sexta-feira, 25 de maio de 2012

OPINIÃO DO DIA – Mendes Thame: corrupção e fragilidade.

Ao que nós estamos assistindo? À imensa fragilidade do Estado brasileiro de se defender da delinquência e da corrupção

Mendes Thame, deputado (PSDB-SP), na CPI do Cachoeiro. O Globo, 25/5/2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Delta e Cachoeira usaram laranjas também no Rio
Contradição complica a situação de Perillo
Veto ao Código no prazo final
Enem: correção redação tem novo sistema

FOLHA DE S. PAULO
Renda e emprego resistem à freada econômica do país
Indústria europeia tem a sua maior queda em 3 anos
Fracassa programa para renovar frota de caminhão
Dilma vai vetar no novo código anistia para desmatadores
Vacinação contra a gripe é prorrogada até 1º de junho

O ESTADO DE S. PAULO
Na CPI, assessor de Cachoeira complica governador tucano
Acordo adia quebra de sigilo da Delta
Crise e dólar em alta fazem Brasil perder investimentos
Turista gasta menos
Copiar CD pode deixar de ser crime

VALOR ECONÔMICO
União já executa o plano de construir usinas no Tapajós
Dilma demite Flores da Previ
Marfrig adia pagamento de debêntures
Vinte anos depois, Collor tem seu momento como acusador
Renda estagnada para profissional mais qualificado

CORREIO BRAZILIENSE
...Era uma vez uma CPI
Transparência: Servidor do GDF terá salário aberto
Desemprego cai, mas a renda também recua
Enem: Redações têm nova regra de correção

ESTADO DE MINAS
Prefeito de BH emprega 11 antigos funcionários
CNJ: Recorde de reclamações contra o judiciário de MG
Enem: O que muda na correção da redação

ZERO HORA (RS)
Caixa faz o primeiro feirão de imóveis da era do juro reduzido
Voto secreto pode salvar Demóstenes

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
PT marca nova prévia
Brasil no banco dos réus em conselho da ONU
Rigor na correção da redação do Enem

Delta e Cachoeira usaram laranjas também no Rio

PT e PSDB batem boca na CPI, que antecipa votação sobre governadores

A rede de laranjas que alimentava, com dinheiro da Delta, o esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira não era exclusiva de Goiás: se estendeu também ao Rio. Entre os sócios de duas empresas que receberam R$ 521 mil da Brava Construções, ligada a Cachoeira, há duas faxineiras, um ajudante de caminhoneiro e uma desempregada, informam Cássio Bruno e Maiá Menezes. Na CPI, a revelação de que o contador do bicheiro movimentou R$ 12 milhões da Delta provocou a antecipação, para terça que vem, da votação sobre convocação de governadores e quebra do sigilo bancário da empresa. PT e PSDB bateram boca, mas se uniram depois para evitar que a votação ocorresse ontem.

Laranjas da Delta agora no Rio

Faxineiras aparecem como sócias das empresas que abasteciam o esquema de Cachoeira

Cássio Bruno, Maiá Menezes

A rede de laranjas que alimentava, com o dinheiro da Delta Construções, o esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira não é exclusiva de Goiás e se estendeu ao Rio, sede da empreiteira. Os sócios de duas empresas que sacaram dinheiro da Brava Construções - apontada como fantasma pela investigação da operação Monte Carlo, da Polícia Federal -, são moradores de áreas pobres da cidade e dizem desconhecer por que aparecem como donos das firmas. A Zuk Assessoria Empresarial e a Flexa Factoring Fomento Mercantil, de acordo com a Receita Federal, têm o mesmo endereço, no Centro do Rio, onde há apenas um escritório. As duas empresas eram sediadas lá entre 2008 e 2011, mas nunca funcionaram de fato. Sacaram, juntas, R$ 521 mil.

A auxiliar de serviço gerais Cristina Lacerda de Almeida, de 41 anos, aparece como sócia da Flexa Factoring, que recebeu da Brava Construções R$ 119.442,27. Moradora do Encantado, Zona Norte, Cristina disse ao GLOBO nunca ter ouvido falar da Flexa nem dos recursos. Desempregada há um ano, mora com a mãe e os quatro filhos num casebre alugado por R$ 150 por mês. Ela conta que perdeu identidade e CPF há cinco anos, mas não registrou o fato na delegacia.

- Fiquei surpresa. Nem sei o que falar. Minha ficha não caiu. Acompanho pouco o caso (Cachoeira). Para ser sincera, nem quero ver mais isto na televisão. Sei que tudo vai acabar em pizza - disse Cristina.

Sócios tiveram sigilo bancário quebrado

Outra que figura como sócia da Flexa Factoring é Tatiana Correia Rodrigues, de 26 anos. Moradora do Encantado, ela vive numa vila. O aluguel, segundo o pai dela, que não se identificou, está atrasado há cinco meses. Tatiana está desempregada há três. Com medo, não deu entrevista.

- Ela está abalada. Estamos desorientados. Minha filha perdeu os documentos há quatro anos e assinou documentos que não lembra o que eram. Tenho certeza que não tem nada a ver com isso - afirmou o pai de Tatiana.

Já Maria Aparecida Corrêa, de 40 anos, moradora de um conjunto habitacional na Piedade, Zona Norte, é sócia da Zuk Assessoria Empresarial, que recebeu da Brava Construções R$ 401.887,04. Ela disse ter assinado procuração e reconhecido firma há quatro anos, quando trabalhava em uma padaria. O documento foi dado a uma pessoa que prometeu conseguir um financiamento - e que nunca mais viu.

- Fui burra e idiota. Eu queria sair do aluguel e dar uma vida melhor para a minha filha. Fui na confiança porque ele era cliente da padaria e, depois disso, ele desapareceu.

Aparecida é auxiliar de serviços gerais e recebe R$ 640. O marido, autônomo, não tem salário fixo.

- Nem sei quem é Cachoeira. Nunca ouvi falar de empresa. É horrível. Minha conta está no vermelho.

O outro sócio da Zuk é Edivaldo Ferreira Lopes, que mora em Leopoldina (MG). Parentes dele, que vivem no Rio, negam participação.

- Ele é ajudante de caminhão e pobre. Devem ter usado os documentos para ele ser laranja - afirmou a cunhada Germana Ramos.

Os sigilos bancário e fiscal da Zuk e da Flexa Factoring e de seus sócios Cristina Lacerda de Almeida, Tatiana Correia Rodrigues, Edivaldo Ferreira Lopes e Maria Aparecida Corrêa foram quebrados em 2011, na Operação Monte Carlo. E vai de 1 de janeiro de 2010 a 1 de agosto de 2011. De acordo com os autos da operação Montecarlo, "diligências financeiras e fiscais" serão feitas em torno dos "responsáveis pela manutenção financeira da suposta organização criminosa".

A Brava Construções e a Alberto Pantoja foram abastecidas exclusivamente com recursos da Delta. Ao todo, movimentaram R$ 39 milhões.

FONTE: O GLOBO

CPI antecipa votação de quebra de sigilo

Petistas e tucanos batem boca; deputado Fernando Francischini acusa relator Odair Cunha de direcionar investigações

Roberto Maltchik, Chico de Góis e Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA. A revelação de que o contador de Carlinhos Cachoeira, Geovani Pereira, movimentou R$ 12 milhões que saíram de contas da matriz da construtora Delta, no Rio de Janeiro, obrigou a CPMI que investiga as relações do bicheiro com políticos a antecipar em uma semana a votação do requerimento que pede a quebra dos sigilos bancário e fiscal da empresa. A votação estava prevista para junho.

Um grupo de parlamentares, liderados pelo senador Pedro Taques (PDT-MT) e pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), pressionou para que o requerimento fosse votado ontem mesmo. PT, PSDB e PMDB abortaram a iniciativa.

A manobra teve apoio do relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG). Com isso, tucanos, petistas e peemedebistas evitaram que ontem mesmo fossem votados os requerimentos de convocação dos governadores Marconi Perillo (Goiás), Agnelo Queiroz (Distrito Federal) e Sérgio Cabral (Rio de Janeiro). Perillo e Queiroz são citados em interceptações telefônicas feitas pelas PF na Operação Monte Carlo. Cabral é amigo íntimo do dono da Delta, Fernando Cavendish.

De acordo com Taques, os R$ 12 milhões saíram das contas da Delta nacional para duas empresas de fachada que irrigavam o esquema de Carlinhos Cachoeira: Alberto & Pantoja e Brava Construções, que receberam da Delta, por diferentes contas, R$ 39 milhões, segundo a PF. As duas empresas não só fizeram diversos pagamentos aos integrantes do esquema, como também pagaram despesas pessoais dos integrantes da organização e até de advogados.

- Essa quantidade milionária de reais foi depositada em duas agências localizadas no Rio de Janeiro: a Agência 3369, da Avenida Rio Branco, do Bradesco; e a Agência 240, da Rua da Assembleia, do Banco HSBC. Esse recurso foi distribuído depois, pela empresa Alberto & Pantoja e pela empresa Brava para pelo menos outras 29 empresas - afirmou o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).

