segunda-feira, 5 de março de 2012

OPINIÃO DO DIA – Roberto Freire: o PT e a volúpia de poder pelo poder

"Incrível é que setores do PT, que defendiam posições bem mais avançadas do ponto de vista de concepção e visão de mundo, agora, estão com essa ideia de ganhar eleição a qualquer custo. Renderam-se ao voto fácil, de fazer concessões. E aí cria problema, como criou aqui (em São Paulo), por exemplo, o candidato a prefeito do “dedaço de Lula”, o Fernando Haddad. Numa postura até correta, ele propôs a discussão da educação sexual na escola. Algo correto, porém, mal conduzido. Os vídeos eram evidentemente malfeitos, mas na origem era uma posição correta. Agora, por pressão religiosa, eles recuaram totalmente. E recuam em tudo. Tem uma ministra (Eleonora Menicucci , da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres) que foi dizer que era a favor da descriminalização do aborto, não sei nem se ela teve essa prudência de dizer que era contra a descriminalização, porque ninguém é a favor do aborto. Podemos ser a favor de que não seja considerado crime, como nós do PPS. Mas a ministra foi com uma força tão grande a favor disso que teve que recuar. E recua todo mundo. O PT já jogou fora todas as suas bandeiras. Não é apenas aquela contra a privatização, a da ética lá atrás. Jogou fora tudo. Quer dizer, não tem mais nada, salvo a volúpia de manter o poder pelo poder."

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS, em entrevista ao Portal do PPS.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Brasil ajusta política externa para enfrentar mundo pós-crise
Lula é internado com pneumonia
PT diz que não muda campanha
Creche do PAC vira estacionamento

FOLHA DE S. PAULO
Putin vence na Rússia, e opositores irão às ruas
Lula volta a ser internado em São Paulo com pneumonia
Código Florestal deve anistiar 75% das multas milionárias
Chávez confirma que "lesão" retirada da pélvis era câncer

O ESTADO DE S. PAULO
BCs dos países ricos gastaram US$ 8,8 tri nos últimos 3 anos
Eduardo Campos vem a SP para enquandrar PSB
Lula é internado com pneumonia
Meirelles assume conselho do JBS

VALOR ECONÔMICO
Governo quer Samsung no controle de estaleiro em PE
BC processa bancos por R$ 62 bilhões
Equador atrai construtoras brasileiras
China, um pesadelo para a defesa comercial
'Feudo político' em ministérios segue intacto

CORREIO BRAZILIENSE
Crack, o pesadelo da maternidade
"Vagabundo e boquirroto"
Lula é internado com infecção pulmonar leve

ESTADO DE MINAS
Pressão para fechar cerco aos corruptos
Infecção pulmonar leva Lula a hospital

ZERO HORA (RS)
Lula volta ao hospital, agora com infecção
Obras contra secas serão aceleradas

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Lula é internado em SP com infecção pulmonar
Previdência faz governo segurar novos concursos
Recuo do PC do B

'Feudo político' em ministérios segue intacto

Mesmo com as mudanças feitas pela presidente Dilma Rousseff em sete ministérios por suspeitas de irregularidades, o perfil de feudos partidários nessas Pastas permaneceu inalterado. A maior parte das nomeações políticas anteriores às substituições foi mantida. A diferença é que o Planalto passou a cobrar resultados, o que levou a algumas iniciativas de profissionalização

Partidos mantêm feudos sob novos ministros

Por Caio Junqueira e Fernando Exman

BRASÍLIA - As substituições promovidas pela presidente Dilma Rousseff em sete ministérios por suspeitas de irregularidades pouco alteraram o perfil de feudos partidários dessas Pastas. Todas elas mantiveram a maior parte dos nomeados políticos que estavam antes das trocas. A diferença é que elas passaram a ter de mostrar serviço ao Palácio do Planalto, o que fez surgir algumas iniciativas de profissionalização.

O Ministério do Turismo é o caso mais exemplar. Continua sendo gerido pelo PMDB, agora nas mãos do deputado federal Gastão Vieira (MA). Abaixo dele, estão o secretário Nacional de Programas de Desenvolvimento de Turismo, Fábio Mota, indicado pelo vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira, para o lugar de Colbert Martins, também aliado de Geddel; e Bel Mesquita, secretaria nacional de Políticas de Turismo e ex-deputada federal pelo PMDB do Pará, com antiga ligação com o senador Jader Barbalho (PMDB-PA).

A diferença, porém, está no secretário-executivo, o técnico Valdir Moysés Simão, presidente do INSS por duas vezes na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi ele o responsável por racionalizar o funcionamento na autarquia com medidas como agendamento e extensão no horário de atendimento, fim de terceirizados, e o sistema de planejamento e monitoramento recentemente elogiado pela presidente Dilma Rousseff em uma reunião com lideranças da base aliada. Simão tenta agora fazer o mesmo na Pasta.

"Aqui não havia informações básicas sobre o fluxo financeiro e a execução das obras. Também não havia compartilhamento de decisões, o que impedia um planejamento adequado. Agora, a ideia é trazer o mesmo modelo do INSS. O princípio é o mesmo", disse Simões.

No Ministério do Esporte, a situação política também segue inalterada. O PCdoB mantém o domínio com o ministro Aldo Rebelo, deputado federal por São Paulo. Mas levou quadros considerados mais técnicos do partido, como o secretário-executivo Luis Manuel Rebelo Fernandes, dono de longo currículo acadêmico.

Na Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor, Alcino Reis, ligado ao ex-ministro Orlando Silva, pediu afastamento após um desentendimento com Aldo em relação à execução de um convênio. Em seu lugar assumiu como interino Joel Benin, ex-presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e também ligado ao PCdoB. Na Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social, Aldo deslocou outro nome ligado a Silva, Wadson Ribeiro, e nomeou Afonso Barbosa, integrante da Marinha do Brasil, onde atuou durante 43 anos.

Tendo consigo pessoas de sua confiança, Aldo passou a por em prática a ideia de Dilma de substituir os convênios da Pasta com ONGs por parcerias com órgãos governamentais. Foram irregularidades nesses convênios que derrubaram Silva. Aldo decidiu não renová-los. Também levou para sua esfera todos os assuntos relacionados à Copa do Mundo de 2014, antes dominados pela Confederação Brasileira de Futebol.

No Ministério dos Transportes, a situação política segue inalterada. O PR continua no controle da Pasta e da maior parte das administrações regionais do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit), a despeito do ministro Paulo Sérgio Passos, filiado à legenda, não ser reconhecido como uma indicação do partido pelas bancadas na Câmara e no Senado.

Nos cargos de segundo escalão, contudo, houve mudanças significativas. Desde julho, foram trocados ou substituídos 15 servidores de cargos chave que antes eram predominantemente nomeações políticas nas cúpulas da Valec e do Dnit. Nesses lugares, a prioridade foi a nomeação de funcionários de carreira. Também foi determinada a revisão de todos os projetos de engenharia que tramitam nesses dois órgãos, de modo que sejam priorizadas apenas as obras que já tenham projeto executivo.

O novo ministro das Cidades também tenta demonstrar ao Palácio do Planalto que fará de tudo para afastar a Pasta das polêmicas. Até agora, Aguinaldo Ribeiro, substituto de Mário Negromonte, ambos do PP, pouco mexeu na estrutura do ministério. Sinalizou, por outro lado, que colocará alguém de confiança do governo para ocupar sua secretaria-executiva. Primeiro, sondou a Casa Civil sobre a possibilidade de levar Lytha Spíndola, atualmente no cargo de assessora especial da ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, para a função. Em seguida, cogitou a possibilidade de nomear um técnico da Controladoria-Geral da União.

No Ministério da Agricultura, o ministro Mendes Ribeiro vem implementando nos últimos meses uma lenta reforma. O pemedebista não conseguiu, porém, livrar-se das indicações partidárias. Isso é visto nas superintendências estaduais da Pasta. Outro exemplo é o comando da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que apesar da substituição de Evangevaldo Moreira dos Santos por Rubens Rodrigues dos Santos, continua sob a influência do líder do PTB na Câmara, o deputado Jovair Arantes (GO).

O novo ministro tentou emplacar um indicado para a presidência do órgão, mas não obteve sucesso. A Conab esteve no epicentro da crise que provocou a queda de Wagner Rossi. Por outro lado, Mendes Ribeiro promoveu algumas mudanças que combinaram critérios técnicos e políticos envolvendo as secretaria-executiva e as secretarias de Política Agrícola, Produção e Agroenergia e Defesa Agropecuária.

Já as mudanças no Ministério do Trabalho dependem da definição de quem substituirá Carlos Lupi, que também deixou o governo após uma série de denúncias de irregularidades. Nada mudou no segundo escalão do ministério desde que o presidente do PDT foi exonerado.

