sábado, 3 de setembro de 2011

Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna

"O que admito como estratégia para o PMDB é se converter em uma base segura para o governo Dilma, em que ela confie mais do que em qualquer outra configuração. Não estou dizendo que vai ter êxito, mas a meu ver é o sentido desse movimento. Acho uma política esperta.

A oposição não tem programa. Sempre pode-se dizer que o governo não tem programa, estamos no reino do pragmatismo instrumental. Uma coisa é ser pragmático. Outra é não ter fim algum, é ir tocando."

Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador PUC-Rio. Novo ambiente não permite que Dilma repita Lula. Entrevista em O Estado de S. Paulo, 9/4/2011

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Dilma: para dar aumento ao Judiciário, só tirando do social
PT retoma polêmicas da Era Lula
PIB reafirma perigo da inflação

FOLHA DE S. PAULO
PIB desacelera, mas consumo continua em alta
Odebrecht ganha área de terminal de trem-bala no RJ

O ESTADO DE S. PAULO
PIB desacelera e Mantega diz que juro e imposto podem cair
Para Serra, BC não perde credibilidade
PT quer veto a concessões de rádio e TV a políticos
PT aclama “guerreiro” Dirceu
Pasto domina área desmatada na Amazônia

ESTADO DE MINAS
PIB brasileiro segue a passos de caranguejo
Pepino do reajuste do Judiciário fica para o Congresso
Pane em furnas causa apagão em quatro regiões do país

CORREIO BRAZILIENSE
Teto salarial no serviço público vai a R$ 32,1 mil
Sob a sombra de Dirceu
Consumo segura PIB e comércio abre 131 mil empregos
Candidatura de Brasília à abertura da Copa ganha apoio de 43 dos 81

ZERO HORA (RS)
Ministro propõe mais imposto a bebida e cigarro pela saúde
Campo em paz com a Dilma
Juros e impostos podem baixar

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
R$ 1,98 bilhão para as rodovias estaduais
Planos de saúde ganham tempo
José Dirceu é aclamado de pé pelos petistas

PT retoma polêmicas da Era Lula

Tropa de choque
Dilma defende combate à corrupção em congresso do partido, e ex-presidente não toca no assunto

Em seu congresso aberto ontem, o PT retomou propostas polêmicas do governo Lula que já haviam sido descartadas pela presidente Dilma, como o controle da mídia. O texto a ser votado até domingo acusa a imprensa de integrar uma “conspiração” contra o governo. Os petistas evitam o termo faxina, considerado por eles uma “invenção” da mídia e da oposição, mas prometem apoiar ações contra a corrupção. Em seus discursos, Dilma foi enfática na defesa do combate aos malfeitos, enquanto Lula não tocou no assunto. Chamado de “chefe da quadrilha” do mensalão no STF, José Dirceu foi ovacionado pelos petistas.

PT prega herança de Lula e ataca a mídia

Texto fala em "conspiração" da imprensa contra governo Dilma e critica "faxina", embora apoie combate à corrupção

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Preocupado com as comparações entre os governos Dilma Rousseff e Lula, principalmente nas iniciativas de combate à corrupção, o PT deve aprovar amanhã, no encerramento do IV Congresso Nacional do partido, uma resolução política com uma grande defesa do legado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O texto de 27 páginas e 116 artigos faz duros ataques à mídia. O PT afirma que a oposição, com o apoio de uma "conspiração midiática", tenta "dissolver" a base parlamentar do governo Dilma. E afirma que o termo "faxina" é uma invenção da oposição e da mídia para desestabilizar a base do governo.

Ao mesmo tempo que propõe combater "sem tréguas" a corrupção, o PT critica o que chama de ações de setores da mídia para "esvaziar a política" e "demonizar os partidos".

- Estamos apoiando as medidas de combate à corrupção da presidente Dilma. Portanto, não é a mídia ou a oposição que vai ditar para a gente como isso deve ser feito. Não queremos a demonização da política - frisou o presidente do PT, o deputado estadual Rui Falcão (SP).

Há duas semanas, o PT tinha decidido não impor censura à mídia, mas recuou. A proposta de agora é contrária à do governo Dilma. A presidente Dilma e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, já deram orientação para que os governistas não deixem passar, no projeto de regulação do setor no Congresso Nacional, qualquer referência a "controle" do conteúdo da imprensa. Mas é o que o PT está propondo de novo agora.

Texto deixará de defender o fim do Senado

Apesar de a resolução rejeitar censura ou restrição à liberdade de imprensa, o texto ataca o "jornalismo marrom" de certos veículos "que às vezes chega a práticas ilegais". O texto cobra a regulamentação de artigos da Constituição que tratam da propriedade cruzada de meios de comunicação, e critica a inexistência de uma Lei de Imprensa. Ao mesmo tempo, o PT pede o debate urgente, no Congresso Nacional, do marco regulatório da comunicação social.

Deve ser aprovada uma moção denominada "PT: compromisso com uma agenda estratégica para comunicações no Brasil", com defesa de pontos como a democratização da "distribuição de verbas públicas de publicidade" - além da proibição de concessão e permissão de outorgas de radiodifusão a políticos e de "formas de concentração empresarial, a exemplo da propriedade cruzada, que levem ao abuso do poder econômico".

Em outro trecho, o PT tenta neutralizar o discurso da oposição de que, na gestão de Lula, houve leniência com a corrupção. O documento ressalta que o "governo Lula elegeu desde o primeiro momento o combate implacável à corrupção como uma política pública" e cita o reaparelhamento da PF e a estruturação da Controladoria Geral da União. No PT, há preocupação de que a faxina de Dilma possa ser associada a uma espécie de herança maldita do governo Lula, enfraquecendo o legado dele.

Na sequência, o PT acusa a mídia e a oposição de tentar dissolver a base parlamentar. "A oposição apoiada - ou dirigida - pela conspiração midiática que tentou sem êxito derrubar Lula, apresenta-se agora propondo à presidente Dilma que faça uma "faxina" no governo". E acrescenta: "Esses políticos intentam, dissimuladamente, dissolver a base parlamentar do governo Dilma, a fim de bloquear suas iniciativas e neutralizar seus avanços programáticos".

Numa clara reação às consequências políticas da faxina promovida no governo Dilma, a resolução petista afirma que o partido deve "repelir com firmeza as manobras da mídia conservadora e da oposição de promover uma espécie de criminalização generalizada da conduta da base de sustentação do governo". E classifica de "oportunismo" a "intenção de jogar todos os políticos na vala comum e de criminalizá-los coletivamente".

Segundo Falcão, a resolução ainda deve sofrer alterações, inclusive para reconhecer como positiva a redução de 0,5% da Taxa Selic decidida pelo Banco Central. O texto provisório cobrava até ontem "medidas mais ousadas" para a questão dos juros e do câmbio.