Como exemplo dos diversos pagamentos feitos pelas empresas usadas no esquema, consta um depósito de R$ 161,1 mil feito por Geovani Pereira ao escritório de advocacia do ex-procurador Geral da República Geraldo Brindeiro. De acordo com o senador, a PF aponta cinco transferências. Atualmente, Brindeiro é subprocurador-geral da República e, ao mesmo tempo, sócio de escritório de advocacia.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse que vai analisar a informação.

- Eu tive notícia disso da mesma forma, no pronunciamento do senador Pedro Taques. Não tive conhecimento disso. É coisa da advocacia mesmo. Não é nada que diga respeito ao Ministério Público, diz respeito à advocacia privada dele, mas, qualquer fato com que a gente se depare, nós temos que examinar se há algo para se apurar .

Tucano: relator petista é "tchutchuca" e vira "tigrão"

Os senadores Pedro Taques e Randolfe Rodrigues e o deputado Miro Teixeira deram entrada na 14 Vara da Justiça Federal do DF com ação cautelar preparatória para que, em regime de urgência, seja concedido o bloqueio do arquivamento de alterações societárias da Delta na Junta Comercial do Rio, decretação de indisponibilidade de bens da empresa e a nomeação de um interventor judicial para que a empresa não venda seus bens. Taques explicou que a intenção da ação é impedir que sejam paralisadas obras do PAC, realizadas pela construtora, e a demissão de mais de 30 mil trabalhadores.

O depoimento do ex-presidente da Câmara de Vereadores de Goiânia Wladmir Garcez, apontado pela PF como um dos principais operadores de Carlinhos Cachoeira junto ao governo do tucano Marconi Perillo, esquentou a disputa entre petistas e tucanos. A tensão acabou em bate-boca com a acusação do deputado Fernando Francischini (PSDB-GO) ao relator Odair Cunha (PT-MG) de direcionar a investigação contra o governador de Goiás:

- Quando fala da Delta Nacional, quando fala do senhor Agnelo Queiroz, o relator é "tchutchuca"; quando fala do Marconi Perillo, ele vira o tigrão. Então, nós queremos esse relator macho, que enfrenta tudo - provocou.

Francischini referia-se ao rol de perguntas feitas por Odair. Apesar de Garcez ser acusado de manter ligações também com o governo do Distrito Federal, comandado pelo petista Agnelo Queiroz, o relator fez 18 perguntas sobre fatos envolvendo o governo de Goiás e apenas uma sobre o do Distrito Federal. O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), que é ex-promotor, foi o primeiro a reagir:

- Em momento algum as perguntas são direcionadas para a apuração do fato em si, mas, em verdade, para a apuração do fato específico envolvendo um partido específico. Não chegaremos a lugar algum se o relator mantiver as suas perguntas exclusivamente com o norte de desestabilizar um partido político. O que estou percebendo claramente é direcionamento da investigação.

A situação piorou e quase terminou em briga quando o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) partiu na direção do petista Dr. Rosinha (PT-PR), após ser repreendido pela provocação debochada que fez ao relator.

- Vejo que aqui, quando há reunião secreta, o comportamento de alguns parlamentares é diferente em relação à reunião aberta. Na reunião aberta, quando há rádio, televisão e jornal, há sempre alguns que trabalham para sair na mídia, e não para investigar - disse Rosinha.

Francischini perdeu o controle imediatamente:

- Você quer me enfrentar? - questionou o corpulento parlamentar, que teve que ser contido pelo colega Álvaro Dias, antes de negar que tivesse intenção de agredir o franzino colega paranaense.

Ao fim da sessão, o relator negou que tenha direcionado o depoimento para atacar Marconi Perillo. Odair Cunha ressaltou que não havia como fugir da relação de Garcez com o PSDB.

--- Todas as perguntas que fiz, as fiz com base no inquérito da PF - sustentou o relator.

FONTE: O GLOBO

Sob pressão, relator revê quebra de sigilo da Delta nacional

BRASÍLIA - Em sessão tumultuada, deputado petista Odair Cunha deu sinais de que desistiu de medida contra construtora investigada

Em sessão tumultuada, em que dois dos três depoentes optaram por ficar calados e em alguns mmentos beirou a baixaria, o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT- MG), deu sinais ontem de que desistiu de defender a imediata quebra de sigilo da Delta Construções em nível nacional. Acordo entre PT, PMDB e PSDB adiou para próxima terça- feira, dia 29, a votação de requerimentos com a abertura das contas da Delta e a convocação de três governadores supostamente envolvidos com o esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Cunha está sendo pressionado por PMDB e PT para poupar a empreiteira nas investigações e evitar a aprovação de requerimento a favor do fim do sigilo. Para voltar atrás, o relator argumentou que a Operação Saint-Michel, cujas apurações deverão chegar nos próximos dias à CPI, já abriu as contas da Delta nacional.

A Saint-Michel foi deflagrada pelo Ministério Público do DF, como continuidade da Operação Monte Carlo. “A Saint-Michel já fez a quebra de sigilo. Quero ver o que existe nessa operação”, disse Odair. “O papel da Delta deve ser investigado, mas com método e análise para fazer a quebra de sigilo.” Ele disse que analisará os autos da operação até terça- feira, dia da sessão administrativa da CPI. Só então decidirá se pedirá a quebra do sigilo. Acordo entre lideranças do PT, PMDB e PSDB evitou a votação ontem de requerimento com a quebra de sigilo da Delta e de convocação de três governadores: o tucano Marconi Perillo, de Goiás; o petista Agnelo Queiroz, do Distrito Federal, e do Rio, o peemedebista Sérgio Cabral. A estratégia dos governistas é tentar aprovar na terça apenas a convocação de Perillo. Requerimento de autoria do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), apoiado pela maioria da CPI, pede preferência para a votação da convocação de Perillo. Os aliados, sobretudo petistas, alegam que as provas de envolvimento de Perillo com Cachoeira são incontestáveis, daí a urgência para convocar o tucano. Agnelo e Cabral também são alvo de pedidos de convocação, mas estão sendo blindados porque a maioria da comissão é de partidos aliados.

Rebuliço. Assim como Cachoeira, os depoentes preferiram manter-se calados. A exceção foi o ex-vereador Vladimir Garcez, do PSDB, que aproveitou a sessão para se defender e revelar uma série de amizades com políticos de todos os partidos. Sua fala causou rebuliço. O relator aproveitou para fazer duas dezenas de perguntas calcadas na relação do ex-vereador com o governador Perillo. Os tucanos protestaram, acusando Odair de ser parcial. A confusão foi tamanha que os deputados Francisco Francischini (PSDB-PR) e Dr. Rosinha (PT- PR) por pouco não protagonizaram cenas de pugilato. Francischini fez piada com o comportamento de Odair: “O relator é uma ‘tchutchuca’ quando fala do Agnelo e um tigrão quando fala do Marconi Perillo”.

Os petistas reagiram, cabendo ao Dr. Rosi- nha cobrar seriedade de seu adversário político no Paraná. Irritado, Francischini levantou-se, disse saber onde o petista colocava suas emendas e ameaçou ir para cima do deputado. A “turma do deixa disso” separou os dois. Há dois dias, após o término do depoimento de Cachoeira, Odair foi enfático ao defender a quebra do sigilo da Delta. A atitude desencadeou uma crise entre PT e o PMDB, apreensivo pelo fato de a investigação acabar atingindo Cabral, amigo do principal acionista da Delta, Fernando Cavendish. Os petistas temem que as apurações revelem eventuais ilegalidades em contratos entre o governo federal e a Delta, que é uma das principais empreiteiras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). /E. L.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Ex-vereador cita lista de amigos suprapartidária e muito influente

BRASÍLIA - Primeiro réu a falar na CPI do Cachoeira, o ex-vereador de Goiânia Wladimir Garcez (PSDB) apresentou uma lista suprapartidária de “amigos” políticos. A estratégia, segundo a defesa, não era mandar recados, mas sim mostrar que o principal interlocutor político de Cachoeira é “um homem bem relacionado”.

Denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF), Garcez está preso há 86 dias no Centro de Prisão Provisória (CPP) em Aparecida de Goiânia. A versão de Wladimir constrangeu os citados, que negaram o relacionamento. “Conheço muitas lideranças deste País. A começar pelo ministro (da Justiça) José Eduardo Cardozo. Sou amigo e coordenador da campanha do dr. Henrique Meirelles. Milito na política há mais de 25 anos.”

Ele citou também os senadores Íris Rezende (PMDB), Paulo Paim (PT) e o governador Marconi Perillo, entre outros. Segundo a Procuradoria da República em Goiás, Garcez integrava o alto escalão da organização criminosa de Cachoeira e teria trabalhado pela nomeação de indicações no governo do Estado, além da assinatura de contratos com empresas ligadas ao esquema. Cardozo informou pela assessoria que não manteve ou mantém relação com o ex-vereador. Paim também negou ter qualquer relação com Garcez.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Supremo autoriza CPI a divulgar investigações

Ministro Lewandowski liberou comissão para abrir informações a seu critério; somente interceptações telefônicas deverão permanecer em sigilo

Mariângela Galucci

BRASÍLIA - A CPI do Cachoeira está autorizada a divulgar documentos relacionados às investigações que apuram ligações de parlamentares com o contraventor Carlos Augusto Ramos. Numa decisão tomada ontem, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), liberou a CPI para veicular as informações a seu critério. De acordo com o ministro, os únicos dados que deverão permanecer em sigilo são as interceptações telefônicas. Lewandowski também resolveu encaminhar à CPI cópia integral de mídias relativas a escutas telefônicas oriundas da Operação Monte Carlo. O material foi recebido da 11.ª Vara Federal de Goiânia. Conforme o ministro, as gravações estão em nove DVDs e abrangem cerca de mil horas de conversa. Para facilitar apurações de eventuais vazamentos das interceptações telefônicas, Lewadowski determinou que o material tenha identificação digital.