Tudo isso também se reflete na forma como a Casa Civil passou a gerir os programas prioritários do governo. A queda de Antonio Palocci levou a uma mudança do perfil da Pasta, que concentrava a articulação política do governo. Com a nomeação de Gleisi Hoffmann, porém, Dilma decidiu resgatar as funções da Casa Civil quando ela própria comandava a área durante a administração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como resultado, Gleisi reativou a Subchefia de Articulação e Monitoramento da Pasta.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Eduardo Campos vem a SP para enquandrar PSB

O presidente do PSB, governador Eduardo Campos (PE), dirá hoje às lideranças paulistas da sigla que a movimentação pró candidatura de José Serra à Prefeitura não tem validade. Campos não descarta intervir no diretório local do PSB para que se feche a aliança em torno de Fernando Haddad. Já o ministro da Pesca, Marcelo Crivella, apoiou Haddad ao afirmar que ele não produziu o kit anti-homofobia. Mas ressaltou que seu partido, o PRB, terá candidato próprio, o ex-deputado Celso Russomano

PSB ameaça intervir em diretório paulista favorável à aliança com Serra

Sucessão em SP. Eduardo Campos, presidente da legenda socialista, dirá às lideranças paulistas da sigla que a movimentação pró candidatura do ex-governador tucano não têm validade; ele trabalha por acordo com o pré-candidato petista, Fernando Haddad

João domingos, Julia Duailibi

BRASÍLIA, SÃO PAULO - Na tentativa de solucionar o impasse sobre o rumo do PSB na eleição municipal em São Paulo, o presidente do partido, governador Eduardo Campos (PE), dirá hoje às lideranças paulistas da sigla que as movimentações pró candidatura do ex-governador tucano José Serra à Prefeitura não têm validade nenhuma. Campos não descarta uma intervenção no diretório local do PSB para que seja fechada a aliança em torno do candidato do PT, Fernando Haddad.

O PSDB, por outro lado, colocou em campo uma operação para evitar que o PSB escolha o PT como parceiro na eleição paulistana. Com a ajuda do prefeito paulistano, Gilberto Kassab (PSD), os tucanos querem o apoio da sigla a Serra, que conversou com os líderes do PSB no Estado e na capital com o objetivo de segurá-los na coligação liderada pelo PSDB. Em São Paulo, os socialistas fazem parte do governo tucano de Geraldo Alckmin e estão alinhados à gestão Kassab.

Campos aproveitará sua passagem hoje por São Paulo para conversar com esses dirigentes do PSB. Vai lembrá-los de que o último congresso do partido, em novembro, decidiu que todas as alianças para as eleições em capitais e cidades com mais de 200 mil habitantes têm de ser homologadas pelo diretório nacional.

Como os socialistas só se aproximaram de Serra, sem uma decisão tomada pelo diretório, Campos não anunciará uma intervenção. Mas deixará claro que ela poderá ocorrer, caso os paulistas insistam em ficar do lado tucano.

Campos conversou com a presidente Dilma Rousseff e com o ex-presidente Lula sobre a situação em São Paulo. Cotado para vice do PT na eleição presidencial de 2014, o governador tem interesse em se tornar um aliado prioritário dos petistas.

Kassab chamou ontem o presidente do PSB municipal, Eliseu Gabriel, para uma conversa. Mostrou disposição de colaborar com a eleição dos vereadores da sigla, caso seja feita a aliança. Gabriel, que já trabalhou com Serra no governo Franco Montoro (1983-1987), reuniu-se com o ex-governador na semana passada. O presidente do PSB estadual, Marcio França, secretário de Turismo de Alckmin, conversou com Serra sobre a coligação.

"Vamos analisar a questão. A opinião do presidente do partido tem muito peso. Nós, no entanto, achamos mais natural caminhar com o governador Alckmin", declarou França. Serra também ligou para o pré-candidato a prefeito do PSB em Campinas, Jonas Donizette, para pedir a ele que atue em favor da aliança na capital. Alckmin condicionou o apoio do PSDB a Donizette à uma coligação em São Paulo.

O PSDB pretende apoiar o PSB em cidades do interior e do litoral, como Campinas, São José do Rio Preto, Guaratinguetá, Limeira, São Vicente e Peruíbe, em troca do apoio na capital.

Orientação. Segundo interlocutores de Campos, a situação em São Paulo é bem entendida pela direção. Mas a política de alianças para a disputa pela Prefeitura terá de ser a que vier da orientação da presidência do partido.

Em 2010, uma parte do PSB defendia a candidatura do ex-ministro Ciro Gomes (CE) à Presidência. Mas Campos apoiava a aliança com o PT, que lançaria Dilma à sucessão de Lula. O diretório nacional interveio e fechou a coligação com os petistas.

Ainda em 2010, os deputados Marcondes Gadelha e Manoel Junior defendiam aliança do PSB com o candidato José Maranhão (PMDB) ao governo da Paraíba, contra a candidatura de Ricardo Coutinho. De novo houve intervenção do diretório nacional, e o PSB lançou Coutinho.

Campos foi um dos articuladores de uma aliança de Kassab com o PT para apoiar Haddad. Mas quando Serra resolveu concorrer à Prefeitura, o prefeito voltou-se para os tucanos. Assim que tomou a decisão de não mais apoiar Haddad, Kassab ligou para Campos, falou da intenção do ex-governador de concorrer e de seu compromisso com ele.

Sem condições de mudar a decisão de Kassab, Campos ligou para a presidente Dilma para avisar que Serra iria concorrer à Prefeitura de São Paulo. E que a notícia havia sido dada por Kassab, justamente no momento em que o prefeito promovia uma movimentação muito forte para se aproximar do PT.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Crivella já defende Haddad de 'kit gay'

Na sua primeira agenda após assumir a pasta da Pesca, ministro isenta pré-candidato do PT de responsablidade por kit anti-homofobia

Pedro Dantas

RIO - O novo ministro da Pesca, Marcelo Crivella, isentou ontem o ex-ministro da Educação e pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, de responsabilidade no episódio da produção do kit anti-homofobia. Em sua primeira agenda pública após assumir a pasta, o ministro fez questão de ressaltar, no entanto, que o seu partido, o PRB, terá candidato próprio na capital paulista - o ex-deputado federal Celso Russomano.

"Ele (Haddad) jurou com os pés juntos que não produziu (o kit). Disse que foi uma ONG contratada pelo ministério", disse Crivella, durante visita a duas colônias de pescadores na ilha da Madeira, na cidade de Itaguaí, região metropolitana do Rio de Janeiro.

"Não estou falando isso porque vamos apoiá-lo. A pesquisa do Datafolha mostrou que estamos em segundo lugar e que o (ex-governador José) Serra (PSDB) tem uma rejeição maior que a nossa. Então, estamos com chance de ir ao segundo turno e precisaremos do apoio do Haddad." De acordo com a sondagem do Datafolha divulgada neste fim de semana, Serra tem 30% das intenções de voto, Russomano está com 19% e Haddad aparece com 3%.

A nomeação para o ministério de Crivella, senador do PRB do Rio de Janeiro e bispo licenciado da Igreja Universal do Reino do Deus, foi apontada como uma estratégia do governo federal para blindar Haddad dos ataques de evangélicos por conta do episódio do chamado kit anti-homofobia - elaborado pelo Ministério da Educação durante a gestão do petista e cuja distribuição em escolas foi cancelada depois de protestos de lideranças religiosas.

A iniciativa da presidente Dilma Rousseff, que contou com o aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também tem como objetivo facilitar uma eventual aliança entre o PT e o PRB em São Paulo - embora o próprio Russomano já tenha afirmado que não vai desistir da candidatura.

Depois da repercussão negativa de sua declaração de que não sabia sequer "colocar minhoca em anzol", Crivella tentou relativizar suas limitações.

"Ministro da Defesa são sabe dar tiro de canhão, ministro dos Esportes não faz gol de letra e nem o Serra quando era ministro da Saúde sabia dar vacina."

Em seu primeiro compromisso oficial, ele também aproveitou para reclamar da estrutura da pasta. "Tenho a intenção de fazer um plano nacional para a construção de terminais (pesqueiros). Mas como fazer licitação se dispomos apenas de dois engenheiros para fiscalizar um País continental?", questionou Crivella, que anunciou a intenção de lançar um programa chamado "Meu Barco, minha vida", com o objetivo de modernizar a frota dos pesqueiros do País.

Colaborou Alfredo Junqueira

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Renovação eleitoral pauta discussão na corrida paulistana

Enquanto PT aposta em novidade na eleição com Haddad, o PSDB deve lançar Serra, nome já conhecido do eleitorado

Fernando Gallo

A falta de novas lideranças em seus quadros leva o PT e o PSDB a optarem por caminhos distintos na eleição municipal de 2012, avaliam especialistas consultados pelo Estado. Com a entrada do ex-governador José Serra na corrida eleitoral, os tucanos continuam a apresentar desde 1996 os mesmos dois nomes aos eleitores da capital: Serra e o governador Geraldo Alckmin. Os petistas, por sua vez, optam pelo novato Fernando Haddad, que desbancou a senadora Marta Suplicy (PT-SP) depois de três eleições consecutivas.

O PSDB, dizem os analistas, é vítima de uma armadilha: sem um nome alternativo forte, busca o recall alto de Serra, mas adia o processo de renovação, impedindo o surgimento de novas lideranças. "Como vai haver recall de outros nomes se nunca é dado aos mais jovens a oportunidade de aparecer?", indaga Carlos Melo, professor do Insper.

Ele lembra que Serra, em 1996, e Alckmin, em 2000, concorreram nas eleições municipais, e perderam. "Perder não é pecado, é do jogo. Eleições não são feitas só para ganhar, mas para expor um programa, uma alternativa a ser testada. Você não pode ser o dono da fila".