- Vamos aplaudir a decisão que resultou na queda da taxa de juros - disse Falcão.

Outra questão do documento é a defesa de fontes de recursos para financiar a Saúde, por causa da extinção da CPMF. Mas o artigo que defendia o fim do Senado foi suprimido na versão apresentada ontem para os integrantes do diretório nacional do PT.

Pivô do mensalão, em 2005, o PT faz uma defesa do financiamento público de campanha. O texto ainda apresenta uma justificativa para o episódio do mensalão: "Nas duas experiências do governo Lula, o PT viveu todas as contradições, riscos e desafios do chamado presidencialismo de coalizão, herdado da transição conservadora, através do qual o presidente eleito por voto majoritário não tem formado uma maioria no Congresso Nacional para governar".

FONTE: O GLOBO

PT aclama “guerreiro” Dirceu

A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula aparecem na abertura do Congresso do PT, mas o mais ovacionado foi o deputado cassado José Dirceu, aplaudido de pé pelos militantes e chamado, aos gritos, de "guerreiro do povo brasileiro".

Dirceu e Delúbio recebem "homenagem" no evento

BRASÍLIA - A abertura do 4.º Congresso do PT, na noite de ontem, foi um desagravo ao ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. Réu no processo do mensalão, ele foi ovacionado pela plateia aos gritos de "Dirceu, guerreiro do povo brasileiro" e recebeu o apoio da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula.

A festa também marcou a reestreia do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares - reintegrado ao partido há cinco meses - nos encontros do partido.

Lula disse que ninguém havia pedido a ele que subscrevesse uma moção de solidariedade a Dirceu, conforme foi publicado. "Mas já que falaram, agora você tem o meu aval", comentou o ex-presidente. Dilma também dirigiu um afago a Dirceu. "Quero saudar os ex-presidentes do PT aqui presentes e cumprimento todos eles em nome do companheiro Dirceu", disse ela.

A homenagem a Dirceu ocorreu depois que ele foi citado por reportagem da revista Veja como chefe de uma "conspiração" contra o governo Dilma Rousseff. A revista publicou fotos de deputados, senadores e até de um ministro (Fernando Pimentel, do Desenvolvimento), que se encontraram com Dirceu em junho, antes e depois da queda do então titular da Casa Civil, Antonio Palocci. Dirceu acusou um repórter da revista de tentar invadir o seu apartamento no hotel onde um circuito interno registrou os encontros. A revista nega.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Arthur Henrique, foi quem primeiro puxou o coro dos defensores do ex-chefe da Casa Civil. "Quero propor aqui uma moção de repúdio ao crime cometido por uma certa revista contra Dirceu", afirmou Henrique, muito aplaudido.

Diante de uma plateia composta por 1.350 delegados, Dirceu não discursou, mas sorriu várias vezes e acenou para os companheiros. À saída, tirou fotos com petistas. Delúbio, também réu no mensalão, ficou na plateia e não parava de cumprimentar correligionários.

Muitos petistas ficaram fora do salão onde Dilma e Lula discursaram. Na lista estava até mesmo o chefe de gabinete de Dilma, Giles Azevedo. "Abram, abram!", gritavam. Depois de quinze minutos, a segurança da Presidência deixou os barrados entrarem. "A solidariedade e a força dessa militância tem a ver com a certeza de um partido democrático, onde a participação é um valor", afirmou Dilma.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Para Temer, Dilma está 'cada vez mais' próxima do PMDB

Lucas de Abreu Maia

O vice-presidente Michel Temer evita se comprometer com uma aliança PT-PMDB para 2014. Em entrevista à Rádio Estadão ESPN ontem, Temer afirmou que a manutenção da aliança que elegeu Dilma Rousseff é "a tendência natural", mas que "é muito cedo para falar". "Se mantiver essa equação, muito bem. Mas é muito cedo para tratar desse assunto", disse, quando questionado se o PMDB teria candidato próprio à Presidência.

Para Temer, Dilma tem se aproximado "cada vez mais" do PMDB, "na convicção de que no governo de coalizão os partidos têm de participar ativamente (do governo)". Segundo ele, a estratégia da presidente - de fortalecer a articulação política com a base desde o fim da "faxina" que derrubou quatro ministros - tem sido de "grande sucesso". Ele destacou a dependência do Planalto dos aliados: "Você não governa só com o Executivo. O Executivo depende do Congresso, e, no particular, da base aliada".

Temer negou que o PMDB esteja insatisfeito com o espaço ocupado no governo. "No governo de coalizão, em que o PMDB tem praticamente o mesmo tamanho do PT, há sempre o desejo de aumentar a participação. Mas este aumento jamais é exigido; é convocado."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PIB reafirma perigo da inflação

A economia brasileira cresceu 0,8% no segundo trimestre em relação ao período de janeiro a março deste ano. O resultado ficou dentro das previsões. Em relação ao mesmo período de 2010, a expansão foi de 3,1%. O crescimento foi puxado principalmente por consumo das famílias e setor de serviços, com destaque para telefonia celular. A indústria ficou estagnada. Segundo analistas, o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos no país) mostra que ainda há pressões inflacionárias e, por isso, criticaram o corte de 0,5 nos juros.

Desindustrialização fica visível com PIB

Equipe econômica se preocupa com o aumento das compras externas

Eliane Oliveira e Martha Beck

BRASÍLIA. A alta de 0,8% no Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre veio até melhor do que se esperava na véspera - mais para 0,5% do que para 1% - mas ainda assim o retrato da atividade econômica assustou o governo. A indústria ficou estagnada e as importações explodiram, criando no governo o medo concreto de desindustrialização do setor produtivo. Hoje, cerca de 25% ou um quarto do que se consome no Brasil são importados. A equipe econômica também vê nos números o prenúncio de um terceiro trimestre bem mais fraco.

O aumento cada vez maior dos importados no consumo nacional já leva o governo a desconfiar que empresas que eram exportadoras passaram à condição de importadoras. Compram produtos de outros países e os vendem no mercado doméstico com suas marcas nas embalagens.

Esse alerta vem sendo notado em setores como eletrodomésticos, eletroeletrônicos, vestuário, químicos e componentes industriais. As importações de confecções em agosto, por exemplo, subiram 97,5% ante o mesmo mês do ano passado. Peças e componentes industriais cresceram 38,8%. Não fossem os elevados preços das commodities agropecuárias, metálicas e minerais, que lideram as exportações brasileiras, o Brasil não estaria nem registrando superávits comerciais e sim déficits.

- Por trás dos números, a desindustrialização segue em marcha - disse o diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca.

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, confirmou que existe, também no mercado, a desconfiança de que, embora diversos produtos vendidos no mercado doméstico pareçam nacionais, grande parte já é importada. Castro citou como exemplos batedeira, aspirador de pó, roupas de cama, mesa e banho e confecções em geral:

- Infelizmente, esse processo de desindustrialização é real e não há como fugir.