Dados sigilosos encaminhados anteriormente à CPI vazaram. Uma sindicância foi aberta para apurar a responsabilidade pelo vazamento. Diante de recentes pedidos de investigados ao STF para garantir acesso às provas antes de depoimentos na CPI, Lewandowski ressaltou em seu despacho que o sigilo não alcança os integrantes da comissão nem os investigados pela CPI ou em inquéritos relacionados às Operações Vegas e Monte Carlo. Ele disse que essas pessoas têm o direito de acesso aos inquéritos, podendo tirar cópias.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

STF rejeita pedido de Valério para trocar ministro relator do mensalão

Defesa de publicitário alegava que Joaquim Barbosa já o teria prejulgado

Carolina Brígido

BRASÍLIA. O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) negou ontem um pedido da defesa do publicitário e operador do mensalão Marcos Valério para impedir o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, de continuar atuando no caso. O pedido foi negado em setembro de 2011 pelo então presidente da Corte, Cezar Peluso. Os advogados recorreram ao plenário, que manteve a decisão.

Segundo a defesa, Barbosa estaria impedido de julgar o processo porque, durante o recebimento da denúncia do chamado mensalão mineiro, caso conexo ao processo homônimo, teria feito prejulgamento de Valério. O ministro referiu-se ao réu como "expert em atividades de lavagem de dinheiro" e "pessoa notória e conhecida por atividades de lavagem de dinheiro". Por isso, o ministro não teria isenção para julgar o caso.

Em setembro, Peluso disse que a fala de Barbosa representou apenas "fundamentação idônea e suficiente sobre a admissibilidade da ação penal, sobretudo no que tange à presença da materialidade e de indícios suficientes da autoria". O relator teria apenas adiantado "razões convincentes" para que o STF abrisse a ação penal.

Peluso acrescentou que o Código de Processo Civil lista todas as causas de impedimento de um magistrado em um processo. E a alegação da defesa não faria parte desse rol. "O Supremo não admite a criação de causas de impedimento por via de interpretação", escreveu o ministro.

Ontem, o atual presidente do STF, Carlos Ayres Britto, concordou com Peluso. Em seguida, os ministros apoiaram o presidente. A decisão foi unânime.

FONTE: O GLOBO

Por Eduardo Campos, PT anula prévia do Recife

Reunida ontem em São Paulo, Executiva do partido invalidou resultado do domingo, desfavorável à aliança com o PSB do governador de PE

Daiene Cardoso

Em reunião de mais de três horas, a Executiva Nacional do PT decidiu anular ontem a prévia realizada no último domingo no Recife, em Pernambuco. Os dirigentes petistas marcaram nova consulta interna para 3 de j unho, somente entre os pré-candidatos Maurício Rands e o atual prefeito João da Costa. O processo eleitoral será conduzido pelo Diretório Nacional da sigla. Para que o PSB do governador Eduardo Campos apoie o pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, nas eleições municipais, caciques do PT, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, trabalham para garantir a candidatura do deputado petista Maurício Rands no Recife, que tem a preferência do governador.

Na prévia realizada no último domingo, Rands perdeu para o atual prefeito João da Costa (PT). O imbróglio envolveu acusações de fraude e, por isso, o resultado da prévia não havia sido reconhecido pelo PT. Apesar da anulação, a Executiva recomendou que os pré-candidatos busquem um acordo até o dia 3 de junho. Em nota divulgada no fim da tarde de ontem, o partido pede que eles acatem o resultado da prévia e apoiem o vencedor. “Foi feito um apelo para que procurássemos descansar os espíritos”, contou Rands. Também na nota, os dirigentes petistas negaram que o processo de disputa i nterna realizado no domingo tenha sido caracterizado como fraudulento. Segundo o texto, apenas “registraram-se algumas falhas”.

A manifestação foi comemorada pelo prefeito João da Costa, que venceu essa primeira disputa por 533 votos de vantagem. João da Costa negou ainda que o processo de negociação com o PSB do governador Eduardo Campos tenha influenciado na decisão do PT de anular a prévia. “Não tem nenhuma interferên- cia externa ao partido”, ressaltou o atual prefeito. “Vamos considerar as condições internas do PT porque a partir delas é que teremos condições de dialogar com os outros partidos”, completou o presidente estadual da sigla, Pedro Eugênio. O governador Eduardo Campos, por sua vez, disse que vai aguardar o resultado da nova prévia do PT para reunir os partidos aliados da Frente Popular – que inclui PT, PSB, PTB, PDT, PP, PV, PSC – em busca de um candidato único. A convicção do governador, que é também presidente nacional do seu partido, é a de que se sair com um candidato único, a Frente Popular vencerá a eleição da Prefeitura do Recife.

PSB. Para garantir o apoio do PSB a Fernando Haddad, a Executiva Nacional petista também decidiu ontem apoiar o pré- candidato Alexandre Cardoso (PSB) na disputa pela prefeitura de Duque de Caxias (RJ). Ter o apoio do PT na disputa eleitoral na cidade fluminense, assim como no município de Mossoró (RN), era a precondição imposta pelo PSB para compor chapa na capital paulista. Em Mossoró, o PT apoiará a candidata Larissa Rosado (PSB).

Os petistas vão indicar o vice candidato nas duas chapas. Já em São Paulo, apesar da pre- disposição de Eduardo Campos em apoiar o PT, a Executiva municipal da sigla pretende se reunir hoje para discutir a situação. Um caminho seria uma candidatura própria ou apoiar uma terceira via, já que coligação com o PSDB, de José Serra, já estaria descartada.

Diversidade

O pré-candidato do PT, Fernando Haddad, reuniu-se ontem com a comunidade GLBT e disse, quando indagado sobre preconceito contra homossexuais: “O combate à intolerância e a liberdade religiosa não são incompatíveis”

Juventude prepara cartilha para Serra

A juventude tucana faz cartilha para divulgar 45 marcas de ges-tão do pré-candidato José Serra no governo do Estado e na Prefeitura de São Paulo. O documento vai propagar projetos de Serra para os jovens , como a criação da Virada Cultural e de escolas técnicas. Ele havia cobrado publicamente que militantes divulgassem ações de gestores do PSDB. Membros da juventude programam um debate aberto com Serra para marcar a entrada na campanha após a convenção. “Ele pediu isso, quer ouvir e dialogar com os jovens”, diz o secretário nacional da juventude do PSDB, Wesley Goggi

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Para sorte do PT, oposição não tem nome forte

Ricardo Noblat

O PT do Recife atravessa um período infernal desde que no ano passado o deputado João Paulo, que antecedeu João da Costa no cargo de prefeito, resolveu ser candidato a prefeito outra vez. Foi ele que elegeu João da Costa prefeito. Mas os dois romperam relações pouco tempo depois. João Paulo queria mandar no seu sucessor. João da Costa rebelou-se.

Até Lula foi chamado a intervir para desatar o nó da eleição municipal deste ano no Recife. Lula não gosta de João Paulo. Queria que Rands o tivesse sucedido há quatro anos - mas João Paulo preferiu indicar João da Costa. De todo modo, Lula afastou João Paulo da disputa deste ano. E estimulado por Eduardo Campos, mandou que Rands enfrentasse João da Costa em uma prévia.

O prefeito ficou isolado. Quase todos os deputados federais e estaduais apoiaram Rands. O senador Humberto Costa também. E o próprio presidente do PT no Estado. Foi intensa a troca de desaforos entre os dois candidatos e seus correligionários. Houve agressões a murros. Para ao fim e ao cabo acontecer o que quase ninguém esperava: a vitória de João da Costa na prévia.

A próxima prévia será feita sob o controle rígido e integral do PT nacional, que deslocará para o Recife todo o aparato necessário para isso - material e dirigentes para funcionarem como fiscais. A essa altura, a sorte do PT é que a oposição não tem um nome forte para concorrer em outubro com João da Costa ou Rands.

FONTE: O GLOBO

Chico Buarque declara apoio ao PSOL no Rio

Marcelo Gomes

RIO - Eleitor tradicional do PT, o cantor e compositor Chico Buarque declarou, na noite da última terça-feira, apoio à candidatura do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) à Prefeitura do Rio. A confirmação foi feita na casa do artista, no Leblon, zona sul da cidade, durante um encontro, organizado pelo também cantor e compositor Caetano Veloso, que já havia aderido à candidatura do PSOL.

O PT não terá candidato próprio nas eleições de outubro. Terá, porém, a vaga de vice na chapa do atual prefeito Eduardo Paes (PMDB) à reeleição. O vice de Paes será o vereador Adilson Pires, ex-sindicalista e atual lí-der do governo na Câmara. Segundo Freixo, Chico entrou “de cabeça” na campanha e aparecerá no horário eleitoral na TV. “É esse tipo de aliança, com pessoas comprometidas com o futuro do Rio e do País, que eu busco.