O cientista político Fernando Abrucio, professor da FGV, avalia que Alckmin não fez pelo deputado Bruno Covas, seu secretário de Meio Ambiente, aquilo que o avô de Bruno, Mário Covas, fez pelo governador ao fomentar sua candidatura à prefeitura em 2000. "O Alckmin é fruto do Covas, que o bancou. Uma liderança pensa no futuro", alfineta. "Pode ser que Bruno, que foi o deputado estadual mais votado e tem sobrenome forte, perdesse a eleição, mas chegaria a 15% ou 20 % dos votos e seria um PSDB novo".

Marco Aurélio Nogueira, da Unesp, vê a falta de base partidária como impeditivo à renovação no tucanato. "O PSDB tem ligação precária com a sociedade e um problema grave de reprodução. Não cresce nem se renova porque não é oxigenado pela sociedade".

PT. No caso petista, além do envelhecimento e do desgaste de alguns líderes como Marta Suplicy e o ministro Aloizio Mercadante, houve dirigentes abatidos pela crise do mensalão. "Envelheceram e não é apenas de idade, envelheceram politicamente. O José Dirceu é mais novo que o Serra, mas não tem a mesma força de antes", diz Abrucio.

Mesmo com um nome novo na disputa, o PT não escapa das críticas, dirigidas a escolha de Haddad pelo dedaço do ex-presidente Lula, segunda etapa de um processo de renovação nacional do partido, iniciado em 2010 com a escolha de Dilma.

"Não é uma renovação natural, de políticos que surgiram na base, foram vereadores, deputados". Segundo ele, a renovação foi "contingencial", uma necessidade do projeto nacional de Lula. "O Lula enfrentou uma queda de braço com setores do PT e ganhou. Por isso ocorre a renovação". Para Abrucio, os nomes foram tirados da burocracia de governo. "Não é necessariamente ruim, embora fosse melhor que nascessem nos partidos. Mas a vida partidária está frágil".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PT diz que não muda campanha

Depois de resultado de pesquisa Datafolha, que aponta o pré-candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, José Serra, com 30% das intenções de voto e petista Fernando Haddad com 3%, o PT afirma que não mudará campanha.

Mesmo com 3%, PT não muda campanha

Datafolha aponta crescimento de nove pontos de Serra em SP, que teria 30%, contra 3% de Haddad

Marcelle Ribeiro, Silvia Amorim

SÃO PAULO. O ex-governador José Serra (PSDB) disse que recebeu com "agrado" a pesquisa Datafolha, divulgada anteontem, em que ele subiu nove pontos percentuais e chegou a 30% das intenções de voto para a prefeitura de São Paulo. O tucano, entretanto, classificou como prematura qualquer projeção dos números para os próximos meses. O PT do pré-candidato Fernando Haddad, que apareceu com 3%, minimizou a liderança do adversário, dizendo que ela se deve à participação dele em outras eleições. Segundo os petistas, nada muda na estratégia de trabalho.

A pesquisa mostrou em segundo lugar o pré-candidato do PRB, Celso Russomanno, com 19%, seguido por Netinho de Paula (PCdoB), com 10%, Paulo Pereira da Silva (PDT), 8%, Soninha Francine (PPS) e Gabriel Chalita (PMDB), empatados com 7%, e Haddad, com 3%. O levantamento foi realizado nos dia 1 e 2 deste mês, e a margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Em todos os cenários pesquisados, Serra ficou em primeiro lugar. O Palácio do Planalto indicou, na semana passada, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) para o Ministério da Pesca, de olho no eleitorado de Russomanno.

- Eu vejo a pesquisa com agrado, mas não creio que ela reflita o que vai acontecer mais adiante. Essa campanha vai ser muito difícil. Vamos ganhar, se Deus quiser, mas, para isso, teremos muito trabalho - afirmou o ex-governador, no sábado à tarde.

O presidente municipal do PT, Antônio Donato, disse que a eleição está longe e que os números não preocuparam.

"Recebemos os números com tranquilidade. A eleição ainda está distante, e os nomes bem colocados já participaram de outras disputas, portanto, têm um recall grande", afirmou ele, em nota. O PT diz que não vai mudar os rumos da campanha

Serra disputa com os tucanos José Aníbal e Ricardo Trípoli a vaga de candidato a prefeito do PSDB. As prévias estão marcadas para o dia 25. No cenário em que Serra é substituído por Aníbal, o PSDB ficou com 4% da preferência dos entrevistados. Trípoli teve 3%.

Ambos atribuíram a um recall eleitoral (a lembrança que o eleitor tem da participação de um candidato em disputas anteriores) a liderança do ex-governador no levantamento.

- Pesquisa é muito recall. Ela reflete o que aconteceu para trás. Estamos num processo de prévias no partido - afirmou Trípoli.

- Qualquer um com a exposição que teve o Serra nos últimos dias ia crescer na pesquisa - disse Aníbal, referindo-se à pesquisa Datafolha publicada em janeiro, quando o ex-governador tinha 21%.

Entre os entrevistados ouvidos pelo instituto Datafolha, 66% acham que, se eleito prefeito, Serra concorreria à Presidência em 2014. O ex-governador anunciou no dia 27 de fevereiro que pretende participar das prévias que escolherão o candidato do partido à sucessão do prefeito Gilberto Kassab (PSD). A pesquisa indica que 76% dos eleitores lembram que Serra deixou a prefeitura em 2006 para concorrer à Presidência.

FONTE: O GLOBO

Desafio de Serra será manter eleitorado fiel

Pré-candidato tem em redutos da classe média sua força eleitoral, onde conquistou maior votação na capital paulista

Daniel Bramatti

Como candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra enfrentará em 2012 o desafio de impedir que os adversários avancem sobre os redutos de classe média que deram ao tucano três vitórias eleitorais na capital paulista nos últimos oito anos.

Serra teve desempenho quase idêntico nos primeiros turnos de 2004, quando concorreu à prefeitura, e de 2010, ano em que disputou a Presidência. Com apenas uma exceção, ele venceu e perdeu nas mesmas zonas eleitorais, com porcentuais de votos muito próximos (veja quadro).

A "cidadela serrista" é formada pelas áreas mais ricas e por quase todos os bairros de classe média da cidade. A conquista desse eleitorado é vista como estratégica para o PT, o que levou o partido a escolher um candidato visto como mais palatável pela classe média e sem a rejeição histórica da ex-prefeita Marta Suplicy - o ex-ministro da Educação Fernando Haddad.

Gabriel Chalita (PMDB), com tempo de propaganda que o credencia a eventualmente romper a polarização PSDB-PT, nunca concorreu a cargos executivos, mas seu mapa de votação como candidato a vereador e a deputado federal mostra uma base de classe média, principalmente em áreas fronteiriças ao chamado centro expandido.

Os movimentos do PT e o perfil de Chalita indicam que os redutos de Serra serão os principais palcos da batalha eleitoral.

Antecedentes. Nas três eleições em que ficou em primeiro lugar em São Paulo, Serra polarizou a disputa com um candidato do PT - partido cujo eleitorado, de perfil oposto ao do PSDB, se concentra nos extremos leste, sul e noroeste da cidade.

Nos três episódios, era o PT quem enfrentava alta rejeição - obstáculo, agora, para o tucano. Segundo a última pesquisa Datafolha, publicada no domingo, 30% dos eleitores paulistanos não votariam de jeito nenhum no representante do PSDB.

Em 2006, como candidato a governador, Serra teve desempenho acima de sua média histórica na capital. Seu principal adversário, Aloizio Mercadante (PT), perdeu fôlego na reta final da campanha ao ter assessores envolvidos no "escândalo dos aloprados" - tentativa de compra de um dossiê contra o tucano.

Em 2008, Serra não concorreu e a polarização PT-PSDB não se verificou. O tucano Geraldo Alckmin ficou em terceiro lugar na disputa pela prefeitura - o vencedor foi Gilberto Kassab, então no DEM, que Serra apoiou veladamente no primeiro turno e de forma aberta no segundo.

O PT apostou em Marta Suplicy, vitoriosa na eleição para a Prefeitura em 2000, nas disputas municipais de 2004 e 2008. Os redutos petistas da periferia garantiram sua ida ao segundo turno, mas ela foi derrotada duas vezes na reta final, por conta da alta rejeição em áreas de classe média.

Haddad, agora, tem baixa rejeição, o que pode ser decorrência do fato de ser pouco conhecido entre os paulistanos. Apenas 41% dos eleitores sabem quem é Haddad, segundo o Datafolha. Serra, por sua vez, é conhecido por 99%.

O ex-ministro da Educação tem como trunfo dois cabos eleitorais importantes - a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A primeira ganhou pontos na classe média e ampliou sua popularidade no Sudeste no primeiro ano de mandato. O segundo é o político cujo apoio mais pode beneficiar um candidato, segundo a pesquisa Datafolha.

