terça-feira, 14 de agosto de 2012

OPINIÃO DO DIA – Ferreira Gullar: o ‘mensalão maculou a República’ (X)

É evidente que Lula não podia ignorar o mensalão porque não se tratava de uma questão secundária de seu governo. Longe disso, o mensalão foi o procedimento encontrado para, com dinheiro público, às vezes, e com o uso da máquina pública, noutras vezes, comprar o apoio de partidos e os votos de seus representantes no Congresso.

Não se tratava, portanto, de uma iniciativa secundária, tomada por figuras subalternas, sem o conhecimento do chefe do governo. Nada disso. Tratava-se, pelo contrário, de um procedimento de importância decisiva para a aprovação, pelo Congresso, de medidas vitais ao funcionamento do governo. Portanto, Lula não apenas sabia do mensalão como contava com o apoio dos mensaleiros para governar.

Certamente, o leitor perguntará: por que Lula, esperto como é, arriscou-se tanto? Pela simples razão de que não desejava dividir o poder com nenhum partido forte, capaz de lhe impor condições. Como é próprio de seu caráter e de seu partido, só admitia aliança com quem não lhe ameaçasse a hegemonia.

Ferreira Gullar, poeta, ensaísta e critico de arte. ‘Só o chefe não sabia’, Folha de S. Paulo / Ilustrada, 12/8/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
A hora do mensalão - Para enfraquecer procurador, Jefferson agora acusa Lula
Governo vai criar o bolsa ouro

FOLHA DE S. PAULO
Mensalão o julgamento - Lula ordenou esquema, diz defesa de Jefferson
Greve prejudica pente-fino em verba repassada a municípios

O ESTADO DE S. PAULO
Advogado de Jefferson diz que Lula ordenou mensalão
Dilma negocia salários baixo com sindicatos

VALOR ECONÔMICO
Trem-bala será "fatiado" para apressar obras
Galvão fará navios para a Petrobras
Orientação para portos
O Brasil visto pelo mercado

BRASIL ECONÔMICO
OHL e PanAmericano entram na fila para o fechamento de capital
Importações de carro do México aumentam 77%

CORREIO BRAZILIENSE
Governo volta a negociar, mas cortará o ponto
Jefferson: Lula sabia e ordenou esquema
Câmara debate o fim dos 14º e 15º salários

ESTADO DE MINAS
Afinal, quem manda na rua?
Advogado de Jefferson acusa Lula
Greve deixa 3,4 mil sem passaportes em Minas

ZERO HORA (RS)
Polo naval leva Estado a triplicar os negócios do setor em três anos
Estradas desguarnecidas: Policiais rodoviários vão começar greve na quinta
Advogado de Jefferson envolve Lula e ataca PGR

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Sindicato ameaça parar o Estado
Defesa de Jefferson acusa Lula
Brasil sem miséria investe no sorriso
Poluição visual

Entrevista – Luiz Werneck Vianna: As alianças políticas, absolutamente necessárias, e seus limites

Werneck Vianna defende que as alianças feitas no presidencialismo de coalizão não servem para que uma determinada orientação seja posta em prática, ou um determinado programa se viabilize, mas apenas para garantir maioria parlamentar para o governante

Por: Graziela Wolfart

Na visão do sociólogo Werneck Vianna, a ampla maioria que hoje o chefe do Executivo tem conseguido lograr no Legislativo tem dado estabilidade à política brasileira. “Mas é uma estabilidade que não faculta a aventura, o risco, a descoberta, a inovação. Certas reformas muito necessárias para que o país dê um avanço, um salto, esbarram nessa larguíssima coalizão que atinge várias dimensões, desde a economia e a política até a sociedade. Os ventos cruzados que se estabelecem no interior da coalizão governamental fazem com que haja um comportamento paquidérmico do governo, que é obrigado a respeitar os limites dados por essa amplíssima base governamental, onde todos cabem e onde tudo cabe”. Na entrevista que concedeu por telefone para a IHU On-Line Werneck afirma que o sistema partidário brasileiro “não foi feito para que a sociedade encontre formas expressivas de se incluir no mundo da política. Ele está feito para expressar interesses e diferenças regionais; não é um quadro que favoreça a limpeza e a firmeza de identidade. Ele está voltado para uma grande competição eleitoral. Isso certamente não oferece um bom cenário para a democracia política brasileira”. E constata: “estamos vivendo um momento em que os efeitos dessa política de presidencialismo de coalizão começam a se tornar cada vez mais complicados”.

Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador na PUC-Rio. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, é autor de, entre outros, A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1997); A judicialização da política e das relações sociais no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1999); e Democracia e os três poderes no Brasil (Belo Horizonte: UFMG, 2002). Sobre seu pensamento, leia a obra Uma sociologia indignada. Diálogos com Luiz Werneck Vianna, organizada por Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto (Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2012) (mais informações em http://bit.ly/IVmpmg).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Que espécie de política se desenha em nosso país a partir das alianças que vêm sendo feitas em nome da busca pelo poder?

