quinta-feira, 31 de maio de 2012

OPINIÃO DO DIA – Josias de Souza: comitê partidário

O salão de cerimônias do Planalto foi transformado em palco de um desagravo. Num instante em que Lula é acusado de pressionar ministros do STF para adiar o julgamento do mensalão, Dilma Rousseff rendeu-lhe homenagens.

Deu-se numa solenidade de entrega do prêmio Objetivos do Milênio. A presidente afagou o antecessor sem mencionar o acusador Gilmar Mendes. Seguiram-se aplausos. A plateia ficou em pé. Entoou-se o velho estribilho: “Olêêê, olêêê, olêêê, oláááá, Lulaaaaa, Lulaaaaa…”

Por um instante, respirou-se no Planalto uma atmosfera de comitê partidário.

Josias de Souza, jornalista. Em meio à polêmica, Dilma Rousseff afaga Lula. Blog do Josias, 30/5/2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
CPI dá passo à frente e convoca governadores do PSDB e do PT
Bombeiros abafam crise com o STF
Queima de arquivo
Presidente do TRE-SP é afastado por tribunal

FOLHA DE S. PAULO
BC corta juros para o nível mais baixo da história
CPI convoca governadores Perillo e Agnelo, mas não Cabral
Calcinha parlamentar
Tribunal de Justiça afasta presidente do TRE paulista

O ESTADO DE S. PAULO
CPI decide convocar Perillo e Agnelo, mas poupa Cabral
Governo e STF acalmam ânimos
Juro cai para 8,5% e aciona gatilho para poupança
País gasta R$ 21 bilhões para tratar fumantes
Fifa, agora, não cobra do Brasil obras completas

VALOR ECONÔMICO
Pacote para usineiros deve desonerar etanol
BC reduz juro a 8,5% e sinaliza mais cortes
Comissão Europeia defende união bancária na zona do euro

CORREIO BRAZILIENSE
CPI convoca Agnelo e Perillo para depor
Dilma recebe Lula e faz homenagem
Juro cai a 8,5% ao ano. Novas regras da poupança começam a valer
Fifa confirma a abertura e a confiança em Brasília

ESTADO DE MINAS
Ainda mais suja
CPI chama Perillo e Agnelo. Cabral, não
Dilma puxa aplausos para Lula no Planalto
Juros básicos: Taxa cai e já altera a poupança

ZERO HORA (RS)
Menor juro da história muda regra da poupança
CPI convoca Agnelo e Perillo, mas livra Cabral
Venda ilegal de remédios dispara na web

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
João da Costa não abre. Rands apoia Humberto
Estado segue negociações do estaleiro
CPI convoca Perillo e Agnelo e libera Cabral
Selic cai para 8,5% ao ano e vai mexer no ganho da poupança

No Planalto, Dilma faz desagravo a Lula

Em sua primeira agenda pública após as declarações de Gilmar Mendes, presidente puxa aplausos ao seu antecessor

Luiza Damé

A GUERRA DO MENSALÃO

BRASÍLIA . Na primeira aparição pública desde a revelação de que o ex-presidente Lula se reuniu com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes para tratar do julgamento do mensalão, a presidente Dilma Rousseff fez ontem uma espécie de desagravo ao antecessor, homenageando-o numa solenidade no Palácio do Planalto.

Ao final de seu discurso, na cerimônia de entrega do 4 Prêmio Objetivos de Desenvolvimento do Milênio Brasil, criado por Lula em 2004, Dilma disse que gostaria de fazer uma homenagem ao ex-presidente e falou sobre o seu comprometimento com a erradicação da pobreza no mundo, arrancando demorados aplausos da plateia.

A presidente não fez referência ao polêmico encontro de Lula e Gilmar Mendes nem às pesadas críticas feitas pelo ministro do Supremo ao comportamento do ex-presidente. Mas, com a homenagem, evidenciou, ainda que de forma indireta e tratando de outro assunto, seu apoio a Lula.

- Processos e pessoas têm uma ligação íntima. As pessoas nos lugares certos e na hora certa mudam os processos e transformam a realidade. Por isso, eu queria, de fato, aqui, fazer uma homenagem especial ao presidente Lula - discursou Dilma, sendo interrompida por aplausos de toda a plateia, que também cantou o refrão "Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula".

A aclamação de Lula durou 43 segundos. Dilma, então, retomou o discurso de elogios ao antecessor tão criticado agora pela oposição:

- Tenho certeza de que faço esta homenagem pelo desempenho do presidente Lula em se comprometer, no Brasil, com a questão do desenvolvimento e da oportunidade para os mais pobres neste país e o seu comprometimento internacional com a luta pela erradicação da pobreza nas regiões pobres do nosso planeta, que ele conhecia bem, porque são muito parecidas com o Brasil.

FONTE: O GLOBO

Dilma puxa aplausos para Lula no Planalto

Homenagem ocorreu na primeira aparição de Lula após o encontro em que teria pressionado o ministro do STF Gilmar Mendes por causa do mensalão. "Muita gente gosta de mim, mas tem algumas (pessoas) que não gostam. Tenho de tomar cuidado com essas", disse Lula.

Dilma faz desagravo a Lula

Presidente exalta a herança do antecessor, desgastado após o episódio em que teria pressionado o ministro do Supremo Gilmar Mendes a adiar o julgamento do mensalão

Juliana Braga e João Valadares

BRASÍLIA – Em meio à crise com o Judiciário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu uma homenagem da presidente Dilma Rousseff ontem, no Palácio do Planalto. Durante o evento de premiação de propostas para alcançar os Objetivos do Milênio, Dilma elogiou as iniciativas sociais do antecessor e exaltou seu comprometimento internacional com a erradicação da pobreza. A declaração soou como desagravo à pressão sobre Lula.

"Processos e pessoas têm uma ligação íntima. As pessoas nos lugares certos e na hora certa mudam os processos e transformam a realidade. E por isso eu queria, de fato, aqui, fazer uma homenagem especial ao presidente Lula", disse Dilma. "E o seu comprometimento internacional com a luta pela erradicação da pobreza nas regiões pobres do nosso planeta, que ele conhecia bem, porque são muito parecidas com o Brasil, e pelo nosso posicionamento levado pelo presidente Lula no que se refere à África, à América Latina e ao Caribe", completou. Dilma encerrou o discurso dizendo que todos os presentes teriam "esse reconhecimento a prestar". A plateia aplaudiu de pé, enquanto cantava o nome do ex-presidente. Após a cerimônia, Dilma almoçou com Lula no Palácio da Alvorada.

Os elogios vêm em um momento em que Lula está no centro de uma troca de acusações com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. No fim de semana, a revista Veja publicou reportagem na qual Mendes afirma que Lula tentou pressioná-lo para adiar a votação do mensalão. "É inconveniente julgar esse processo agora", teria dito o ex-presidente. Segundo Mendes, Lula tentou intimidá-lo ao citar uma viagem feita supostamente em um avião cedido pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira ao voltar da Alemanha em abril do ano passado. Lula insinuou que poderia blindar ou prejudicar o ministro na CPI do Cachoeira.

Na segunda feira, por meio de nota, o ex-presidente reconheceu que o encontro ocorreu, mas negou as acusações. Disse que jamais interferiu ou tentou interferir nas decisões do STF ou da Procuradoria-Geral da República. "Meu sentimento é de indignação", disse Lula. O ministro Nelson Jobim, que teria participado do encontro, negou o teor da conversa.

Em coletiva na terça-feira, Gilmar Mendes voltou a afirmar as acusações e disse que Lula seria a "central de divulgação" de informações falsas sobre ele. Disse também que existe uma nítida intenção de "melar" o julgamento do mensalão ao tentar envolver o Judiciário em uma rede de corrupção.

Indireta O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva evitou falar diretamente, ontem, durante palestra na Fiocruz, no câmpus da Universidade de Brasília (UnB), sobre as declarações de Gilmar Mendes. Em um discurso de pouco mais de uma hora sobre os avanços de seu governo, Lula proferiu apenas uma frase que pode ser interpretada como uma indireta ao ministro: "Vocês sabem que tem muita gente que gosta de mim, mas tem algumas (pessoas) que não gostam. Eu tenho que tomar cuidado com essas. São minoria, mas estão aí no pedaço".

Antes de iniciar o discurso para autoridades da América Latina, do Caribe e da África, o ex-presidente disse que só falaria por 15 minutos por recomendação médica — ele combateu um câncer na laringe entre o fim de outubro e março. No entanto, mostrou vigor e saúde. Falou 50 minutos a mais que a previsão. "Vou falar de pé, porque senão podem dizer que estou doente. Para evitar esses pequenos dissabores..."

Lula chegou a Brasília na noite de terça-feira. Foi direto ao hotel Blue Tree Towers. Ontem pela manhã, recebeu apenas a visita do ex-chefe da Secretaria-Geral da Presidência Luiz Dulci. Às 13h20, o ex-presidente chegou ao Palácio da Alvorada para almoçar com a presidente Dilma Rousseff. Entrou por um portão lateral para fugir do assédio da imprensa. Pouco mais de duas horas depois, Lula deixou o local e retornou ao hotel. Na chegada à Fiocruz, por volta das 18h, o ex-presidente também não falou com jornalistas, apesar da insistência. Os repórteres não puderam entrar no auditório e acompanharam a palestra por meio de uma televisão instalada na sala ao lado.