Antes de avançar sobre o eleitorado que tem sido hostil ao PT nos últimos anos, o ex-ministro da Educação busca ganhar espaço entre os simpatizantes tradicionais. O pré-candidato tem feito incursões a bairros periféricos para se apresentar a cabos eleitorais petistas e ouvir reivindicações de líderes locais.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O xadrez partidário de Dilma

Presidente marca seis reuniões com líderes da base aliada apenas em março. O número é o dobro dos encontros realizados no ano passado. A meta é afinar discurso para votações importantes no Congresso

Paulo de Tarso Lyra

A presidente Dilma Rousseff iniciou 2012 preocupada com o desgaste no relacionamento com os partidos da base. Aproveitou a primeira reunião do Conselho Político do ano para agradecer a lealdade dos aliados ao longo de 2011. No mesmo encontro, pediu à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que marque seis reuniões com os representantes dos partidos ao longo deste mês. As agendas vão se iniciar tão logo a presidente retorne da viagem à Alemanha, iniciada ontem — a chegada a Brasília está marcada para quarta-feira. "Em 2011, fizemos três reuniões nesses moldes. Com seis datas disponíveis este mês, dá para dividir melhor os grupos", admitiu Ideli ao Correio.

Nos encontros, a presidente deve conversar com os partidos a relação do Planalto com a base aliada e a importância de contar com o apoio nas votações importantes no Congresso. Embora não haja qualquer iniciativa legislativa do Executivo com necessidade de quórum qualificado, Dilma está atenta a alguns projetos que podem criar embaraços ao país. O Planalto, dentro da política de "blindar" o Brasil da crise internacional, acompanha com atenção projetos como o que concede isenção fiscal para as importações em alguns portos brasileiros e aqueles que propõem uma redistribuição do ICMS arrecadado nas compras on-line, por exemplo.

As negociações para as trocas nos ministérios devem ser feitas individualmente, embora não haja como separar uma questão da outra. O PDT, que luta para retomar o Ministério do Trabalho, perdeu pontos após votar majoritariamente contra a Fundação de Previdência do Serviço Público (Funpresp).

O bloco informal PTB-PSC ganhou dianteira: o indicado seria o deputado Hugo Leal (PSC-RJ). As negociações para a composição partidária foram conduzidas exclusivamente no Congresso, mas com o aval das respectivas direções partidárias, como o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson. "Claro que assumir um ministério seria uma honra. Mas esse assunto só está colocado nos jornais e o único jornal em que eu confio nessa questão é o Diário Oficial", esquivou-se Leal.

Afinidades

Em 2011, Dilma pediu a Ideli que dividisse os grupos de partidos por afinidades. Os dois primeiros a conversarem institucionalmente com a presidente foram as principais legendas da coalizão governista, PT e PMDB. Em seguida, vieram os partidos considerados mais ideológicos, como PCdoB, PDT e PSB. "Por fim, vieram as legendas consideradas mais de centro, como PTB e PR", recorda-se Ideli.

Ela ainda não tem ideia de como será essa divisão agora. Mas não acredita que o PSD venha a ser convidado para essas conversas. Ideli admite que o partido tem apresentado um comportamento fiel ao Planalto em votações importantes para o governo, como a Funpresp, por exemplo. "Mas essa aproximação ainda precisa levar um tempo. Os próprios partidos da base, como o PMDB, olham o PSD com desconfiança", acrescentou a ministra, lembrando o recurso impetrado no Supremo Tribunal Federal para tentar impedir a participação dos pessedistas na divisão das presidências das comissões temáticas da Câmara. O PSD também pleiteia, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o direito ao fundo partidário e ao tempo de televisão.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Coalizão dos céus?:: Renato Lessa

Para Sarpi e Bayle, uma república de ateus seria a proteção necessária contra a intolerância religiosa

Um de meus queridos irmãos, aos seis anos de idade, sonhou que o pai havia se mudado para a casa do vizinho, logo a seguir incendiada, sem sobreviventes. Se todos os sonhos tivessem tal índice de opacidade, a psicanálise teria se tornado uma profissão inviável e A Interpretação dos Sonhos, de Freud, uma obra de ficção indecifrável. Afinal, tratou-se de um sonho que portava consigo mesmo a própria interpretação. Pois bem, vida que segue, a recentíssima nomeação do senador Crivella, prócer da liga evangélica, para o estratégico posto de Ministro da Pesca, possui complexidade assemelhada a do sonho de meu irmão. Assim como há fatos que contém sua própria metamorfose em piada, a nomeação clerical também traz consigo sua própria interpretação, de declinação tediosa.

Assim como o País não prescinde de um governo que "funcione", o governo precisa de uma "base" segura para enfrentar a oposição e cumprir seu programa. Duas suposições - além da premissa mãe de que o Brasil vive em estado permanente de oligofrenia cívica - são apresentadas como se autoevidentes fossem, a de que governos são "mecanismos" que dispõem de "funcionamento regular", e não resultado de escolhas e materializações de valores, e a de que há no País uma oposição política e parlamentar aguerrida, a ameaçar programas de governo, sem os quais o País colapsa. A pesca sob a égide evangélica é, pois, um esteio do bom governo e da normalidade nacional; feitas as contas, o governo pode "funcionar". Não se contabiliza, contudo, no fabricar das salsichas, danos produzidos pelo próprio processo de obtenção de sustentabilidade sobre a efetividade e a qualidade do governo. A assim dita base aliada, em estado de irredenção latente, quando não em rebelião aberta, exige tanto precioso tempo para "articulação", quanto emprego ininterrupto de escolhas autointerpretadas.

Observadores técnicos da montagem de governos de coalizão dispõem-se sempre a apaziguar os espíritos. Sustentam que isto tudo é normal; que do Togo à Dinamarca, em não sei quantas séries históricas, ocorreram governos de coalizão, nos quais a partilha do poder é condição para sossego legislativo por parte dos governantes. Tudo, portanto, é normal, e sempre há caos piores. Italo Svevo, em um pequeno e delicioso conto, descreveu diálogo havido entre infelizes usuários de um bonde que circulava próximo a Seveso, no norte da Itália, com atrasos e interrupções inacreditáveis. Quando o bonde, por fim, aparecia, sempre em ocasião e em horário caprichosos, os passageiros comentavam entre si a respeito de notícias ainda piores sobre atrasos do expresso da Sibéria ou da linha marítima Genova-Nova York, com lapsos muito maiores. No fundo, era uma felicidade viajar no bonde de Seveso.

A arte da comparação, com frequência, dá azo à inveja, mas não raro proporciona também paz de espírito. O filósofo Hans Blumenberg, certa feita, usou em belo livro a expressão "espectador incólume", inspirada em comentário de Michel de Montaigne que admitia não ser impossível usufruir de certa sensação de alívio na posição de espectador de uma calamidade: ao mesmo tempo que o sofrimento das vítimas produz empatia, de forma quase imediata faz sobrevir alívio por não ter estado na mesma condição. Diante do naufrágio alheio, pena e sentimentos sinceros pelo infortúnio e alívio pelo desfrute de incolumidade.

Michel de Montaigne vem bem a calhar. Coevo do massacre de São Bartolomeu, no qual a monarquia católica francesa mata, em 1572, dezenas de milhares de huguenotes, Montaigne foi um dos primeiros a indicar o horror da religião de Estado. Outros, como Paolo Sarpi e Pierre Bayle, serão no século 17, ainda mais radicais: uma república de ateus é não só viável, mas pode ser uma condição necessária para a proteção contra a intolerância religiosa. Trata-se de uma tese que pode chocar o leitor, pela aparente ausência de espiritualidade, mas pode ser interpretada de modo inverso: a garantia de incolumidade diante do que creio só pode ser dada se sou protegido da intolerância promovida por outras crenças. Só pode fornecer tal garantia um Estado indiferente a todas as crenças e, neste sentido, desespiritualizado.

A unção ministerial do senador Crivella, para além do que possui de autoevidente, é portadora de presságios ainda mais preocupantes do que o usual. Se associada a episódios recorrentes da ação da liga evangélica na política nacional, sugere ameaça à república laica. Em iniciativa recente o líder da Frente Parlamentar Evangélica, propôs decreto legislativo para proporcionar "tratamento psicológico" a homossexuais. É o caso de perguntar: é razoável que crenças particulares constituam base para legislação e políticas públicas? Se o clero católico, por exemplo, não admite o uso de preservativos e insiste na tese de que a vida sexual é um estorvo necessário à procriação, que diga isso do púlpito das suas igrejas, mas não transforme a doutrina em política pública, o que seria próprio de um estado teocrático.

As denominações tradicionais têm, a bem da verdade, entendido isto e têm-se mantido no limite do cuidado espiritual de seus adeptos. É o mercado religioso emergente, heterodoxo não apenas em matéria de doutrina religiosa mas sobretudo nos domínios penal e tributário, que vem se mostrando mais agressivo do que católicos e protestantes tradicionais, em pelo menos duas direções claras: no apetite patrimonial e na maximização de poder político e social. A república tem sido tolerante diante dessa pós secularização perversa, alimentada pelo alarmante déficit educacional e cultural das classes populares, pelo qual ela é a principal responsável. O controle das almas dá passagem à captura do voto, ao acesso a concessões públicas e à expansão patrimonial, política e financeira. O volume e a dimensão dessa calamidade em curso confere a seus operadores ares de respeitabilidade e imprescindibilidade. O pior de tudo é que a moeda de troca à fidelidade política da liga evangélica excede o prêmio habitual: pode estar em jogo um dos pilares da república democrática, o princípio da laicidade.