Werneck Vianna – Nossa forma não programática de alianças, que são feitas por meros interesses eleitorais – como o tempo de televisão –, já têm uma certa história. O presidencialismo de coalizão tem tido essa característica entre nós, porque não necessariamente ele deve ser tão arbitrário quanto à orientação programática. Mas o fato é que ele tomou essa característica desde o governo Fernando Henrique Cardoso, porque as alianças têm sido desencontradas. Ao longo dos mandatos do PT, especialmente a partir do segundo mandato do presidente Lula, isso tomou uma proporção imensa. Na verdade, essas alianças não são feitas para que uma determinada orientação seja posta em prática, ou um determinado programa se viabilize, mas apenas para garantir maioria parlamentar para o governante. Aliás, o tema da maioria parlamentar se tornou um espantalho desde o impeachment do governo Collor. Hoje a queda é atribuída, em boa parte de modo verdadeiro, ao fato de ele vir de um partido minoritário e não ter sabido compor uma base congressual. A partir daí, esse espantalho vem dominando o presidencialismo brasileiro. O fato é que, desde que essa política foi sendo vitoriosa, caíram todas as reservas, todas as prudências, formando-se um campo aberto de troca. Esse é o lado nefasto. No entanto, olhando de outro ângulo, essa base larga, essa ampla maioria que hoje o chefe do Executivo tem conseguido lograr no Legislativo tem dado estabilidade à política brasileira. Mas é uma estabilidade que não faculta a aventura, o risco, a descoberta, a inovação. Certas reformas muito necessárias para que o país dê um avanço, um salto, esbarram nessa larguíssima coalizão, que atinge várias dimensões, desde a economia e a política até a sociedade. Os ventos cruzados que se estabelecem no interior da coalizão governamental fazem com que haja um comportamento paquidérmico do governo, que é obrigado a respeitar os limites dados por essa amplíssima base governamental, onde todos cabem e onde tudo cabe. São empates que se sucedem e que têm um consenso muito difícil, e que não dão nenhum bônus, não dão agilidade e limitam a capacidade de uma nação em um momento em que inovar é fundamental. É preciso mudar o repertório da política que está anacrônico já há algum tempo. É evidente que essas alianças, por outro lado, afetam a identidade partidária. Os partidos já são naturalmente enfraquecidos por uma série de circunstâncias sociais que não são atuantes apenas aqui no Brasil, mas com essas acrobacias se tornam ainda mais vulneráveis. Por exemplo, em tese é aceitável, mas é difícil digerir o apoio de Paulo Maluf à candidatura do PT, por causa do histórico de oposição entre eles e pela história pessoal de Maluf, que não é muito recomendável.

IHU On-Line – É possível governar sem alianças políticas em um regime democrático?

Werneck Vianna – As alianças são absolutamente necessárias. Quanto a isso não resta nenhuma dúvida. Em uma sociedade plural, como a brasileira, pensar que uma tendência ou partido, ou apenas um sistema de orientação dará cabo dos problemas existentes é cair na ilusão, mesma ilusão que o Collor teve, de que a partir de um Executivo forte é possível reformar e reestruturar o país. Essa experiência foi feita também por Jânio Quadros antes de 1964, que governou sem uma base forte de sustentação e isso o levou à crise e à renúncia.

IHU On-Line – O problema está nos limites dessas alianças...

Werneck Vianna – Certamente. O limite deveria ser o programa. Mesmo que não fosse um programa explícito, mas um programa que tivesse certa abrangência, que pudesse admitir parceiros com identidades diversas e que pudesse ser revisado, e não essa “feira” ideológico-político-partidária em que nos encontramos, cujo efeito é o de estimular o decisionismo do Executivo, porque, dado esse empate entre as forças políticas que têm orientação desencontrada, esse poder se sente compelido a agir por sua própria orientação, tentando produzir resultados quase autocraticamente, através desse sistema decisionista, vertical. Este é um efeito muito negativo dessa construção.

IHU On-Line – O senhor poderia fazer uma breve análise do atual quadro partidário brasileiro?

Werneck Vianna – Não é fácil. Se formos tentar trabalhar a partir da clivagem mais ideológica, de velho tipo, teremos os partidos de orientação socialista e os partidos de orientação liberal-burguesa. Num campo teremos o PT, o PCdoB, o PSOL, o PPS de certo modo, que tem até o socialismo no nome, e teremos o PSB. E do outro lado teremos o DEM e outros que de memória não consigo recuperar. Não posso esquecer de mencionar o PDT, que entra no campo doutrinário do socialismo, isso se formos tomar o que é dito e não o que é praticado. Essa linha ideológica se mostra inoperante para recortar o quadro atual. O que temos é agregação de interesses. Temos partidos que agregam os evangélicos, os ruralistas e as corporações, que também se fazem presentes. Elas invadem a vida partidária. Esse sistema partidário não foi feito para que a sociedade encontre formas expressivas de se incluir no mundo da política. Ele está feito para expressar interesses e diferenças regionais; não é um quadro que favoreça a limpeza e a firmeza de identidade. Ele está voltado para uma grande competição eleitoral. Isso certamente não oferece um bom cenário para a democracia política brasileira. Por outro lado, tudo o que existe em nossa sociedade encontra formas de expressão na vida política partidária, o que é uma dimensão saudável. No entanto, isso cria um quebra-cabeça de enorme dificuldade. O presidencialismo de coalizão é uma resposta a isso: é criar certa unidade a partir deste mundo extremamente fragmentário. O problema é que só quem pode estabelecer essa unidade é o Executivo, o que faz com que esse quadro, que é aparentemente ameno e afável de expressão da diversidade existente na sociedade brasileira, contenha elementos autoritários, que favorecem a ação do Executivo, porque só ela é capaz de cimentar e soldar essa multiplicidade de identidades e interesses. Diga-se de passagem que o presidente Lula demonstrou um enorme tirocínio e habilidade em trabalhar diante desse cenário, tirando proveito desse quadro político e colocando-o a seu favor. Essa solda, esse cimento que ele soube instituir não é uma arte de fácil transferência. Essa era uma das características dele, pela sua capacidade de articulação que veio do seu treinamento no mundo sindical. Com a Dilma temos outro quadro na mesma política. Ela imprime outra administração, de alta burocracia do mundo da gestão, o que não quer dizer que ela seja indiferente à política. E não é. Mas ela não tem nem o mesmo gosto, nem o mesmo treino. Além do mais, “o Natal mudou”. O mundo já não é mais aquele de cinco anos atrás. A gravidade da crise econômica atesta isso. A necessidade de se fazer algumas reformas, como a reforma da legislação trabalhista, está se tornando cada vez mais imperativa. No entanto, a coalizão governamental que conhecemos é muito pouco permeável a uma reforma como essa. Basta pensar no PCdoB, que reage a essa reforma, ou no PDT, que é o partido do ex-governador Brizola. É um conjunto de forças que, dentro da coalizão governamental, reage a essa reforma, que parece ser cada vez mais inadiável. Outra questão é esse sistema altamente sensível da previdência. O fator previdenciário que o governo tenta extinguir por medidas de saneamento fiscal, em função da crise que já se abate sobre nós e que tende a se aprofundar, não encontra apoio na sua base governamental, inclusive no próprio PT. Estamos vivendo um momento em que os efeitos dessa política de presidencialismo de coalizão começam a se tornar cada vez mais complicados. Não só porque falta o Lula. Mesmo com ele esse quadro, que agora se exerce sobre a presidente Dilma, estaria presente.