Ao vivo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá a oportunidade de se explicar hoje sobre o duelo de versões travado com o ministro Gilmar Mendes, em entrevista ao vivo no Programa do Ratinho, na TV Alterosa, a partir das 21 h. Será a primeira entrevista de Lula à TV brasileira após deixar a Presidência da República, em 1º de janeiro de 2011, e depois do fim do tratamento contra um câncer na laringe, em março.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Planalto articula e abafa bate-boca Lula x Mendes

Elogios de Dilma, declaração de Maia e reunião de ministros com Ayres Britto integram estratégia

Diante do impacto do bate-boca público entre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e o ex-presidente Lula, o Palácio do Planalto articulou ontem uma operação abafa. A tentativa de deixar de lado o assunto uniu integrantes dos Três Poderes.

Ontem, por meio de nota, o Planalto negou que um encontro entre a presidente Dilma Rousseff e o presidente do STF, Ayres Britto, noticiado pela imprensa, tivesse tocado no assunto. Conforme o palácio, no encontro Dilma apenas convidou Ayres Britto a comparecer à Rio+20.

A senha para a operação de serenar os ânimos foi dada pelo presidente da Câmara, o petista Marco Maia (RS). Ontem, ele sugeriu um "chá de camomila" aos exaltados.

– Temos de dar um chá de camomila a todos os envolvidos – disse Maia.

Preocupada em não fragilizar Lula, a presidente aproveitou um discurso durante solenidade de entrega da quarta edição do Prêmio Objetivos do Desenvolvimento do Milênio Brasil, no Planalto, para homenageá-lo.

– Processos e pessoas têm uma ligação íntima, as pessoas nos lugares certos e na hora certa mudam os processos e transformam a realidade e por isso queria, de fato, aqui fazer uma homenagem especial ao presidente Lula – afirmou Dilma.

Depois da cerimônia, ela recebeu Lula no Alvorada para um almoço e escalou os ministros Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, e Ideli Salvatti, de Relações Institucionais, para um encontro no hotel onde se hospedou o ex-presidente. Na terça-feira, Dilma se encontrara por mais de uma hora com o presidente do STF, ministro Ayres Britto. Eles conversaram sobre a situação. Naquele mesmo dia, o ministro se encontrou com Gilmar Mendes.

FONTE: ZERO HORA (RS)

Governo e STF acalmam ânimos

Dilma se encontra com Lula no Alvorada; governo e o Supremo se movimentaram para desidratar a crise entre o ex-presidente e o ministro do STF Gilmar Mendes por causa do julgamento do mensalão

Dilma recebe Lula e operação ameniza crise

Integrantes dos Poderes agiram para neutralizar a escalada de acusações no episódio envolvendo o ex-presidente e o ministro do STF Gilmar Mendes

Rafael Moraes Moura, Tânia Monteiro, Vera Rosa e Eduardo Bresciani

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff comandou ontem uma operação para desidratar a crise envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Um script bem encadeado, que mobilizou integrantes dos três Poderes, foi posto em ação para neutralizar a escalada de declarações. O Palácio do Planalto divulgou nota, ontem, contestando reportagem do Estado sobre o assunto. Também em nota, o jornal manteve as informações (leia as íntegras abaixo). A senha para a operação de serenar os ânimos foi dada pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que na terça-feira chegou a criticar Mendes. Ontem, porém, Maia sugeriu um “chá de camomila” aos exaltados. “O importante é que se passe uma borracha nesse episódio, que não vai trazer problema para o Brasil. Temos que dar um chá de camomila a todos os envolvidos, principalmente neste momento em que se aproxima a votação (do mensalão) no Supremo.”

Encontros. Lula esteve ontem em Brasília e conversou sobre a crise com Dilma, em almoço de duas horas, no Palácio da Alvorada. Ele foi acusado por Mendes de ajudar “bandidos” que querem “melar” o julgamento do processo do mensalão, no STF. Pela versão do ministro, Lula ofereceu blindagem a ele na CPI do Cachoeira em troca de um acordo para adiar o julgamento. O ex-presidente chegou na noite de terça-feira em Brasília. Naquele mesmo dia, ele recebeu o ministro da Pesca, Marcelo Crivella, e repetiu estar “indignado” com a atitude de Gilmar Mendes. Ontem, Lula se reuniu no hotel com os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e com o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Dilma orientou os auxiliares a não mexer nesse vespeiro e ficou furiosa com notícia dando conta de que ela está preocupada com a crise e com o possível esgarçamento das relações com o Judiciário. O governo nega a operação abafa e a ordem no Planalto é não falar sobre o assunto. Nos bastidores, o comentário é o de que a imprensa não explora as “contradições” nas entrevistas de Mendes e está disposta a condenar Lula. Na noite de hoje o ex-presidente deve dar explicações sobre a polêmica no Programa do Ratinho, do SBT. Foi uma estratégia definida para que Lula possa falar ao vivo num programa popular. Ainda ontem, Dilma aproveitou um discurso durante solenidade de entrega da quarta edição do “Prêmio Objetivos do Desenvolvimento do Milênio” para homenagear Lula. “Processos e pessoas têm uma ligação íntima. As pessoas nos lugares certos e na hora certa mudam os processos e transformam a realidade. Por isso, eu queria, de fato, aqui fazer uma homenagem especial ao presidente Lula”, afirmou Dilma. Ela foi interrompida por aplausos da plateia, que se levantou e gritou “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”, em coro. “Faço essa homenagem pelo desempenho do presidente Lula em se comprometer no Brasil com a questão do desenvolvimento e da oportunidade para os mais pobres”, insistiu Dilma.

‘Algumas pessoas não gostam de mim, tenho de tomar cuidado’

Sem mencionar a crise política, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem uma referência indireta a seu embate com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ao proferir palestra no 5º Fórum Ministerial de Desenvolvimento. “Vocês sabem que tem muita gente que gosta de mim, mas tem algumas pessoas que não gostam. Eu tenho de tomar cuidado contra essas”, disse, provocando risos da plateia. “São minoria, mas estão aí no pedaço.” Lula insinuou que existem intrigas contra ele e disse querer evitar “dissabores”. Não citou, porém, o atrito com Mendes. “Vou falar em pé porque senão podem dizer que estou doente’”, afirmou.

ÍNTEGRAS

A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República divulgou ontem nota contestando reportagem do Estado e negando risco de crise institucional no episódio envolvendo o ex-presidente Lula e o ministro do STF Gilmar Mendes. Por meio também de nota, o jornal manteve a informação publicada.

Nota da Presidência da República:

A Presidência da República informa que são no todo falsas as informações contidas na reportagem que, em uma de suas edições, apareceu com o título ‘Para Dilma, há risco de crise institucional’, publicada hoje no diário O Estado de S. Paulo.Em especial, a audiência de ontem da presidenta Dilma Rousseff com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ayres Britto, tratou do convite ao presidente do STF para participar da Rio+20 e de assuntos administrativos dos dois poderes. Reiteramos que o conjunto da materia e, em especial, os comentários atribuídos à presidenta da República citados na reportagem são inteiramente falsos.

Contrariando a prática do bom jornalismo, o Estadão não procurou a Secretaria de Imprensa da Presidência para confirmar as informações inverídicas publicadas na edição de hoje. Procurada a respeito da audiência, a Secretaria de Imprensa da Presidência informou ao jornal Estado de S. Paulo eà toda a imprensa que, no encontro, foram tratados temas administrativos e o convite à Rio+20.”

SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.

Nota do Estado:

O Estado está seguro da apuração que fez e mantém a informação publicada sobre a preocupação do governo com o episódio e seu potencial de risco político, a despeito do desmentido oficial. A matéria publicada pelo Estado é fruto de apuração junto a fontes credenciadas do governo e desenvolvida desde a divulgação do teor da conversa entre o ex-presidente Lula e o ministro Gilmar Mendes. Segundo essas fontes, o fato preocupou profundamente a presidente Dilma Rousseff pelo seu potencial de crise. Dentro e fora do Palácio do Planalto é corrente a leitura de que é preciso evitar o envolvimento do governo com o assunto, raiz da orientação presidencial de silêncio sobre o tema. A audiência entre a presidente e o ministro Ayres Britto, nesta terça-feira, 30, foi marcada a pedido deste em razão de sua posse como presidente do Supremo Tribunal Federal. Foi, portanto, o primeiro encontro formal de ambos na condição de dirigentes máximos dos dois poderes da República, quando a pauta é de natureza necessariamente institucional.

Diante da crise política deflagrada depois do encontro entre o ex-presidente Lula e o ministro Gilmar Mendes, é natural que a versão oficial da reunião entre a presidente Dilma e o presidente do STF enfatize o evento Rio+20, embora este não tenha ocupado a pauta mais que o tempo necessário ao convite a Britto para o evento.