Renato Lessa é professor titular de Teoria Política da UFF, investigador associado do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e professor visitante da Cátedra de História da Filosofia na Universidade do Piemonte Oriental, Vercelli, Itália.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO/ALIÁS

Ultimato, minhocas & peixes :: Paulo Brossard

Quebrando a mesmice habitual, a semana passada se mostrou singular; um dos 30 partidos por que, presumivelmente, se reparte a opinião nacional, mediante seu presidente, fez declarações curiosas, as quais alguns acharam um tanto zombeteiras, outros viram nelas intenções ocultas, mas, de qualquer sorte, bem entendidas por sua real destinatária. Seja qual for a melhor inteligência da linguagem em causa, de uma virtude ninguém poderá negar, nem mesmo duvidar, a de sua clareza. Ele disse, sem meias palavras, "decidiram dar um ultimato ao governo federal". Nada menos que ultimato. E para que ninguém pudesse tergiversar, "se não se desse reacomodação na Esplanada dos Ministérios, o PR, (isto é, partido "antimonárquico"), poderia até mesmo apoiar a candidatura de José Serra em São Paulo" e, com rara sutileza, em sentença lapidar completou "aí, a careca do Serra é linda". Este o fato que quebrou a monotonia da semana.

Mas, como previram alguns observadores, o ultimato foi de tal objetividade, que a chefe do governo que conta com 359 em 513 deputados, e 54 senadores em 81, a honrada senhora presidente, que costuma bem refletir antes de decidir, em horas, submeteu-se ao ultimato, com expressões reveladoras de seu júbilo; com tamanha sede foi ao copo, que a divulgação do nome do novo ministro da Pesca se deu antes do despedido ter ciência de sua desministração, passando a figurar na lista dos vindouros. Aliás, o episódio faz lembrar o que foi dito a respeito de Calógeras, que por sua ilustração e variada competência era capaz de assumir qualquer das pastas ministeriais. Pois bem, para gáudio dos viventes do século recém-iniciado, é grato saber que em breve ter-se-á o novo Calógeras a ocupar nova pasta, qualquer que seja, e a careca do Serra tenha de deixar de ser linda.

Agora, laus Deo, o Brasil tem novo ministro da Pesca, apto a brilhar nas águas oficiais que, de tão piscosas, por vezes, é preciso "blindar" alguns pesqueiros. Enquanto a senhora presidente diz que o governo fica fortalecido com a nova aquisição, o novo ministro, não sei se por excesso de modéstia, confessa não saber "enfiar uma minhoca num anzol". Como se vê, pequena discrepância entre ela e ele, mas isto é de somenos. O importante é que a careca do Serra tenha deixado de ser linda!

Em face da alta rotatividade no Ministério da Pesca, houve quem concluísse por sua inutilidade. Não participo desse entendimento, pois sua prestança me parece clara. Ele serve de moeda corrente de curso forçado para pescar pretendentes vários, inclusive de quem se sirva de ultimato, hipótese em que a solução é dada em horas.

Mas, por falar em peixe, estou a lembrar-me no Padre Vieira, que, foi em 1654, passados mais de quatro séculos, em São Luiz do Maranhão, em famoso sermão falou aos peixes, "que ao menos têm duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam". Do ministro disse a presidente, em declaração original, estar segura de que "prestará relevantes serviços ao Brasil", adiantando que a troca "permite a incorporação de um importante partido aliado da base do governo".

Por fim, se o novo ministro não sabe colocar uma minhoca num anzol, como confessou, é de lembrar-se que antecessora sua, sem ser especialista em pescarias, representou o Brasil na FAO em conferência sobre peixe e não faltou quem tenha confessado que seu conhecimento de peixe não ia além do Linguado à Belle Meunière; de resto, nada quer dizer que não possa ele seguir as linhas do "Imperador da Língua Portuguesa", como Fernando Pessoa se referiu ao Padre Antonio Vieira, e mesmo quando não se sentisse em condições de dissertar sobre peixes, ele pode estar em condições, pelo menos, de preparar uma boa peixada.

Sem dúvida, o ultimato valeu a pena e, ao que consta, outros estão em gestação.

*Jurista, ministro aposentado do STF

FONTE: ZERO HORA (RS)

Lacrimosa :: Melchiades Filho

Há duas maneiras de interpretar o choro engasgado de Dilma Rousseff na cerimônia de posse do novo ministro da Pesca.

Uma delas ajuda a alimentar a imagem da técnica dedicada a buscar soluções para os problemas do Brasil e decidida a não perder tempo com negociações partidárias.

Ao lamentar em público a demissão de Luiz Sérgio, admitir candidamente que o objetivo foi fazer vaga para um evangélico e afirmar que às vezes é preciso entender "as necessidades de um governo de coalizão", a presidente sugere que faz política somente por necessidade.

A mensagem é que, se dependesse exclusivamente da vontade de Dilma, as nomeações se dariam sempre por mérito e/ou afinidade -vide Graça Foster (Petrobras) e Eleonora Menicucci (Mulheres). Que, para ela, é concessão, quase violência, tocar o dia-a-dia ao lado de peemedebistas, pepistas e demais "istas".

Essa leitura torna Dilma singular na comparação com outros governantes do passado e do presente.

Mas também é possível enxergar nas lágrimas indício justamente do contrário: a presidente já emula o antecessor até no uso da emotividade para reforçar a "marca".

Chorou de apreço por Luiz Sérgio? Ele não era próximo de Dilma, já tinha sido degolado uma vez (Relações Institucionais) e, inoperante, era alvo de piadas palacianas.

De desconforto com Marcelo Crivella, o novo ministro, que nunca viu um anzol? Nomes como Mário Negromonte passaram pela Esplanada sob completa tolerância.

De preocupação com a Pesca? A pasta quase foi extinta neste ano.

Blagues cada vez mais frequentes -como prometer distância das eleições municipais e, logo em seguida, operar a céu aberto em prol da candidatura de Fernando Haddad. Declarações progressivamente coloridas -"tsunami de dólares". Coração alado. O continuísmo ganha força no segundo ano de Dilma.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

No embalo da pesquisa:: José Roberto de Toledo

O termômetro esquenta ou esfria o objeto cuja temperatura ele pretende medir. Assim também, a pesquisa eleitoral influi na disputa que ela acompanha. A sondagem do Datafolha sobre a eleição paulistana criou um fato positivo para José Serra e praticamente liquidou as já remotas chances dos outros pré-candidatos do PSDB a prefeito de São Paulo. Mais do que isso, aumentou o magnetismo do tucano no jogo das alianças partidárias.

Na atual fase da corrida eleitoral, o mais importante para cada um dos principais candidatos é unir seus partidos em torno de seu nome e conseguir o máximo de coligações com outras siglas, de preferência com aquelas que têm direito a pelo menos uma inserção diária durante o horário eleitoral obrigatório. Serra largou na frente.

Ao bater em 30% das intenções de voto no Datafolha, ele tornou-se líder e - mais relevante - passou a ser percebido como o favorito. Nada mais atraente para os políticos do que a perspectiva de poder. Não importa que Serra cresceu por um evento efêmero - o tumulto causado pela sua entrada tardia na disputa e a grande exposição na mídia que se seguiu - , nem que parte de sua intenção de voto seja, de fato, efeito memória. A pesquisa criou um fato político e deu impulso a Serra.

Antes que obscurantistas venham clamar contra a liberdade de informação, é bom lembrar que isso é do jogo. Assim como ajudou, a pesquisa poderia ter atrapalhado se o resultado fosse diferente. Em 2010, quando Dilma Rousseff, em ascensão, começou a encostar no tucano, em queda, cada pesquisa era uma dose de vitamina para a campanha da petista e um tormento para Serra. Neste momento, os papéis se inverteram.

Para o PT e para Fernando Haddad, a pesquisa Datafolha foi uma notícia duplamente ruim. A estagnação do petista em 3% mostrou que a estratégia de Lula não deu certo. Ao atropelar as prévias do partido e impor um nome que ele escolheu sozinho, o ex-presidente pretendia ganhar tempo para tornar seu candidato conhecido e evitar rachas internos. Aconteceu o oposto.

O ressentimento de petistas alijados da disputa, como Marta Suplicy, é cada vez mais notório, e Haddad continua patinando no desconhecimento, apesar de estar em campanha há meses. Sem adversário interno, o pré-candidato petista mal aparece no noticiário. Ao mesmo tempo, a doença de Lula não permitiu que ele propagandeasse o nome de seu pupilo à exaustão, como fez com Dilma em 2009 e 2010.

Desconhecimento e inexperiência são defeitos que não pioram com o tempo. Ainda há muito chão pela frente e o PT tem um eleitorado cativo que levou seu candidato ao segundo turno nas últimas cinco eleições de prefeito em São Paulo. O problema petista imediato são as coligações perdidas.

É muito mais difícil - e caro - convencer um partido a apoiar o 7.º colocado do que o líder da pesquisa. Especialmente quando Dilma enfrenta uma rebelião na base de apoio ao seu governo. O PTB só é aliado do PT em Brasília. O PDT, cada vez menos. O PP malufista tucanou. O PSD kassabista também. PRB, PC do B e PMDB têm candidatos próprios mais bem colocados que o petista. O PR ameaça com Tiririca. Sobra o PSB, talvez.

Serão necessários muitos ministérios e muita verba federal para o PT seduzir outras siglas e levá-las para sua coligação. Sem isso, Haddad, que precisa de tempo na TV para o eleitor descobrir que ele existe, corre alto risco de ficar com menos tempo de propaganda do que o principal rival, o universalmente conhecido Serra.