Preocupação do governo é com o terceiro trimestre

O que mais preocupa o governo agora é a variação do PIB no terceiro trimestre. O mercado prevê alta entre zero e 0,5% no período. Há quem já trabalhe até com retração. Esse é o caso do Credit Suisse Brasil, que estima queda de 0,3% no período em relação ao trimestre anterior, com avanço de 2,8% para o ano. A equipe econômica sabe que o número do terceiro trimestre não será bom, mas acredita que não haverá retração.

Para que a economia cresça os 4% que Mantega quer, o resultado do terceiro e do quatro trimestres teriam que ser de uma alta de mais de 1% - algo muito pouco provável. Estão sobre a mesa medidas para proteger a indústria nacional, como aumento de tarifas de importação e a criação de barreiras técnicas.

- O BC sabe que vem um resultado bem ruim amanhã (hoje) - afirmavam quinta-feira à noite fontes com as quais O GLOBO conversou. -E isso levou o BC a incorporar aos dados um terceiro trimestre ainda pior. A redução dos juros pode ter vindo antes por conta disso - justificavam estes técnicos.

FONTE: O GLOBO

Fundadores apontam o PSD como 3ª maior sigla

Primeiras fichas de filiação foram assinadas; para Kassab, bancada vai superar o PSDB

Iuri Pitta

Faltam o registro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o reconhecimento de 490 mil assinaturas, mas o PSD já é considerado partido de fato por seus fundadores, que assinaram ontem, em São Paulo, as primeiras fichas de filiação e anunciaram ser a "terceira maior força política do País". O raciocínio leva em conta o tamanho da bancada da Câmara dos Deputados: 44 parlamentares exercendo o cargo e 4 ocupando secretarias estaduais, segundo o prefeito de São Paulo e presidente nacional da sigla, Gilberto Kassab.

Hoje, o PSDB é a terceira maior bancada da Câmara, com 53 deputados, atrás de PT (86) e PMDB (80). Ou seja, para superar os tucanos, Kassab teria de atrair parlamentares do PSDB para seu novo partido.

Ontem, depois de assinar sua própria ficha de filiação e celebrar o nascimento do PSD, o prefeito mostrou otimismo. "Nós temos a expectativa de que, nos próximos dias, tenhamos a adesão de alguns outros deputados federais, podendo, portanto, ultrapassar 50 (parlamentares)."

Centro. Atrás do palco do pequeno auditório do Edifício Praça da Bandeira - o antigo Joelma -, o PSD aparecia em um logotipo com as cores da bandeira nacional e em letras minúsculas que, se invertidas, mantinham a mesma forma. Para Kassab, é a melhor imagem do que será a nova sigla. "Podem virar de ponta-cabeça, de lado, podem jogar para cima ou para baixo. Seremos e somos de centro", disse o prefeito. Questionado se o logotipo era definitivo, Kassab afirmou que "pode mudar, se surgir ideia melhor".

Primeiro a assinar a ficha de filiação ao PSD, o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, disse que o partido "mexeu com as placas tectônicas da política brasileira". Em discurso, ele chegou a citar reportagem do Jornal Nacional sobre nomes de mortos incluídos nos abaixo-assinados para a criação do PSD em Tocantins, Estado da senadora Kátia Abreu - ela e o senador Sérgio Petecão (AC) aderiram à nova legenda.

"Aquilo foi armado. Eles não querem que o nascimento do partido antes de 7 de outubro", afirmou Afif, citando o prazo limite para a filiação partidária de candidatos a prefeito e vereador em 2012. "Não são democratas. Estão mais afinados com a ditadura que com a democracia", atacou o vice-governador.

Em Brasília, o líder do DEM na Câmara, Antônio Carlos Magalhães Neto (BA), acusou Kassab de "criar um factoide" ao comemorar o registro do PSD em dez Estados. "Ele quer criar um fato consumado aproveitando-se do desconhecimento de parte das pessoas", criticou. "Eles cumpriram uma parte da obrigação, ainda estão devendo 300 mil assinaturas", completou o líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO).

A criação de um partido exige etapas como o reconhecimento em um terço das 27 unidades federativas - na quinta-feira, o PSD anunciou ter obtido dez registros estaduais - e assinaturas certificadas de 490 mil eleitores em todo o País. O partido informou ter enviado cerca de 600 mil assinaturas ao TSE.

Para o DEM, legenda mais prejudicada com a evasão de filiados, não haverá tempo hábil para que o TSE registre o partido antes de 7 de outubro. Tanto ACM Neto quanto Demóstenes lembraram os questionamentos na Justiça Eleitoral contra o registro e as denúncias de fraude e irregularidades nas coletas de assinaturas pelos Estados. "O PSD está buscando é o juízo final, quando os mortos ressuscitarão para dar o aval a suas assinaturas", ironizou o senador.

Ontem, Kassab quis demonstrar que essas críticas são passado. Para o prefeito, falta a certidão de nascimento, mas já foi dada à luz sua maior criação política em quase 20 anos desde sua estreia nas urnas.

Adesões

44 é o número de deputados no exercício do mandato que terá a bancada do PSD, segundo o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Outros quatro são secretários estaduais

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

No Rio, legenda começa como principal força da Assembleia

Comandado por Indio da Costa, que foi o vice de Serra na disputa de 2010, o PSD terá 12 deputados, superando PMDB e PDT

Alfredo Junqueira

RIO - Com o registro aprovado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) na noite de quinta-feira, o PSD do Rio nasce como o partido com a maior representação na Assembleia Legislativa (Alerj).

De acordo com o presidente do diretório no Estado, Indio da Costa (ex-DEM), a legenda já conta com 12 deputados estaduais em processo de filiação. PDT e PMDB tinham as maiores bancadas, com 11 cadeiras na Assembleia fluminense cada.

Além dos deputados estaduais, o PSD-RJ também já conta com três representantes do Estado na esfera federal.

"Já somos a maior bancada na Alerj e continuamos conversando com outros deputados estaduais e federais", explicou Índio, que é ex-deputado federal e candidato derrotado a vice na chapa liderada por José Serra (PSDB) à Presidência, no ano passado. O presidente do PSD-RJ foi indicado, na época, pela direção nacional do DEM para compor a chapa do tucano.

As adesões ao novo partido vão extinguir a representação do DEM na Alerj. A única deputada eleita pela legenda nas eleições de 2010, Graça Pereira, foi uma das primeiras a anunciar que se filiará ao novo partido.

A parlamentar, no entanto, tem pendências a resolver na Justiça Eleitoral. Na mesma sessão que aprovou o registro do PSD-RJ, o TRE-RJ condenou Graça Pereira pela prática de assistencialismo político e a tornou inelegível por três anos.