IHU On-Line – Quais são os cenários possíveis de mudança nos próximos anos, levando em conta que, apesar de todas as fragilidades e incongruências, permitiu-se que vivamos o maior período de regime democrático?

Werneck Vianna – A democracia política tende a se aprofundar. Por exemplo, no julgamento do chamado processo do mensalão foram levados a tribunal líderes políticos do partido hegemônico da coalizão governamental. Não há registro na nossa história dessa autonomia das instituições, em que o judiciário, com independência do poder político, obedece aos procedimentos e leva a julgamento pessoas ligadas ao vértice do sistema de poder. Esse é um sinal. Não importa o resultado do julgamento, importa ver essas pessoas lá no tribunal, onde a questão é técnico-jurídica. Do ponto de vista político, importa que personalidades e figuras participantes do poder vão a julgamento e a sociedade participa desse processo apenas como observadora, como comentarista, sem que haja nenhuma comoção maior nas ruas. Não há nenhum assédio físico no Supremo Tribunal Federal. Isso é uma novidade, um avanço extraordinário das nossas instituições. Além disso, registre-se que, desde agora, com as eleições municipais, as fraturas desse sistema estão mais do que denunciadas. Basta ver o processo eleitoral em Fortaleza, no Ceará; em Recife, em Pernambuco; e em Belo Horizonte, Minas Gerais. Isso para mencionar apenas casos muito fortes, em que se observa que a coalizão governamental não consegue operar da mesma forma que estava acostumada, isto é, impondo ao local, ao municipal o seu programa de ação política. Isso mostra como a maturação da sociedade está pondo em xeque essa forma verticalizada de administração da política, que é o presidencialismo de coalizão. Tudo isso é muito favorável à vida democrática. O que se pode arguir é que é difícil construir um quadro político mais ordenado com essa pluralidade de partidos ou pelo menos com essa legislação que permite a partidos sem nenhuma expressividade terem acesso aos recursos do fundo partidário, ao tempo de televisão, dando a eles um poder de troca que, na verdade, favorece apenas às oligarquias que comandam as suas legendas. Estamos, por ora, condenados a fazer política num cenário em que as linhas de força vão todas no sentido da fragmentação e que a unificação disso depende de uma ação externa, que é o governo. Então fica essa marca autoritária, da dominação da dimensão vertical sobre a horizontal, que só uma reforma adicional pode dar conta. De modo que temos que aprender a trabalhar com esse quadro e superar as dificuldades que ele impõe à política. É um quadro caótico que só faz sentido no fim. Só o resultado da ação faz sentido, porque não faz sentido na articulação de cada parte, pois cada uma entra nisso pelo seu motivo particular. Isso dá um mapa desencontrado, que só pode fazer algum sentido por uma ação externa, de um outro, superposto a esses interesses desencontrados, que consegue estabelecer uma linha em que todos possam ser minimamente atendidos.

IHU On-Line – Na política brasileira hoje quem é antagonista de quem?

Werneck Vianna – Há antagonismos, mas nem sempre com a lógica do amigo e inimigo. Há uma lógica “adversarial”, mais do que de confronto, que vise levar à eliminação de um polo. Nós temos mais lutas agônicas do que lutas antagônicas. A política está se tornando, entre nós, mais um campo adversarial. Inclusive porque os dois principais partidos políticos brasileiros – PT e PSDB – têm muitas afinidades de fundo. Ambos estão com as raízes fincadas na social-democracia.

IHU On-Line – Em entrevista concedida a nossa revista em março deste ano, o senhor apostava no ressurgimento da política nos próximos anos com muita força, apontando que “não há mais possibilidade de segurar a sociedade com esse jogo de manter os contrários em permanente equilíbrio” . Como avalia essa declaração hoje, quatro meses depois?

Werneck Vianna – Confirmo-a inteiramente. Só que quando me refiro aos “contrários”, não falo das concepções antagônicas do mundo como, por exemplo, concepções socialistas e concepções liberal-capitalistas. Eu estava me referindo a interesses. O que eu estava dizendo é que o governo Lula foi capaz de trazer para o seu interior múltiplos interesses divergentes como a agricultura familiar e o agronegócio. Eu dizia que essa operação tinha um prazo de validade e que no governo Dilma tenderia a se derruir. E vejo que está se derruindo diante dos nossos olhos. Nós podemos dizer que a política volta agora de forma muito clara. As eleições municipais estão deixando isso manifesto. A pluralidade da sociedade está procurando formas expressivas como independência dessa forma política do presidencialismo de coalizão.

