de continuar no cargo diante das suspeitas de tráfico de influência. Na posse da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) no lugar de Palocci, o clima era de lamento, sobretudo por parte de Dilma, que, com voz embargada, agradeceu, "do fundo do coração", o que o ex-colaborador fez por ela e pelo governo.

Palocci foi o responsável pela pior crise enfrentada até agora por Dilma, mas foi aplaudido de pé na cerimônia. A presidente fez questão de chamar o ex-ministro de "querido companheiro" e "amigo". A ministra que tomou posse destacou que a presidente é um exemplo para ela e disse esperar agir da mesma forma que Dilma.

A presidente disse que se sentia triste pela saída de Palocci e enumerou os motivos para lamentar a demissão do ex-ministro: de ordem política, administrativa e pessoal. Ela lembrou que ele, juntamente com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o ex-presidente do PT José Eduardo Dutra foram os responsáveis pela coordenação de sua vitoriosa campanha, e que, em sua opinião, Palocci sabe dialogar.

Numa mensagem à oposição, a quem o governo culpa indiretamente pela queda do ex-todo-poderoso ministro, Dilma observou que o enfrentamento é comum na democracia, mas disse que o governo não ficará paralisado por causa de disputas políticas.

- É do jogo democrático que enfrentemos a oposição, quase sempre ruidosa, nem sempre justa. A pressão e as críticas são da regra democrática. Mas não vão inibir as ações do meu governo. Jamais ficaremos paralisados diante de embates políticos. Sabemos travar o debate e, ao mesmo tempo, governar - discursou Dilma, respondendo aos que acusavam o Planalto de estar paralisado por causa da crise envolvendo Palocci. - Temos promessas a cumprir e vamos cumpri-las. Temos programas a executar e vamos executá-los.

Dilma começou o discurso dizendo estar triste com a saída de Palocci

- Eu estaria mentindo se dissesse que não estou triste. Tenho muitos motivos para lamentar a saída do ministro Antonio Palocci - declarou, lembrando que o ex-colaborador foi um dos artífices de sua vitória e da montagem da coligação que a elegeu. - Suas ideias, sua capacidade de articulação política e sua liderança ajudaram o governo e a mim. Agradeço, do fundo do coração, ao meu amigo Antonio Palocci por tudo o que ele fez pelo governo, por mim e pelo Brasil - discursou, emocionada.

Gleisi: "Quero agir como a presidente"

O Salão Oeste do Planalto foi pequeno para acomodar parlamentares, ministros, empresários e assessores que foram se despedir de Palocci e prestigiar Gleisi. Em algumas rodinhas, parlamentares discutiam o futuro do ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, que tem o cargo ameaçado.

Ao mesmo tempo em que lamentou a saída de Palocci, Dilma afirmou que estava satisfeita com a solução que encontrou para a Casa Civil. A presidente, que chamou a ministra de amiga, sugeriu que sua nova auxiliar se prepare bem porque, segundo Dilma, os compromissos do governo são ousados.

Gleisi foi só elogios à chefe e a Palocci, de quem destacou a capacidade de trabalhar na construção de consensos. Ela lembrou que vai trabalhar com a primeira mulher eleita presidente.

- Quero agir como a presidente, porque ela age da maneira certa, com clareza, razão e sentido público, sempre em defesa do Brasil - disse. - A presidente é um exemplo para mim e para as mulheres do nosso país, e meu objetivo aqui e agora é realizar um trabalho de futuro e de esperança, como o que vem sendo realizado pela presidente Dilma e pelo vice-presidente Michel Temer.

Gleisi deixou claro que sua função será fazer a coordenação, a gestão e o controle dos programas de governo distribuídos pelos diversos ministérios. Ela também lembrou da importância do Congresso, ao qual manifestou "apreço".

- Sou parte da força política do Parlamento. Rendo minha homenagem ao Poder Legislativo como força essencial da democracia - disse. - A exemplo da presidente Dilma, acredito que a política dá sentido à técnica, e a técnica qualifica a política.

O mundo político do Paraná baixou em peso no Planalto para a concorrida posse da substituta de Palocci, inclusive o governador tucano Beto Richa (PSDB), citado pela ministra Gleisi em seu discurso.

Dilma mostrou grande desconforto ao comandar a solenidade de queda do seu ministro mais forte. Entrou no salão com semblante carregado e não foi vista sorrindo na solenidade.

Com os braços pendidos sobre o colo e a cabeça meio reclinada em sinal de resignação, em poucos momentos Dilma foi vista comentando algo com Temer, sentado ao seu lado. Não trocou conversa com o presidente do Senado, José Sarney, outro que estava ao seu lado na cerimônia.

Único integrante do trio que coordenou sua campanha ainda no governo, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, manteve-se durante toda a solenidade em pé atrás do púlpito, perto de Palocci.

No início e no fim do discurso de Palocci, Dilma, Sarney e Temer fizeram questão de se levantar e aplaudi-lo de pé. A maior parte dos afagos, nos discursos, foi para Palocci. E para dar boas-vindas protocolares a Gleisi Hoffmann.

Palocci, na saída, deu um rápida entrevista e disse que vai embora sem mágoa:

- Tudo o que não levo daqui é mágoa. Alegrias? Levo muitas.

FONTE: O GLOBO

Dilma demitiu Palocci na hora certa, diz Lula

O ex-presidente Lula disse ontem que Dilma Rousseff "tem autoridade" e agiu "no momento certo" ao demitir Antonio Palocci da Casa Civil.

Ele, que evitou falar do caso em público, atuou nos bastidores e negociou a demissão com a presidente.

A declaração de Lula contradiz a versão oficial de que Palocci decidiu abrir mão do cargo para proteger Dilma.

Dilma demitiu Palocci no "momento certo", diz Lula

Ex-presidente defende afastamento e escolha de senadora para Casa Civil

Petista tentou primeiro convencer sucessora a manter ministro no cargo, mas depois aprovou sua decisão

Bernardo Mello Franco e Valdo Cruz

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem a demissão do ex-ministro Antonio Palocci, que chefiou a Casa Civil nos primeiros cinco meses do governo Dilma Rousseff. Ele afirmou que Dilma agiu "no momento certo", deixando claro que a decisão de sair do governo não foi de Palocci.

"É sempre triste tirar um companheiro. Eu tive que tirar companheiros, e é um sofrimento muito grande. Mas acho que a presidente tem autoridade e fez no momento certo", disse o petista.

A declaração contraria a versão oficial de que Palocci teria decidido abrir mão do cargo para proteger Dilma.

O ex-ministro entregou carta de renúncia à presidente e disse ontem, no discurso de despedida, que saía para preservar o diálogo do governo com a sociedade.

Sobre a escolha da nova ministra Gleisi Hoffmann, senadora novata do PT paranaense, Lula foi conciso: "Se a companheira Dilma escolheu, está certa."

Dilma levou 23 dias para demitir o aliado desde que a Folha revelou o aumento do seu patrimônio, multiplicado por 20 em quatro anos. Durante as mais de três semanas de agonia, Palocci se recusou a divulgar a lista de clientes que teria atendido como consultor.

Lula quebrou o silêncio sobre o caso ontem à noite, antes de dar palestra remunerada a convidados da fabricante de embalagens Tetrapak, em São Paulo.

Ele evitava declarações à imprensa, mas agiu intensamente nos bastidores e negociou com Dilma os termos da demissão de Palocci.