Prioridade. Ainda segundo Índio, o partido terá como prioridade inicial estruturar seus diretórios municipais. Além da capital, o PSD já está consolidado em outras seis das 92 cidades do Estado: Campos dos Goytacazes, Duque de Caxias, Maricá, Rio Claro, São João de Meriti e Volta Redonda. Entre os 10 maiores colégios eleitorais do Rio, o partido ainda não está representado em 5.

O presidente do PSD-RJ também estabeleceu como metas a consolidação da aliança com o governador Sérgio Cabral (PMDB) e a reeleição do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB). Para isso, o partido só deverá lançar candidatos a prefeito em cidades em que não competirá diretamente com o PMDB.

"Poderíamos ter candidatos em todas as cidades, mas preferimos disputar apenas com nomes viáveis. Mais do que lançar candidatos próprios, nosso objetivo será consolidar a aliança com Cabral", afirmou Índio.

Tucanos. Além do DEM, o PSDB é outro partido de oposição que vem se enfraquecendo no Rio. Ex-presidente do diretório fluminense e prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito se filiou ontem ao PP do senador Francisco Dornelles.

Contraponto

No Legislativo paulista, o PSD ainda não tem a mesma força. Por ora, só dois deputados estaduais estão com Gilberto Kassab: Milton Vieira, que deixa o DEM, e Rita Passos, do PV.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Partidos surgidos de dissidências nunca superam a votação da legenda original

Mauricio Puls

Partidos criados a partir de dissidências de outras legendas -caso do atual PSD- nunca conseguiram eleger inicialmente uma bancada maior que a da antiga agremiação antes do racha.

Na grande maioria dos casos, mesmo a soma dos deputados federais eleitos pelos dois partidos oriundos da cisão é menor que a bancada da legenda antes da divisão.

Isso ocorre porque, numa cisão, o partido original sempre perde algumas lideranças importantes, que puxavam votos, enquanto a nova sigla só consegue se organizar nas cidades grandes e médias, o que reduz muito a sua votação no interior.

Em 1988, quando surgiu, o PSDB só lançou candidatos a prefeito em 89 cidades do país. Criado em 1980, em 2002 o PT ainda não tinha diretórios em 2.518 municípios.

A dissidência mais bem sucedida até hoje foi o DEM, que nasceu em 1985 de um racha do antigo PDS (Partido Democrático Social) e agora perdeu boa parte de seus líderes para o novo PSD (Partido Social Democrático).

Chamado inicialmente de PFL(Partido da Frente Liberal), reuniu a princípio 100 deputados federais e 15 senadores que apoiaram Tancredo Neves (PMDB) à Presidência. Integrado ao governo de José Sarney, o partido cresceu e em 1986 já tinha 118 deputados e 18 senadores.

Na eleição de 1986, perdeu quatro cadeiras no Senado, mas manteve os 118 deputados. Isso representava 24,2% da Câmara -bem mais que os 6,8% que o PDS teve nessa eleição, mas bem menos que os 49,1% que o mesmo PDS alcançou na eleição de 1982.

Quatro anos depois, o PMDB sofreria um declínio ainda mais acentuado depois do racha que criou o PSDB, em 1988. A bancada peemedebista na Câmara caiu de 53,3%, em 1986, para 21,5%, em 1990. Mas o resultado do PSDB foi pior: apenas 7,6%.

Na Câmara, o PSDB chegou a ter 60 deputados federais em 1990, mas caiu para apenas 38 após a eleição. No Senado, sua bancada diminuiu de 13 para 9 cadeiras.

Por vezes a divisão implica a perda de Estados inteiros. Em 1947, o senador Vitorino Freire (MA), que havia deixado o antigo PSD, criou o PST -pelo qual concorreu a vice-presidente em 1950.

O PSD, que em 1945 tinha conseguido eleger seis deputados federais no Maranhão, em 1950 teve sua bancada reduzida a zero, enquanto o PST fez cinco deputados.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Transição:: Merval Pereira

Na segunda-feira dia 15 de setembro de 2008, quando ficou explicitada nos Estados Unidos a falência do banco Lehman Brothers, desencadeando a maior crise financeira desde o crash da Bolsa de 1929, o então presidente Lula se reuniu na sede do Banco do Brasil com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente do Banco do Brasil, Lima Neto, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e dois economistas de sua confiança: Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo.

Naquela reunião, segundo relato de Delfim e Belluzzo à "Carta Capital" de 23 de agosto, ficou decidido que os juros deveriam ser reduzidos para fazer frente à crise.

A redução, no entanto, não se concretizou porque, na opinião de Delfim, Meirelles "não se sentia seguro para fazer o que deveria ser feito", incomodado que estava pelo fato de os economistas que fizeram o Proer no governo Fernando Henrique - programa de reorganização e saneamento dos bancos privados, demonizado pelo PT na ocasião e apontado depois pelo presidente Lula como exemplo para a crise de 2008 - estarem todos com seus bens bloqueados, respondendo a processos.

Fora o fato de que uma decisão dessa magnitude foi tomada em uma reunião da qual participaram dois economistas que não faziam parte formalmente do governo, fica o registro de que o então presidente Henrique Meirelles sentiu-se forte o suficiente para não seguir a orientação expressa do Presidente da República e não caiu.

Não se sabe se houve reunião semelhante agora, entre a presidente Dilma, o ministro Mantega, e o presidente do Banco Central Alexandre Tombini, mas é certo que as pressões pela queda dos juros foram mais explícitas do que nunca.

No entanto, é enganosa a ideia de que a permanência no cargo de Meirelles fortalece a tese de que o ex-presidente Lula acreditava mais na autonomia do Banco Central do que, por exemplo, sua sucessora Dilma Rousseff ou até mesmo que o ex-governador José Serra, que apoiou a decisão do Banco Central de reduzir os juros e disse que não via nada demais na postura do governo.

Sabe-se que Lula tentou colocar o mesmo Belluzzo no lugar de Meirelles meses depois, mas acabou recuando da decisão por temer a reação do mercado.

Mesmo no caso do Banco Central dos Estados Unidos (Fed), cujo presidente tem um mandato fixo, a independência em relação à política governamental não é tão grande assim.

Na biografia de Alan Greenspan, "Maestro", ex-presidente do Fed, está relatado que o então presidente George Bush pai sempre que precisava chamava à Casa Branca o presidente do BC, Paul Volcker, e, sem pedir explicitamente, defendia a necessidade da queda dos juros por que a economia estava desaquecendo. E sempre era atendido.

Nessa conversa com Delfim, por sinal, Belluzzo diz que é questionável a forma como é exercida a independência do Banco Central no Brasil, lembrando que Delfim vive dizendo que é preciso "estatizar o BC", ao que Delfim reage rindo. "Acho que está em processo agora".

O fato é que a decisão do Banco Central de reduzir juros deixou novamente a oposição sem bandeira. Se vai dar certo ou não, veremos mais adiante, mas fica difícil para a oposição ser contra o corte de juros.