É melhor que fazer alianças espúrias para aumentar meu tempo na TV em troca de cargos. Vamos ter pouco tempo de TV, mas temos as redes sociais e a militância”, disse Freixo. Além de Freixo e Paes, já lançaram suas pré-candidaturas no Rio a deputada estadual Aspásia Camargo (PV), o deputado federal Otávio Leite (PSDB) e o deputado federal Rodrigo Maia (DEM). A vice de Maia, filho do ex-prefeito César Maia, será a deputada estadual Clarissa Garotinho (PR), filha dos ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho.

Filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda, um dos membros fundadores do PT em 1980, Chico participou ativamente da primeira campanha de Luiz I nácio Lula da Silva à Presidência, em 1989. A primeira doação ao comitê de campanha de Lula naquele ano foi um cheque de Maria Amélia Cesário Alvim, mãe de Chico.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Marco Maia defende que contas-sujas possam se candidatar nestas eleições

Presidente da Câmara diz que projeto corrigiu "distorção criada pelo TSE"

Cristiane Jungblut, Isabel Braga

BRASÍLIA . Mesmo diante das críticas e reações, do Judiciário e de movimentos de combate à corrupção, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), saiu ontem em defesa do projeto que acaba com a exigência da aprovação das contas de campanhas eleitorais e permite que aqueles que tenham suas contas reprovadas obtenham o certificado de quitação eleitoral e possam concorrer. O projeto permite que mesmo os que tenham as chamadas "contas-sujas" possam se candidatar. Para Maia, a Câmara corrigiu uma distorção criada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao aprovar regra nova a menos de um ano das eleições municipais.

- O TSE criou uma regra nova, com um período menor que um ano antes das eleições, e estava impedindo que 21 mil cidadãos que foram candidatos na última eleição pudessem concorrer, inclusive com processos que não foram julgados pelo TSE. Portanto, o que nós estamos querendo fazer aqui é corrigir uma distorção que foi criada pelo TSE no processo eleitoral deste ano - afirmou Marco Maia.

O presidente fez referência à resolução aprovada este ano pelo TSE. Na votação, por 4 votos a 3, o tribunal interpretou a lei eleitoral e decidiu que, para obter o certificado de quitação eleitoral - necessário para a obtenção do registro de candidatura - o candidato tem que ter as contas eleitorais de eleições passadas aprovadas. Até então, para ter o certificado de quitação, o candidato precisava apenas comprovar a prestação de contas.

Para Marco Maia, está havendo uma "certa confusão", por parte da imprensa, ao falar sobre o projeto. Ele ponderou que muitas contas eleitorais não são aprovadas por problemas pequenos. Maia utilizou um argumento reforçado pelos políticos e especialistas eleitorais: se a regra antes era apenas prestar contas, sem a exigência de aprovação, não é possível impedir que ele concorra, mudando a regra no meio do jogo.

- Um cidadão que não foi eleito, teve uma campanha pequena e que não prestou contas (adequadamente). Ele não pode ser impedido de ser candidato agora. Ele não é criminoso, não é nenhuma pessoa que tenha sido condenada ou que tenha algum processo. Ele não sabia lá atrás que ele seria impedido de concorrer se ele não prestasse contas (adequadamente) - disse Maia, acrescentando: - O que estabelecia antes era multa, eram outras penalidades. Não a de perder o direito de concorrer numa eleição. É um atentado contra a democracia brasileira você impedir o cidadão de disputar uma eleição porque ele teve um erro formal numa prestação de contas que ainda não foi julgada pelo TSE.

Mesmo defendendo a proposta, o presidente da Casa terá que responder a uma questão de ordem, formulada em plenário pelo deputado Pauderney Avelino (DEM-AM), sobre o fato de não ter respeitado o regimento interno na votação do projeto.

- Fiz uma questão de ordem no seguinte sentido: como um projeto de maio pode ter precedência a um projeto que foi apresentado em março? Nem apensado foi. Fui ignorado solenemente - reclamou Pauderney.

Maia diz que partidos deram aval à votação

Maia ainda terá que responder a questão de ordem, mas, na votação, argumentou que o deputado do DEM estava na reunião de líderes que fez o acordo para a votação do projeto que modificou a lei eleitoral e não reclamou. Marco Maia já sugeriu também que Pauderney conversasse com o líder do DEM, ACM Neto (BA), reforçando que todos os partidos deram aval à votação.

FONTE: O GLOBO

Fim de um ciclo :: Roberto Freire

O ciclo de crescimento baseado na exportação de commodities e no consumo interno apresenta sinais de esgotamento.

A previsão do Ministério da Fazenda, no início do ano, de crescimento de 4,5% do PIB era tão falsa que já foi revista para baixo.

Os indicadores econômicos trazem sinais preocupantes e o governo continua a tomar as mesmas medidas como se fosse uma desaceleração momentânea. Diagnóstico errado com remédio errado.

O IBC-Br, índice de atividade econômica do Banco Central considerado como prévia do PIB, recuou 0,35% em março, mostrando claramente uma desaceleração econômica.

A Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE mostrou que a indústria recuou 2,1% em março em relação a março do ano passado e já registra queda acumulada de 1,1% nos últimos doze meses. São indícios de recessão.

No mercado internacional, as notícias da desaceleração da China preocupam o setor de commodities, força motriz da nossa economia. Caem os preços do ferro e da soja e diminuem as quantidades exportadas, gerando menos renda para o país.

As medidas anunciadas até agora pelo governo somente tentam impulsionar o consumo interno, que dá sinais de esgotamento.

Diminuir juros ao consumo não trará resultados quando o consumidor já está no limite de sua capacidade de endividamento, como mostra o aumento da inadimplência, que segundo o Serasa foi de 4,8% em abril em comparação a março.

Diminuir IPI da linha branca e agora dos automóveis são medidas anticíclicas com eficácia de curto prazo. Mas como são medidas reeditadas, sua eficácia neste momento tende a ser restrita.

Seu evidente propósito é ajudar a desovar os carros dos pátios das fábricas de automóveis, tentando "segurar" os empregos dos eleitores nas eleições de outubro.

O preocupante é que o governo não faz a parte que lhe cabe prioritariamente no crescimento: o investimento em infraestrutura.

O investimento no Programa de Aceleração do Crescimento caiu 24% em relação a 2011. O investimento total do governo caiu 5,5% nos primeiros quatro meses do ano.

Já a produtividade do trabalho continua a patinar, como mostra estudo do Ipea que apontou crescimento de 0,9% anual durante a primeira década do século. Falta de investimento em capital humano, ou seja, educação.

O problema de nossa economia reside no esgotamento do modelo de crescimento da era Lula/Dilma.

Surfando na onda do crescimento internacional, utilizamos a renda das commodities no consumo interno, principalmente de importados.

Colhemos os frutos das reformas estruturais realizadas na década de 90 de forma imediatista e não criamos as condições para dinamizar a economia.

Não fortalecemos nossa indústria e nossa capacidade de geração interna de renda.

Não realizamos os investimentos necessários, não obtivemos ganhos significativos de produtividade e não fizemos poupança. Não realizamos novas reformas institucionais, como a tributária, necessárias ao crescimento.

O governo Dilma precisa enfrentar os gargalos de nossa economia e parar de insistir num projeto esgotado.

Precisamos de um novo modelo econômico, um paradigma sustentável baseado em novas tecnologias e que supere a nossa dependência da indústria automobilística.

Roberto Freire, deputado federal (PPS-SP) e presidente do PPS

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

Coisa Nossa :: Fernando Gabeira

Desaparece, progressivamente, o espaço de uma filosofia solar que nos encarava como pessoas dotadas de uma confiança natural diante do desconhecido. E o tempo em que acreditávamos na sua palavra, exceto se tivéssemos alguma razão especial para duvidar ela.

Vivemos outra era, tão bem expressa pelas novelas da Globo e pelos reality shows. O que ensinam eles? Segundo Zygmunt Bauman, a mensagem é clara: a vida é um jogo duro para pessoas duras. Cada jogador joga por si próprio, mas a fim de obter certos resultados é preciso cooperar. O fundamental é tirar os adversários do jogo: primeiro, os que competem diretamente; em segundo lugar, os aliados ocasionais, depois de extraída sua última gota de utilidade.

Os outros são antes de tudo competidores. Estão sempre tramando, lançando cascas de banana, cavando buracos, montando armadilhas para nos fazerem tropeçar e cair. Nesse sentido, nada mais próximo de um reality show que a CPI do Cachoeira. Nela, como no reality show, a câmera e seus movimentos desempenham papel essencial.

No Big Brother, ela desvenda movimentos rítmicos sob o edredom; na CPI, escrutina outras superfícies digitais, a tela de um telefone celular, por exemplo. A frase que a câmera do SBT captou no telefone do deputado Cândido Vaccarezza é de uma clareza invejável: "Não se preocupe, você é nosso e nós somos teu". A CPI do Cachoeira não é apenas regida pela câmera, mas sua filosofia, na frase de Vaccarezza, é a de um reality show, um jogo de "nós contra eles". Quando surgiu, com tantas promessas de vingança, eu a chamei de CPI do "ai se eu te pego".