As conversas de Dilma e Lula ocorreram em duas etapas, no fim de semana e na segunda-feira. A princípio, o ex-presidente avaliava que Dilma deveria tentar manter Palocci caso a Procuradoria-Geral da República arquivasse as denúncias contra ele.

Ele já havia trabalhado por Palocci na semana retrasada, quando foi a Brasília para se reunir com aliados.

No telefonema de segunda-feira, porém, Dilma disse a Lula que não podia mais manter Palocci na sua equipe diante do desgaste que ele estava provocando no seu governo. Lula, então, elogiou a escolha de Gleisi.

A atuação ostensiva do ex-presidente na crise gerou críticas a Dilma pela suposta existência de duplo comando no Palácio do Planalto.

Após as reações, ela pediu ao aliado que se afastasse da capital nesta semana, na qual daria desfecho à crise.

Atendendo a essa estratégia, Lula programou compromissos em outras cidades nos dias finais de Palocci.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Gerência política:: Merval Pereira

Se não houvesse outro motivo, tudo indica que o estilo-trator da nova chefe da Casa Civil seria razão suficiente para que o governo reforce suas relações institucionais, pondo no ministério algum político de mais peso e habilidade de negociação do que os exibidos nestes cinco meses pelo ministro Luiz Sérgio.

Os relatos dos que conviveram com Gleisi Hoffmann no Senado confirmam que ela realmente é "a Dilma da Dilma", sobretudo pela maneira áspera com que interagia com os colegas.

Aquela suavidade de falar esconderia, segundo esses relatos, uma atitude arrogante no trato com a divergência que lembra muito relatos sobre a atuação da própria presidente Dilma quando coordenava a ação dos diversos ministérios na Casa Civil.

Desse ponto de vista, o governo parece que estará bem servido, pois os principais programas estão precisando de quem os gerencie de perto e com energia.

Mas a questão central hoje é de gerência política, sem o que a ampla base partidária continuará travando a ação governamental, paralisando a administração e criando embaraços políticos ao governo.

Mesmo tendo atribuído sua escolha a uma homenagem ao Congresso, a senadora licenciada Gleisi Hoffmann já anunciou que sua tarefa será de gestão interna do governo, na coordenação de diversos programas interministeriais.

Alguns desses grupos terão à frente ninguém menos que o vice-presidente Michel Temer, num sinal de que o governo despertou para a necessidade de incluir mais o PMDB em seu processo decisório.

A desconfiança recíproca é tamanha, porém, que no PMDB se perguntava se o fato de colocar Temer para coordenar um programa de fronteiras significa a vontade da presidente de tê-lo mais dentro do governo ou mais longe de Brasília.

Além do mais, a especialidade do vice não tem a ver com fronteiras físicas, mas com fronteiras políticas.

De fato, o PMDB não está confortável com o aumento de poder petista dentro do governo, já que a substituição de Palocci por Gleisi não foi uma simples troca de petistas, mas o deslocamento para o centro do governo de uma política dos quadros partidários, enquanto Palocci deixou de ser um petista originário da máquina partidária para se tornar com o tempo um representante do lulismo, que dá mais importância ao pragmatismo da manutenção do poder do que às disputas partidárias.

Desse ponto de vista, Palocci era mais flexível na relação com os aliados, especialmente com o PMDB, e menos propenso a lutar pelos interesses petistas imediatos.

Quando entrou em rota de colisão com o vice Michel Temer, ele o fez por pressão da presidente Dilma, que, segundo consta, ficou ouvindo no viva-voz Palocci ameaçar Temer com a demissão de todos os ministros peemedebistas.

Quer dizer, quando deixou de ser o político maneiroso para se transformar num trator, por determinação presidencial, Palocci perdeu a parada política para Temer, que gritou com ele e ameaçou retirar todos os ministros do PMDB do governo em protesto ao tratamento recebido.

Acontece que Temer também tinha vários correligionários ouvindo no viva-voz a discussão, e esse embate em tempo real acabou levando o confronto entre governo e PMDB a um impasse que não era do interesse de ninguém.

Não foi por acaso, portanto, que o PMDB como partido uniu-se na defesa da permanência de Palocci, pois identificava nele um político cordial que dava valor às alianças políticas, em vez de ser um petista ortodoxo, como a nova ministra Gleisi Hoffmann, um quadro petista cuja tarefa prioritária no Senado foi a defesa do governo, sem condicionantes.

Sua indicação corresponde também ao fortalecimento do PT, e não foi à toa que ontem o ex-ministro José Dirceu recebeu ministros e políticos em Brasília, identificado como o canal de influência política fortalecido com o aumento de poder petista no governo.

(Por falar nisso, quanto não estará valendo hoje uma "consultoria" de Dirceu?).

Com o PT fortalecido no Ministério, alas do PMDB tentam emplacar um correligionário nas Relações Institucionais, o que sob Dilma parece mais difícil do que sob Lula, que já colocou no mesmo lugar deputados do PTB (José Mucio e Walfrido Mares Guia) e do PCdoB (Aldo Rabelo).

Houve até quem pensasse que o próprio Michel Temer poderia assumir o cargo, o que seria uma temeridade a pôr em risco a autoridade natural do vice eleito.

Também Nelson Jobim chegou a ser cogitado nas especulações, mas essa seria uma mexida complicada no xadrez político, já que ele está bem entrosado no Ministério da Defesa, uma posição delicada para ser preenchida.

Mas Jobim teria a vantagem de, sendo do PMDB, ter trânsito muito bom tanto na máquina partidária petista - não esquecer que ele teve a ousadia de pôr José Genoino como seu assessor especial - como com a oposição.

Seu maior problema é mesmo no PMDB, onde nunca foi íntimo da cúpula do partido.

O mais provável é que o ministro Luiz Sérgio permaneça no cargo por mais algum tempo, por uma razão singela: a presidente Dilma não quer tirar um ministro que a chamada mídia está criticando, depois de ter tirado seu principal assessor em decorrência de denúncias dessa mesma mídia.

Mas como Luiz Sérgio, um protegido de José Dirceu - outro obstáculo à sua substituição -, é muito fraco para assumir essa coordenação política ampliada pela saída de Palocci, a realidade se imporá com o tempo. A crise continuará até que se ponha na coordenação política um ministro de peso reconhecido por aliados e oposição.

FONTE: O GLOBO

O uso do cachimbo:: Dora Kramer

Qualificada Gleisi Hoffmann já mostrou que é nestes poucos meses de mandato como senadora do PT. Resta saber, e a resposta só o tempo dará, se reúne qualidades suficientes para dar conta da chefia da Casa Civil.

Articulada, petista de quatro costados, defensora da tese de que o mensalão foi um deslize dedicado à causa e, portanto, digno de defesa, a senadora tem sido vista como a marca inicial do efetivo começo do governo Dilma Rousseff, formado por pessoas de sua confiança.

Uma tentativa de sinalizar a tomada de comando, inicialmente prevista para após um ano de governo, quando seriam reavaliadas as indicações feitas pelo antecessor e reformado o ministério.

O desmoronamento de Antonio Palocci conjugado à exposição da desordem reinante na área política do governo resultaram em crise e acabaram antecipando parte das mudanças.

Isso é uma coisa. Outra bem diferente é por isso se chegar à conclusão de que se inicia agora uma nova fase de total renovação em que a presidente toma a si as rédeas e muda tudo.

Essa é a versão que interessa ao governo fazer prosperar, mas não necessariamente é a tradução da realidade.