Mesmo que a decisão seja arriscada, ou venha a se revelar errada no longo prazo, no momento ela tem um efeito político positivo. Era o que todo mundo reclamava.

Mesmo os argumentos que parte da oposição que é contrária à medida possa ter são muito técnicos, e eventualmente, se mais adiante ficar provado que a decisão estava errada, os efeitos políticos imediatos já estão contabilizados a favor do governo.

A presidente Dilma busca um caminho para se afirmar, e nessa busca recua e avança à medida que as circunstâncias e suas forças políticas permitem avanços ou exigem recuos.

O PT agora mesmo, no seu IV Congresso que se realiza em Brasília, vai criticar a faxina contra a corrupção e voltar a velhas teses que já estavam arquivadas pela própria Dilma, de controle social dos meios de comunicação.

Uma postura contrária ao que a presidente Dilma pensa, explicitada pelo engavetamento do projeto do ex-ministro Franklin Martins pelo atual ministro das Comunicações Paulo Bernardo.

A retomada da proposta tem sua origem na reportagem de capa da revista "Veja" sobre o ex-ministro José Dirceu, que, se sentindo perseguido, trabalhou politicamente dentro do PT para que o partido assumisse novamente essa bandeira.

Trata-se de um governo que está tentando encontrar seu caminho, o mais das vezes de maneira atabalhoada, às vezes sem apoio de sua própria base como no caso da faxina, ocasião em que teve o apoio de parte importante da oposição, representada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Dessa vez, na decisão dos juros, o governo teve o apoio de outra parte do PSDB, representado pelo ex-governador José Serra, que por sua vez não apoiava a faxina, identificando-a como uma manobra marqueteira.

O fato é que a política brasileira está muito confusa neste momento, em que ninguém é de ninguém, ninguém tem compromissos.

Não há nada claro: quem é quem, quem está apoiando quem, a base é leal em que circunstâncias, a oposição é a que e a quem.

Não há nada definido, mais porque as coisas estão sendo tocadas de maneira muito sem planejamento, obedecendo às circunstâncias. Nem governo nem oposição têm posições fixas.

Pode ser um indicativo de que a velha dicotomia entre PT e PSDB, embora ainda interesse a determinados grupos dos dois lados, está dando sinais de fadiga, e de que estamos caminhando para novos arranjos na esfera político-partidária.

FONTE: O GLOBO

PT, mídia, muquifo:: Fernando de Barros e Silva

"O PT deve repelir com firmeza as manobras da mídia conservadora e da oposição de promover uma espécie de criminalização generalizada da base de sustentação do governo." Este é um trecho do documento que norteia as discussões do 4º Congresso do PT.

De forma previsível, o partido voltou à carga. Como no caso do mensalão, há de novo a tentativa de transformar o governo e o PT em vítimas de uma "conspiração midiática", como se aquilo que o procurador-geral da República chamou de quadrilha fosse uma ficção da mídia, como se a chamada criminalização da base aliada não fosse fruto da ação de seus membros.

Ao insistir na tecla da criminalização da aliança, o PT, na verdade, está politizando seus crimes a fim de descaracterizá-los. O discurso da desculpabilização funciona como imagem invertida da realidade.

Esse cinismo militante dá a tônica da ação dos petistas (há exceções) desde que chegaram ao poder. Era preferível quando Lula, mesmo correndo o risco de cometer injustiças, dizia que o Congresso tinha 300 picaretas com anel de doutor. Há novos picaretas na política. Nem todos têm anel de doutor.

A revista "Veja" se especializou em fazer catecismo raivoso de direita, é fato. Não sei em que condições foi produzida a reportagem sobre a romaria de políticos ao quarto de hotel de José Dirceu, em Brasília, mas as imagens são boas e têm óbvio interesse público. O que leva o presidente da Petrobras -a maior estatal brasileira, com acionistas ao redor do mundo- a visitar Dirceu na moita, às 15h30 de uma segunda-feira? Sergio Gabrielli ficou no quarto com Dirceu por 30 minutos.

O mesmo aconteceu com Fernando Pimentel, ministro de Estado, dois dias depois. Numa República, o normal seria que essas duas autoridades, durante seu expediente, recebessem Dirceu em seus locais de trabalho, não que fossem encontrá-lo num muquifo. Ou serei acusado de promover aqui a criminalização de amizades singelas?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Aparências enganam :: Valdo Cruz

BRASÍLIA - O PT, partido no poder há quase nove anos, faz aqui na capital seu 4º Congresso num clima bem diferente daquele imaginado por seus líderes antes da eleição de Dilma Rousseff.

Durante os oito anos de Lula no Planalto, petistas reclamavam de que seu principal líder não era fiel seguidor da cartilha econômica do partido e não dava ouvidos para a cúpula partidária.

Depois de engolirem a indicação de Dilma como candidata à Presidência, os dirigentes do PT passaram a enxergar na sua eleição a oportunidade de, enfim, como eles próprios definiam na época, chegarem ao poder de fato.

O raciocínio de então era que Dilma, petista neófita, não era Lula, figura muito maior do que seu partido. A gaúcha-mineira, de fora do circuito paulista que se acostumou a mandar na legenda, dependeria muito mais da cúpula partidária para governar.

Sem falar que ela tinha mais afinidade com as teses econômicas tradicionais do PT, como a defesa da intervenção estatal na economia e a crítica feroz à política de juros altos do Banco Central.

Bastaram oito meses de governo para o sonho se tornar quase um pesadelo. Surgiram reclamações de todo tipo: Dilma não se reúne com o PT, recusa-se a nomear apadrinhados e fez um corte de gastos maior do que o da era Lula.

A insatisfação chegou a tal ponto que alguns petistas chegaram a ensaiar um coro pedindo a volta de Lula em 2014, contido graças à intervenção do ex-presidente.

Nos últimos dias, aconselhada pelo mentor, Dilma se mostrou mais solícita e acalmou os ânimos no PT. Seu BC ainda deu uma forcinha baixando os juros na contramão do mercado, música para os ouvidos petistas.

Resultado: o clima no congresso do partido, aberto ontem por Lula e Dilma, será ameno e festivo. As aparências, contudo, podem enganar. Por enquanto, a calmaria é apenas aparente.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Queda dos juros e, em alguns casos, do juízo :: José Serra

Achei a decisão do Banco Central de diminuir os juros em 0,5 ponto percentual correta. Os juros futuros estavam caindo, a pressão das commodities sobre a inflação, diminuindo em razão da crise internacional, e a economia desacelerando. Não vejo nenhum problema especial quanto à da taxa de credibilidade do Banco Central. Quer dizer que um BC só ganha credibilidade, ou a mantém, quando promove o aumento dos juros?