RICARDO GANDOUR, DIRETOR DE CONTEÚDO DO GRUPO ESTADO

FONTE O ESTADO DE S. PAULO

Bombeiros abafam crise com o STF

No STF, no governo e na base, o dia ontem foi de colocar panos quentes na crise provocada pelas declarações de Gilmar Mendes sobre Lula. No Supremo, o presidente Ayres Britto minimizou o episódio, enquanto governistas evitaram responder às críticas da oposição. Até mesmo Lula preferiu não citar o caso, mas reclamou: "Tem pessoas que não gostam de mim."

Após desgaste, STF tenta manter normalidade

Presidente da Corte diz que conflito de versões entre Lula e Gilmar não interfere e que julgamento do mensalão será técnico

André de Souza

BRASÍLIA. Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) se esforçaram ontem para passar uma imagem de normalidade, numa tentativa de diminuir o desgaste provocado pelo embate entre o ministro Gilmar Mendes e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo relato de Gilmar, Lula o procurou e sugeriu que poderia protegê-lo das investigações da CPI do Cachoeira. Em troca, Gilmar Mendes ajudaria a adiar o julgamento do mensalão para o ano que vem.

Segundo o presidente do STF, ministro Ayres Britto, o episódio não provoca crise institucional.

- Aqui ninguém está abalado com isso, no sentido de predisposição seja para condenar ou absolver. Isso não interfere no nosso dever de julgar tecnicamente essa causa.

Já o ministro Marco Aurélio Mello defendeu tanto Lula como Gilmar Mendes. Segundo ele, a preocupação de Lula em torno do mensalão é compreensível. Também disse que Gilmar Mendes não precisa de proteção, uma vez que ele não está sendo investigado pela comissão.

- Ele (Lula) está integrado a um partido. Há quem diga que ele é o partido. E há pessoas do partido acusadas. Então é natural que ele leve seu ponto de vista (...) o ministro não precisa ser protegido. Ele não está sendo investigado.

Gilmar Mendes, que deu várias declarações a respeito do assunto nos últimos dias, preferiu não falar a respeito ao entrar no Supremo ontem. Já Ayres Britto disse que o STF não vai fazer uma defesa pública de Gilmar:

- O ministro Gilmar não pediu absolutamente nada para que o tribunal se manifestasse ou coisa que o valha. Ninguém tomou essa iniciativa porque entendeu que não há gravidade suficiente para isso. Começamos a sessão do jeito mais natural possível.

Ayres Britto confirmou que se encontrou na noite de terça com o ministro Gilmar Mendes. Mas negou que tenham falado a respeito da conversa que ele teria travado com Lula.

- Tomei um café, bati um papo com ele. Simplesmente troquei umas ideias. Não fui lá para me solidarizar. Não fui lá para recriminar, que não me cabia menos ainda. Nada institucional. Fui lá, cumprimentei.

Ele negou ainda que, no encontro que teve na terça-feira com a presidente Dilma Rousseff, tenha discutido o episódio. Segundo Ayres Britto, falaram sobre assuntos dos poderes Executivo e Judiciário, em especial a Rio+20. Questionado sobre as declarações de Gilmar Mendes, Ayres Britto respondeu:

- Não me cabe opinar sobre isso. O ministro Gilmar vê as coisas por esse prisma. Certamente ele tomará as providências necessárias ou compatíveis com o quadro que ele mesmo traçou.

Também ontem, o PSOL protocolou na Procuradoria Geral da República uma representação contra Gilmar Mendes. Eles questionam o motivo pelo qual o ministro só tornou pública agora a suposta conversa com Lula - um mês depois de ter ocorrido.

FONTE: O GLOBO

Em 2012, ex-presidente se reuniu com 5 dos 11 ministros do Supremo

Só Gilmar Mendes diz ter sido questionado por Lula sobre julgamento do mensalão

Felipe Seligman

BRASÍLIA - Pelo menos 5 dos 11 ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) se encontraram com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste ano, mas apenas Gilmar Mendes afirma ter discutido sobre o julgamento do mensalão.

Os outros quatro ministros que encontraram o ex-presidente, todos indicados ao STF por Lula, são: José Antonio Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Carlos Ayres Britto.

Apenas Luiz Fux não respondeu aos questionamentos da Folha. Rosa Weber, Joaquim Barbosa, Cezar Peluso, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello disseram não ter encontrado o ex-presidente.

Mendes relatou um encontro que teve com Lula, no escritório do ex-ministro Nelson Jobim, no qual o ex-presidente teria insistido que o mensalão não poderia ser julgado em 2012.

De acordo com Mendes, ao perceber que a conversa não teria efeito -já que o ministro defende a realização do julgamento ainda neste semestre-, Lula passou a falar sobre episódios que poderiam levar o magistrado à CPI do Cachoeira. Lula e Jobim confirmam o encontro, mas negam o teor da conversa.

Outros encontros

Toffoli e Cármen Lúcia afirmaram ter visitado Lula no hospital Sírio-Libanês em abril, em ocasiões diferentes. Dizem que não trataram do mensalão. Toffoli diz ainda que Lula nunca pediu sua participação no julgamento.

Já Lewandowski não deu detalhes do encontro. Nos bastidores há duas versões.

A primeira é a de que o ministro também foi visitar Lula no hospital. A segunda é a de que teriam se encontrado em São Bernardo (SP). O ministro afirmou apenas que "o presidente Lula jamais falou sobre a AP 470 [ação penal do mensalão] comigo".

O encontro de Ayres Britto com Lula foi público, no Palácio da Alvorada, em maio.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PSDB diz que ex-presidente ameaça a democracia

Christiane Samarco

BRASÍLIA - A cúpula do PSDB fez ontem duras críticas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por causa do encontro que ele teve com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente nacional do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) acusaram Lula de ameaçar a democracia, ao tentar interferir em outro Poder para adiar o julgamento do processo do mensalão no STF. “Ninguém está acima da lei e ninguém pode tudo num país que preze a democracia”, criticou Aécio, ao se declarar surpreso com a ação de Lula que, antes de deixar o cargo, anunciava que iria mostrar como deve se comportar um ex-presidente, contrapondo-se ao antecessor Fernando Henrique Cardoso. “Vivemos um momento grave, uma crise institucional. O Lula e o PT ameaçam o STF e o Procurador-Geral da República, o que nunca aconteceu na história do País”, emendou Guerra. O senador entende que “há algo de veracidade” nos relatos do ministro Gilmar. Para o presidenciável tucano, se confirmada, a conversa entre eles é algo “triste para a democracia e grave do ponto de vista das instituições”.

Aécio ressaltou que a existência, no Brasil, de instituições “absolutamente sólidas que saberão enfrentar esse “início de crise institucional” o tranquiliza. Mas insistiu que, a seu ver, houve um excesso de Lula que será julgado pela população. Guerra e Aécio participaram na capital federal de um encontro com pré-candidatos do PSDB às prefeituras das cem maiores cidades brasileiras, Em São Paulo, durante sabatina no SBT, o ex-governador e pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, também comentou o caso: “Está tendo um problema entre as instituições, sem dúvida alguma. Por outro lado, a presidente Dilma não pode dizer outra coisa (em nota do Planalto, ela negou risco de crise institucional). Ela tem que contribuir para a estabilidade. Se ela diz que tem risco de instabilidade ela contribui para isso.”

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Para analistas, vaidade e apreensão movem petista

Lula teria receio sobre sua imagem e eleições

SÃO PAULO. Um misto de preocupação eleitoral e vaidade é apontado por especialistas em comunicação e ciência política como o pano de fundo das mais recentes movimentações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva -- a suposta tentativa de adiar o julgamento do mensalão e o trabalho nos bastidores para viabilizar a CPI do Cachoeira.

Para o professor de Comunicação Política da Universidade Federal de São Carlos, Fernando Antônio Azevedo, Lula e o PT já deram demonstrações de que estão apreensivos com o risco político que representa o julgamento do processo pelo Supremo Tribunal Federal às vésperas da eleição municipal.

- Como foi um grande escândalo político, quando o julgamento começar certamente será o foco de toda a mídia. Em ano eleitoral, ele vai reavivar na memória do eleitor todo aquele processo que teve o PT como principal envolvido há sete anos - afirmou o Azevedo.

Na cruzada empreendida por Lula a favor da CPI, o cientista político e professor da Universidade de Brasília, David Fleischer, vê motivações pessoais, além de políticas.

- Lula tem preocupação sobre como será tratado pela história. Como será lembrado o seu primeiro governo com o escândalo do mensalão. Não tenho dúvida que há muita vaidade e zelo pela própria imagem nesse processo todo -afirmou Fleischer.

Para Fleischer, o ex-presidente viu na CPI a possibilidade desgastar a oposição, ao expor as ligações de políticos como o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e do governador Marconi Perillo (PSDB) com, Cachoeira. Com isso, ele quer desconstruir a tese de que o PT é o único partido envolvido em escândalos e ainda acertaria as contas com Perillo.