IHU On-Line – Qual é o balanço que o senhor faz do governo Dilma Rousseff? Algo ameaça uma possível reeleição da presidente?

Werneck Vianna – Essa é uma questão muito delicada e perturbadora para o cenário político atual. Nós estamos diante de um quadro em que há uma dualidade de representação. Quem detém, de fato, o poder: o governo ou o seu partido e a coalização que esse partido montou? Qual o papel aí do ex-presidente Lula como que representando o poder real, afastado por circunstâncias do calendário eleitoral, mas para o qual se espera uma volta triunfal em 2014? Esse é um quadro que cria muita instabilidade. Os movimentos e os partidos devem calcar a sua orientação pelo governo Dilma ou pela expectativa do retorno “sebastianista” do ex-presidente Lula? Isso tudo, essa dualidade, afeta o quadro atual, introduz nele elementos de instabilidade e tira força e capacidade de coesão dessa forma de presidencialismo de coalizão ao qual fomos acostumados nos dois governos de Lula. Essa é uma ambiguidade que atua de forma escondida na cena atual e não favorece o assentamento das forças políticas atuantes. O próprio partido hegemônico, o PT, se questiona a quem obedecer: ao governo ou ao seu líder maior, apenas contingentemente fora do governo, mas que logo voltará a ele? E Dilma poderá ou deverá se afirmar uma liderança nova, o que significa candidatar-se à reeleição desde agora? As incertezas quanto a isso favorecem a perda de controle que hoje está estabelecida por parte do centro do poder político sobre a sociedade e as forças políticas envolvidas.

IHU On-Line – O senhor acredita na volta de Lula à presidência em 2014? Dilma cederia espaço para ele?

Werneck Vianna – É difícil prever. O fato é que não faz bem ao governo dela, agora, abdicar da reeleição. Ela precisa do horizonte da reeleição para ter mais força hoje, especialmente em um momento em que o país está na iminência de viver perturbações derivadas da situação econômica. Nesse sentido, deverão existir forças orientadas a robustecer Dilma agora porque é preciso um presidente forte na hora da crise. E um presidente forte agora significa um presidente que vai lutar para a reeleição. Se isso viola o sistema de lealdades de Dilma com Lula é difícil de dizer, pois é uma questão subjetiva. No entanto, do ponto de vista da situação presente, o fato é que o país vive a necessidade de uma presidência forte por causa da crise.

FONTE: IHU On Line, nº 398. 13/8/2012

A hora do mensalão - Para enfraquecer procurador, Jefferson agora acusa Lula

"Não se pode afirmar que o presidente fosse pateta, não soubesse de nada", diz defensor

Após assegurar, em 2005, que o ex-presidente era inocente e desconhecia o esquema do mensalão, presidente do PTB, que denunciou escândalo, muda de tom e diz que na época não sabia das relações de Lula com o banco BMG

Como O GLOBO antecipou, Luiz Francisco Barbosa, defensor do ex-deputado Roberto Jefferson, usou boa parte dos 40 minutos de defesa no STF para atacar o ex-presidente Lula. Com o objetivo de enfraquecer a denúncia do procurador-geral Roberto Gurgel contra seu cliente, Barbosa disse que Lula é o verdadeiro mandante do mensalão e pediu que ele seja investigado pelo STF. Segundo Barbosa, todos os ministros, inclusive José Dirceu, apontado como chefe da quadrilha, cumpriam ordens de Lula. "Não se pode afirmar que o presidente fosse um pateta, que sob suas barbas, acontecendo as tenebrosas transações, não soubesse de nada. Não só sabia, como ordenou o encadeamento disso tudo." Jefferson apoiou: "Se eu soubesse disso, jogaria Lula no chão."

"Não só sabia como ordenou"

André Coelho

UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA

BRASÍLIA O advogado Luiz Francisco Corrêa Barbosa, defensor do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), cumpriu a ameaça dos últimos dias e mirou ontem no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no procurador geral da República, Roberto Gurgel. Ele usou boa parte dos 40 minutos de sua sustentação oral no Supremo para atacar Lula. Barbosa disse que o ex-presidente é o verdadeiro mandante do mensalão e, como antecipou ao GLOBO que faria, pediu que ele também seja investigado pelo Supremo. Disse que todos os ministros do governo, inclusive José Dirceu, apontado como chefe da quadrilha pela Procuradoria, cumpriam ordens de Lula.

- É claro que Sua Excelência (o procurador Roberto Gurgel) não pode aqui afirmar que o presidente da República fosse um pateta, fosse um deficiente, que sob suas barbas, acontecendo isso, as tenebrosas transações, ele não soubesse de nada - disse Barbosa, citando entrevista do ministro do STF Marco Aurélio Mello:

- Vossa Excelência usou uma expressão carioca, ministro Marco Aurélio, disse que o presidente era safo. E é mesmo. E não só é safo, é doutor honoris causa em universidades brasileiras e de fora. Mas era um pateta? Tudo isso acontecendo sob suas barbas e nada? É claro que não. E não só sabia, digo eu aqui, como ordenou o encadeamento disso tudo.

O advogado disse que cabe aos ministros do STF pedir abertura de investigação separada contra Lula, já que o MPF não o fez. Ele afirmou ainda que Jefferson não concordava com a compra de votos de parlamentares, por isso teria sido vítima de uma armação de integrantes do governo. Negou qualquer irregularidade e argumentou que os R$ 4 milhões repassados pelo PT ao PTB eram parte de um acordo para formar a aliança nas eleições de 2004, que previa a transferência total de R$ 20 milhões, e não para a compra de votos de parlamentares.