Se não fizer amigos e influenciar outros partidos, Haddad pode ficar empatado em inserções publicitárias com Gabriel Chalita (PMDB), que corre por fora e não perdeu pontos com a entrada de Serra: tem 7% das intenções de voto (tinha 6%).

A dificuldade petista de arrumar coligações para seu candidato em São Paulo se deve aos aliados de Dilma terem caído na real. Perceberam que jogam, em 2012, a sua sobrevivência daqui a dois anos, quando serão renovadas as bancadas na Câmara dos Deputados e um terço do Senado. Os principais cabos eleitorais em 2014 serão - como sempre foram - os prefeitos que ganharem a eleição no próximo mês de outubro. E está difícil elegê-los.

Os aliados acham que o PT é o bicho-papão. Mas foi o recém-criado PSD que bagunçou a base aliada de Dilma. Das suas 272 prefeituras, o partido de Gilberto Kassab "roubou" a maioria (153) de partidos que apoiam a presidente no Congresso: 31 do PMDB, 30 do PP, 23 do PR, 15 do PTB e 10 do PSB, por exemplo.

Como resultado, PMDB, PP, PDT, PR e PTB têm menos prefeitos hoje do que elegeram em 2008.

Ao mesmo tempo, PT e PSB conseguiram cooptar novas prefeituras e estão jogando pesado para engordar ainda mais esse número nesta eleição.

São Paulo é apenas o caso mais visível de um problema nacional: a disputa pelo poder municipal entre partidos que só são aliados no plano federal por força do presidencialismo de coalizão brasileiro.

O mau desempenho no Datafolha e a busca pelas coligações perdidas mostram que não será apenas na base da ligação direta com o eleitor e seu bolso que Lula vai conseguir eleger Haddad, nem que Dilma vai conseguir governar. A política é necessária, como sempre foi.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O Matriarcado:: Ricardo Noblat

A eleição em SP terá o peso da máquina a favor de Serra. Haddad terá a força do Lula, do PT. (Deputado Arlindo Chinaglia, PT-SP)

De passagem por Fortaleza na semana passada, disse Dilma Rousseff sobre a próxima eleição para prefeito de São Paulo: "Sou presidente da República, não sou prefeita de São Paulo nem tenho nenhum pronunciamento a fazer a esse respeito." Era Dilma em estado puro! Por óbvio, diria a mesma coisa a propósito da eleição em qualquer outra cidade.

Portanto, a dar o dito pelo não dito, isso significa que Dilma, pelo menos publicamente, decidiu tentar ficar à margem das eleições municipais de outubro. Caso resista à pressão dos aliados para que se envolva com elas, será uma mudança e tanto no comportamento do servidor número um da República. A conferir.

Conferindo: um dia depois de dizer o que disse em Fortaleza, Dilma promoveu a ministro da Pesca o senador Marcelo Crivella. O PRB dele tem candidato a prefeito de São Paulo. A Igreja Universal dele bate em Fernando Haddad, candidato de Lula imposto ao PT. Não o perdoa por causa do "kit-gay". É mais um percentual, sabe...

Da comissão que Dilma paga à Lula por ocupar a vaga dele. Lula meteu-se sem nenhuma cerimônia em todas as eleições municipais que pode. Subiu em palanques e esgoelou-se pedindo votos para seus candidatos. Deu-se bem em alguns locais. Em outros colecionou desastres, apesar de sua popularidade.

É o que ele pretendia fazer mais uma vez este ano. Porém... Mesmo extirpado, o câncer na laringe descoberto em outubro último deverá conter o ímpeto de Lula. Ninguém dribla o fantasma da morte e continua a viver como se nada tivesse acontecido. Nem mesmo São Lula, o padroeiro dos sobreviventes.

De resto, é previsível que a voz de Lula acabe afetada pelas sessões de quimioterapia e de radioterapia destinadas a pulverizar o tumor. Na melhor das hipóteses, o PT contará com a ajuda pela metade do seu mais precioso cabo eleitoral. Falta carisma a Dilma para escalar palanques, recomendar candidatos e eleger uma parte deles.

Falta-lhe também o gosto pela política. Mas não é apenas isso que a leva a ensaiar a postura de "presidente magistrado". Na verdade, Lula só existe um — capaz de atrair o apoio de 14 partidos e de ajudar uns em detrimento de outros. E de pedir votos para o seu em prejuízo dos demais. E de mesmo assim conservar o apoio dos 14.

Se Dilma ousasse fazer o mesmo se daria mal. Perguntem aos líderes de partidos se estão felizes com ela. A resposta, sob a condição de não terem seus nomes publicados, é "não". A insatisfação tem duas razões principais: Dilma não governa com eles. Dilma se faz de surda à maioria dos seus pedidos.

Para não governar com eles, Dilma criou um modelo novo de administração e de falso compartilhamento de poder. Os partidos indicam nomes para os ministérios. Dilma costuma aceitá-los. Mas é ela que emplaca os secretários-executivos dos ministérios. E é com eles que governa.

O modelo não vai bem. Ministros e secretários-executivos se encaram com desconfiança. As engrenagens da máquina pública rangem e ela não se mexe — a não ser devagar. Então Dilma tem mais um ataque de nervos e distribui desaforos. Depois esperneia porque o ataque vazou para a imprensa. Salve-se quem puder!
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) desacelerou. O pré-sal jaz adormecido nas mais inexpugnáveis e indômitas profundezas. O Código Florestal passou no Senado e emperrou na Câmara dos Deputados. Dilma cometeu a proeza de se atritar com o presidente da Câmara, Marco Maia (PT), seu eventual substituto.

O primeiro ano do governo Dilma foi um ano opaco. Não serviu para dar partida a nada de relevante. Dilma trocou a fantasia de gerente pela de faxineira ética e desmontou o que havia montado. Este será um ano curto. Os políticos irão cuidar das eleições a partir de junho. E o governo sofrerá as restrições impostas pela lei em ano eleitoral.

Aguardemos o terceiro ano do que os senadores passaram a chamar com ironia de "O Matriarcado".

FONTE: O GLOBO

Até quando? :: Aécio Neves

O país fica a cada dia menos federalista e mais concentrador. Trata-se de crônica doença do Estado brasileiro, que se adensou perigosamente como nunca antes na nossa história.

Pouco importa a natureza do problema. O poder central contrapõe-se a qualquer iniciativa, por menor que seja, que possa lhe ameaçar ínfima fatia de um falso protagonismo salvacionista.

O governo que tudo pode, e só ouve o que lhe interessa. Simplesmente dá de ombros diante de prefeitos já incorporados à paisagem dos protestos inúteis sobre a Esplanada dos Ministérios, mobilizados por migalhas de recursos.

Agora, outro capítulo da anemia do pacto federativo se desenrola no campo dos Estados -governados por partidos diversos- engolfados por dívidas impagáveis com a União.

A aritmética é simples: mesmo depois de mais de uma década de pagamentos substantivos, o valor nominal dessa dívida é maior hoje do que era no início do financiamento.

E antes que me digam que aumentou em função do teto fixado para pagamento pelos Estados, respondo que a qualidade dos serviços públicos a que a população tem direito não pode ser regida pela lógica da matemática financeira.

A fórmula, do fim dos anos 90 e importante naquele momento, não nos serve mais.

Ofende o bom senso a diferença entre as generosas taxas praticadas para empréstimos subsidiados à iniciativa privada pelo BNDES -com claro prejuízo do poder público, que toma recursos no mercado a taxas muito mais altas para satisfazer a poucos escolhidos-, e aquelas que corrigem as dívidas dos Estados.

Se é importante que o desenvolvimento seja estimulado por financiamentos mais baratos para todos, como justificar que os Estados, responsáveis por investimentos em saúde, educação e segurança, sejam penalizados pelo governo com encargos financeiros nas alturas? Como a União, ao mesmo tempo, incentiva o investimento privado e penaliza o investimento público?

Por que o governo federal não usa, na correção das dívidas dos Estados com a União, o mesmo indexador que usa para corrigir as suas?

O que não pode continuar prevalecendo é a lógica perversa que vem pautando o Planalto, de autorizar e estimular todas as demandas -ainda que justas- que geram ônus financeiro exclusivo para os entes federados, enquanto se exime de partilhar responsabilidades, optando por alternativas que fragilizam a federação e reforçam a concentração de recursos na União.

Este é o momento de perguntar até quando apenas o governo federal -e não o país- vai se beneficiar dos sucessivos recordes de arrecadação. Ao fechar os olhos para essa realidade, o Planalto dilapida o que ainda nos resta de federação.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A eleição como surpresa:: Renato Janine Ribeiro

Estas eleições prometem muito suspense. Para dizer a verdade, a campanha para as municipais de 2012 começou a soltar adrenalina, e muita, com um bom ano de antecedência. A rigor, ainda não sabemos quem vai ganhar - às vezes, nem quem vai disputar - as eleições na maior parte das capitais. Aliás, a ansiedade é uma constante em nossas eleições, excetuando talvez as duas vitórias de Fernando Henrique, em 1994 e 98. Hoje, a novela paulistana é exemplar desse ritmo de surpresas.