Dilma desde ontem assumiu a Casa Civil, até então uma cidadela onde Palocci reinava absoluto. Mas, daí a dizer que o governo mudará de forma substancial vai uma boa distância.

Por vários motivos. O principal é que as pessoas não mudam do dia para a noite.

Partindo do princípio de que a ausência de atenção política e o estilo belicoso da presidente resultaram na desarticulação da base, na paralisia administrativa, no encolhimento dos ministros ao temor de agir e desagradar, não é de esperar grandes modificações porque ela continua a mesma.

Nesta semana, no almoço de “conciliação” com o PTB, foi extremamente ríspida com Luiz Sérgio, das Relações Institucionais. Quando Fernando Collor ponderou que a liberação dos documentos oficiais ao público traria constrangimentos a governos recentes, Luiz Sérgio informou que já havia dito isso à presidente e foi cortado. “Que disse o quê! Não disse nada”, reagiu Dilma na frente dos senadores.

Gleisi Hoffmann pode até ajudar, mas vai se deparar com a impossibilidade de acumular atribuições políticas e administrativas na mesma intensidade.

Esse acúmulo configurou-se um equívoco na época de José Dirceu e repetiu-se como erro no breve período Palocci, que, assoberbado, acabou produzindo um passivo enorme de insatisfações entre os partidos aliados.

Também conspira contra a tese da “refundação” ou “reinauguração” o fato de que o desenho permanece inalterado: PT de um lado, PMDB de outro e a tensão entre os dois. A dinâmica do embate permanente não será alterada. É da natureza da aliança.

Agora mesmo os parceiros vivem um momento de especial estresse. Satisfeito com a consolidação pública de sua condição de fiel da balança, o PMDB prefere assistir de camarote ao PT resolver ao seu modo a reorganização da área política.

Para concluir o raciocínio sobre a precipitação de se enxergar mudança profunda no modo petista de governar, temos a evidência de que Lula não se afastou nem se afastará do cenário. Uma porque Dilma não pode prescindir dele e outra porque interessa a ele levar o crédito.

Dilma decidiu contra a opinião de Lula, que defendia a manutenção de Palocci? Difícil crer. Quando precisou demitir Palocci Lula o fez em tempo mais breve que o utilizado pela presidente para chegar à mesma conclusão sobre o prejuízo de ter na Casa Civil um ministro na berlinda.

Primeiro a saber

Segunda-feira, durante a recepção a Hugo Chávez no Palácio do Planalto, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, puxou de lado o ministro Paulo Bernardo e comunicou: “O desfecho tem a ver com você”.

Antes que o ministro, cotado que estava, concluísse ter sido o escolhido para substituir Antonio Palocci, Carvalho completou: “A presidente vai chamar a senadora para a Casa Civil”.

Em seguida, o marido chamou a mulher, Gleisi Hoffmann, de lado e transmitiu a informação.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Indecências, públicas e privadas:: Clóvis Rossi

Indecência 1: é a do setor privado, das empresas que contrataram Antonio Palocci e mantiveram ensurdecedor silêncio durante a agonia do agora ex-ministro, mas sempre consultor.

Nenhuma delas teve a decência de vir a público para dizer algo como: sim, contratamos Palocci porque é um especialista de grande capacidade que nos ajudou muito em nossos negócios. Nenhuma.

Tampouco as entidades empresariais que enchem a boca para falar de "responsabilidade social" moveram os lábios. Só pode dar margem à suspeição de que a contratação de Palocci não se deu pela qualificação dele, mas pelos contatos que tinha -e tem- no poder.

Agora, mais que nunca, portanto, é indispensável conhecer a lista de contratantes de Palocci e, principalmente, dos negócios que fizeram, se fizeram, com o governo federal. Ah, também se contribuíram financeiramente para a campanha de Dilma Rousseff da qual o consultor era o coordenador.

Indecência 2 - A da presidente Dilma Rousseff. Líder que é líder só tem uma de duas atitudes a tomar numa situação do gênero: ou defende ferozmente o auxiliar posto na berlinda, se acredita nele, ou o afasta, ao menos provisoriamente, até que tudo se esclareça.

Dilma não fez nem uma coisa nem a outra. Deixou que o cadáver insepulto de Palocci desfilasse em praça pública até cravar-lhe a estaca de madeira no peito.

Indecência 3 - A do PT, cuja atitude foi ainda pior do que a de Dilma, salvo pouquíssimas exceções. Além de nem defender o acusado nem pedir a sua cabeça ainda brincou de corte borgiana, com punhais brilhando no escuro.

Apesar de serem indecências visíveis a olho nu, aposto que tudo estará rapidamente esquecido. Afinal, estamos no Brasil. Nem a oposição quer, de fato, a lista das contratantes do ex-ministro. Como diz aquela propaganda de seguro: vai que.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Dilma e Palocci, um enigma:: Eliane Cantanhêde

O ato de despedida de Antonio Palocci no governo deixou uma dúvida: por que a presidente Dilma Rousseff passou três semanas sem defender com garra o ministro e ontem, abatida e emocionada, o elogiou calorosamente?

"Eu estaria mentindo se dissesse que não estou triste. Tenho muitos motivos para lamentar a saída de Palocci. Motivos de ordem política, pelo papel que desempenhou na minha campanha; administrativa, pelo papel que tinha e teria no meu governo, e motivo de ordem pessoal, pela amizade que construímos", disse, com voz embargada.

De duas, uma:

1 - Palocci ganhou R$ 20 milhões no ano eleitoral com sua empresa de uma funcionária só, metade deles já como coordenador da transição, mas Dilma acha que isso não tem nada demais. Iniciativa privada é iniciativa privada...

2 - Ou Palocci não ganhou para si, mas sim para o partido, a campanha, a causa, um esquema de poder. Neste caso, Dilma não o condena e é até grata a ele.

É possível que a opinião pública nunca saiba a solução desse enigma de ordem ética. Dilma e Palocci trataram de debitar a crise a "embates políticos" e à oposição, enquanto a nova chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, estendia a mão ao Legislativo. "Não sou trator."

Gleisi é uma mulher muito bonita, mas isso é só um detalhe. Ela é também inteligente, preparada, com experiência em gestão e gosto pela política. Pode ser de grande serventia num governo em busca de personalidade, organicidade e interlocução política -até, ou especialmente, com os próprios aliados.

Mais do que assumir o principal cargo da República depois da Presidência, ela tem o desafio de ser uma boa conselheira e um marco do recomeço do governo Dilma.

Um porém: Gleisi é uma peça importante, mas só uma peça. Quem mexe o tabuleiro é Dilma, o que exige jeito, tática, estratégia e liderança. Ela precisa treinar mais.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Fim de uma crise ou início de outra?:: César Felício

A julgar pelo que Antonio Palocci escreveu em seu livro "Sobre Formigas e Cigarras", a presidente Dilma Rousseff deve um pouco o seu cargo a ele. Na página 47 da obra em que Palocci relata sua versão da passagem pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, o agora ex-ministro conta que conheceu Dilma em um evento na Associação Brasileira para Desenvolvimento das Indústrias de Base (Abdib), durante a campanha eleitoral de 2002. Diz Palocci que Dilma, então secretária de Energia do governo gaúcho de Olívio Dutra, foi convidada por ele para debater a crise do apagão com dirigentes do empresariado, ao lado de Ildo Sauer, Mauricio Tolmasquim e Luiz Pinguelli Rosa.