- Tratava-se da eleição municipal de 2004, não tem nada a ver com governo federal.

Barbosa também negou a acusação de lavagem de dinheiro, alegando que Jefferson pensava que o dinheiro do PT era limpo.

- Nós todos sabemos que não pode haver crime de lavagem de dinheiro sem a ciência prévia do recebedor de que se trata de dinheiro sujo. Quem entregou foi o Partido dos Trabalhadores? Foi. Por um preposto? Sim. Mas era em 2004, quando o PT ainda era uma vestal (pessoa que apregoa ser honesta). Era de supor que isso tivesse um tipo de ilícito? Não, é claro que não.

O ex-presidente Lula não quis se pronunciar sobre as declarações do advogado. O ex-presidente passou o dia no Instituto Lula, recebendo política. O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto, criticou a defesa de Barbosa:

- Foi uma defesa desqualificada, um ato de desespero. É o fim da carreira de Jefferson.

A Procuradoria Geral da República sustentou haver provas contra Jefferson pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Segundo Gurgel, Jefferson, então presidente do PTB, teria dado continuidade a um esquema iniciado pelo seu antecessor, José Carlos Martinez, morto em outubro de 2003.

Antes de se dirigir ao plenário para fazer a defesa, Barbosa conversou por telefone com Jefferson e brincou com o risco de ele e outros réus serem presos. O ex-deputado riu.

- Eu disse para ele: vou te levar cigarros na prisão - afirmou o advogado.

Itapuã Prestes de Messias, advogado de Emerson Palmieri, ex-tesoureiro do PTB, disse que seu cliente foi denunciado pelo MP apenas para desestabilizar os denunciantes do escândalo:

- Era preciso desmoralizar Emerson Palmieri, cortando assim uma das pernas de sustentação de Roberto Jefferson - disse o advogado.

Messias seguiu a linha da defesa anterior, argumentando que o dinheiro repassado ao partido era resultado de um acordo político para as eleições de 2004. Também atribuiu a responsabilidade pelas negociações a Martinez. E disse faltar à denúncia "precisão e clareza":

- Emerson não é e nunca foi tesoureiro do PTB. É secretário e tem funções subalternas sim, mas tem funções específicas que não são as de coordenar verba de campanha.

Já a defesa do deputado estadual mineiro Romeu Queiroz (PSB), ex-dirigente do PTB e ex-deputado federal, confirmou ter recebido R$ 250 mil do PT e R$ 102,8 mil da SMP&B. Negou que o dinheiro tenha sido embolsado por ele: as quantias teriam sido repassadas ao diretório regional do partido e ao PTB nacional. Ele negou que os recursos eram para pagar apoio ao governo, conforme denunciou o MP. Queiroz responde por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo o advogado Ronaldo Garcia Dias, seu cliente não teria recebido R$ 4,5 milhões, como diz a denúncia.

FONTE: O GLOBO

Ala petista reconhece erros do partido e ataca mídia

Publicação diz que há "linchamento" de réus do mensalão

Gustavo Uribe

SÃO PAULO Uma das alas mais à esquerda do PT aproveitou ontem o evento de lançamento do programa de governo de Fernando Haddad (PT), candidato a prefeito de São Paulo, para distribuir material que acusa a imprensa de fazer "um linchamento" dos réus do mensalão.

O editorial de agosto do jornal "Página 13", da tendência petista Articulação de Esquerda, diz que o julgamento foi marcado para agosto a fim de que sua repercussão coincida com as eleições. Afirma, ainda, que os meios de comunicação estão fazendo "brutal esforço" para que os envolvidos no eventual esquema sejam condenados, causando danos ao PT.

Fazem parte dessa ala petista a secretária de Relações Internacionais do partido, Iole Ilíada, e Valter Pomar, do Diretório Nacional do PT. O jornal foi distribuído no evento de Haddad.

A ala petista reconhece, contudo, que em 2005 foram cometidos erros políticos por "importantes dirigentes do partido", e defende a necessidade de adoção do financiamento público nas campanhas eleitorais. A coordenação de campanha de Haddad informou que o material não foi nem produzido nem distribuído por sua equipe

FONTE: O GLOBO

Ex-presidente é alvo de ação na Justiça Federal

Débora Álvares

BRASÍLIA - A Justiça Federal deve decidir na próxima semana se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será sentenciado ou não por improbidade administrativa. Ele e o ex-ministro da Previdência Social Amir Lando são acusados pelo Ministério Público Federal de usar a máquina pública em favor do BMG, um dos bancos que cederam empréstimos irregulares ao PT no mensalão, segundo o ex-procurador-geral da República Antônio Fernando de Souza.

Responsável pelo caso, o juiz Paulo Cezar Lopes, da 13.ª Vara Federal, disse ao Estado estar na fase de análise das alegações das defesas e tem a intenção de divulgar a sentença já na próxima semana. "Estou analisando os documentos e tento dar certa prioridade a isso, mas não tenho como me debruçar apenas sobre um caso."

A ação foi apresentada pelo MP em fevereiro de 2011. Um ano depois, estava pronta para ser julgada. A demora na decisão foi criticada ontem pelo advogado Luiz Francisco Corrêa Barbosa, defensor do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB). Segundo a procuradora responsável, Luciana Loureiro Oliveira, a irregularidade se refere ao envio de mais de 10 milhões de cartas a segurados do INSS, entre outubro e dezembro de 2004, ao custo de R$ 9,5 milhões, que informavam sobre a possibilidade de obtenção de empréstimos consignados. Após as cartas, o lucro do BMG pulou de R$ 90 milhões, em 2003, para quase R$ 280 milhões, em 2004.