- O Lula odeia o Perillo, porque foi o tucano, que, na época do mensalão, tornou público que havia alertado Lula. Até hoje, o ex-presidente sustenta que só soube do fato pelos jornais.

Para Azevedo, o julgamento levou Lula e o PT a estimular a CPI.

- A impressão que dá é que, quando eles perceberam que o mensalão seria mesmo julgado neste ano, a CPI surgiu como um instrumento para dividir a atenção da mídia.

FONTE: O GLOBO

CPI dá passo à frente e convoca governadores do PSDB e do PT

Convocação de Cabral é rejeitada; comissão quebra sigilo de Demóstenes

A CPI que investiga a relação do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários convocou para depor os governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Perillo terá de explicar a venda de uma casa pela qual teria recebido cheques de pessoas ligadas a Cachoeira, e Agnelo será chamado a falar sobre conversas em que ex-servidores do governo discutem contratos públicos com integrantes da quadrilha. Foi rejeitada a convocação do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). A convocação de Agnelo surpreendeu o PT. A CPI quebrou o sigilo bancário, fiscal e telefônico do senador Demóstenes Torres (sem partido - GO) e de mais 18 empresas ligadas ao grupo de Cachoeira.

CPI convoca Perillo e Agnelo

Cabral não precisará depor; base aliada deu sete votos pela presença de governador do DF

Roberto Maltchik

BRASÍLIA - A CPI que investiga a relação de Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários decidiu convocar os governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), mas barrou a inquirição de Sérgio Cabral (PMDB), do Rio. A convocação de Agnelo surpreendeu o PT e pôs em rota de colisão parlamentares da base do governo Dilma Rousseff. Os aliados do Planalto se uniram apenas na hora de assegurar que Perillo também fosse chamado, e para proteger Cabral, que se livrou da CPI até mesmo com votos de parlamentares tucanos. Na mesma sessão, os parlamentares quebraram o sigilo bancário, fiscal e telefônico do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).

O Palácio do Planalto, respaldado pelo relator e pelo presidente da CPI, perdeu uma batalha de quase três horas para impedir a convocação de Agnelo. A convocação do petista foi a que melhor expôs o racha na base aliada. PT e PMDB votaram unidos, porém governistas como o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o deputado Hugo Leal (PSC-RJ) aderiram à tese da convocação de Agnelo, citado em interceptações telefônicas feitas pela Policia Federal (PF) nas quais ex-servidores do governo do GDF discutem contratos públicos com integrantes da organização de Cachoeira. Agnelo foi convocado por 16 votos a 12, com sete votos de parlamentares da base.

- Essa é a linha de atuação do PSC. Nossa linha é fazer uma investigação completa. Todos são ex-parlamentares e a convocação é a melhor oportunidade deles para se defender - justificou Hugo Leal.

Cabral teve apoio de tucanos

Marconi Perillo, que um dia antes compareceu à CPI para dizer que gostaria de prestar depoimento, foi o único convocado com votação unânime. O governador de Goiás é citado nas Operações Vegas e Monte Carlo, e investigações da PF apontaram que Cachoeira influenciava a nomeação de pessoas para cargos públicos no estado. A venda de uma casa de Perillo, paga com cheques de pessoas que seriam ligadas a Cachoeira, também está na mira da CPI. O PSDB conseguiu impedir a aprovação de requerimento, apresentado pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), para que o sigilo telefônico de Perillo fosse quebrado. O relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), votou contra a convocação de Agnelo e Cabral, mas favoravelmente à convocação de Perillo, mesmo com o entendimento de que "há indícios mais contundentes no que diz respeito aos dois governadores (Perillo e Agnello)".

- Quero repetir aqui: a investigação da Polícia Federal e o depoimento do delegado Matheus Mella (responsável pela operação Monte Carlo) sustentam que, nas ligações interceptadas, há 237 referências ao governado Marconi Perillo. São 237! Temos que ter clareza do que nós estamos investigando, das pessoas que efetivamente têm envolvimento com essa organização criminosa - afirmou Cunha durante a sessão.

Com relativa margem de folga, por 17 votos a 11, PT, PMDB e até parlamentares do PSDB resolveram impedir a convocação de Sérgio Cabral, amigo do ex-presidente da Delta Fernando Cavendish. Cabral já havia recebido garantias do PT de que a legenda não apoiaria sua convocação. No plenário, parlamentares de diferentes partidos disseram que não haveria motivos que justificassem a convocação do governador do Rio, como os tucanos Carlos Sampaio (SP) e Cássio Cunha Lima (PB).

- Não tem sentido, porque ele sequer foi referido em qualquer momento. Convocações têm que ter senso de oportunidade na lógica investigativa. Minha decisão nada tem a ver com qualquer partidarização ou direcionamento - sustentou Sampaio.

Os requerimentos só foram aprovados depois que o presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), respondeu questão de ordem, levantada pelo deputado Gladson Cameli (PP-AC), que questionou a legitimidade da CPI para investigar governadores.

- Há de se afastar os argumentos trazidos pelo autor da questão de ordem de que, permitida a convocação de governador pela CPI, haveria de se admitir a convocação do presidente da República por uma CPI instalada em Assembleia Legislativa. É que o Congresso Nacional, no exercício de sua função judicante, têm jurisdição em todo o território nacional - disse o presidente.

A confirmação dos depoimentos dos governadores, que ainda não têm data marcada, foi precedida pelo debate sobre a quebra de sigilo bancário e fiscal dos governadores, que acabou não ocorrendo. Para permitir as convocações, nem mesmo as quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônicos dos deputados Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), Sandes Junior (PP-GO) e Stepan Nercessian (PPS-RJ) foram à votação. Na lista das quebras de sigilo, a única aprovada foi a de Demóstenes Torres (sem partido-GO), cujas informações sigilosas desde janeiro de 2002 serão devassadas. Demóstenes tem depoimento marcado para hoje na CPI, mas deve ficar calado.

O GLOBO

Cabral irrita-se com perguntas sobre a Delta

Marcelo Gomes

RIO - O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho ( PMDB), ficou irritado ontem ao ser questionado por um jornalista se temia a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico da Delta Construções, aprovada na terça-feira pela CPI do Cachoeira do Congresso Nacional. Foi a primeira vez que Cabral falou sobre o caso desde 27 de abril, quando vieram à tona fotos dele em festas em Paris com secretários estaduais e com o empresário Fernando Caven-dish, dono da empreiteira e seu amigo pessoal. “Por que eu temeria? Acho até um desrespeito da sua parte me perguntar isso. Uma coisa é a relação pessoal que eu tenho com empresários ou não empresários. Outra coisa é a impessoalidade da decisão administrativa. Essas ilações são de uma irresponsabilidade completa, um des- respeito completo com a minha pessoa, com a administração que a gente vem fazendo aqui, com os meus secretários de Estado”, disse. “Porque os secretários partem sempre da premissa e reconhecem a gestão impessoal que a gente tem feito, da imparcialidade e da autonomia dos secretários. Eu duvido que algum secretário meu diga: ‘Bom, o governador um dia ligou para pedir a nomeação de A, B ou C, ou para influenciar em qualquer decisão administrativa’. Por que eu temeria?”

Contratos.

A Delta já recebeu R$ 1,49 bilhão em contratos com o governo do Rio durante a gestão Cabral. As fotos das confraternizações na capital francesa, ocorridas em 2009, foram reveladas pelo blog do deputado federal Anthony Garotinho (PR), adversário de Cabral. Cabral disse ainda que não vai se oferecer para ser ouvido na CPI do Cachoeira, como fez o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), na terça-feira. “O governador de Goiás tem as razões dele e eu respeito. Há 250 mil gravações e meu nome não aparece em nada. Não é o fato de uma amizade que me levaria a ir a qualquer lugar, mas eu respeito o governador e tenho certeza de que ele terá a oportunidade de se defender.” Cabral também afirmou que não vê razão para ser convocado para depor na CPI. “Eu não vejo razão, e os deputados e senadores têm sido muito responsáveis. Você não pode transformar a CPI num palanque político em ano eleitoral”, sentenciou o governador, que acrescentou: “O governador nunca pegou o telefone para escolher ninguém. Nem empresas nem pessoas para trabalhar nas secretarias. Isso é de um desrespeito profundo. Tenho ouvido isso, e tem me deixado muito impressionado com alguns segmentos que fazem ilações irresponsáveis”.