"No diálogo com os empresários, Dilma logo se impôs e imprimiu ao debate o mesmo tom de objetividade e firmeza que a caracterizaria nos anos seguintes no governo Lula", relatou Palocci, que diz ter sido também o autor de um segundo convite para Dilma. "Na hora de montar a equipe de transição, me lembrei de sua performance e a convidei para integrar o grupo". Finalmente, conclui, afirmando ter dado a dica para Lula: "A obstinação e a firmeza de Dilma na condução dos problemas do setor logo me chamaram a atenção. Ao apresentar o relatório sobre a área ao presidente eleito, sugeri a ele que procurasse conhecê-la antes de escolher seu ministro das Minas e Energia".

A versão de Palocci é surpreendente, já que difere um pouco da divulgada por outras pessoas. Mas mostra que, como coordenador de programa de governo, mentor da "Carta ao Povo Brasileiro" e chefe da equipe de transição, Palocci se sentia poderoso para fazer indicações, de uma maneira que não ocorreu em sua fugaz passagem pela Casa Civil. O contraste entre o Palocci do primeiro mandato de Lula e o que acaba de sair do governo é avassalador.

Flanco de Gleisi é o jogo bruto da política do Paraná

Um dos exemplos dos limites do ex-ministro é a polêmica que cerca a presidência do Banco do Nordeste, há muito tempo nas mãos do PT cearense. O partido costurou um acordo com o governador do Ceará, Cid Gomes, e de Pernambuco, Eduardo Campos, ambos do PSB, para que o cargo continuasse sendo ocupado por um técnico de matriz política. Palocci avalizou a negociação, mas o seu peso foi insuficiente para dobrar a disposição do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de despolitizar a instituição e indicar um nome da área financeira.

Crentes de que estava tudo resolvido, os nordestinos foram surpreendidos no final de abril com a notícia da nomeação do catarinense Miguel Terra Lima para a presidência do banco. Uma violenta reação de toda bancada do Nordeste frustrou a indicação de Mantega, mas ficou claro que o aval de Palocci teve pouco valor.

Ocorreu, neste caso e em outros, o oposto do que se esperava antes do início do governo Dilma: em vez de Palocci influir na seara de outros ministros, sobretudo na economia, foram os demais ministros que bloquearam uma das atividades da Casa Civil, a de coordenar nomeações.

Em seus cinco meses no cargo, Palocci foi um dos ministros da Casa Civil mais fracos de toda a história da Esplanada. Houve gerentes da máquina, como João Leitão de Abreu, no período militar; Clóvis Carvalho, Pedro Parente e a própria Dilma Rousseff, nos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula. Houve coordenadores políticos bastante ativos, como o general Golbery do Couto e Silva e José Dirceu. Houve os que tentaram salvar situações perdidas, como Jorge Bornhausen no governo Fernando Collor, e os que souberam sair de cena para resguardar a imagem presidencial, como Henrique Hargreaves, no governo Itamar. Houve até os que entraram e saíram com pouco ruído, como Ronaldo Costa Couto, no tempo de José Sarney.

Se os fatos falam por si sobre o estremecimento entre o PMDB e o governo, a gestão Palocci não serviu para disciplinar o PT. O corte de recursos orçamentários, ditado pela necessidade de esforço fiscal do governo, esteve longe de colaborar para tal. Tornou-se comum no governo Dilma a peregrinação de deputados, com prefeitos petistas a tiracolo, por gabinetes em Brasília, para arrancar esta ou aquela liberação. No tempo de Lula, as reivindicações petistas eram centralizadas em poucos intermediadores. O relato é feito por consultores de prefeituras petistas que trabalham para viabilizar projetos regionais na esfera federal.

A nomeação de Gleisi Hoffmann tem sido descrita como uma autoafirmação de Dilma frente a seu antecessor. É possível, mas a inédita situação de um casal de ministros em Brasília coloca a ela e ao marido, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, em posição vulnerável. Gleisi é candidatíssima ao governo do Paraná em 2014 e os projetos eleitorais do casal costumam esbarrar com os do senador Roberto Requião (PMDB-PR).

Requião anteontem foi elegante ao comentar a escolha de Gleisi e chegou a defini-la como sua "amiga pessoal". Lembrou que foi sua parceira de coligação, mas omitiu que tanto ele quanto muita gente do PT paranaense trabalharam bastante para que tal parceria não acontecesse, sobretudo o marido da ministra.

Em 2010, ainda quando governador, Requião afirmou em uma reunião do secretariado transmitida pela TV que Bernardo, então ministro do Planejamento, teria insistido para que uma obra que custava R$ 220 milhões saísse por R$ 540 milhões. O petista decidiu processar o governador por danos morais e chamou-o, em entrevistas, de "grande mentiroso". Requião representou no Ministério Público contra o ministro. A representação pode ser lida na página do senador na internet.

O senador é famoso pelo estilo, mas não chega a ser exceção em seu Estado. Gleisi também é adversária do líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias, que também está muito longe da suavidade. Muito se fala da forma dura com que se faz política em São Paulo, a terra de Palocci, mas as intrigas dos tucanos e petistas paulistas não se comparam com o jogo bruto que existe no Paraná.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Palocci como sintoma :: Demétrio Magnoli

Ninguém pediu a revelação de conselhos ou relatórios confidenciais. Antônio Palocci, porém, foi ao Jornal Nacional para dizer que a lista de clientes de seus serviços de consultoria constitui, em si mesma, uma informação ultrassecreta. É bizarro: um dos homens do círculo mais próximo de Lula, ex-ministro da Fazenda, coordenador de campanha de Dilma Rousseff, futuro poderoso ministro à espera de nomeação ganhou milhões de empresas com múltiplas interfaces com o Estado - mas se nega a declinar o nome dos responsáveis por sua fortuna súbita. "Ele foi muito leal com seus clientes", fulminou cruelmente o vice Michel Temer. A lista de Palocci, sugerem as aparências, constitui um artefato capaz de destruir reputações políticas e empresariais numa única explosão. Mas, apesar de tudo, o affaire deveria ser interpretado menos como a própria enfermidade do que como um sintoma.

Palocci irrompeu na paisagem nacional há 15 anos, como prefeito petista de Ribeirão Preto, quando decidiu privatizar a companhia telefônica municipal. O gesto equivalia a cortar com faca um artigo de fé do seu partido - que, à época, demonizava noite e dia o programa de desestatização do governo FHC. Certo ou errado, o alcaide iconoclasta tinha o dever político de introduzir no PT o debate sobre as relações entre mercado e Estado, tentando persuadir o partido a revisar suas convicções. Isso ele nunca fez.

O nome de Palocci elevou-se à constelação de estrelas do lulismo em maio de 2002, na Adega do Leone, restaurante português da recorrente Ribeirão Preto. Ali, num jantar restrito, por sua iniciativa, Lula foi convencido a assinar a Carta ao Povo Brasileiro, pela qual o candidato prometia submeter-se aos paradigmas macroeconômicos oriundos do Plano Real. O documento seria escrito a seis mãos: as duas de Palocci e outras quatro de companheiros ex-trotskistas por ele convocados. Era um programa substituto, que anulava de facto a plataforma aprovada no 4.º Congresso do PT, em Olinda, um ano antes.