Primeiro ato: Lula intervém, afasta a aspirante mais popular do PT, Marta Suplicy, e emplaca Fernando Haddad. Foi uma ação surpreendente, mesmo que ela possa encontrar uma justificativa, que estaria em Haddad sofrer menor rejeição do que Marta e, portanto, ter talvez maiores chances de vencer. Segundo ato, o mais surpreendente até agora: o prefeito Kassab se distancia do aliado PSDB e negocia com o PT. Isso espantou, mas também há lógica nesse curioso minueto. Afinal, Kassab disputou as eleições municipais de 2008 com o atual governador do Estado, Geraldo Alckmin, e desde então eles se estranham. Mesmo assim, foi paradoxal ver uma aproximação do Partido dos Trabalhadores com um político de origem na direita, tanto assim que as bases do PT, já incomodadas com a intervenção de Lula na escolha do candidato, quase se rebelaram contra uma aliança tão "contra natura". Terceiro ato: a entrada de José Serra na disputa, pondo fim às negociações do prefeito paulistano com o PT. Serra não queria a prefeitura e deixara isso claro, a ponto de serem programadas prévias somente por essa razão - mas mudou de ideia. Essa foi, porém, a menor surpresa das três: foi a única saída para sua família política continuar governando a maior cidade do país, e para ele se manter na posição de grande nome do PSDB.

Três atos, disse eu, um para cada surpresa; na era clássica, ou seja, nos séculos XVII e XVIII, as peças de teatro tinham cinco atos. Hoje, têm um, dois ou três. Ninguém aguenta mais tanto intervalo... Só que nas eleições deste ano vamos ultrapassar os cinco atos de Racine e Molière. Em outras palavras: eleições, no Brasil, reservam muitas surpresas. Acredito que em nosso país a dose de imprevistos numa campanha eleitoral seja maior do que em países nos quais as preferências partidárias ou políticas dos eleitores estão consolidadas ou, se assim preferirem, engessadas. Embora nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, França, Itália, Alemanha e Espanha não seja raro uma eleição trocar o partido que está no governo, o porcentual de eleitores que mudam de opinião não é dos maiores. Já no Brasil, ele pode ser bastante elevado.

Lembremos as eleições presidenciais desde 1989. Escolho esse período, porque ele é o único marcado pela constância da democracia em nossa história. Na República Velha, as eleições eram fraudadas; depois disso, passamos por duas longas ditaduras, a de Vargas e a dos militares; e, na fase democrática de 1945 ou 46 até 1964, vivemos boa parte do tempo sob a ameaça de uma intervenção armada, que por sinal acabou ocorrendo. Mas, desde que a democracia começou a se consolidar entre nós, em 1985, um dado interessante é que somente se elegeram para a presidência da República candidatos improváveis. Poucos sabiam quem era Fernando Collor dez meses antes de ele se eleger. FHC, intelectual sofisticado, parecia o exemplo de quem jamais conseguiria falar ao povo. Seguramente, ele não se elegeria sem o Plano Real. Delfim Neto dizia que até "um poste" venceria Lula em qualquer eleição. Difícil lembrar, hoje, o quanto Lula era temido e rejeitado. Já Dilma era considerada uma tecnocrata, jamais disputara um pleito e não aparentava ter maiores dotes para a comunicação política. Em contrapartida, nenhum dos nomes óbvios - Ulysses Guimarães em 1989, Mário Covas em 1994, José Serra depois - chegou a presidente do Brasil. Parece estar em nossa tradição democrática - curta, mas creio que consolidada - a eleição como surpresa.

Essa situação tem um aspecto positivo. Nosso eleitorado não é "blasé". Ele é capaz de mudar de ideia, conforme os rumos da campanha. Sim, ele pode ser conquistado por golpes baixos, como quando Collor acusou Lula, em 1989, de tentar induzir a ex-namorada a fazer um aborto - ou, nas últimas eleições, quando de novo o aborto serviu de arma eleitoral. Mas também decide o voto com base no interesse, como aconteceu quando o plano Real domou a inflação, ou quando o governo Lula promoveu uma maciça ascensão social das classes D e E para a classe C.

Ou pensemos no eleitorado, tal como está representado na Câmara. Nossa política tem dois polos, o PT, com 88 deputados eleitos em 2010, e o PSDB, com 54. Partidos de convicções firmes são esses dois, mais o DEM, o PCdoB e o PSOL. Talvez o PPS. Somados, têm uns 200 deputados, num total de 513. Quase todas as demais agremiações, inclusive a segunda maior, o PMDB, com 79 representantes, carecem de convicções tão firmes - isto é, podem apoiar qualquer governo. Isso é ruim? Muito. Mostra o oportunismo desses partidos. Mas, do ângulo dos cidadãos, indica que a maior parte deles não sente ódio excessivo a qualquer polo. Temos dois polos partidários, por sinal melhores que a média em outros países do mundo (melhores que os dos Estados Unidos, Itália ou França), mas a cidadania não está rachada entre eles. Mesmo se acreditarmos que os eleitores tucanos odeiem o PT, e os petistas detestem o PSDB - o que está longe de valer para todos -, a maior parte da população não está tão dividida. Isso é positivo. Permite que as pessoas mudem de ideia. Dá vida à política.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Uma voz uníssona e congelada no tempo:: Maria Celina D'Araujo

Desde o fim da ditadura, presidentes civis têm sido complacentes com os atos de indisciplina e com a inércia das Forças Armadas

Na década de 1950, em plena guerra fria, o Clube Militar era tema constante nas primeiras páginas dos grandes jornais. Ali se debatiam “os grandes temas nacionais” e se organizavam chapas para a diretoria do Clube que expressavam os debates político-ideológicos da época: estatização do petróleo, guerra da Coreia, abertura da economia, nacionalismo, protecionismo, anti e pro getulismo, etc. A derrota ou a vitória de uma dessa chapas no Clube significava ganhos ou perdas para o governo ou a oposição.

Depois do golpe civil-militar de 1964, o Clube dedicou-se a manifestações “cívicas” que faziam a defesa do regime e do anticomunismo mas tudo começou a mudar com a redemocratização em 1985. O Clube transformou-se então em um espaço de defesa da ação militar durante a ditadura civil-militar e assim tem sido até hoje. Vem, desde então, praticando o discurso único: as Forças Armadas “salvaram o Brasil” e o que foi feito ou como foi feito não pode ser objeto de questionamento. A voz uníssona e congelada no tempo tem sido mantida nos comunicados do Clube ao longo de duas décadas de democratização. Parece um disco quebrado. O Clube Militar foi fundado em 1887, dois anos antes da proclamação da República que ajudou a fundar por meio de um golpe militar, e reúne representantes das três Forças.

Sintomaticamente tem ainda como sub-denominação “A Casa da República”. A palavra casa remete a esfera privada, assuntos íntimos, espaço da autonomia e da soberania particular de uma família ou grupo. O Clube nasceu assim, concebendo a República como assunto privativo dos militares. A “Casa” que deveria protegê-la era a dos militares. Da mesma forma, a “Casa” deveria protegê-los.

Nas últimas semanas, temos observado uma ampla circulação de notas e pronunciamentos do Clube bem como reações da Presidência da República e do Ministério da Defesa. Resumindo, representantes da reserva das três Forças lançaram nota criticando a presidente Dilma Rousseff por ser complacente com pronunciamentos de auxiliares diretos favoráveis à punição de torturadores; a presidente pediu ao ministro da Defesa para censurar a nota; o Clube reagiu dizendo que o ministro não tinha autoridade ou legitimidade; a presidente pediu punições, etc. O que está em jogo em meio a esses atos de indisciplina, censura, indelicadeza e falta de civilidade? Vou listar algumas razões.

Em primeiro lugar, a recorrente defesa militar da Lei da Anistia na forma como foi concebida em 1979 e mantida até hoje por meio de recente decisão do STF. Ou seja, impedindo que os agentes do Estado que praticaram tortura ou outras formas de desrespeito aos direitos humanos sejam levados a julgamento.

Em segundo, a crítica à Comissão da Verdade criada em novembro do ano passado que, sem pretensão punitiva, visa identificar o destino de mortos e desaparecidos no Brasil - cerca de 370. O Clube, assim como alguns partidários da punição aos torturadores, entende que a Comissão pode ser uma brecha para possíveis ações cíveis.

Em terceiro, está claro que embora o Clube seja o porta-voz dos militares para temas corporativos, a Força mais empenhada em manter o status quo é o Exército. Os governos militares foram governos de generais. Os assinantes dos manifestos do Clube são basicamente dessa Força. Menos de 10% dos signatários pertencem à Marinha ou à Aeronáutica. O Exército foi a Força mais envolvida na política e na repressão durante a ditadura civil-militar e a que mais ecoa a ideia de que precisa ser protegida pela “Casa”.

Em quarto, o episódio reflete a falta de comando político e civil dos presidentes eleitos desde o fim da ditadura sobre as Forças Armadas. Todos os presidentes civis foram complacentes com atos de indisciplina e com a inércia que marcam a instituição. Houve uma postura comodista: “Não vamos mexer com os militares porque eles podem causar problemas”. Com isso, manteve-se certa autonomia nas questões militares e incentivou-se as Forças Armadas a continuarem tendo poder de veto em questões políticas.