Em relação à inflação, vale a pena lembrar que o efeito do aumento dos juros se dá menos por eventual aperto da demanda, que é pequeno, do que pela sobrevalorização do real, pois os juros em elevação estimulam ainda mais o afluxo de dólares que inunda nossa economia. A chave da estratégia brasileira de controle da inflação nos últimos anos tem sido a valorização do câmbio, não a contenção da demanda.

Não se deve também ignorar o impacto dos juros no gasto público: neste ano, se a taxa permanecer em 12%, o gasto com pagamento de juros será de R$ 226 bilhões, contra R$ 195 bilhões no ano passado. Nesse item, como proporção do PIB, gastamos mais do que o Japão, cuja dívida é quatro ou cinco vezes maior do que a brasileira.

Não vejo maior problema no fato do ministro da Fazenda e da presidente da República conversarem com o BC e expressarem seu pensamento. Isso acontece em todos os países do mundo. Alguém acha que nos Estados Unidos ou no Chile é muito diferente? Por um acaso um presidente ou ministro são cassados quando se trata de expressar a sua opinião sobre juros? Isso é uma tolice. Expressar uma posição não significa impor uma decisão tecnicamente injustificável.

A decisão de baixar os juros teve sentido técnico. Outra coisa, diferente, é acharem que não faz sentido em razão de expectativas (de que os juros não se alterariam) que foram contrariadas. Será que o BC deveria tomar uma decisão contra as evidências só para afirmar sua autonomia? Aliás, vejam bem, a redução dos juros é de 0,5 ponto percentual numa taxa que era de 12,5%, ou seja, vinte e cinco avos dessa taxa. Literalmente, trata-se de muito barulho por quase nada.

Por último, é claro que o anúncio do aumento do superávit primário em R$ 10 bilhões foi feito para acalmar o “mercado” em relação à diminuição dos juros, que já devia estar programada. Aquele aumento é perfumaria, até porque não provém de cortes, mas de aumento de receita, e é pequeno diante do aumento das despesas do governo com juros da dívida pública, que será de pelo menos R$ 30 bilhões neste ano em relação ao ano passado.

FONTE: JOSÉ SERRA

Ex-ministro ameaça pôr PR a favor de CPI se Dilma não o inocentar

Planalto tenta acalmar Nascimento, pois faltam 3 assinaturas para oposição garantir investigação e seu partido tem 6 senadores

Christiane Samarco

Inconformado com o despejo do Ministério dos Transportes e com o carimbo de corrupto que a "faxina ética" do Palácio do Planalto imprimiu no PR, o ex-ministro e presidente nacional do partido, senador Alfredo Nascimento (AM), ameaça o governo com a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito para apurar corrupção.

"O governo está com medo dos senadores e de mim", disse Nascimento a correligionários, ao relatar conversa que tivera com a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, na terça-feira.

A tensão é grande porque faltam apenas três assinaturas para que a CPI seja criada no Senado. Como a bancada do PR tem seis senadores, a avaliação geral é que o governo não conseguirá evitar a investigação se o partido apoiar o pedido das oposições.

Articulação. A ministra Ideli Salvatti entrou em cena para aplacar a ira de Nascimento, mas o que ele quer mesmo é ser recebido e inocentado pela presidente Dilma Rousseff. Com o intuito de poupar a presidente Dilma, o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, chamou o senador ao Palácio do Planalto na quarta-feira.

Nascimento havia dito aos colegas que Ideli elogiara muito o PR e insistira que o partido é importante para a estabilidade da base do governo, em todas as votações, e que tentaria ver se Dilma o receberia.

A cúpula do PR no Senado quer que o governo conserte o estrago político que fez na imagem do partido e na biografia de alguns de seus dirigentes. Estão especialmente nessa linha Nascimento e o senador Blairo Maggi (PR-MT), que viu o amigo e colaborador Luiz Antônio Pagot ser demitido do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em meio a denúncias de corrupção.

Nos bastidores, todos se queixam de que o PR está "em péssimas condições políticas" para enfrentar as eleições do ano que vem porque virou "sinônimo de corrupção". É a preocupação com as urnas que estimula o presidente do partido a pressionar o governo para que conclua logo algumas investigações nos Transportes e aponte os culpados.

Nome aos bois. "Só tem dois jeitos: ou o governo conclui o trabalho policial e dá nome aos bois, ou a gente ajuda a fazer a CPI", resume um dirigente da legenda. Segundo esse parlamentar, foi nesse tom que Nascimento abordou o assunto com Ideli, insistindo que o principal era o governo "dar uma declaração inocentando o partido".

Na conversa, Nascimento foi além, dizendo que essa declaração teria de ser "acima" dela, ministra, porque o governo teria ferido "de morte" o partido.

A avaliação geral no PR é que o Planalto agiu "de forma errada" com a legenda. Tanto que não "conseguiu" usar o mesmo rigor no caso dos ministros do PP e do PMDB envolvidos em denúncias de corrupção.

Para os parlamentares do PR, a prova concreta de que o governo cometeu um erro é o que ocorreu nos Ministérios das Cidades e do Turismo. Os ministros Mário Negromonte (PP) e Pedro Novais (PMDB) foram poupados da degola, diferentemente do que ocorreu nos Transportes.

Reclamação

Alfredo Nascimento 
Senador e presidente do PR (AM) 

"Não é aceitável que sejamos tratados como aliados de pouca categoria, fisiológicos e oportunistas"

(Ao declarar "independência" do PR em relação ao governo, na tribuna do senado , 16 de agosto )

Bresser-Pereira elogia decisão do BC de cortar juro

Evandro Fadel

CURITIBA - O ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, que ocupou cargos federais nos governos de José Sarney e Fernando Henrique Cardoso, elogiou ontem, em Curitiba, a atitude do Banco Central de baixar os juros e acentuou que é uma resposta à desaceleração da economia.

"A informação sobre o Produto Interno Bruto (PIB) confirma a tese do governo de que havia um desaquecimento e, portanto, havia espaço para começar a baixar a taxa de juros", salientou. O aumento do PIB registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi de 0,8% no segundo trimestre em comparação com o trimestre anterior.

O Banco Central foi muito criticado pelo mercado e diz que a instituição monetária colocou sua credibilidade e autonomia em xeque.

Para Bresser-Pereira, a baixa de juros não representa que o governo tenha desistido da meta de inflação e nem que o Banco Central tenha cedido a pressões do governo: "O Banco Central faz parte do governo e o governo faz parte da sociedade.".

"Existe uma pressão da sociedade desde 2002 para que se baixe o juro." Segundo Bresser-Pereira, o BC estaria aplicando a "tese da convergência" que ele defende há alguns anos. "Na hora em que a economia desaquecesse, tinha que aproveitar para baixar forte e chegar aos níveis internacionais", disse. "Quando a economia retomasse já estava no ponto."