Meses depois, alçado por Lula ao Ministério da Fazenda, Palocci cercou-se de uma equipe de economistas de inspiração monetarista, muito mais ortodoxos que os de FHC, convertendo-se num talismã insubstituível da nata empresarial do País. Da prefeitura à Adega e dela à Fazenda, Palocci traçou uma linha reta, desenhando no seu extremo uma seta de norte: a sua política seria formulada do lado de fora do partido, num intercâmbio direto entre o governo e o mercado. Contudo, e isso é crucial, ele jamais rasgaria a sua carteira de filiação ao PT, fonte das conexões pessoais, dos símbolos políticos e das reminiscências históricas indispensáveis ao projeto de poder que persegue.

Não, Palocci não é "o Delúbio de Dilma", como pretende um Ronaldo Caiado seduzido pelo brilho fácil do paralelo falso. O ex-tesoureiro do PT é uma engrenagem mecânica de uma máquina político-partidária. O ex-tesoureiro do Brasil é um visionário político: ele acreditou que a Nação poderia ser governada à margem dos partidos, por um mediador situado entre Lula e as altas finanças. E, desgraçadamente, tinha razão. No verão de 2005, em meio ao tumulto do "mensalão", Gilberto Carvalho, encarnação operativa de Lula, confidenciou ao ministro da Fazenda que ele era o sucessor acalentado pelo presidente.

A cadeira presidencial, reservada para o poderoso ministro, escapou-lhe como decorrência de seus próprios atos desastrados. Palocci deixou a província, mas a província não desencarnou de Palocci. O príncipe embalado por Lula, querubim de uma elite econômica sem nenhum princípio, destruiu o plano sucessório palaciano ao protagonizar uma trama sórdida, um crime de Estado urdido para desmoralizar uma testemunha honesta. No 27 de março de 2006, dia da renúncia, parecia encerrada a longa jornada palocciana em direção ao Planalto.

De fato, não era assim. De acordo com o diagnóstico estratégico de Palocci, o Brasil do lulopetismo é uma imensa República bananeira disfarçada atrás das fachadas de mármore de instituições políticas sem valor. Pela diferença mínima de um voto, o STF deu-lhe razão, rejeitando a mera abertura de processo sobre suas responsabilidades na violação dos direitos básicos de um homem comum. Então, na vereda aberta pelos juízes encarregados de proteger a igualdade perante a lei, guiado por uma bússola política imutável, o aventureiro provinciano retomou sua marcha.

"Um ex-ministro da Fazenda tem alto valor de mercado", explicou candidamente um Palocci já milionário. O sucesso de muitos zeros da firma pessoal de consultoria nada esclarece sobre a sabedoria palocciana no campo da economia, mas diz tudo sobre a natureza de uma elite empresarial incapaz de distinguir a palavra "nação" da palavra "mercado". Os clientes secretos do coordenador da campanha de Dilma talvez tenham obtido vantagens competitivas imediatas, mas apostaram principalmente no mercado futuro. Dez ou vinte milhões não são muito pelo quase certo primeiro-ministro de um governo fraco. É um preço de oportunidade por um provável futuro presidente da República.

"Qualquer João da Silva já teria seus registros devassados pela Receita, Banco Central e Polícia Federal, a requerimento do procurador", exclamou um procurador de Brasília, indignado com a recusa de Roberto Gurgel, procurador-geral da República, de abrir investigações preliminares sobre a parceria público-privada do consultor mais bem pago do País. Gurgel segue o precedente criado pelo STF. Como os juízes do tribunal supremo, o chefe do Ministério Público está dizendo que Palocci não é um João da Silva ou um Francenildo Costa. Que ele está além e acima do alcance da lei.

Palocci tem uma opinião tão ruim sobre o sistema político brasileiro e a elite econômica nacional que acreditou na hipótese de ele se tornar presidente. Mesmo depois de sua demissão, não se provou que ele está errado. Eis aí a enfermidade.

Sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Gerência e política:: Míriam Leitão

A ministra Gleisi Hoffmann demonstrou ontem nos seus discursos que vai tentar manter a tradição de ser uma chefe da Casa Civil que una as duas funções tradicionais do órgão: a articulação política dos grandes temas e a função gerencial. Na definição da presidente Dilma Rousseff nos tempos em que era candidata a Casa Civil é o segundo cargo da governo.

Quando na campanha presidencial era cobrada por não ter experiência administrativa para postular o cargo que estava postulando, Dilma Rousseff sempre dizia que tinha ocupado por cinco anos "o segundo cargo mais importante do governo". Na época, foi até criticada por estar supostamente desconsiderando a função de vice-presidente. Mas no dia a dia o ocupante da Casa Civil seria uma espécie de primeiro-ministro, se fosse parlamentarista, ou um chefe da equipe, no presidencialismo americano (chief of staff).

Com a estudada cortesia com que se despediu no Senado, cumprindo todo o ritual do clube, com referência a todos os líderes e principais senadores, inclusive da oposição, ela está dizendo que quer continuar fazendo uma parte da articulação. Sua frase "estou mudando de instância, mas não de caminho" é também um claro recado da tentativa de dar à Casa Civil essa dupla função, mesmo que o ministro Paulo Bernardo tenha dito que o cargo será de gestão.

Seu currículo político é modesto. Foi assessora de partido, secretária estadual e alguns poucos meses no mandato de senadora. É portanto extremamente novata na política para a dimensão do cargo que vai assumir; mas neste campo está até melhor que Dilma Rousseff, que não tinha exercido mandato algum.

A Casa Civil tem a característica de assumir o formato que lhe quer dar seu ocupante. Pode ser gerencial, como foi na época de Pedro Parente, Clóvis Carvalho e até Dilma Rousseff, ou pode ser o coordenador político do governo, como foi com José Dirceu. Até nos regimes militares houve ocupantes da pasta com extraordinário poder, como Golbery do Couto e Silva, no governo Geisel, e Leitão de Abreu, no governo João Figueiredo.

Gleisi é desconhecida tanto administrativa quanto politicamente. O cargo de diretora financeira que assumiu na Itaipu Binacional foi por indicação política - ela havia trabalhado na equipe de transição e é mulher do ministro Paulo Bernardo, na época no Planejamento. O fato de ser indicação política não a desmerece porque a ministra teve bom desempenho na empresa binacional.

A dúvida que recai sobre ela é que não foi testada, não teve tempo de amadurecer na articulação política, não teve qualquer experiência administrativa federal e assumiu a chefia da Casa Civil num momento de crise. Ela dava sinais de que teria uma carreira meteórica, mas foi catapultada sem ter tempo nem de cumprir as primeiras etapas da ascensão que começava a ter no debate parlamentar. Se a tensão fica menor após a saída de Palocci, continuam as dúvidas sobre várias questões. A crise revelou que o governo Dilma não tem articulação política e está com sua base de 75% dos deputados e 77% dos senadores em conflito direto para saber quem vai de fato ser mais determinante: se o PT ou o PMDB; e dentro de cada partido que ala será mais influente. O governo também não tem a agilidade administrativa que garantiu que teria na campanha. Os projetos do PAC ou do Minha Casa, Minha vida estacionaram; a maquiagem que alguns receberam na campanha para parecerem mais robustos do que de fato eram já se desgastou. O que se vê é um governo que investe pouco e demora a tomar decisões.

O governo desperdiçou sua lua de mel sem ter tocado um único projeto de reforma ou de superação dos obstáculos ao crescimento sustentado. Em 2010, quando o Brasil estava crescendo a 7,5%, era mais fácil superar esses obstáculos; com a queda do nível de atividade, a lentidão do governo está provocando mais estragos. Setores empresariais que sondam o nível de confiança dos seus associados no governo já começam a perceber a queda acentuada do otimismo. Isso pode acabar se transformando em postergação de decisões de investimento.