Num reality show, Vaccarezza iria para o paredão. No entanto, ele prestou um serviço. A blindagem que armou para o governador do Rio, Sérgio Cabral, não é de aço temperado, mas de um latão que mais expõe do que protege. Uma frase no monitor de cristal líquido desnudou o companheiro que queria encobrir.

Sou suspeito em tudo o que falo sobre Cabral. Fomos adversários nas duas últimas eleições. A essência dessa disputa, na visão dos estrategistas da esquerda, é o choque do proletariado em ascensão contra a burguesia decadente. Cabral faz o papel do glorioso proletariado e eu, o da burguesia decadente. Sua primeira vitória, em 2008, foi comemorada "no melhor Alain Ducasse do mundo", ao lado de um grande doador de campanha, o dono da Delta, Fernando Cavendish. A segunda foi mais fácil porque envolvia o interior e deve ter comemorado perto de casa, no Antiquarius.

Ao longo da campanha de 2010 ofereci aos jornalistas evidências de que se travava uma guerra suja na internet. Seu lado mais visível eram sites caros com o objetivo único de ridicularizar o adversário. Mas o lado subterrâneo era a contratação de empresas especializadas que inundavam a rede com comentários a seu favor. A divulgação dessas manobras não teria nenhuma importância no favoritismo de Cabral. Mas era um alento para pessoas que se veem bombardeadas por mensagens negativas na internet e acham que o mundo está contra elas.

Às vezes, essas campanhas são feitas por empresas que acionam seus robôs. Contestá-las é tão inútil quanto discutir com uma gravação ao telefone. O mérito da frase de Vaccarezza foi o de revelar como Cabral teme responder a perguntas elementares que talvez não estejam diretamente ligadas a Cachoeira. Mas certamente estão ligadas à Delta e a seus métodos de corrupção de políticos.

Em torno das placas de cobre e zinco com que Vaccarezza envolveu Cabral há uma blindagem muito mais poderosa, de um aço mais fino. Só ela poderia ter tornado possível que, ao cabo de seis anos de governo, Cabral nunca explicasse suas viagens. No princípio tende-se a supersimplificar a blindagem com o fato de o governador gastar milhões em publicidade. Mas a liga é muito mais complexa no aço que o blinda. Nela há componentes subjetivos, como o medo da Globo da vitória da oposição, a vontade de fortalecer uma política de segurança com êxitos pontuais.

Depois do escândalo das fotos de Paris, repórteres descreveram o paraíso do condomínio de Cabral em Mangaratiba e concluíram o texto com uma cena lírica: o governador e a primeira-dama oferecendo carona aos vizinhos, numa tarde de chuva. Não perguntaram quanto custou sua mansão. E ele não teria outra resposta: R$ 200 mil. Foi o que declarou ao TRE como candidato. Ao questionar esse valor, tive como resposta uma tentativa de processo penal. Acusação: má-fé.

Cabral invalidou nosso programa com imagens em que cantava num palanque ao lado de líderes da milícia. Retirou do ar um texto que dizia ser ele amigo de Cavendish e precisávamos estar atentos ao que fariam no Maracanã. Felizmente, não prosperou no TRE a acusação de má-fé: expressei uma dúvida e ela é a antítese da fé, boa ou má. Certas coisas nem juízes amigos podem determinar.

Foi tanta a proteção a Cabral que ele passou dos limites. Uma tragédia na Bahia e as imagens de Paris começam a corromper o aço que o protege. Acontece que a CPI do "ai se eu te pego" se tornou a CPI do "vamos recuar os zagueiros". Entraram na retranca. Não convocaram governadores, fogem da Delta como o diabo da cruz.

Cabral está marcado por perguntas não respondidas e vai conviver com elas por muito tempo. E a CPI, de tanto evitar o tema Delta, acaba se enrolando nele. No início era apenas Cachoeira. Depois a Delta, mas só a do Centro-Oeste. Com as evidências de que o dinheiro clandestino tinha origem e autorização na matriz da empresa no Rio, só gente muito sem-vergonha tem coragem de restringir as investigações. E essa gente sem-vergonha é maioria esmagadora.

O único consolo que destinam a si próprios e a Cabral é o fato de que tudo repercutiu na classe média, não chegou aos mais pobres. A desinformação é a esperança do PT de Cabral e de Cabral do PT. No passado, a esquerda ao menos se dizia aliada das luzes. Hoje, no Brasil, sonha com as trevas, bons advogados, marqueteiros que fazem do limão uma limonada e legiões de robôs para insultar os adversários. Coisa Nossa.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A vez da cultura:: Merval Pereira

Uma das preocupações mais sentidas entre os estudiosos chineses nestes dias de seminários aqui em Pequim, que já havia ficado registrada nos debates em Xangai, é fazer com que o mundo ocidental conheça a genuína cultura chinesa e entenda o espírito de seu povo.

A preocupação parece fazer parte de um projeto maior de inserção cada vez mais profunda da China no mundo, mais além do puro crescimento econômico, que já não satisfaz por si mesmo e precisa ser incorporado ao contexto mais amplo que inclui a divulgação cultural.

O interesse pelo Brasil, escolhido parceiro preferencial dentro dos Brics - acrônimo para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, grupo de países emergentes que serão dominantes no mundo futuro, segundo previsões da Goldman Sachs assumidas como verdade já nos grandes fóruns internacionais -, é evidente, e agora também na arrancada cultural, que tem muito a ver com o projeto dos Estados Unidos que deu certo do ponto de vista pragmático da política internacional, ao levar para o mundo, inclusive para a China, seu modo de vida e seus valores.

O festival de filmes chineses que um grupo de investidores quer fazer no Brasil, com a correspondente exibição de filmes brasileiros aqui na China, é um exemplo desse tipo de iniciativa que deve ser cada vez mais frequente daqui para a frente.

Dentro desse espírito, um trabalho sobre a necessidade de se ter uma historiografia mais acurada da China, que suplante os erros cometidos no passado e mostre às futuras gerações as verdadeiras faces do país, foi apresentado pelo professor da City University de Hong Kong Zang Longxi, que se utilizou de um famoso poema sobre o Monte Lu, na província de Jiangxi, de um dos maiores autores chineses, Su Shi, do século XI.

"Nós não conhecemos a verdadeira face do Monte Lu porque estamos todos dentro", diz um de seus versos mais conhecidos.

Para Zang Longxi, a metáfora da montanha funciona bem porque eventos históricos acontecem em locais específicos, com definição geográfica precisa e uma materialidade própria que os condicionam.

O poema de Su Shi indicaria que a simples descrição da montanha não é suficiente para compreendê-la, assim como para o historiador não bastam a descrição e os registros históricos, mas, sim, abrir-se para diferentes ângulos, aceitar diferentes perspectivas, e esse é o desafio chinês para a sua historiografia.

Mais uma vez os senadores Randolfe Rodrigues, do PSOL, e Pedro Taques, do PDT, e o deputado Miro Teixeira, também do PDT, colocaram em evidência o que já não se preocupa em esconder na CPI do Cachoeira: o acordo de partidos da base governista, como o PT e o PMDB, e o PSDB para proteger seus governadores.

O adiamento para terça-feira da votação para a quebra do sigilo nacional da empreiteira Delta e convocação dos governadores de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, Agnelo Queiroz, do PT do Distrito federal, e Sérgio Cabral, do PMDB do Rio de Janeiro, revela a tentativa de reorganizar as forças políticas que querem que a CPI não produza resultados concretos nem tenha consequências políticas, já que não foi possível ao governo até agora fazer com que a oposição sofra perdas seletivamente.

O PSOL detalhou, através do senador Randolfe Rodrigues, o que apurou na farta documentação à disposição da CPI: transferência de R$ 40 milhões da Delta para contas laranjas de Cachoeira e outras empresas a ele vinculadas, efetuada em agências bancárias do Rio de Janeiro (agências Rio Branco e Assembleia), com muitas parcelas menores que R$ 100 mil - para evitar análise do Coaf.

Compulsar os recebedores desses recursos - até aqui há 34 listados - com doações de campanha será muito importante. "A indisponibilidade dos bens dessa empreiteira corrupta, pedida por integrantes da CPI, é um imperativo" para o deputado Chico Alencar, que participa da CPI na condição de líder do PSOL.

Os próximos dias serão de amplas negociações e avaliação das blindagens possíveis, embora esteja claro que, mesmo tendo a maioria da CPI, os aliados do governo não têm a maioria moral para impedir decisões quando elas se tornam inevitáveis. O risco é o da desmoralização completa.

Do ponto de vista do método de investigação da CPI, esses dados confirmam que a tarefa primordial dos seus membros é examinar os documentos disponíveis, minimizando a importância dos depoimentos.

Para Chico Alencar, a linha do silêncio absoluto inaugurada pelo capo Carlos Cachoeira foi quebrada por Wladimir Garcez, figura-chave na organização por seus vínculos negociais e políticos (ele presidiu a Câmara Municipal de Goiânia).