Na defesa de Lula, apresentada em fevereiro, a Advocacia-Geral da União pede o arquivamento da ação, e argumenta que Lula não fez "propaganda gratuita" para o BMG, pois, quando do envio da carta, o banco concorria com a Caixa, que já estava no mercado de consignado.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Petistas falam em "desespero"

Parlamentares do PT saem em defesa de Lula e avaliam que as acusações de Roberto Jefferson são uma tentativa de politizar ainda mais o julgamento do mensalão

Leandro Kleber

Petistas defenderam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e criticaram a acusação do advogado do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) no Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Francisco Barbosa, de que Lula "ordenou" o mensalão e sabia de todo o suposto esquema de pagamento de mesada no Congresso em troca de apoio político. A avaliação é de que a defesa do presidente do PTB está tentando criar um factoide diante do julgamento no STF sobre algo que nunca existiu. Parlamentas do PT negam a existência do mensalão, ressaltam que Jefferson já teve o mandato cassado na Câmara e atribuem os pagamentos feitos a parlamentares, no começo do governo Lula, a caixa dois de campanha eleitoral.

"É uma defesa desqualificada. É mais desespero porque ele percebeu que não tinha provas. Aliás, até hoje, o próprio Roberto Jefferson havia colocado que o Lula não tinha nada a ver com a história", afirma o líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto. Segundo ele, o objetivo da defesa é levantar quem já está morto politicamente. "É mais uma trairagem do Jefferson, que, com medo de perder o partido, começou a atacar todo mundo", diz Tatto.

Caixa dois

O presidente do PT no Distrito Federal, deputado Roberto Policarpo, classificou as denúncias feitas pela defesa de Jefferson como factoides. "Se existe alguma coisa, quem tem de ser condenado é ele. Ele foi cassado na Câmara e, sabendo que vai ser condenado no Supremo, fica querendo criar factoide. Tanto é que ele acusa o tempo todo sem provar nada", afirma. Para o deputado, o que existiu no começo do primeiro mandato do ex-presidente Lula foram pagamentos de dinheiro não contabilizados de campanha política, prática mais conhecida como caixa dois.

A opinião é compartilhada pelo senador Wellington Dias (PT-PI). De acordo com o parlamentar, há uma clara tentativa de se politizar o processo e aproveitar o período eleitoral. "Todas as declarações dadas pelo Roberto Jefferson isentavam o presidente Lula desde o início. Daqui para frente, não é de se estranhar mais nada", diz. Dias avalia que a acusação é feita sem prova alguma, e que Lula foi eleito presidente do Brasil e trabalhou pelos interesses do país com o apoio dos parlamentares do Congresso, eleitos democraticamente. "Lamentavelmente, alguém que conhece a lei sabe como isso (denúncia feita no plenário do STF) tem efeitos pirotécnicos", critica.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Oposição no ataque

Leandro Kleber

A crítica feita ontem pelo advogado do ex-deputado Roberto Jefferson, Luiz Francisco Barbosa, ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de que ele errou ao não incluir o ex-presidente Lula na denúncia do mensalão, ganhou voz na oposição. A avaliação entre os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Alvaro Dias (PSDB-PR) é de que o petista tinha conhecimento a respeito do suposto esquema de pagamento de políticos em troca de apoio no Congresso.

"Era um fato visível à época e que foi ignorado por muitos. Não tenho nenhuma dúvida de que o presidente sabia de tudo e não tomou providência, o que configura prevaricação", afirma Dias, líder tucano no Senado. Segundo ele, porém, a manifestação da defesa de Jefferson chega com atraso ao julgamento, apesar de haver razões para tal. "Na CPI dos Correios, fiz votos em separado que incluíam o ex-presidente (no documento) e sugeriam o seu impeachment. Houve um equívoco histórico da oposição ao não tentar incluir o presidente Lula no processo", avalia.

Para o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), a acusação do advogado de Jefferson contra o ex-presidente Lula é "da mais alta gravidade", apesar de não considerá-la inédita. "O próprio Roberto Jefferson já havia dito isso no auge do escândalo. Mas seria importante que a defesa e o próprio deputado apresentassem elementos materiais que indicam isso, que ligam o ex-presidente à autoria (do crime)", acredita.

De acordo com Randolfe, a Procuradoria Geral da República aponta elementos contundentes na denúncia oferecida ao Supremo de que existiu o mensalão no governo Lula. "Acho pouco provável que o ex-presidente não soubesse disso. Eram muitas as autoridades que tinham conhecimento sobre o assunto", avalia.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

'Se fosse o Collor, estaria preso, mas no Lula não pega', diz Jefferson

Andréia Sadi

RIO - "Se fosse o Collor, estaria preso, mas no Lula não pega", comentou um abatido Roberto Jefferson, em seu apartamento, na Barra da Tijuca, no momento em que seu advogado no caso do mensalão, Luiz Francisco Barbosa, disse que o ex-presidente Lula deveria estar entre os réus.

Apesar da aparente contradição entre a versão que sustentou durante sete anos -a de que Lula era inocente-, Jefferson mantém o discurso de que, em sua opinião, o petista não tinha conhecimento do mensalão.

À Folha, que assistiu com ele a sessão de ontem do STF, o petebista reiterou diversas vezes que sentiu "surpresa"" de Lula quando o alertou sobre o mensalão.