Os empresários têm questões urgentes para resolver diariamente na confusão tributária do país - que ficou ainda mais incompreensível depois da decisão do Supremo Tribunal Federal contra incentivos estaduais - ou nos gargalos enormes de infraestrutura. O dólar baixo deixa cada vez mais setores expostos à competição de produtos chineses que chegam com a vantagem desleal do câmbio artificialmente desvalorizado. A monumental burocracia torna o ambiente empresarial um campo minado. Tudo isso era assim no ano passado, só que na transição para um ritmo de crescimento menor as dificuldades passaram a ser mais pesadas para as empresas.

Este é um momento decisivo para o governo Dilma Rousseff. Ela tem a chance de aprender com os erros, dar mais agilidade às decisões, estar mais presente nas articulações políticas, ter mais comando sobre a própria administração, afastando o fantasma de um governo sob controle remoto na mão do ex-presidente Lula. Ainda há tempo de pôr o governo nos trilhos, afinal este é apenas o sexto mês do mandato.

FONTE: O GLOBO

A pior ideologia é a incompetência :: José Serra

Parece ter virado rotina. Em época de eleição, nada mais demonizado do que a ideia de privatização de empresas ou serviços públicos. Passadas as eleições, a mesma ideia se torna apreciada pelos mesmos que a satanizaram. Essa é uma especialidade do PT, embora, a meu ver, a citada demonização estivesse longe de explicar os resultados da eleição do ano passado. Mas esse não é nosso assunto de hoje.

Pretendo abordar a questão de outro ângulo, a partir da oportuna reportagem de Renée Pereira, no Estadão, sobre as estradas federais concedidas à gestão privada durante o governo Lula. A matéria ilustra de forma perfeita até que ponto uma política pública pode ser malfeita e se candidatar a estudo de caso em cursos de economia ou administração pública.

Em resumo, foram concedidas sete rodovias federais em outubro de 2007. Ganhou quem ofereceu o menor pedágio e se comprometeu a realizar R$ 5 bilhões em investimentos, num prazo de cinco anos. O que aconteceu desde então?

Os pedágios aumentaram bem acima da inflação, mas o programa de investimentos não foi cumprido. Nos primeiros três anos de concessão, o índice de execução atingiu pouco mais da metade do acordado nos contratos. O governo deixou que isso acontecesse.

Diante das queixas de prefeitos do Paraná a respeito de um trecho de rodovia federal sob concessão, o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o principal órgão federal que cuida das estradas, foi flagrado pelo Jornal Nacional esbravejando: "Se a empresa não duplicar, tira e põe outra... Qualquer coisa, vamos queimar as praças de pedágio, vamos tocar fogo nas coisas, entendeu?"

É assim: o chefe do Dnit, a quem cabe fiscalizar, fazer cumprir leis e contratos nessa área, cuidar da segurança e da qualidade das rodovias, destempera-se como se não tivesse nenhuma responsabilidade sobre o assunto. Não é maravilhoso?

Na verdade, o Dnit, como a quase totalidade dos órgãos e agências do governo, já foi privatizado há muito tempo, e essa é uma das causas do fracasso rodoviário brasileiro. Falo da privatização viciosa, não da virtuosa: sua diretoria é loteada entre partidos, grupos e subgrupos, que põem a instituição a serviço dos seus interesses político-pecuniários, os quais pressupõem não apenas a falta de planejamento e modelos de concessão malfeitos, mas também lassidão no tratamento dos contratados privados.

Enquanto isso, as rodovias federais batem recordes em matéria de acidentes - em 2010, 15,4% de mortes a mais do que em 2009, ano que já tinha batido o mórbido recorde. Do ponto de vista econômico, o mau estado dessas rodovias provoca um aumento médio dos custos de transporte de quase 30%. Aliás, pesquisa da CNT mostrou que apenas 30% das estradas federais têm pavimentação em bom ou ótimo estado. É o barato que sai caro.

O melhor exemplo de concessões rodoviárias bem feitas tem sido o de São Paulo, onde 75% das estradas são consideradas ótimas ou boas e os acidentes por quilômetro de veículo rodado caem ano após ano. Nessas concessões - amaldiçoadas pelos candidatos petistas na última campanha - o investimento por quilômetro/ano associado ao modelo paulista é cerca de 170% superior ao federal. É o caro que sai barato.

Na verdade, o PT não chega a ter um problema ideológico com as privatizações. Fosse assim, poderia aprender alguma coisa e mudar. A questão é mais séria. Eles têm dificuldades para realizar privatizações de sucesso em razão de seu despreparo em matéria de gestão e da maneira como governam. A essência do seu padrão de administração pública é o patrimonialismo - uso do setor público para atender aos que governam e a seus partidos -, mais o talento ilusionista: o que conta é o anúncio, a publicidade, o mundo virtual e o vale-tudo nas eleições. Planejar e servir ao público, e não servir-se do que é público, não fazem parte da cartilha.

Isso tudo está por trás também do colapso dos aeroportos brasileiros. Quando governador de São Paulo, insisti sempre junto ao presidente Lula na necessidade de conceder a gestão dos Aeroportos de Viracopos e Guarulhos ao setor privado. No fim, apesar do apoio do ministro da Defesa, Nelson Jobim, o governo recusou-se a fazê-lo. Anos foram perdidos, os problemas se agravando. A candidata adversária e seu partido houveram por bem até satanizar a proposta durante a campanha eleitoral.

Passadas as eleições, dá-se uma cambalhota e anuncia-se a concessão desses dois aeroportos e do de Brasília, como se o anúncio em si fosse uma panaceia. Entre outras coisas, enfia-se, não se sabe como vai ser, a Infraero, empresa estatal do setor, como sócia minoritária (49%). A Infraero, como os Correios, foi uma das estatais mais castigadas e estragadas pelo governo Lula, passando a ser a detentora da taça nacional de superfaturamento de obras. Por cima, anuncia-se um prazo impossível para o edital de concorrência: até o fim do ano! Isso numa área complexa e na qual não há nenhuma experiência no Brasil. Note-se que depois do edital vem a concorrência. Depois desta, as obras...

Outra modalidade recente de privatização é a que envolve dinheiro público doado à área privada, criando grandes espaços de influência, quando não de manipulação e arrecadação de recursos. Grandes subsídios ao capital privado para compensar projetos mal elaborados (Belo Monte) ou mesmo alucinados (trem-bala), financiamentos do BNDES a esses e outros projetos, a juros equivalentes à metade das taxas de captação de recursos pelo Tesouro. Custo anual, não aprovado em nenhuma lei orçamentária: R$ 20 bilhões ao ano. (Veja-se a esse respeito meu artigo Um Banco Muito Especial em http://www.joseserra.com.br/archives/1132.)

A transformação de recursos públicos em privados no governo petista é rápida e malfeita, tal como no lema da Cavalaria antiga, estilo retratado num filme antigo, A Carga da Brigada Ligeira. Já as concessões e parcerias com o setor privado são lentas e malfeitas, contrariando metade do lema. O pior dos dois mundos.