Cabral participou ontem da inauguração da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Alemão, que vai atender cerca de 20 mil moradores dos Morros do Alemão e da Pedra do Sapo, na zona norte do Rio.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Encontro Lula/Gilmar Mendes reforça urgência de julgamento do mensalão::Jarbas de Holanda

 Esta é a avaliação, inicial, predominante na mídia e nos meios políticos, inclusive em reuniões fechadas de lideranças petistas: a pressão do ex-presidente Lula sobre o STF a fim de que seja protelado para depois das eleições municipais o julgamento dos chamados mensaleiros, desencadeada – ou ampliada – com o re-ferido encontro (que se tornou público e foi detalhado pelo ministro do Tribunal, Gilmar Mendes, numa entrevista para reportagem da Veja desta semana, com o título “Um ex defende seu legado”), essa pressão teve efeitos inteiramente opostos aos projetados. Expressos em rápidas e veementes reações institucionais de outros membros do Supremo, logo seguidas pelas da OAB. Que estreitaram mais, se não anularam, a possibilidade de adiamento da decisão judicial (que só aguarda a liberação do processo pelo revisor Ricardo Lewandowski). Na entrevista sobre o encontro (realizado em 26 de abril no escritório de Nelson Jobim, em Brasília), Gilmar Mendes narra como Lula procurou forçá-lo a mudar sua postura em favor do julgamento no início do segundo semestre. Insinuando que o ministro poderia ser denunciado na CPMI de Cachoeira por uso, em viagem a Berlim com a esposa, de dinheiro do contraventor. O que ele evitaria com o controle que tem sobre a Comissão das duas casas do Congresso. Barganha ou chantagem que Gilmar repeliu esclarecendo ter feito tal viagem com seus próprios recursos, e recomendando a ele (Lula): “Vá fundo na CPI”. E antes desse diálogo, o ex-presidente discorreu sobre as articulações que já começara e desdobraria para influenciar, com objetivo semelhante, os votos de três outros ministros do STF – Carmem Lúcia, José Dias Toffoli e o próprio presidente Carlos Ayres de Britto.

Outro efeito da reportagem da Veja e de seus desdobramentos configurou-se ontem na CPI do Cachoeira: a quebra de sigilos da Delta nacional, que poderá empurrar o inquérito dos parlamentares para bem além dos limites seletivos da “vingança” do lulopetismo contra o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, e a imprensa. Essa quebra põe em xeque o controle da CPMI pelo ex-presidente, alardeado no seu encontro com Gilmar Mendes, e que garantira à presidente Dilma ao desencadear, ignorando-a, a instalação dela. Pois a extensão das apurações ao plano federal implica riscos concretos para o Palácio do Planalto. E extensão que se dá num contexto de política econômica em que a presidente sente-se desafiada por projeções de um PIB tão pequeno quanto o de 2011, de 2,7%, ou até de um crescimento menor.

Quanto a mais dividendos, políticos e sociais, do desastrado encontro de Lula com o ministro Gilmar Mendes, um bem previsível, com ou sem ativação da CPMI, é o adensamento da cobrança popular de rápido julgamento do mensalão. Por outro lado, os partidos oposicionistas podem recuperar energia com a denúncia das pressões contra o STF e com a vinculação dela à campanha eleitoral nas capitais e grandes cidades.

Jarbas de Holanda é jornalista

Sobriedade:: Merval Pereira

Só não há uma crise institucional no país porque a presidente Dilma está tratando a disputa entre o ex-presidente Lula e o ministro do Supremo Gilmar Mendes de maneira equilibrada, sem envolver o governo. Da mesma maneira, o presidente do Supremo, Ayres Britto, está cuidando de não dar ao fato a dimensão que ele realmente tem, na tentativa de esvaziar suas consequências.

O ministro Gilmar Mendes foi apenas o que denunciou a manobra de Lula para adiar o julgamento do mensalão, mas pelo menos outros dois ministros do Supremo estiveram com Lula nos últimos meses: o ministro revisor Ricardo Lewandowski e o ministro Dias Toffoli.

E Lula, no relato da conversa por Gilmar Mendes, revelou o que tratou com os dois. Considero a essência do relato do ministro verdadeira, pois só os ingênuos podem acreditar que Lula convidasse um ministro do Supremo para um encontro sem que o assunto principal fosse o julgamento do mensalão.

Outros, que fingem acreditar na versão edulcorada de que a reunião foi uma conversa de amigos sobre generalidades, são militantes petistas, empenhados no mesmo movimento de Lula: constranger o Supremo a adiar o julgamento do mensalão, ou pôr em dúvida o seu resultado.

Junto a Toffoli, Lula defendeu a tese de que ele deveria participar do julgamento, quando setores jurídicos consideram que deveria se declarar impedido, pois boa parte de sua carreira foi feita no PT.

De 1995 até 2000 foi assessor parlamentar da Liderança do PT na Câmara. Nas campanhas presidenciais de Lula em 1998, 2002 e 2006, foi o advogado do partido. Foi subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil de 2003 a 2005, durante a gestão de José Dirceu, acusado pela Procuradoria Geral da República de ser o chefe da quadrilha do mensalão. Em 2007 assumiu a Advocacia Geral da União a convite de Lula, de onde saiu para ser ministro do Supremo.

Além de todo esse currículo petista, a namorada de Toffoli foi advogada de mensaleiros.

Lula se referiu a Lewandowski, dizendo que ele somente entregaria seu voto de revisor, sem o qual o processo não pode entrar em julgamento, no segundo semestre, mas está sendo pressionado a entregá-lo este mês. Como esteve com Lewandowski recentemente, depreende-se que Lula soube dessa mudança de atitude do revisor do mensalão através do próprio, cuja família tem relação de amizade com a da ex-primeira-dama dona Marisa, em São Bernardo do Campo.

O estrago está feito pelo voluntarismo de Lula, que não sabe fazer outra coisa a não ser politizar todas as relações.

Um julgamento no Supremo tem, na visão de Lula, só um lado, o do prejuízo que pode causar aos seus projetos políticos.

Ele não está preocupado do ponto de vista institucional com as consequências do mensalão, e muito menos com a preservação do Supremo, mas teme que o PT seja atingido nas urnas em caso de condenação de seus membros mais importantes envolvidos no processo, como Dirceu, Genoino ou João Paulo Cunha.

Assim como primeiro pediu desculpas ao país pelo que acontecera, em cadeia de TV, para depois afirmar que o mensalão sequer existiu, sendo tentativa de golpe contra seu governo, Lula agora desmente o que prometeu ao sair do Planato. Disse que "desencarnaria" do papel de presidente e não se meteria em política, em crítica à atuação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Pois Lula não apenas não "desencarnou" do papel de presidente como está encarnando outro personagem, o do soberano que tudo pode.

Nunca esteve tão ativo politicamente, apesar de seu estado físico evidentemente precário. Como a confirmar que tudo para ele é política, ontem a única referência que fez aos últimos acontecimentos foi oblíqua, dizendo que tem "muita gente" que não gosta dele e que precisa "tomar cuidado" com essa "minoria". Isso para explicar que falaria em pé para que não dissessem que estava doente. Como se fosse possível, e até desejável, unanimidade em torno de sua figura política, ou que os que são contra ele lhe desejam mal.

Tanto Dilma quanto Ayres Britto tiveram a sensatez de não alimentar a disputa pública em que se envolveram Lula e um ministro do Supremo. Ambos presidem Poderes que estão em confronto devido a uma atitude desastrada do ex-presidente Lula, que mais uma vez demonstra que não tem os cuidados que deveria com a separação e o equilíbrio de poderes, tentando usar sua força política para constranger ministros do STF.

Em vários momentos de seu governo, ele agiu assim, notadamente durante as campanhas eleitorais. A presidente Dilma, descrita normalmente como uma pessoa de pavio curto, está se revelando uma hábil política no exercício da Presidência da República.

Ao reverenciar as políticas sociais do presidente Lula, ela ressaltou o aspecto positivo da sua liderança política, deixando de lado as questões polêmicas em que anda se envolvendo.

A homenagem teve a justa medida de demonstrar sua solidariedade em um momento em que a liderança de Lula está fragilizada, por seus gestos temerários, e a lucidez de não envolver o governo no episódio.

O governador do Rio, Sérgio Cabral, não tem razão para se indignar com a ilação de que a quebra de sigilo da empreiteira Delta pode justificar sua convocação para a CPI do Cachoeira.

Ele criou as condições para que essas ilações não sejam irresponsáveis, pois sua relação pessoal com Fernando Cavendish quando este era o presidente da Delta dá uma sensação de promiscuidade entre o público e o privado que seu próprio governo critica no recentíssimo código de ética.

O Código da Alta Administração determina que funcionários do alto escalão devem guardar "distância social conveniente no trato com fornecedores de materiais ou contratantes de prestação de serviços ao Estado, abstendo-se, tanto quanto possível, de frequentar os mesmos lugares e de aparentar intimidade".

FONTE: O GLOBO

Abstinência de poder :: Eliane Cantanhêde

Como escrito nas estrelas desde o encontro nada institucional entre Lula e Gilmar Mendes, Gilmar destrambelhou e se jogou no centro de uma fogueira que não era dele, enquanto Lula faz o caminho inverso: assume a condição de vítima, com direito a homenagem de Dilma em palácio, vídeo do presidente do PT e guerrilha da "militância abnegada" na internet.

Antes que o grave erro de Lula passe a contar a favor e não contra ele, registre-se que o fim do poder lhe fez muito mal. Desde que desceu a rampa do Planalto, Lula vem pisando em falso e botando os pés pelas mãos.

Impôs unilateralmente Haddad ao PT-SP, assim como impusera Roseana Sarney para o PT-MA. São Paulo, porém, não é o Maranhão e Marta Suplicy não é Domingos Dutra.