Na sua defesa inicial, único momento em que falou à CPI, Garcez, que é "expressão viva do consórcio empresarial e criminoso Cachoeira/Delta", segundo o deputado, declarou, textualmente, que tinha contrato para prestar "assessoria" à Delta - por ter contatos com os governos municipal (Goiânia), estadual (Goiás) e federal - e também era contratado para "assessorar" Cachoeira.

Ele reconhece a prática de amplo tráfico de influência, orientando e dando informações às pessoas que compunham os vários órgãos.

Para Chico Alencar, "a fantástica transação imobiliária" da mansão de R$ 1,4 milhão do governador Marconi Perillo merece análise acurada, "tamanha a rede de negócios e favores que envolve", dos patrões de Garcez (Cláudio Abreu/Delta e Carlos Cachoeira/Vitapan e outras) à nova senhora Cachoeira, passando pelo milionário professor Walter Paulo, dono de universidade, com cheques nominais ao governador.

FONTE: O GLOBO

Nó górdio:: Dora Kramer

Depois de quatro invocações de prisioneiros ao direito constitucional de calar, está posta a evidência: se não uniformizar, não conferir inteligência, serenidade e celeridade aos trabalhos, a CPMI do Cachoeira corre o risco de trocar o lugar com os acusados e, aos olhos de sociedade, se transformar em ré pelo crime de omissão.

Admita-se, a questão não é fácil de resolver. Há o respeito ao rito de defesa sustentando nas garantias individuais.

Mas há também uma investigação aberta por iniciativa do Congresso que se propôs a destrinchar e expor para o público um esquema criminoso infiltrado no Estado, descoberto pela Polícia Federal, convalidado pela Procuradoria-Geral da República, cujos autos estão em poder do Supremo Tribunal Federal.

Não se trata, portanto, de algo trivial, de um passatempo ligeiro, muito menos de instrumento de vazão a disputas político-eleitorais. Nem falemos mais nos intuitos vingativos porque estes já se reduziram à insignificância merecida.

Resta desatar o nó confeccionado na aprovação de um plano de trabalho que se revelou equivocado na decisão de dar prioridade à convocação de depoentes sabidamente protegidos pelo instituto do silêncio.

O lamentável é que não se impõe como posição majoritária na comissão mista de inquérito a disposição de corrigir rumos. Ao contrário: nota-se a nítida disposição de postergar o momento em que se começará a avançar para além do que já se sabe.

Pode até ser democraticamente bonitinho ver o desfile de prisioneiros ao abrigo das regras do Estado de Direito, mas isso só torna a comissão refém do direito alheio enquanto perde tempo e abre mão meio que indefesa (propositadamente?) de suas prerrogativas de investigar.

Ontem mesmo, um desses réus, Wladimir Garcez Henrique, confessou em sua exposição inicial que atuava como lobista da Delta e das organizações de Carlos Augusto Ramos junto ao governo de Goiás – um elo explícito.

Aproveitou para exibir suas relações com o poder citando o nome de governadores, deputados, senadores, um ministro, um ex-presidente do Banco Central e um funcionário da Casa Civil da Presidência da República, insinuando amplitude partidária e geográfica de suas atividades.

Disse o que quis e depois se recusou a repetir quando indagado pelos parlamentares sobre as mesmas questões, invocando o "direito constitucional de ficar calado". Se já falara, mentia, portanto, nessa alegação.
O que fizeram suas excelências? Chamaram mais dois depoentes [arapongas no esquema] que abriram mão da exposição de defesa, avisaram que recorreriam ao silêncio e foram dispensados.

A partir daí deputados e senadores dedicaram-se ao exercício do bate-boca e da troca de desaforos. Ou seja, réus unidos numa estratégia e investigadores desunidos berrando às tontas a falta de um projeto de operação.

Constatada a inutilidade de tais depoimentos, a comissão poderia ter passado à objetividade como, de resto, propuseram parlamentares mais afeitos ao conteúdo mesmo da investigação.

A sugestão era votar de imediato a quebra dos sigilos das contas da Delta nacional e a convocação de governadores para explicar os negócios da empreiteira nos respectivos estados e possíveis ligações do com esquema criminoso de que se cuida.

Natural, pois não? Pois sim... Prevaleceu um acordo entre PMDB, PT e PSDB para transferir a decisão para a próxima terça-feira. Mais que outra semana perdida, das cinco já transcorridas desde a criação da CPMI, o colegiado desperdiçou uma boa oportunidade de se dar ao respeito.

Cobrança. O PT readapta candidaturas municipais a fim de estabelecer uma relação de reciprocidade eleitoral para facilitar o apoio do PSB a Fernando Haddad em São Paulo.

Mas o fator de decisão seria mais pragmático: "Eduardo Campos não seria louco de negar isso ao Lula que nunca negou nada a ele", avalia um primeiríssimo escalão do petismo paulistano.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Tchutchucas e tigrões:: Eliane Cantanhêde

Além de demonstrar fina cultura geral, o deputado Fernando Francischini (PSDB) resumiu bem a CPI do Cachoeira ao dizer que o relator Odair Cunha (PT) é "tchutchuca" quando fala do governador do DF, o petista Agnelo Queiroz, e vira "tigrão" quando os alvos são a construtora Delta e o governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo.

Gostei dessa. Só não acho justo discriminar o relator, porque esta é a regra na CPI: os petistas são todos "tchutchucas" com os envolvidos do PT e "tigrões" contra os da oposição, enquanto os tucanos são "tchutchucas" com o cada vez mais enrolado Perillo e "tigrões" com Agnelo.

Na verdade, todos eles, petistas e tucanos, se reúnem num dia travestidos de "tchutchucas" para selar acordões e, no dia seguinte, surgem na TV Senado e na internet interpretando verdadeiros "tigrões".

Como "tchutchucas", livram a cara uns dos outros. Como "tigrões", estão prontos a desbaratar o esquema Cachoeira e todos os seus tigres, macacos e cobras. Além de, eventualmente, como ontem, tentarem trocar socos -Francischini partiu para cima do petista Dr. Rosinha.

É assim que a CPI vai oscilando entre a pizza e o pastelão, o ridículo e o dramático, a música sertaneja e o funk e o "Ai, se eu te pego" -de, dizem, uma funcionária-fantasma do gabinete do presidente, Vital do Rêgo (PMDB)- e o Bonde do Tigrão. Ambos bem populares não só no país, mas, aparentemente, também na comissão parlamentar.

A melhor imagem da semana da CPI, porém, não é nada disso. É a do próprio Cachoeira, com sua "cara cínica" ou de "múmia", na definição da senadora Kátia Abreu (PSD), sorrindo para seu advogado Márcio Thomaz Bastos e fugindo das perguntas durante duas horas e meia.

A síntese de tudo, aliás, foi dada pela mesma Kátia Abreu ao implorar o fim da sessão e da agonia inútil: "Senhores, estamos aqui fazendo papel de bobos". Tem absoluta razão.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Notícias do Raimundo:: Maria Cristina Fernandes

Na manhã da quarta-feira, quando uma greve no metrô levou São Paulo a congestionamento recorde, um senhor de terno e gravata encostou seu 4x4 no canteiro central da Av. Pedroso de Moraes, em Alto de Pinheiros, zona oeste da cidade.

Desceu do carro e demorou-se lendo os avisos plastificados que estavam afixados num tronco de árvore. Davam conta da remoção de Raimundo Arruda Sobrinho, que morava naquele local havia 18 anos, para um centro de assistência social da prefeitura onde poderia receber visitas. O informe trazia a página do facebook onde havia mais informações sobre Raimundo.

O executivo terminou a leitura e entrou no carro para cavar de volta seu lugar no trânsito ainda parado.

A cena repete-se diariamente. Moram nas imediações o escritor amazonense Milton Hatoum e o candidato do PSDB à prefeitura, José Serra. Foi naquela vizinhança que instalaram-se o comitê de campanha ao governo do Estado do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, a Siemens e um flat onde executivos com negócios na região se hospedam. Nos abrigos de ônibus do entorno veem-se panfletos com a foto de Vladimir Herzog, jornalista morto pela ditadura cujo laudo oficial atestava suícidio. Enquanto morou por ali, Raimundo também foi vizinho de Harry Shibata, médico que assinou o laudo e cuja casa foi, recentemente, alvo de um protesto.

Ao longo das quase duas décadas em que morou ali, Raimundo dormia ao relento e acordava para escrever. Fez amigos entre os moradores da região que, a despeito dos montes de lixo que acumulava ao seu redor, e dos sacos com que se vestia e sobre os quais dormia, o visitavam para conhecer seus poemas ("O sol, a chuva, o frio são transitórios/ O café esfria progressivamente/ A gente não armazena nada"). Alunos de escolas privadas da vizinhança que entrevistavam Raimundo, voltavam depois para visitá-lo, muitos deles a caminho da ciclofaixa que se inicia a poucos quarteirões dali.

Recusava dinheiro e repartia comida e roupas que recebia com outros moradores de ruas e vigias da região. Goiano, como Carlos Cachoeira, e migrante em São Paulo desde os anos 1970, Raimundo foi vendedor de livros antes de ir parar na rua. Inspirou reportagens e documentários. Um artista, revoltado com o patrocínio estatal ao blog de poesia de uma cantora da MPB, dedicou uma escultura ao poeta que escrevia de graça.