Ex-prefeito e ex-governador de São Paulo

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Racha no PT atrasa escolha de novo ministro

Luiz Sérgio quer que seu substituto nas Relações Institucionais saia esta semana, mas não há nome de consenso

Maria Lima, Cristiane Jungblut e Regina Alvarez

BRASÍLIA. A intenção da presidente Dilma Rousseff de só efetivar a substituição na Secretaria de Relações Institucionais (SRI) na próxima semana, para ganhar tempo e obter consenso sobre o substituto no rachado PT da Câmara, foi atropelada pelo ministro Luiz Sérgio: sabendo que vai cair, ele não quer esperar. Segundo interlocutores do ministro, o anúncio de sua saída deve acontecer hoje ou amanhã. No encontro que teve com o vice-presidente Michel Temer, anteontem, Dilma disse que não queria que Luiz Sérgio saísse no meio do tiroteio da imprensa, que o coloca como responsável pela crise na articulação política.

Ontem à noite, depois de um encontro com o ministro Guido Mantega (Fazenda), Luiz Sérgio, abordado pela imprensa, fez mistério:

- Há dias de falar e dias de calar. Hoje é dia de calar.

Vaccarezza e Chinaglia disputam ministério

Na Câmara, de onde deve sair o novo ministro, os grupos do PT ainda não se entendem sobre quem será o substituto de Luiz Sérgio. Disputam a vaga o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PMDB-SP), e o ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP). O PT paulista briga para manter algum espaço no Planalto, depois da queda de Antonio Palocci e a escolha da paranaense Gleisi Hoffmann para a chefia da Casa Civil.

Ao longo dos dois últimos dias, o ex-ministro José Dirceu permaneceu em Brasília no comando das negociações, em reuniões com ministros e líderes petistas, em um hotel da capital. O presidente do PT, Rui Falcão, participou de algumas dessas reuniões. Ontem de manhã, o ministro do Desenvolvimento e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, esteve com Dirceu.

Dilma pretendia segurar a substituição de Luiz Sérgio para começar a redesenhar o comando da articulação política no Planalto. Mas sabe que, antes, precisa parar com as brigas no Congresso, não só no PT como também no PMDB. A possibilidade de mudança na gestão da articulação política abriu uma corrida dentro dos partidos. Segundo interlocutores, houve irritação no Planalto com a "fome" do PT pelo cargo.

Apesar dos discursos de apoio à permanência de Luiz Sérgio, a avaliação no Congresso é que ele não tem condições políticas de permanecer. Mas isso não acaba com problemas no PT, que vive divisões na Câmara. Para ministros que estiveram na posse de Gleisi Hoffmann, ficou claro que, a partir de agora, Dilma vai atuar mais nessa área política, inclusive com ajuda mais direta de Temer.

Possíveis substitutos elogiam Luiz Sérgio

Apesar de ter o apoio do grupo de Dirceu e do PMDB, o nome de Vaccarezza só seria aceito pelo grupo que elegeu o presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), se a vaga de líder na Casa fosse aberta para Arlindo Chinaglia (PT-SP).

- A avaliação de Luiz Sérgio começa agora. A atuação de Palocci era muito supervalorizada - disse Rui Falcão, no Palácio do Planalto.

Vaccarezza se apressou em defender Luiz Sérgio:

- A presidente Dilma já mostrou como escolhe os seus ministros, não vi nenhum dos cotados (na mídia) serem indicados ministros. Tenho uma avaliação muito positiva da atuação do ministro Luiz Sérgio. Acho que ele está dando conta.

Chinaglia também defendeu o ministro:

- O Luiz Sérgio deve assumir mais tarefas.

Com receio de novas surpresas, como a de Gleisi, o PMDB também defendeu Luiz Sérgio.

- É mais uma questão de ordenar espaços, porque estava um pouco confuso. Ele (Luiz Sérgio) foi mais vítima do que culpado (dessa situação) - disse o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Ministro vai procurar Cabral para negociar liberdade de bombeiros


Bombeiros presos

Rio - Para ajudar a combater a crise dos bombeiros no Rio e tentar evitar que se amplie para todo o País, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, prometeu ontem, em reunião com deputados federais de 12 partidos, que vai conversar com o governador Sérgio Cabral. Criada ontem, a Frente Unificada das Entidades de Classe de Segurança Pública e Defesa Civil quer se encontrar com o governador para reivindicar piso salarial de R$ 2.900 para bombeiros e PMs.

“Estamos todos preocupados, porque essa crise está tomando uma proporção muito grande. O ministro disse que vai telefonar para o governador e tentar ajudar a mediar o conflito. Um dos assuntos será a libertação dos bombeiros”, disse o deputado federal Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), presente na reunião. À noite, a Justiça negou pedido de relaxamento da prisão dos 439 militares.

A decisão do ministro foi tomada após a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados aprovar a criação de grupo de trabalho para intermediar nas negociações. Delegação da Comissão de Segurança Pública já está no Rio.

De manhã, representante da Frente Unificada, formada por 20 associações, entregará ao comandante do Corpo de Bombeiros, Sérgio Simões, documento pedindo a libertação dos 439 presos e audiência com Cabral, a quem querem apresentar a proposta de reajuste. “A prioridade é a libertação. O coronel Simões se mostrou empenhado para abrirmos canal de negociação salarial com ele”, explicou Nilo Guerreiro, presidente da Associação de Cabos e Soldados do Corpo de Bombeiros.

Em reunião com guarda-vidas presos na noite de terça, Simões já havia dito que o piso de R$ 2 mil, reivindicado anteriormente, é incompatível porque o salário de um militar de alta patente ultrapassaria o teto salarial do estado. “Não faz sentido um coronel ganhar mais que o governador”, explicou o coronel, ressaltando que quer manter o diálogo aberto.

Esperança na mesa de negociações

Os representantes da Frente Unificada não acreditam que a nova proposta de piso, que representa R$ 900 a mais na reivindicação inicial dos bombeiros, prejudique a negociação. “Se o governador der a oportunidade de nos receber, vamos colocar isso na mesa e buscar um consenso”, explicou Nilo Guerreiro.

As associações também apostam que Cabral possa interceder na libertação dos bombeiros, a cargo da Justiça Militar. Além da esfera judicial, todos já respondem a Inquérito Policial-Militar na corporação. A acusação mais grave, de motim, tem pena de 4 a 8 anos de prisão.

Chuva de papel picado para saudar manifestação

Em Niterói, passeata de bombeiros e familiares percorreu 7 km entre a Praia de Icaraí e a estação das barcas. Moradores acenavam com panos vermelhos, jogavam papel picado e aplaudiam, beijavam e abraçavam os militares. O protesto — que pedia libertação dos 439 bombeiros presos — reuniu 400 pessoas e complicou o trânsito.

No 3º GBM (Niterói), a tropa de plantão acionou as sirenes dos carros de socorro, se ajoelhou à porta da unidade com mãos na nuca e cantaram o hino da corporação ao ver a passeata.

Na escadaria da Alerj, o cabo Túlio Anselmo Borges, que invadiu o QG, raspou a cabeça, deixando o número 442 em alusão aos presos mais ele, a mulher e o filho que ela abortou durante o confronto.

PMs trabalham com fita vermelha e policiais civis ensaiam adesão

Mais policiais militares foram vistos ontem com fitas vermelhas na farda e nos veículos, em manifestação de apoio à luta dos bombeiros. Na Praia de Icaraí, Niterói, motocicletas e patrulhas do 12º BPM (Niterói) exibiam as fitas durante manifestação. Em Cabo Frio, PMs do 25º BPM (Cabo Frio) participaram de carreata com 200 pessoas com faixas de protesto e cartazes. O ato durou mais de cinco horas.