Em quinto, observa-se que os grandes ausentes em todo esse debate são o Congresso Nacional e os partidos políticos. Os temas da verdade histórica, da possível revisão da Lei de Anistia ficaram afeitos ao Executivo e ao Judiciário. Lembre-se o óbvio: o Legislativo é único órgão que pode fazer ou refazer leis.

Finalmente, este é mais um episódio de uma história longa de déficits no controle político e democrático das Forças Armadas no País. O que está em jogo não são apenas as possíveis ações cíveis que possam advir da Comissão da Verdade, mas a autoridade dos poderes democráticos no sentido de decidir sobre temas de direitos humanos e de construção de uma visão menos arrogante, de todas as partes, sobre quem pode falar pela história.

A Comissão da Verdade propõe-se a apurar o que aconteceu com nossos mortos e desaparecidos. Este direito não pode ser negado às famílias. O que vier depois daí poderá ser objeto de novos debates e embates. Assim é a vida. Melhor debater, rever, reconstruir do que fazer a defesa inerte de um “dever envergonhado” que compromete a estatura, a imagem do País, mas principalmente, nossos valores humanos.

Maria Celina D'Araujo é doutora em Ciência Política e professora da PUC-RIO

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO/ ALIÁS

Sírios, gregos e nós:: Rubens Ricupero

Deveria ser natural que soubéssemos mais o que se passa nas terras de nossos ancestrais

Síria e Grécia se tornaram símbolos das duas famílias de crises que dominam a agenda mundial. São nesses países que a Primavera Árabe, de um lado, e o desastre financeiro, do outro, atingiram nível de paroxismo. Lá também a agonia se processa em câmera lenta, sem desfecho final à vista.

Intriga que sejam justamente os berços da civilização ocidental os menos aptos a administrar desafios que nasceram da modernidade inventada pelo Ocidente. Primeiro o Iraque da Babilônia e da Assíria, depois o Egito, agora a Síria corredor entre essas culturas, a Grécia, a Itália, herdeira dos gregos e romanos, todas as fontes do que pensamos e somos dão a impressão de ruínas arrastadas pela correnteza.

Dir-se-á que, afora a geografia, nada existe em comum entre esses locais e as antigas civilizações que nelas outrora floresceram. Ainda que fosse verdade, é inegável que o drama desses países nos toca mais de perto do que os conflitos na Bósnia ou no Afeganistão, lugares dos quais não sabemos grande coisa.

Tratando-se de Portugal, da Espanha, da Itália e da nação de onde vieram muitos dos nossos árabes, deveria ser diferente. Graças a tradições e laços de família, à presença de comunidades importantes dessas nacionalidades, seria natural que houvesse mais empatia e solidariedade ou que revelássemos conhecimento mais profundo do que se passa nas terras de nossos ancestrais.

Deveria ser, mas não é. Veja-se, por exemplo, o caso da Síria. Semanas a fio, a cidade de Homs esteve presente em todas as manchetes dos jornais. A cidade foi origem de muitas famílias sírias radicadas no Brasil e deu o nome a um dos clubes mais prestigiosos de São Paulo. A julgar, porém, pelo silêncio em torno da batalha que castigou a localidade, ninguém suspeitaria que existisse aqui um vínculo qualquer com Homs.

Por que o silêncio, não só dos sírios, mas também dos libaneses (devido às afinidades)? É que na Síria o conflito não se esgota na dimensão democratas contra ditadura.

Há, como no Líbano, no Egito e no Iraque, um problema entre comunidades. O governo sírio está há décadas em mãos da minoria alauita, contestada pela maioria sunita. Outras minorias, como os cristãos, se sentem mais seguras sob o governo de uma minoria.

Sírios e libaneses vindos para o Brasil eram, em geral, cristãos: maronitas, melquitas, ortodoxos. A memória das discriminações sofridas da parte da maioria sunita e as perseguições ora renovadas contra os cristãos no Egito e no Iraque não os encorajam a desejar a chegada ao poder novamente de uma maioria, sunita ou xiita.

Os pais da democracia americana afirmavam que ela não era apenas o governo da maioria, mas a garantia dos direitos da minoria.

No Oriente Médio, porém, a maior proteção vem da própria comunidade. Daí o provérbio alauita: "Se você está com Assad, está com você mesmo"!

A fragmentação em comunidades antagônicas é uma das heranças das antigas civilizações. Compreender essa realidade complexa e, nesse ponto, sim, distante de nossa experiência será essencial para que o Brasil possa ajudar a superar os conflitos dessa complicada região.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Brasil ajusta política externa para enfrentar mundo pós-crise

Com Primavera Árabe e recessão europeia, país busca oportunidades

Diante da Primavera Árabe e da crise europeia, o Brasil decidiu discutir seu novo papel no cenário internacional. Por determinação da presidente Dilma Rousseff, que chegou ontem a Hannover, na Alemanha, onde se encontra hoje com a chanceler Angela Merkel, um grupo de ministros está mapeando as oportunidades para marcar a presença brasileira na agenda mundial. A ideia é manter a "âncora regional", aprofundando a atenção dos países vizinhos, mas também projetar o Brasil diante dos países desenvolvidos. Especialistas avaliam que a reaproximação com os Estados Unidos e um foco maior nos direitos humanos diferenciam a política externa de Dilma da do ex-presidente Lula.

Ajuste na política externa

Determinação é aproveitar o bom momento do Brasil no cenário internacional

Eliane Oliveira, Helena Celestino

A presidente Dilma Rousseff determinou ao primeiro escalão da área internacional do governo que repense a política externa brasileira para ajustá-la ao cenário mundial pós-Primavera Árabe e crise europeia. A hora é de aproveitar o bom momento brasileiro para aumentar a influência do país no cenário internacional. A frase, que já virou um mantra repetido por ministros, assessores e diplomatas, é a inspiração básica para todos os envolvidos na discussão das mudanças na política externa brasileira.

- Houve fortes mudanças no mundo no último ano. Por isso, vamos redefinir um projeto de diversificação do Brasil no mundo - resume o assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia.

Grupo discute novo papel do país

Desde o início do ano, um seleto grupo de ministros e assessores especiais da área externa está discutindo formas de o Brasil aproveitar o entusiasmo com o país para amplificar a sua voz nos grandes temas da atualidade. A equipe é comandada pelos ministros das Relações Exteriores, Antonio Patriota, da Fazenda, Guido Mantega, e do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Cada um na sua área, eles mapearão as oportunidades para reforçar a presença brasileira na agenda mundial.

- Relações internacionais não são uma ciência exata. Tentamos buscar caminhos através de uma postura de coerência que dê credibilidade ao país - explica Patriota.

Numa linguagem mais simples, diplomatas menos estrelados contam que já estão sentindo o gostinho de participar das grandes decisões do mundo, e são muitos os indícios de que o Brasil está entrando para o grupo dos países dominantes.

- É esta experiência que precisamos sistematizar e transformar em política - diz um embaixador.

Segundo Patriota, o governo manterá o que chamou de "âncora regional" em sua política externa, focada na preservação da paz e da democracia na América do Sul. Na vertente econômica, o chanceler diz que as perspectivas para os países da região são as mais promissoras das últimas décadas.

- Isso permite que nos concentremos em uma agenda positiva e em um engajamento pleno nas grandes questões internacionais - observa o ministro.

Marco Aurélio concorda, mas acredita que os países da região necessitam de mais atenção do Brasil:

- Os vizinhos reclamam nossa atenção. Estão carentes.

Tanto ele como Patriota destacam que o mundo agora é multipolar, o que permite um número maior de protagonistas. Ambos citam a China como exemplo e ressaltaram as divergências de opiniões surgidas no Conselho de Segurança da ONU em relação à Síria: chineses e russos de um lado e americanos de outro.

- Parece a volta da Guerra Fria - diz Marco Aurélio

- O Brasil se mantém firme em suas posições e leva muito em conta a opinião dos países da região - enfatiza Patriota.

Encontro para discutir crise

Os dois, no entanto, rejeitam a ideia de que o Brasil está menos falante desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a faixa para Dilma. A presidente, dizem todos, gosta de fazer política externa, conhece o assunto e dedica ao tema o mesmo interesse que seu antecessor. Claro que cada um com seu estilo: Dilma lê para se informar, Lula era intuitivo.

- Lula sempre se moveu a partir de suas intuições. As reuniões de cúpula da América do Sul com os países árabes e com a África, assim como a tentativa de mediação de um acordo com o Irã, foram ideias dele. Agora, o momento é de colher frutos, olhar de forma mais minuciosa as mudanças que houve no mundo - diz Marco Aurélio, assessor internacional da Presidência desde o primeiro mandato de Lula.

Na semana passada, a presidente fez críticas aos países ricos, ao dizer que a Europa provocou um "tsunami monetário" com suas medidas adotadas para enfrentar a crise. Hoje, Dilma deverá tratar do tema com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. A presidente chegou na noite de ontem a Hannover, por volta das 20h30m, duas horas após o previsto. Uma escala técnica no Porto, em Portugal, provocou o atraso. O encontro com Merkel será hoje, na abertura da maior feira de tecnologia do mundo, a CeBit.

Ao ser perguntado, em Hannover, sobre a conversa que Dilma terá com a chanceler da Alemanha, Marco Aurélio diz que a presidente vai repetir em público e na reunião privada com a chanceler alemã a crítica que fez aos países ricos.

Colaborou: Deborah Berlinck

FONTE: O GLOBO