Haddad é, de fato, um bom produto eleitoral e, se ganhar, será um fenômeno à la Dilma. Mas, por enquanto, patina e custa cada vez mais caro na negociação com os aliados.

Lula também atropelou Dilma, o Congresso e meia bancada do PT ao exigir a criação de uma CPI que só interessava à sua sanha contra a oposição e para embaçar o mensalão.

Do ponto de vista prático, Cachoeira e seus comparsas já estavam presos, Marconi Perillo já tinha caído nos grampos da PF e Demóstenes já estava na lona. Agora, com a quebra de sigilo da Delta, muitos aliados e muitas obras do governo federal podem entrar na dança.

E, enfim, nada pode ser mais "faca no pescoço" do Supremo (como temem os advogados dos réus do mensalão) do que a pressão, orientação ou insinuação de um ex-presidente tão popular e que indicou 8 dos 11 ministros da corte. O que mais Lula pretenderia ao procurar Toffoli e Lewandowski diretamente e outros ministros via seus padrinhos?

Se despreza as regras republicanas, ele deveria ao menos usar sua intuição brilhante e sua habilidade política invejável para imaginar o estrago que Gilmar faria. Como fez.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

STF em seu labirinto:: Dora Kramer

O dano é evidente: julgue quando julgar, decida como decidir no caso do mensalão, o Supremo Tribunal Federal por ora é a primeira vítima do processo.

Não faz bem à confiança nacional ver ministros da Corte Suprema transitando pelo terreno dos mexericos, das intrigas, sendo alvo de ilações melífluas ou de acusações explícitas.

O ambiente exige respeito, já dizia Billy Blanco referindo-se a gafieiras. No caso da representação da guarda do Estado de Direito exige-se, sobretudo, respeitabilidade.

Não é o que inspira a cena.

Do aviso inicial do ministro Ricardo Lewandowski sobre a hipótese de seu voto revisor ser apresentado só no ano que vem, atrasando o julgamento e tornando alguns crimes passíveis de prescrição, até a revelação do tenebroso encontro entre o ex-presidente Lula e o ministro Gilmar Mendes, o que se tem é o desgaste da imagem do Supremo.

Certo ou errado – provavelmente mais errado que certo – o cidadão olha para isso e fica no mínimo desconfiado de que os ministros do STF possam ser permeáveis a pressões.

Espera-se que não sejam como, aliás, vêm cuidando de esclarecer os magistrados. Por meio de negativas peremptórias sobre a possibilidade de sujeição a fatores outros que não os autos do processo, pela defesa da realização do julgamento o quanto antes ou por reações de repúdio à tentativa de pressão por parte do advogado "in pectore" dos réus.

Neste aspecto, a ofensiva do PT capitaneada por Lula tem obtido resultados, pois independentemente da data ou do resultado do julgamento, o Tribunal no momento está com sua confiabilidade posta em xeque.

Não quer dizer que não seja confiável, mas que se conseguiu incutir na sociedade uma dúvida quanto a isso, dando margem a questionamentos em relação ao preceito de que decisão da Justiça não se discute.

E a questão que surge na cabeça do "leigo" – ou seja, todos aqueles não familiarizados com o funcionamento do Tribunal e com o significado da função daqueles que ali estão para guardar a Constituição – é a seguinte: a coação influirá na decisão?

A interpretação de que a investida de Lula tenha tido efeito contrário ao pretendido, acabando por levar o Supremo a se apressar e os ministros a tender pela condenação como forma de reação, traz consigo a suposição da substituição do racional pelo emocional na conduta dos ministros.

Estaria aí quebrado o compromisso estrito com a legalidade. Da mesma forma se, por razões processuais, o julgamento atrasar mais que o desejado e/ou por ausência de provas suficientes houver absolvições, dar-se-á – e desde já assim se dá – como certo que houve êxito na pressão dos acusados.

O mais provável é que nenhuma dessas impressões correntes traduza com perfeição a realidade.

Mas, sendo assim o que parece, conviria ao Supremo enfrentar de uma vez o problema tratando de desanuviar o cenário e de se recompor com a majestade de suas funções.

Antes que se consolide a visão deformada de que em julgamento estão os juízes e não os 38 réus acusados de organizar um esquema de assalto – lato e estrito sensos – ao Estado.

Aos fatos. Não existe "guerra de versões" sobre a conversa de Lula com Gilmar Mendes no escritório de Nelson Jobim.

O ministro contou e reafirmou com detalhes o que foi dito. Lula e Jobim apenas o desmentiram, mas não apresentaram as respectivas versões a respeito do que foi dito naquele encontro.

Passo a passo. A decisão de chamar os governadores do Distrito Federal e de Goiás e deixar de fora Sérgio Cabral, do Rio, em princípio não pode ser atribuída a blindagens políticas.

Os dois primeiros foram citados nas escutas na Polícia Federal. Cabral não foi. O que não significa que não deva explicações sobre suas relações com a Delta e que não venha a ser chamado mais adiante a dá-las na CPMI se a quebra dos sigilos da construtora assim determinar.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Lula insiste em minimizar mensalão, diz FHC

Para tucano, ex-presidente tentou 'tapar o sol com a peneira' se de fato pressionou Gilmar Mendes para atrasar julgamento de processo

Cláudia Trevisan

PEQUIM - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou "tapar o sol com a peneira", caso tenha realmente pressionado o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes a adiar o julgamento do mensalão, afirmou nessa quinta-feira, 30, seu antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardoso.

"[O Lula] tem a tese de que o mensalão foi uma farsa, desde aquela declaração que deu em Paris [em 2005], com a qual tentou minimizar o mensalão. Se ele fez isso, e eu não posso afirmar porque não tenho dados, ele está insistindo na mesma tese", declarou FHC em Pequim.

Ressaltando não saber o que ocorreu no encontro entre Lula e Mendes, o tucano observou que "tentativas de tumultuar uma decisão dessas, de qualquer dos lados, não ajudam".

Segundo ele, "o Brasil avançou muito e chegou o momento em que essas coisas [o julgamento] têm que ser encaradas com naturalidade, com normalidade". O ex-presidente foi responsável pela nomeação de Gilmar Mendes para o STF, em 2002.

Se Lula ainda fosse presidente, a eventual pressão sobre o STF seria ainda mais "ilegítima", ressaltou. "Como cidadão, ele tem até mais liberdade. Ainda assim, acho que temos que guardar a distância necessária para que as instituições tenham sua respeitabilidade", afirmou.

"O que é importante é que haja um julgamento. É o que país todo espera, que haja um julgamento e que o julgamento seja correto, que o que está lá nos autos seja objeto de sanção", ressaltou o ex-presidente. "O país espera que o Tribunal atue com independência e objetivamente nos diga, 'é verdade' ou 'não é verdade'."

O tucano estava em Pequim para falar a empresários e investidores em encontro promovido pelo banco Itaú. A instituição financeira não informou jornalistas brasileiros baseados na capital chinesa sobre o evento. Representantes do banco chegaram a afirmar que os correspondentes estavam "proibidos" de entrevistar o ex-presidente, o que se mostrou inócuo quando o próprio se dispôs a falar.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Mudanças históricas

BC reduz taxa básica a 8,5%, seu menor nível, com votação aberta. Poupança tem novo cálculo de rendimento

Gabriela Valente

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu ontem cortar a taxa básica (Selic) de 9% ao ano para 8,5% ao ano, reduzindo os juros ao menor nível da História. A reunião foi simbólica também por outros motivos. Pela primeira vez, o voto de cada diretor seria divulgado individualmente, no entanto, isso não foi necessário, porque a decisão foi unânime. Outro fator inédito é que com o corte de ontem a nova regra para a remuneração da caderneta de poupança foi acionada.

No começo do mês, o governo anunciou que os novos depósitos na poupança não serão mais corrigidos pela antiga fórmula - 6% ao ano mais a taxa referencial (TR) - quando a Selic for igual ou menor que 8,5% ao ano. A partir de hoje, a aplicação renderá 70% da taxa básica de juros mais TR. As contas anteriores a 4 de maio foram preservadas com a regra anterior. Com a mudança, a equipe econômica evitou uma migração de aplicadores de fundos de investimento para a poupança, que tem isenção de Imposto de Renda para atrair os pequenos poupadores. E deixou o caminho aberto para o BC continuar a reduzir os juros básicos da economia, estímulo importante ao crescimento.

O Banco Central aproveitou para jogar os juros básicos no menor patamar da História, abaixo do que o antigo piso de 8,75% ao ano que vigorou no auge da crise de 2009. A sétima queda seguida dos juros vem em um cenário de crescimento baixo e aquém do esperado, inflação dentro da margem de tolerância do sistema de metas e perspectivas cada vez mais pessimistas em relação ao cenário internacional.

Crescimento está no radar do BC

"O Copom considera que, neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação. O comitê nota ainda que, até agora, dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária", atesta o comunicado dos diretores divulgado após o encontro.