Policiais civis também se engajaram na luta dos bombeiros por melhores remunerações e condições de trabalho. Amanhã, em assembleia marcada para o meio-dia, em frente à Alerj, a categoria formalizará apoio ao movimento e detalhar as reivindicações.

“A insatisfação dos PMs e dos policiais civis com a política salarial do governo é a mesma”, observou Fernando Bandeira, presidente do Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol).

Na assembleia, será feito o convite a PMs e bombeiros para uma caminhada domingo, na orla de Copacabana, a partir das 10h. A concentração será na Av. Princesa Isabel. Sexta-feira, às 9h, haverá outra em Duque de Caxias.

FONTE: O DIA

Professores estaduais do Rio também em greve

Adesão já chega a 50%, diz o Sepe

Rio - A secretaria de Estado de Educação (Seeduc) informou, através de nota, que 17 escolas da rede estadual suspenderam as aulas em virtude da paralisação por tempo indeterminado dos professores, que começou nesta quarta-feira. De acordo com a secretaria, apenas 2% dos 51 mil professores estaduais aderiram à greve.

A rede estadual de ensino conta com 1.457 unidades escolares, 1,1 milhão de alunos e 75 mil professores, sendo 51 mil regentes de turma, ainda de acordo com a Seeduc.

A Seeduc informou ainda que "está em permanente contato com as Secretarias de Fazenda e de Planejamento para analisar mais melhorias para a categoria".

Em assembleia que reuniu mais de dois mil profissionais no Clube Municipal, nesta terça-feira, os profissionais de educação das escolas estaduais decidiram entrar em greve por tempo indeterminado.

Na quinta-feira, os profissionais irão se unir aos bombeiros e fazer um ato nas escadarias da Alerj, a partir das 16h, para pressionar os deputados estaduais a intercederem junto ao governo do estado, com objetivo de reabrir as negociações em torno das reivindicações das duas categorias. Na sexta-feira, a partir das 13h, o Sepe, bombeiros e outras categorias do funcionalismo estadual farão uma passeata da Candelária até a Alerj.

No domingo, novamente os profissionais de educação, bombeiros e servidores do estado farão uma passeata na Avenida Atlântica, com concentração a partir das 10h, na esquina da Avenida Princesa Isabel com Avenida Atlântica.

A próxima assembléia da rede estadual será realizada na terça-feira, dia 14, no Clube Municipal na Tijuca. Neste encontro, a categoria irá decidir os rumos da greve.

FONTE: O DIA

Oitentão cheio de bossa

Gênio reconhecido em todo o mundo, João Gilberto faz 80 anos amanhã. Show exibido em vários países vai comemorar a data

Rio - Verdadeira lenda viva da bossa nova, gênio reconhecido e admirado pelos maiores nomes da música no mundo inteiro, João Gilberto completa 80 anos na sexta-feira. Para comemorar a data, estão previstos um show em São Paulo, dia 3 de setembro, no HSBC Brasil, e outro no Rio de Janeiro, dia 10 de setembro, no Vivo Rio, que será exibido ao vivo, via satélite, para salas de cinema do Brasil e de outros países. As últimas apresentações do cantor no País foram dois disputadíssimos shows em 2008.

Nascido em 10 de junho de 1931 em Juazeiro, na Bahia, João Gilberto Prado Pereira de Oliveira foi o terceiro filho do comerciante Joviniano e da dona de casa Patu. Ganhou um violão em 1945 e não parou mais de tocar, mas o sucesso só viria mais de uma década mais tarde. Em 1958, tocou nas faixas ‘Chega de Saudade’ e ‘Outra Vez’, do álbum ‘Canção do Amor Demais’, de Elizeth Cardoso. No mesmo ano, lançou seu próprio disco, um compacto de ‘Chega de Saudade’ que trazia ‘Bim Bom’ do outro lado. Em 1959, gravou o LP ‘Chega de Saudade’. No ano seguinte, foi a vez de ‘O Amor, o Sorriso e a Flor’. Em 1961, saiu ‘João Gilberto’, álbum só com voz e violão. ‘Getz/Gilberto’ (1964), com o saxofonista americano Stan Getz, ganhou quatro Grammy e trazia ‘Garota de Ipanema’ (na voz de sua então mulher, Astrud Gilberto), canção que fez a bossa nova estourar nos Estados Unidos — até hoje, ela é uma das músicas mais tocadas no mundo.

Ele ainda lançaria diversos discos, entre eles o cultuado ‘Amoroso’ (1977), ‘Brasil’ (1981), ao lado de Maria Bethânia, Caetano Veloso e Gilberto Gil, a coletânea ‘João Gilberto — O Mito’ (1988), lançada pela gravadora EMI-Odeon, com a qual briga na Justiça até hoje, e o mais recente, ‘João Gilberto in Tokyo’ (2004), gravado no Japão, onde é idolatrado. Entre os músicos daqui e de outros países, não é diferente. “Depois do meu marido, o homem mais importante da minha vida é João Gilberto”, repete sempre a cantora americana Stacey Kent. “Ele é o meu maior ídolo. Foi por causa dele que eu fui tocar violão. Tentei tocar igual a ele, mas vi que era impossível, então resolvi tocar de outro jeito”, conta Jorge Ben Jor, outro gênio do instrumento no Brasil, que até hoje não conseguiu conhecer o artista.

Moraes Moreira teve mais sorte. Galvão, seu colega no grupo Novos Baianos, era da mesma cidade de João Gilberto, Juazeiro. O cantor tinha acabado de voltar de uma bem-sucedida temporada no exterior, quando Galvão contou que todos os integrantes da banda moravam juntos. “João ficou encantado com a ideia, disse que sempre sonhou fazer um grupo que morasse junto e ficou de visitar a gente. Ficamos todos ouriçados, mas ele não disse quando iria. Um dia, meia-noite, alguém tocou a campainha. O nosso baixista, o Dadi, viu um cara de paletó pelo olho mágico, pensou até que era a polícia, mas era o João”, diverte-se Moraes.

O ídolo ficou amigo do grupo e essa convivência foi fundamental na história dos Novos Baianos. “Ele cantava músicas de Assis Valente, Ari Barroso, Wilson Batista, Herivelto Martins, apresentou um Brasil maravilhoso, a gente até então era meio roqueiro. Um dia, ele mostrou ‘Brasil Pandeiro’ (de Valente), que acabamos gravando. Quando ele cantou: ‘chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor’, entendemos o recado”, diz Moraes, que conta ainda que João inspirou um de seus maiores sucessos, ‘Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira’, do disco de mesmo nome (1979). “Numa madrugada, a gente estava saindo para passear no carro dele, um Opala. Ele viu uma mulata na rua e disse: ‘Olha que bonito, lá vem o Brasil descendo a ladeira’”, recorda.

João corre risco de ser despejado do apartamento onde vive há 15 anos (e pelo qual paga R$ 8 mil ao mês), no Leblon, pois a proprietária desaprova seu comportamento excêntrico. “As pessoas têm uma ideia séria dele, mas ele é brincalhão. Não é de sair, mas se comunica por telefone, do jeito dele”, defende Moraes. Claudia Faissol, mãe da filha mais nova de João, Luísa, de 7 anos, faz coro: “Ele gosta de privacidade, é tímido, diferente. Tem que ter compreensão”, já declarou.