Não se colhe regozijo público pela remoção da miséria ambulante daquele enclave de riqueza. No facebook mantido em seu nome quase 800 pessoas acompanham as notícias de sua vida no abrigo municipal.

As demonstrações de solidariedade recebidas por Raimundo mostram que não só de higienismo vive a banda mais aquinhoada de São Paulo.

Duas semanas depois de Raimundo ter sido recolhido ao abrigo municipal, a estudante de Direito Mayara Petruso foi condenada pela justiça paulista por preconceito.

Mayara frequentava o parque vizinho a Raimundo e, ao tomar conhecimento da vantagem da candidatura petista junto ao eleitorado nordestino na disputa de 2010, postou no Twitter a mensagem "Nordestino não é gente, faça um favor a São Paulo: mate um nordestino afogado".

Ao receber o título de cidadão paulistano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reciclou aquele momento da campanha que embalou Mayara. Bateu na tecla de que o PT é vítima primeira do higienismo porque governa para os mais pobres e citou nominalmente a administração Marta Suplicy - "maior vítima do preconceito da elite de São Paulo".

Lula deixou o governo como o presidente mais consagrado da história do país; sua sucessora faz um governo que surpreende muitos dos que nela não votaram; seu partido tem chances de desbancar o PMDB como a principal força municipal do país; Mayara foi condenada; e um morador de rua sujo e maltrapilho recebe demonstrações de solidariedade num enclave rico de São Paulo.

É preciso se acrescentar a proximidade do julgamento do mensalão a esta sequência de fatos para se compreender por que Lula tenta ressuscitar o discurso de que não fosse o apoio das ruas teria sido vítima do golpe das elites.

O discurso parece deslocado da sociedade que emergiu da era lulista. Durante seu governo poucos além dos "cansados" saíam às ruas espontaneamente. Sem a tutela de um presidente que monopolizava o altruísmo, hoje protesta-se pelos vetos ao Código Florestal, por um transporte público de qualidade e pelo julgamento dos torturadores da ditadura.

A quebra do monopólio do altruísmo colheu uma vitória importante esta semana com a aprovação da PEC do Trabalho Escravo na Câmara. A mesma bancada que votou pelo Código Florestal recuou na PEC por temer as urnas.

Na homenagem que recebeu na Câmara Municipal, Lula disse que a elite da cidade o culpava pelo trânsito porque pobre agora compra carro.

É uma maneira de olhar pra frente com retrovisor. De fato, se o desemprego não estivesse no seu patamar mais baixo dos últimos dez anos, o baixo investimento em transporte público não redundaria nesse caos permanente em que vivem as grandes cidades. Se é culpa de Lula, viva Lula. Mas não é mais disso que se trata.

Porque ganham mais e comem melhor é que os brasileiros podem fazer reivindicações e ter aspirações para além da subsistência. Talvez a defesa dos arrolados pelo Supremo no processo do mensalão não esteja entre elas.

É um momento que parece rimar mais com a demanda por transparência. Se os ministros do Supremo correrem para cumprir as determinações da Lei de Acesso à Informação e abrirem os contracheques, a exemplo do que fez a ministra Carmen Lúcia, reforçam sua legitimidade no julgamento.

Ao bancar a mudança no reajuste da poupança, a presidente Dilma Rousseff parece ter captado melhor esse momento em que as mistificações custam mais a granjear corações e mentes.

Se a medida é necessária para os juros continuarem a cair e a economia voltar a crescer, que seja. O problema é se, descombinado de russos e gregos, o crescimento não vier. Porque é quando a riqueza se expande e se espalha, ainda que timidamente, que fica mais fácil olhar para o lado e buscar notícias do Raimundo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Áreas de sombra :: Rogério Furquim Werneck

Aos trancos e barrancos, o Brasil avança. A Lei de Acesso à Informação representa notável passo adiante, com implicações de grande importância para a gestão das finanças públicas e para os desafios de reforma fiscal que o país tem pela frente. Merece louvor a firmeza com que a presidente Dilma Rousseff, por meio de decreto assinado na semana passada, determinou que, em obediência à nova legislação aprovada em novembro, sejam divulgados, de forma individualizada, os salários de todos os servidores do Poder Executivo Federal. O exemplo dado pela presidente foi seguido pelos poderes Legislativo e Judiciário e deverá abrir caminho para que, aos poucos, a divulgação abranja salários dos funcionários dos estados e municípios.

É preciso agora assegurar que, no espírito da Lei de Acesso à Informação, a agenda da transparência continue a avançar, para que se possa lançar luz sobre outras áreas cruciais das finanças públicas que ainda permanecem envoltas em desinformação e, portanto, resguardadas de acompanhamento criterioso por parte do cidadão e da opinião pública. Há duas áreas de sombra que merecem tratamento prioritário.

Uma medida singela que, por si só, representaria enorme avanço, seria dar ao cidadão informações claras e precisas sobre a carga de tributos indiretos que incide sobre os bens e serviços que adquire. Em qualquer país minimamente civilizado - o que, no caso, inclui vários vizinhos sul-americanos - a nota emitida pela caixa registradora explicita de forma inequívoca a parcela da conta que corresponde à tributação. Já é tempo de se adotar prática similar no Brasil. Não é de hoje que propostas nesse sentido vêm sendo feitas. E há até um projeto de lei nessa linha pronto para ser posto em votação no plenário da Câmara. Se a opinião pública tiver consciência clara da importância crucial dessa medida, é difícil que a coalizão de interesses obscurantistas que ainda conspiram contra esse avanço possa resistir por muito tempo.

É também fundamental dar transparência ao gigantesco orçamento paralelo que o governo vem mantendo no BNDES, alimentado por transferências diretas do Tesouro, bancadas por emissão de dívida pública e feitas por fora do processo orçamentário, sem contabilização nas estatísticas de resultado primário e de dívida líquida. Desde 2008, o Tesouro emprestou quase R$ 300 bilhões ao BNDES. Acrescida dos novos empréstimos programados para este ano, tal cifra deverá alcançar algo próximo a R$ 330 bilhões, montante equivalente a pouco menos da metade da receita tributária com que o governo federal espera contar em 2012.

Tudo que se sabe é que são empréstimos de longo prazo, a taxas de juros pesadamente subsidiadas. O governo se recusa a revelar detalhes sobre as operações, alegando - pasmem - que estão protegidas por sigilo bancário. Pouco também se sabe sobre como e em que condições os recursos do Tesouro vêm sendo emprestados pelo BNDES em operações de longo prazo e a juros subsidiados, concentradas em grandes empresas e pautadas por controvertida política de escolha de "campeões nacionais".

Nas últimas semanas, na esteira dos desdobramentos da CPI do caso Cachoeira-Delta, ganhou destaque na mídia a desgastante aquisição da Delta Construções pela holding do grupo JBS-Friboi, numa operação que marca memorável entrelaçamento dos dois troncos principais do frondoso capitalismo de compadrio que, há anos, vem sendo nutrido pelo governo com fartos recursos do Tesouro. O que o governo alega é que o mundo é mesmo pequeno. E que, por incrível que possa parecer, foi mera obra do acaso o fato de a maior empreiteira do PAC ter sido resgatada às pressas, mas em boa hora, por "decisão privada de natureza empresarial", exatamente pelo grupo que mais recursos obteve do BNDES nos últimos anos.

Com algum esforço, o leitor pode até acreditar nesta história. Mas é difícil que seja a favor de que o faustoso e problemático orçamento paralelo que o governo montou no BNDES continue sendo uma área de sombra.

Rogério Furquim Werneck é economista

FONTE: O GLOBO

Discurso bifurcado:: Celso Ming

O governo Dilma está especialmente aflito com o baixo desempenho do setor produtivo que, neste ano, deve repetir o fraco crescimento do PIB obtido no ano passado, de 2,7%, ou mesmo ficar abaixo disso.

Na tentativa de virar esse jogo adverso, a presidente Dilma Rousseff vem usando instrumentos nem sempre coerentes. De um lado, parece acreditar no simples encorajamento – como fazem por vezes os sargentos quando querem mais empenho do destacamento. É assim quando apela, por exemplo, para a reativação do instinto animal do empresário.

Outras vezes, envereda para o caminho das ameaças. É o caso dos banqueiros, forçados a acelerar o crédito e a derrubar os juros, mesmo quando os índices de inadimplência mostram que o consumidor está excessivamente endividado e enfrenta dificuldades para continuar honrando compromissos financeiros. Diante disso, os banqueiros vêm reagindo de dois modos. Tanto anunciam alguma redução de juros como, também, não mexem no essencial. São cavalos que fingem que bebem ou que, simplesmente, não bebem a água para cujos reservatórios são conduzidos – já advertira no início deste mês o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg.

Na avaliação da conjuntura, o governo também é dúbio. Às vezes realça o que vê como bom momento da economia. E, nessas condições, aponta para o excelente nível do emprego, que em abril caiu para 6,0%, ou para o forte avanço do consumo, entre 5,0% e 6,0% neste ano. Em outras oportunidades, aponta para o horizonte cor de chumbo e alerta para turbulências que ameaçam toda a economia mundial, inclusive a do Brasil. Além do agravamento da crise global, a guerra cambial e os tsunamis monetários são alternadamente evocados para justificar o baixo resultado do setor produtivo.