Segundo ele, a acusação de que o ex-presidente beneficiou o BMG e o Rural representa a posição de seu advogado, fruto de desdobramentos das investigações.

Jefferson ficou sério e compenetrado para acompanhar o julgamento pela TV, ao lado de sua mulher, Ana, e de sua assessora de imprensa.

Pivô do escândalo ao denunciar o mensalão em duas entrevistas à Folha, "corrigia" Barbosa em questões tangentes ao partido. "Maurício Marinho não era do PTB, Barbosa!", afirmou, sobre o ex-diretor dos Correios flagrado em vídeo recebendo R$ 3.000 em propina.

Por diversas vezes, quando o advogado fazia breves pausas na fala para tossir, repetia: "Cigarro maldito!".

Recuperando-se de uma cirurgia realizada há 15 dias para a retirada de um câncer no pâncreas, o presidente do PTB riu quando Barbosa relembrou entrevista do ministro Marco Aurélio Mello em que chamou Lula de "safo"".

Ele se emocionou e chorou quando a defesa de Emerson Palmieiri, ex-tesoureiro do PTB, disse que o presidente da legenda preservou os nomes de quem recebeu R$ 4 milhões do PT. "Ia envolver pessoas, revelar nomes?"

Ao final, parecia satisfeito com a atuação de seu advogado, um gaúcho que destoa do estilo "almofadinha" dos demais defensores. "É muito maluco, muito corajoso..."

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A interpretação dos fatos - Merval Pereira

A sequência de defensores dos réus do mensalão está tentando provocar nos ministros do Supremo Tribunal Federal a estranha sensação de que todos os homens puros desta República estão sendo injustamente acusados pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que, além de injusto, é um trapalhão, pois montou uma tese cheia de furos e remendos, que não se sustenta.

Enão se diga que todos combinaram entre si, pois aqui e ali há insinuações de uns contra os outros, cada um querendo salvar a sua pele. Mas, ontem, houve um advogado que se portou de maneira diferente, provavelmente porque conhece bem aquele tribunal. Inocêncio Mártires Coelho, procurador-geral da República no governo Figueiredo, representando o ex-deputado José Borba, propôs-se simplesmente a pôr uma dúvida na cabeça dos ministros do STF:

"Se conseguirmos abalar a convicção desses julgadores, certamente estaremos servindo à causa da justiça e do Estado de direito, não há lugar para soberanos e nem para tiranos, assim como no amplo discurso do debate de nada valem os argumentos de autoridade."

Mas ele não apresentou qualquer dado novo para abalar convicções, apenas tratou de ressaltar a impossibilidade de um juiz ser imparcial:

"(...) Parece mais cauteloso, até para reduzir os efeitos perversos, aceitar que todo julgador é parcial. Parcial porque só vê as coisas das perspectivas em que ele se encontrar, no pedaço de realidade que ele recorta. Porque tem ampla liberdade para escolher as normas aplicáveis ao caso e mais liberdade ainda para valorar os fatos da causa." E mesmo os fatos, segundo Nietzsche, lembrou ele, não existem, mas, sim, a interpretação dos fatos. Segundo ele, "por mais que se esforce para ser objetivo, o juiz estará sempre condicionado pelas circunstâncias em que atua".

Mártires Coelho foi mais longe na tentativa de retirar do inquérito todo resquício de consistência: "Por mais cuidadoso que seja, (qualquer inquérito) é sempre uma peça de ficção e como tal deve ser tratado. Não é a realidade mesma, é apenas uma narrativa, em que há muitas outras possíveis, mas igualmente falíveis, sobre fatos que ocorreram fora dos autos, mas que não equivalem à realidade."

Ele lembrou dito muito usado no mundo jurídico, "o que não está nos autos não está na vida", para contradizê-lo: nem sempre a vida está nos autos, o que seria um limitador para a decisão dos juízes. E, citando "o intuitivo Lucio Bittencourt", disse que "a interpretação deveria ser considerada a última fase do processo legislativo". O julgamento, uma grande oportunidade de estabelecer marcos de valores, morais, éticos, políticos, para a vida nacional, como diz a corregedora do Conselho Nacional de Justiça, terá que ser decidido por interpretações dos juízes diante de um borbotão de fatos que, conectados, resumem o estado indigente de nossa vida política. Os advogados tratam o caixa dois de campanhas eleitorais como "conduta corriqueira, socialmente consentida", lamenta Eliana Calmon, para quem o escândalo "soa como corrupção".

A tese do "domínio final do fato", que levou o procurador-geral a acusar o ex-ministro José Dirceu de "chefe da quadrilha", serviu também para que o advogado de Roberto Jefferson, Luiz Francisco Barbosa, acusasse o ex-presidente Lula como o verdadeiro mandante dos crimes cometidos.

"Não só sabia como ordenou o desencadeamento de tudo isso que essa ação penal escrutina. Aqueles ministros eram apenas executivos dele."

Para provar sua tese, Barbosa fez relato ligando fatos e consequências, apelando para o bom-senso dos juízes, pois não tem "atos de ofício" que provem sua acusação. E acusou Gurgel de prevaricação por ter "sentado em cima" de um pedido formal para incluir Lula entre os réus do mensalão.

A sequência, segundo Barbosa, foi esta: dirigentes do BMG pediram audiência com Lula, que dias depois emitiu medida provisória permitindo a bancos em geral entrar no mercado de crédito consignado. Um advogado interpretou, todavia, que só podiam oferecer crédito consignado os bancos que já operavam nessa área. Os dirigentes foram novamente a Lula, que emitiu decreto reiterando a permissão pela qual o BMG entrou nesse mercado.