O ex-ministro da Fazenda de Sarney disse que essa atitude demonstra "maturidade". No entanto, ponderou que não poderia afirmar que "vai dar certo". "A ciência econômica é uma ciência modesta, a ciência econômica é muito imprecisa e a gente não sabe", ressaltou. "A probabilidade de que dê certo é muito grande."

Segundo ele, os juros altos impedem os investimentos dos industriais, representam um gasto público brutal e atraem capitais estrangeiros. "Nós definitivamente não precisamos de capital estrangeiro", reforçou. "Das multinacionais só precisamos da tecnologia que transferem, senão não precisamos."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

MP pede a implementação de um programa de indenização às vítimas de acidente com bonde

Waleska Borges e Natanael Damasceno

RIO - O Ministério Público estadual propôs, nesta sexta-feira, a implementação de um programa extrajudicial de indenizações às vítimas de acidentes envolvendo bondinhos em Santa Teresa como o que matou cinco pessoas e deixou mais de 50 feridas no último sábado . A proposta foi feita durante a reunião marcada pelo MP com representantes do governo para discutir a situação do serviço. Convidados a participar do encontro, o secretário estadual de transportes, Julio Lopes, e Rogério Onofre, interventor nomeado pelo governador Sérgio Cabral para solucionar o problema dos bondes, alegaram compromissos profissionais e não compareceram ao encontro. Apenas o presidente da Companhia Estadual de Engenharia de Transportes (Central), Sebastião Rodrigues, compareceu.

- Entendo que este também seria um compromisso profissional que, diante das circunstâncias, é primordial. Demos a oportunidade a eles de dar suas versões. E para nós seria importante ouvi-los neste momento - lamentou Carlos Andresano, que instaurou um inquérito para investigar o acidente, e não descarta a convocação do secretário no decorrer do inquérito.

Para o MP, um programa extrajudicial de indenizações poderia minimizar o sofrimento de vítimas e familiares, evitando que tenham que recorrer à Justiça para exigir a reparação de danos sofridos. Na reunião, o presidente da Central afirmou que o Estado já vem prestando assistência às vitimas no sentido de arcar com verbas funerárias, assistência médica, despesas com translado de corpo das vítimas fatais, assistência psicológica. De qualquer forma, o procurador-chefe de Serviços Públicos da Procuradoria-Geral do Estado, Flávio de Araújo Willeman, também presente na reunião, afirmou que a proposta depende da conclusão dos laudos técnicos que apontarão as razões e responsabilidades pelo acidente.

De acordo com os procuradores o presidente da Central disse ainda que a empresa instaurou um sindicância para investigar o acidente e que está na dependência dos laudos da perícia. Disse ainda que não há previsão para o restabelecimento do serviço. Com relação à ação civil pública ajuizada por Marcos Leal, Sebastião se comprometeu a enviar, dentro de dez dias, tudo o que o estado já fez para a melhoria do sistema. O Tribunal de Justiça já decidiu pelo cumprimento das medidas exigidas pelo MP em 1ª e 2ª instâncias, mas o estado recorreu da decisão. Hoje o processo está na Vice-Presidência do Tribunal de Justiça, que analisa um recurso especial que poderá levar o processo para decisão em instâncias superiores, em Brasília.

Também nesta sexta-feira, o corpo de Maria Eduarda Nunes, de 12 anos, que morreu no acidente , foi cremado no cemitério do Caju. O pai da menina, Orlando Moreira Nunes, de 43 anos, que quebrou o nariz e um braço no acidente, acompanhou a cerimônia ao lado de amigos e familiares.

O irmão de Orlando, Luís Nunes, de 45 anos, foi o único que conversou com a imprensa. Além de Orlando e a menina, estavam no bonde a mulher dele, Daniela Dourado, de 40 anos, jornalista da TV Globo, e um outro filho do casal.

- Estamos nos segurando na família e em Deus. O momento agora é de se preocupar com a Daniela, que ainda vai levar alguns meses para se recuperar. Estamos querendo agora o conforto em Deus - disse Luís.

Indagado se a família estava revoltada, o tio de Maria Eduarda respondeu:

- A palavra não é revolta, mas falta de responsabilidade e descaso com as pessoas. Alguém tem que pagar por isso.

Missa em homenagem a condutor

Moradores de Santa Teresa e amigos de Nelson Correa da Silva participaram de uma missa nesta sexta-feira para homenagear o motorneiro que morreu no acidente. A missa, celebrada na capela Religiosas de Maria Imaculada, foi organizada por freiras. A igreja fica na mesma rua do acidente. Nenhum familiar de Nelson esteve na solenidade, mas muitos amigos que trabalhavam com a vítima foram prestar suas homenagens, como o motorneiro Marcos Celestino:

- Nelson era um excelente motorneiro. Era um amigo. Ele se preocupava com o usuário do bondinho e com a vida. Por isso, ele não pulou na hora do acidente. Temos muito orgulho dele - afirmou Celestino, que trabalha há 30 anos dirigindo bondes.

Marcos disse que, mesmo após o acidente, não pensa em desistir da profissão.

- Eu espero continuar dirigindo os bondinhos, mas espero também que as condições mudem - disse.

Inquérito de 2009 revela que empresa que administra bondes sabia de riscos à população

O inquérito de investigação do acidente envolvendo um bonde de Santa Teresa que perdeu o freio e matou uma professora, em 2009, revela que a empresa que administra o serviço já sabia dos riscos que a população corria. De acordo com reportagem do "RJTV", da TV Globo, o documento mostra que o diretor de engenharia da Central Logística, empresa responsável pelos bondes, Fábio Tepedino, afirmou à época que um acidente semelhante com um bonde antigo "teria, certamente, repercussões mais graves".

A perícia feita pela Polícia Civil em 2009 concluiu que o bonde perdeu o feio ao ser atingido pelo táxi. Eles afirmaram que as peças do freio, atingidas na batida, ficavam na parte da frente do veículo e protegidas por uma fina caixa de fibra de vidro, e que por isso a localização era inadequada e totalmente ineficiente para evitar o colapso do sistema de freio.

FONTE: O GLOBO

Omissão de socorro após conflito violento no Centro

Guarda se recusa a socorrer homem ensanguentado após golpes de cassetetes de 2 agentes

Mahomed Saigg

Rio - Correria, tumulto, veículos apedrejados e várias pessoas feridas. Violento confronto entre guardas municipais e camelôs levou pânico ao Centro da cidade na tarde desta sexta-feira. Na ação, um homem que foi atingido com cassetete na cabeça teve pedido de socorro negado pelos agentes. Sangrando muito, ele pediu para ser levado para o hospital, mas não foi socorrido. A resposta de um dos guardas foi direta: “Some daqui, some daqui”

“Fui falar não bate não, não bate, não e olha o que fizeram comigo”, contou o agredido, em vídeo gravado por cinegrafista amador.