Para o economista Roberto Padovani, da Corretora Votorantim, se o Banco Central (BC) fosse seguir à risca a cartilha das metas para a inflação, não deveria cortar mais os juros porque a previsão do mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 5,17%, acima do centro da meta, de 4,5% neste ano. No entanto, Padovani destaca que os diretores têm mostrado uma tolerância maior com a inflação, para não cometer o mesmo erro da crise anterior, quando demoraram demais para estimular a economia e o crescimento do país travou.

- Desde a crise de 2008, bancos centrais do mundo inteiro têm sido mais sensíveis ao crescimento. Isso não significa abandonar o sistema de metas - pondera o analista.

A previsão mais recente do BC mostra uma inflação de 4,4% ao fim deste ano. E ainda há sinais de desaceleração por causa da crise como a queda do preço das commodities . Essas previsões convergindo para o centro da meta reforçam a avaliação de que não há risco de os juros mais baixos alimentarem a inflação.

- Está tudo conspirando para o Banco Central continuar a cortar os juros e esse não é um movimento ousado - avalia o economista Sérgio Vale, da MB Associados. - A atividade está fraca e não vejo motivo de o Banco Central ser mais comedido.

Segundo Vale, mesmo o BC tendo escrito que usaria de parcimônia nas próximas decisões, estava claro que não voltaria a cortar menos do que meio ponto, por causa do cenário externo.

- O BC não tem sido muito fiel ao que escreve - observa ele.

Brasil cai ao 3º lugar no ranking mundial

Com o corte de ontem, o Brasil caiu para o em terceiro lugar no ranking dos maiores pagadores de juros reais no mundo. Projeção da Cruzeiro do Sul Corretora, considerando a inflação prevista para os próximos 12 meses, mostra uma taxa de 2,8%, agora atrás da Rússia (4,3%) e da China (3,1%). A nova colocação é histórica. Por anos consecutivos, o juro real do país foi o mais alto do mundo. Já havia caído para a segunda posição da listagem global na reunião passada do Copom.

Para o consumidor, no entanto, a diferença não deve ser sentida. Embora teoricamente o juro real reduza o custo dos empréstimos, o economista Jason Vieira, autor da projeção, afirma que a mudança não será percebida na prática. Para ele, ainda há incertezas sobre o rumo que o juro no país tomará. E, enquanto não for consolidado um novo patamar, os bancos não reduzem significativamente o custo.

- O estoque de crédito dos bancos já é grande e com custo alto, porque foi captado a taxas bem mais caras - comentou Vieira.

FONTE: O GLOBO

Empresários e sindicatos elogiam decisão

Mas são unânimes em cobrar novas ações para estimular economia

SÃO PAULO. O novo corte da Selic, que levou a taxa básica da economia ao seu menor nível histórico, foi elogiado por entidades empresariais e centrais sindicais. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) classificou a medida de acertada diante do cenário externo adverso e dos sinais de desaceleração da inflação no país. Como barateiam o crédito, argumenta a CNI, os juros menores devem contribuir para a retomada dos investimentos e o reaquecimento da demanda interna, que não têm mostrado grande desenvoltura. A entidade cobra do governo, porém, austeridade na administração dos gastos públicos.

Crítico feroz dos juros altos no país, Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), considerou positiva a queda da Selic e cobrou outras medidas para recuperar a competitividade do país:

- Produzir no Brasil é mais caro que nos EUA, em muitos países da Europa e nos nossos vizinhos da América do Sul. Para corrigir essa distorção, são necessárias ações efetivas que reduzam o custo Brasil (tributos, energia e infraestrutura).

Miguel Torres, presidente em exercício da Força Sindical, disse que com o novo corte da Selic o governo dá um incentivo para a economia, que neste momento está crescendo em um ritmo lento:

- A redução, que acontece pela sétima vez, é também um alento para a fraqueza da indústria, que vem mostrando dificuldades em apresentar sinais consistentes de crescimento.

Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) a Selic menor é um avanço, mas isso não basta.

- É inevitável forçar o sistema financeiro nacional a baixar de verdade as altas taxas de juros, o spread e as tarifas - afirmou Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.

FONTE: O GLOBO

Consumo ainda deve salvar o PIB

Fabiana Ribeiro e Henrique Gomes Batista

Mais uma vez, o consumo das famílias - principal motor da economia - deve salvar o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) brasileiro. Ainda assim, os analistas estão pouco otimistas com os dados do primeiro trimestre que serão divulgados amanhã pelo IBGE. Já a indústria e o investimento puxaram a economia para baixo no trimestre. As projeções de especialistas ouvidos pelo GLOBO para esses primeiros três meses do ano variam de 0,27% a 0,50%, frente o período de outubro a dezembro - o que traduz uma expansão fraca, num ritmo similar ao que se viu no último trimestre de 2011.

- Minha estimativa é o PIB de 2012 crescer 2,3%. Para isso, cada trimestre teria que avançar 0,75%, em média. É um ritmo fraco e um terço menor do que a média de 2005 a 2007 - disse André Perfeito, economista da Gradual Investimentos.

Se pela demanda é o consumo das famílias que evita um freio mais forte na economia, pela ótica da oferta, são os serviços os salvadores do PIB. Nas projeções da MB Associados, o segmento deve avançar 1,5% no primeiro trimestre frente a 2011.

FONTE: O GLOBO

Investimento do governo cai 3,5% até abril

Adriana Fernandes, Eduardo Cucolo

BRASÍLIA – Apesar das cobranças da presidente Dilma Rousseff, os investimentos do governo federal ainda patinam este ano, em meio ao cenário de desaceleração do ritmo de crescimento da economia brasileira. O Tesouro Nacional divulgou ontem dados que mostram quadro nada animador: queda de 3,5% dos gastos nos investimentos de janeiro a abril.

Esses dados não levam em consideração as despesas que o Tesouro tem com o pagamento de subsídios do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. Contabilizados esses gastos, que somaram R$ 7,1 bilhões no quadrimestre, os investimentos registraram, no período, expansão de 28,9%.

Há, no entanto, controvérsia técnica em relação à decisão de inflar os investimentos com os subsídios do programa habitacional que, para muitos especialistas, são gastos de custeio. Desde o início do ano, os gastos do Minha Casa passaram a ser incluídos na contabilidade das despesas com investimentos.

O resultado do chamado governo central, que reúne as contas do Tesouro, Previdência e Banco Central, mostrou que o governo pagou apenas R$ 1,51 bilhão dos investimentos previstos no Orçamento deste ano. O restante das despesas pagas - R$ 19,57 bilhões - foi de investimentos do Orçamento de 2011, transferidos para este início de ano como "restos a pagar" de 2011.

A dificuldade da máquina administrativa em acelerar o investimento ajudou as contas do governo central a fecharem com superávit primário de R$ 45 bilhões no primeiro quadrimestre, alta de 9,2%. O superávit primário é a economia que o governo faz para pagar gastos com juros da dívida pública. Até agora, o governo já cumpriu 46,5% da meta anual.

As despesas, de janeiro a abril, cresceram mais do que as receitas: 13,1%, ante 12,3%. Em abril, o superávit primário foi de R$ 11,21 bilhões, queda de 27,86% em relação ao mesmo mês de 2011, mas alta de 47% ante março de 2012.

Aceleração. O secretário do Tesouro, Arno Augustin, reconheceu que o desempenho dos investimentos não é o "ideal", mas prometeu aceleração nos próximos meses. O Estado informou ontem que a presidente Dilma encomendou um "choque" nos investimentos. "O aumento do investimento é elemento indutor do crescimento econômico", afirmou Augustin.

Segundo ele, o resultado fiscal até abril dá tranquilidade para o cumprimento da meta integral de superávit, sem a necessidade de abatimentos. Para Augustin, o aumento dos investimentos não é incompatível com o cumprimento da meta.

Ele negou que o governo vá reduzir o esforço fiscal para acelerar o crescimento. Mas disse que o governo fará sempre ações necessárias para dar o maior impulso possível à economia. No sábado, o Estado mostrou que o governo pode reduzir o superávit em caso de agravamento da crise. "A fórmula que o Brasil vem adotando é bem-sucedida e vamos mantê-la. Vamos abrir espaço para a política monetária".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Produção industrial cai 2,9% em abril na comparação com 2011

Segundo o IBGE, na comparação entre abril e março, o recuo foi de 0,2%

Daniela Amorim

RIO - A produção industrial recuou 0,2% em abril ante março, na série com ajuste sazonal, segundo informou nesta quinta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado veio dentro das expectativas dos analistas ouvidos pelo AE Projeções, que estimaram desde uma queda de 2,00% a uma alta de 0,90%, mas ficou abaixo da mediana positiva de 0,15%.

Na comparação com abril de 2011, a produção caiu 2,9%. Nesta comparação, as estimativas foram de um recuo desde 0,70% a 5,90%, com mediana negativa de 2,40%. Até abril, a produção da indústria acumula quedas de 2,8% no ano e de 1,1% em 12 meses.