Esse discurso bifurcado parece gerar mais dúvidas do que certezas. Todo o mundo vê que o consumo turbinado não guarda relação com a atividade produtiva, porque o PIB, já ficou dito, se arrasta a duras penas, especialmente quando provém da indústria.

Por outro lado, todos sentem que os apelos retóricos à ambição por lucros do empresário, sem a contrapartida da derrubada corajosa dos custos, não têm fôlego. Os pacotinhos de estímulo são endereçados a alguns favoritos ou a setores que se notabilizam pelo seu poder de grito. Esses são os vencedores, os mesmos que são agraciados com as batatas: alguma redução de impostos e créditos favorecidos do BNDES. Aos demais, sobram as cascas de sempre: políticas improvisadas e sem nexo; alta carga tributária; quarta tarifa mais cara de energia elétrica vigente no mundo; mesmos juros escorchantes no capital de giro; mesma precariedade da infraestrutura; Justiça que leva anos para dirimir um conflito de interesses; burocracia exasperante dos serviços públicos... e por aí vai.

O ministro Guido Mantega prefere realçar o que entende como grandes avanços da administração pública em direção aos juros mais baixos e ao câmbio desvalorizado. O problema está em que, sem forte empurrão que só as reformas proporcionarão e sem uma decidida ação rumo à redução do custo Brasil, essas mexidas não se sustentam, não lançam alicerces para os investimentos do setor privado e passam a impressão de que a economia está se desarrumando.

CONFIRA

Só em uns meses veremos se há ou não recuo do Investimento Estrangeiro Direto como efeito da queda do interesse estrangeiro em tempos de crise.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Um país em duas velocidades:: Vinícius Torres Freire

Há mais salário, emprego e consumo no pequeno varejo, mas investimento e produtividade afundam

A indústria parou de crescer faz mais de ano. O investimento (em fábricas, máquinas, instalações produtivas) deu com a cara no chão no primeiro trimestre. O conjunto da produção econômica, o PIB, não aumenta quase nada faz três trimestres. Mas os salários, "ó", continuam crescendo em ritmo paradoxal.

É o que se depreende da pesquisa de emprego do IBGE, divulgada ontem, e dos indicadores mais gerais de atividade econômica para o primeiro terço deste ano de 2012.

A massa salarial, o conjunto dos salários pagos, era em abril 8% maior que em abril de 2011, descontada a inflação. O desemprego continua caindo a mínimas recordes.

No trimestre final de 2011, o crescimento da renda do trabalho havia desacelerado violentamente, no mesmo compasso do conjunto da economia. Outubro então parecia ter sido o fundo do poço. Para os salários, foi. Mas a atividade econômica, a produção, ainda se arrasta.

O paradoxo: por que a freada econômica não afetou o emprego? O que se passa nessa economia manca, que anda em ritmos diferentes?

O economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e agora consultor com empresa própria, usa a expressão "em dois tempos" em relatório de ontem. O termo, aliás, tem pipocado em várias economias em que houve valorização forte da moeda, o que acabou por prejudicar setores como indústria e turismo, por exemplo (como na Austrália e noutros exportadores de matérias-primas, como nós).

Mas Schwartsman não trata de câmbio. Observa, como é óbvio, que a produtividade geral da economia parece cair: a produção cresce pouco e o emprego cresce muito (gera-se menos produto por trabalhador).

Outra hipótese indicada pelos dados (muito emprego, pouca produção) é que talvez a capacidade de o Brasil crescer sem gerar inflação extra seja menor do que a gente imagina (o produto potencial, o ritmo duradouro de crescimento, seria menor do que o ora estimado).

Ou seja, se houver retomada econômica e mais demanda de trabalhadores, haverá mais inflação (como a oferta de trabalho é escassa, se a procura aumenta, os salários tenderiam a subir demais).

Uma terceira hipótese: talvez a medida do PIB não capte bem o crescimento do setor de serviços, que vai bem. Estaríamos crescendo mais, mas não sabemos disso.

Pode ser também, especule-se, que a presente baixa de produtividade seja um desvio temporário e, pois, ilusório, para o bem ou para o mal. Isto é, pode ser que em breve a economia volte a crescer, a produzir mais, com a mesma quantidade de trabalho (grosso modo, a produtividade subiria). Ou pode ser que, a continuar o marasmo produtivo, comecem as demissões.

Os empresários estariam, pois, à espera do que vai acontecer, "represando" trabalhadores enquanto não fica claro se a economia vai acelerar ou parar de vez.

Sim, tudo especulação. O governo, por sua vez, especula que basta destravar o crédito, represado pelos bancos, que a economia volta a girar mais rápido, pois a renda dos trabalhadores é crescente, embora no momento mais dirigida a compras no varejo. Com a volta do crédito para bens mais caros, haveria ânimo para a indústria, o que por sua vez estimularia também o investimento. Se a crise mundial não vier.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Na contramão:: Miriam Leitão

Um dos ativos que o Brasil tinha para exibir na Rio+20 perdeu a força. O país poderia dizer que tem o mais antigo e mais amplo programa de biocombustíveis do mundo. Mas o consumo de álcool despencou e o da gasolina disparou. O governo subsidia o combustível fóssil e desorganiza o etanol com sua estranha política de combustíveis. Em 2006, era o maior produtor de álcool do mundo, hoje produz menos da metade do que produz os EUA.

Durante muito tempo, o Brasil foi o maior produtor do mundo de álcool para combustível. O programa vem dos anos 1970. O país desenvolveu combustível, tecnologia de motor flex, construiu uma rede de distribuição preparada para em todo o território nacional abastecer o consumidor com o que ele escolhesse. Tudo isso custou caro, principalmente para o contribuinte, porque o programa foi tocado a doses maciças de subsídio.

- Desde 2006 o Brasil não é mais o maior produtor do mundo, quando fomos superados pelos Estados Unidos. No ano passado, contando todos os tipos de álcool, a produção americana foi de 898 mil barris/dia, enquanto a produção brasileira ficou em 391 mil barris/dia - diz Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro.

O consumo do álcool hidratado - o que é usado sozinho, em vez da gasolina - está em 168 mil barris/ dia. Em 2009, era 315 mil. Nastari explica que a produção do álcool brasileiro é estrangulada pelas duas pontas: os canaviais estão velhos e perderam produtividade. Isso aumenta o custo do principal insumo, que é a cana de açúcar. Além disso, o mercado de combustíveis sofre interferência direta do governo para segurar a inflação:

- A Petrobras não só mantém a gasolina congelada, como também reduziu a quantidade de álcool anidro que é adicionada à gasolina.

Desde 2005 a Petrobras não pode elevar o preço da gasolina que fornece às distribuidoras. O preço ao consumidor oscila pela diferença do custo do álcool misturado e pelos impostos, mas a estatal fornece ao mesmo preço às distribuidoras há sete anos. Naquele ano, a média anual de três cotações de petróleo internacionais (Brent, WTI e Dubai) foi de US$ 53 e este ano é de US$ 114. Com um mercado assim, o etanol não consegue ficar competitivo, ou seja, a um teto de 70% do preço da gasolina. Segundo Nastari, a gasolina brasileira está 26,6% mais barata do que a média vendida aos consumidores do mundo.

Isso fez o consumo de gasolina aumentar fortemente. Cresceu 76% apenas de maio de 2009 a fevereiro de 2012. Para atender à demanda crescente, a Petrobras tem que importar combustível a um preço maior do que cobra. Para que a estatal não perca muito, o governo foi abrindo mão de impostos a um tal ponto que em alguns tributos a taxação sobre o álcool é maior do que sobre o combustível fóssil.

O governo conseguiu fazer um jogo do perde-perde-perde. A Petrobras tem prejuízo com a gasolina importada, o governo deixa de arrecadar, a indústria do álcool vai se enfraquecendo. As empresas médias já não estão aguentando investir e são compradas pelas grandes que ainda têm capacidade de sustentar a situação. E perde também o meio ambiente. Veja abaixo no gráfico o que aconteceu com a demanda dos dois combustíveis, o bio e o fóssil, nos últimos anos, no Brasil. A diferença que foi de apenas 15 mil barris por dia, em setembro de 2009, disparou para 361 mil, em fevereiro deste ano.
Os usineiros nunca foram conhecidos por respeitar os direitos trabalhistas. Bem ao contrário. Mas na renovação recente da indústria isso começou a mudar, o setor se modernizou. Seu impacto ambiental com a queima da cana de açúcar também foi sendo reduzido com a introdução de novas técnicas. E justamente quando o setor começa a se atualizar e passou a ser um ativo na era das mudanças climáticas, o governo adota uma política que está enfraquecendo a indústria e favorecendo o combustível fóssil.

Na Rio+20 o governo poderá contar que não será mais a potência de biocombustíveis que tinha tudo para ser, que em vez de exportar para os Estados Unidos está importando de lá, que dá incentivos tributários e subsídio ao combustível fóssil, e que até a mistura que faz na gasolina foi reduzida recentemente. Em outras palavras: escolheu emitir mais gases de efeito estufa e piorar o ar das grandes cidades.

FONTE: O GLOBO