A confusão que durou uma hora começou na esquina das ruas Uruguaiana e Sete de Setembro, e se estendeu até a Av. Presidente Vargas. O trânsito na via chegou a ser interrompido por alguns minutos.

Acuados por uma multidão que protestava contra a agressividade das ações de repressão ao comércio ilegal na região e e atirava pedras, os agentes precisaram pedir ajuda à Polícia Militar para conseguir deixar o local.

A batalha começou às 16h após guardas apreenderem mercadoria de ambulante sem licença para trabalhar. Ele reagiu e foi agredido.

Enfurecidos, muitos camelôs e pedestres gritaram palavrões. Para tentar dispersá-los, os agentes voltaram a usar o cassetete contra outra pessoa e spray de pimenta contra os manifestantes.

Manifestantes atiraram pedra nos agentes e bateram em pedestres também

Diante da ofensiva dos agentes da Guarda Municipal, a reação da população foi imediata. Revoltados, muitos manifestantes ameaçaram agredir os agentes e atiravam pedras. Outros, mais assustados, tentavam se proteger em lojas, lanchonetes e até bancas de jornais da região.

Quem não conseguiu se refugiar acabou sendo agredido também, como aconteceu com o entregador Luciano Teodósio. “Estava passando por aqui para fazer uma entrega quando um guarda veio pra cima de mim e começou a me bater. Não deu tempo nem de perguntar porque estava apanhando”, lamentou Luciano, que ficou com um grande hematoma no cotovelo.

Em nota, a Guarda Municipal informou que cinco agentes ficaram feridos durante o conflito. Todos foram levados o Hospital Souza Aguiar. Sobre os excesso cometidos pelos guardas a nota afirma que eles serão investigados pela Corregedoria da Guarda.

FONTE: O DIA

Mais um 'basta' inútil :: Guilherme Fiúza

Os parasitas do Estado brasileiro já têm programa para o Sete de Setembro: ligar a TV, acender um charuto e se divertir com as passeatas contra a corrupção.

Corruptos e parasitas adoram as ondas de indignação contra "tudo isso que aí está". Sabem que tudo é igual a nada. E que suas negociatas estarão protegidas na vala comum da "roubalheira", dos "malfeitos" e demais brados genéricos da cidadania ultrajada. A turma que fez a farra no Dnit talvez até desfile também contra a corrupção. Por que não? Estão soltos, esquecidos, sem nada para fazer. E farra é com eles mesmos.

Essa Frente Contra a Corrupção é uma pérola dos "bastas" brasileiros. Nasceu como um "movimento suprapartidário" de apoio à "faxina da presidente Dilma", no exato momento em que a presidente Dilma gritou seu basta contra a faxina. Preocupada com o número crescente de companheiros desalojados, a gerente da limpeza declarou: "A verdadeira faxina é contra a miséria." Ponto final. Uma guinada que certamente comoveu as máfias do turismo, da agricultura e dos transportes, plenas de espírito solidário.

Ficou então combinado assim: enquanto Dilma refresca a vida dos fisiológicos, os éticos apoiam Dilma contra o fisiologismo.

Mas, por favor, nada de escândalos. A presidente já deixou claro: "Não serei pautada pela mídia!" Ou seja: essas manchetes escandalosas sobre superfaturamento em série de obras viárias, convênios piratas para o turismo milionário do Amapá, favorecimento a empresas de agronegócios, caronas de ministros em jatinhos de empresários - esse barulho todo, enfim, não guiará o governo.

Pelo visto, nem a Frente Contra a Corrupção. Os senadores que a criaram deixaram escapar a CPI do Dnit, preferindo um movimento "liderado pela sociedade civil". É isso aí. Nada de detalhismo. Melhor convidar os indignados para gritar contra tudo, contra a impunidade, contra a podridão. De preferência de branco, num domingo de sol à beira-mar.

Enquanto os cidadãos de bem se orgulham de si apoiando a faxina, as manchetes escandalosas esfriam e a vida continua. Dilma, a nova esperança do Brasil ético, segue regendo seus cavaleiros do povo. E eles estão mais ativos do que nunca. O mensaleiro João Paulo Cunha, por exemplo, colocado pela gerente da limpeza na presidência da comissão mais importante da Câmara, ganhou mais uma: ajudou a inocentar a deputada Jaqueline Roriz, perseguida só porque foi filmada embolsando uma propina de 50 mil reais.

Mentor e conselheiro da líder da faxina, Lula voa cada vez mais alto. Agora, em aviões de empreiteiras que o convidam para palestras, enquanto ele as ajuda a fechar negócios em países vizinhos. Já José Dirceu, o companheiro de armas e fiador de Dilma no PT, abre as portas do governo para seus clientes privados. É a notável vocação para a consultoria, formal ou informal, que também fez a fama de Palocci e Erenice - ambos diretamente ligados à presidente. Com tantos consultores à sua volta, todos doutores em parasitismo estatal, Dilma haverá de saber como limpar o Brasil.

O senador Aécio Neves, um dos líderes da oposição, fez um gesto cívico. Propôs um pacto contra a ala fisiológica do Congresso, para permitir que Dilma realize seus projetos relevantes para o país. O tucano ficou bem na foto, mas deixou uma dúvida no ar: que projetos relevantes são esses? Que plano, que reforma, que medida importante para o país o atual governo tem na manga, que não contou para ninguém? Pelo visto, Aécio vai aderir às passeatas pró-Dilma no mundo da Lua.

Aqui na Terra, o grande projeto da sucessora de Lula está em plena marcha, sem obstrução. Trata-se de manter e ampliar a ocupação feroz da máquina pública pelos amigos dos amigos, liberados para fazer política e negócios nos balcões espalhados por quatro dezenas de ministérios. É dessa ordenha geral que brotam as tais manchetes escandalosas - que forçaram Dilma a apresentar-se como uma combatente surrealista de si mesma.

A sangria não é abstrata, está nos números: aumento brutal de quase 5% dos gastos públicos em relação a 2010, que por sua vez já foi ano de gastança eleitoral. Mas fisiologismo populista inflacionário é um palavrão que não soa bem em passeata. E o basta inútil contra tudo engole todos os sapos: o da CPI natimorta do Dnit; o do julgamento congelado do mensalão; o da evaporação dos processos contra Palocci e Erenice; o da fabricação de superávits e, agora, da taxa de juros; o da prostituição do BNDES para bancar a orgia da Copa de 2014; e grande elenco do brejo.

Qualquer um desses casos, se merecesse a devida mobilização da opinião pública, seria suficiente para puxar o fio da corrupção. Mas o basta genérico desfoca todos eles. E ainda dá moral à gerente da limpeza para reforçar o caixa da festa, com a inacreditável ressurreição da CPMF. É a apoteose do malfeito. Bem feito.

Guilherme Fiúza é escritor.

FONTE: O GLOBO