Bens de capital

A produção de bens de capital registrou alta de 1,9% em abril ante março, segundo o IBGE. Na comparação com abril de 2011, houve queda de 4,1%. No acumulado do ano, a produção de bens de capital teve recuo de 9,8%. Nos últimos 12 meses, a variação foi negativa, de -1,7%.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O mundo do juro zero é um horror:: Vinicius Torres Freire

Investidores na prática pagam para emprestar dinheiro à Alemanha ou aos EUA; isso é pânico grave

O juro real no Brasil se aproxima de 2% ao ano. Para quem vive o dia a dia de juros no cheque especial a 180% ao ano e paga em torno de 25% ao ano para financiar a compra do carro, a frase parece fantástica ou, no melhor dos casos, irrelevante.

Mas, sim, a taxa de juros real no Brasil se aproxima de 2%. Trata-se aqui da taxa de juros para grandes transações no mercado, para 360 dias, descontada a expectativa de inflação no período. Mais precisamente, a taxa real de juros estava ontem em 2,3% ao ano. Deve ir a 2% até agosto. Talvez abaixo disso.

O juro real baixa na praça do mercado porque a política do Banco Central é de reduzir a "sua" taxa de juros, a taxa que o BC influencia, a Selic, sobre a qual toma decisões mais ou menos a cada mês e meio, como o fez ontem.

A política de juros do BC é baixista porque a autoridade monetária brasileira acredita que a inflação não deve ser um problema no futuro próximo. O BC acredita nisso porque, entre outros motivos complexos, a economia brasileira tem andado muito devagar e a do mundo rico pode ir para o vinagre.

No mundo euroamericano, as taxas de juros são negativas, menores que zero, mais ou menos desde 2008, 2009, e continuam caindo.

Negativas? Sim. Descontada a inflação, quem empresta aos governos dos Estados Unidos e aos governos solventes da Europa (Alemanha e países menores do norte europeu) recebe menos do que emprestou.

Isso é sinal de pânico.

Há pânico porque os grandes investidores do mundo temem que a Espanha e/ou seus bancos possam ir à breca, o que pode provocar quebras em outras instituições financeiras da Europa e do mundo, deflagrando nova e feia recessão.

Para Espanha e Itália, no bico do corvo, os juros e outras demandas de segurança do mercado continuavam a subir para níveis críticos.

Mas as taxas de juros para empréstimos de dez anos para os governos dos Estados Unidos, da Alemanha e de países solventes da Europa chegaram a mínimas não vistas faz mais de 60 anos.

Outro modo de dizer a mesma coisa: investidores aceitavam ontem ficar com títulos dos governos americano e alemão, com prazo de dez anos, pelas taxas de 1,62% ao ano e 1,26% ao ano, respectivamente. Isso quer dizer que esses títulos estão caros. Grosso modo, os juros que pagam esses papéis resulta da diferença do valor de face, do "preço inicial" desses títulos, e o preço pelo qual são negociados no mercado.

Tais papéis estão caros porque multidões de investidores querem comprá-los. Quanto maior a procura, maior o preço, menores os juros.

Por que há tanta procura? Porque muitos donos do dinheiro grosso temem aplicar seus recursos em qualquer outra coisa menos segura ou procuram transferir aplicações em negócios mais arriscados para títulos de governos que não dão calote, como EUA, Alemanha e mesmo em países como a Dinamarca.

O nome disso é "fuga do risco". O medo é tamanho que os donos do dinheiro colocam seus recursos em aplicação de rentabilidade menor que zero (descontada a inflação).

Pode ser que o medo passe, como passou em outras rodadas dessa crise que já dura meia década (ou não passe...). Mas o pânico vai deixar sequelas, aqui no Brasil também.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Águas de maio :: Míriam Leitão

Os mais baixos juros da nossa história recente inauguram uma nova forma de remuneração da caderneta de poupança e são a esperança de um ritmo maior no crescimento.

O dia de ontem confirmou a tendência do Copom de um corte de 0,5% porque foi particularmente pesado na Europa, com temores de uma crise bancária na Espanha.

Desde a última reunião, houve uma enxurrada de notícias, mudanças de humores, novidades na economia.

Entre18 de abril, data da última reunião, e ontem, houve queda nas previsões de crescimento brasileiro de 3,21% para 2,99%. Mudou-se a fórmula de remunerar a caderneta de poupança. Houve um agravamento da crise europeia após a eleição na Grécia, que aumentou o risco de uma saída desordenada do país do euro, e cresceu o medo em relação à Espanha.

O dólar disparou e ficou volátil. Chegou a subir 10%, depois caiu 5% e voltou a subir. Tudo em menos de 45 dias. Deixou incertos os negócios de importadores e exportadores. Depois de o Ministério da Fazenda ter instalado várias trancas na porta impedindo a entrada de dólar, o Banco Central teve, nesse hiato entre as duas reuniões, que voltar a vender dólar para conter a alta da moeda americana.

Há temor de que a valorização do dólar não eleve as exportações mas tenha o efeito ruim de subir a inflação pelo impacto nos preços de matérias- primas e bens duráveis.

O IGP-M divulgado ontem ficou em 1%. Mas o BC disse que o cenário externo é "desinflacionário", ou seja, a crise derruba e não eleva preços.

O que pode impedir o efeito do dólar na inflação pode também atingir a balança comercial brasileira, que é a redução das commodities. O índice CRB, que mede a queda ou alta das commodities, em pouco mais de três meses, desde 24 de fevereiro, caiu 15,3%. Em 12 meses, a redução é de 20,57%. Bom para a inflação, ruim para a balança.

Entre uma e outra reunião do Copom, o governo abriu uma guerra contra os juros bancários, que até agora tem tido o saudável objetivo de diminuir os escandalosos spreads brasileiros. O BC informou que passaria a divulgar o voto dos diretores e isso é muito bom, por aumentar a transparência, mas há muito tempo não se vê um BC com tão pouca autonomia. A reunião apressada da diretoria para aprovar a medida feita por encomenda da Fazenda, de liberar compulsório direcionado para a indústria automobilística, foi a prova dos nove de como a atual administração entende seu papel.

Neste período, apareceu na imprensa, várias vezes, a notícia de que o governo pensa em reduzir o superávit primário para estimular o crescimento.

Jabuti não sobe em árvore, como se sabe. Se está lá, alguém colocou. Se a notícia tem aparecido, é o governo que tem testado a informação para ver se há reação. O que está errado não é o superávit primário, mas o fato de que o governo tem investido menos do que pode por ineficiência.

Ontem, o Tesouro divulgou que houve uma queda de 3,5% nos investimentos no primeiro quadrimestre. Para o número não aparecer feio como ele é, o governo o reapresenta com os gastos do Minha Casa, Minha vida.

O fraco desempenho da economia não é resultado de o governo gastar pouco, mas investir pouco. A indústria não está com problemas por faltar crédito ao comprador de carro, mas porque o ambiente de esfriamento da economia está fazendo com que inúmeras empresas deixem nas prateleiras os investimentos.

Perguntadas, elas não dirão que os planos de expansão foram arquivados, mas eles não estão andando.

A queda dos juros anunciada ontem foi a sétima consecutiva desde agosto, quando estava em12,5%, e ficou agora abaixo do piso atingido em 2009 e 2010, que era 8,75%.

Com isso, foi disparado o mecanismo que altera a fórmula de remuneração da poupança.

Ela agora pagará 70% da Selic. No começo, é quase igual, mas se os juros continuarem caindo as duas cadernetas — a dos depósitos antigos e a dos depósitos feitos a partir de 4 de maio — terão rendimentos bem diferentes.

Tudo isso abriu o caminho para a queda dos juros: a mudança na poupança, a queda nas previsões do PIB, os dados antecedentes divulgados pelo BC mostrando quase estagnação no primeiro trimestre, o aumento de estoques nas empresas, a queda das commodities no mercado internacional.

O mais determinante, no entanto, é o ambiente de deterioração externa.

A crise está conosco desde 2008, mas dois novos desdobramentos assustam. A fragmentação política na Grécia fez os analistas começarem a fazer contas sobre o que aconteceria num cenário de saída do país da Zona do Euro.

O BC da Grécia fez um relatório sobre os efeitos no país nesse cenário: a renda média anual dos gregos cairia 55%, com quedas equivalentes nos valores dos imóveis e das contas bancárias; a renda per capita despencaria e, mesmo assim, a inflação poderia subir pelo impacto da desvalorização implícita na volta da velha moeda.

O cenário é complexo para a Zona do Euro como um todo, pelo risco do contágio. A Espanha de novo não teve trégua. Os juros cobrados pelo mercado para rolar a dívida chegaram a 6,6%. O país ganhou mais um ano para cumprir a meta fiscal, dado pelas autoridades europeias, mas o alívio foi pequeno. A fuga dos investidores para ativos considerados seguros fez os títulos ingleses pagarem o menor rendimento desde1703. Foi também a menor taxa da história da Alemanha e a menor taxa desde 1946 do Tesouro americano.

Com um ambiente externo assim conturbado, a tendência é de novas quedas de juros no Brasil nas próximas reuniões.

FONTE: O GLOBO