E em seguida o PT obteve empréstimos do BMG e do Banco Rural. "É evidente o entrelaçamento entre esses fatos", disse ele.

FONTE: O GLOBO

Defesa ou acusação? - Eliane Cantanhêde

Em vez de defender Roberto Jefferson, seu cliente, o advogado Luiz Francisco Corrêa Barbosa partiu para um ataque feroz contra o ex-presidente Lula e o procurador-geral, Roberto Gurgel.

Nunca antes neste país -nem mesmo contra Fernando Collor, já na lona, após o impeachment- uma defesa oral foi tão virulenta no Supremo Tribunal Federal contra um procurador-geral e contra um ex-presidente da República.

Segundo o advogado, que reflete bem o estilo, a personalidade e a beligerância do cliente, o procurador "não fez o seu trabalho" no processo do mensalão e "sentou em cima" da ação do bicheiro Cachoeira.

Para ele, Gurgel tratou Lula como "um pateta", pois disse que tudo ocorria dentro de quatro paredes no Planalto, sob suas barbas, mas o presidente não sabia de nada.

"Deixaram o patrão de fora. Aliás, o procurador-geral deixou. Essa oração tem sujeito", acusou o advogado, para quem Lula "foi omisso e traiu a confiança do povo".

Barbosa, porém, caiu numa contradição. Ao mesmo tempo em que disse que Lula "não só sabia como ordenou" o esquema, ele relatou que o presidente, ao ser alertado por Jefferson numa conversa com a presença de Aldo Rebelo e Arlindo Chinaglia, ficou surpreso, até emocionado, "com lágrimas nos olhos".

Se só soube depois, como Lula poderia ser mandante? Afinal, ele sabia, ordenou, era "o mandante", "o patrão"? Ou não sabia de nada e até chorou ao ser informado?

O advogado também tentou intrigar os ministros com o procurador, que -acusou ele- produziu a acusação sem provas e sem Lula, para "jogar o povo contra este tribunal".

No final, arriscou uma explicação heroica para a inclusão do cliente no rol de réus: a intenção era "silenciá-lo, para que não abrisse essa sua boca enorme". Como se Jefferson já não tivesse escancarado sua bocarra -e feito um estrago de bom tamanho.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Paradoxo Popular - Dora Kramer

Nem tudo que é popular é justo, aceitável, verdadeiro ou incontestável. Disso dá notícia a História, a vida e as duas vitórias eleitorais do PT para a Presidência da República depois do advento do mensalão.

Segundo pesquisa do instituto Datafolha, maioria expressiva (73%) da amostragem de 2.592 pessoas ouvidas uma semana depois de iniciado o julgamento no Supremo Tribunal Federal considera tratar-se de um caso de corrupção e espera pela condenação dos envolvidos.

Tal convicção não decorre da perfeição jurídica do relato dos autos, inacessíveis à avaliação leiga. A acusação não convence a maioria por estar juridicamente com a razão, mas porque sua narrativa faz sentido: conta que um partido valeu-se das facilidades do poder para arrecadar muito dinheiro e com ele conseguir sustentação política de que necessitava para governar.

Houve manipulação de grandes somas onde deveriam prevalecer posições políticas; é isso que as pessoas entendem e consideram impróprio.

Uma boa parte (43%), contudo, não acredita que haverá condenação, expressando algo que pode ser visto de duas maneiras: desconfiança na eficácia da Justiça e/ou antídoto prévio a frustrações devidas a um farto histórico de impunidade.

A adesão popular à tese defendida pela Procuradoria-Geral da República não quer dizer que o resultado do julgamento no Supremo Tribunal Federal vá ou deva necessariamente atender a essa demanda.

Tampouco é possível inferir que os resultados daquelas eleições vencidas pelo PT (reeleição de Lula e vitória de Dilma Rousseff) no pós-mensalão teriam sido diferentes se o enredo tivesse sido contado com a cadência e exposição de agora, porque a mesma pesquisa registra que 50% não se deixarão influenciar pelo resultado do julgamento na hora do próximo voto, em outubro.

Algumas conclusões, porém, são admissíveis. A primeira delas: o PT está longe da realidade quando diz que a população só quer saber de novela e de olimpíadas.

A segunda: a versão de que o mensalão é fruto de uma fantasia oposicionista simplesmente não pegou.

Um último aspecto, relacionado à desconexão entre o voto e o resultado do julgamento pode, em princípio, soar estranho em face da expectativa de condenação.

Mas, se lembrarmos que o PT ganhou duas eleições presidenciais com mensalão e tudo - uma delas ainda sob o eco da CPI - vamos acabar concluindo que a população exige rigor da Justiça, mas não é tão rigorosa assim na hora de votar.

Um dado para se pensar antes de reclamar dos políticos e dos juízes.

Sujeito oculto. Muito esperto o advogado de Roberto Jefferson tentando desmontar o trabalho do Ministério Público sob a alegação de que a acusação é nula porque não incluiu o "mandante", Lula.

Como teatro, eficiente. Para o julgamento, apenas um sofisma dada a proteção garantida pela ausência do personagem nos autos.

Para a imagem de Lula, porém, o chamamento ao centro da cena naqueles termos não é tão inócuo assim.

Desalinho. Na última sexta-feira, o ministro Antonio Dias Toffoli foi a uma festa em Brasília. Ia alta a madrugada quando explodiu em pesados palavrões referindo-se ao jornalista Ricardo Noblat que acabara de sair, mas voltou a tempo de ouvir e relatar a história em seu blog momentos depois.

Talvez pela interpretação de que se tratava de um caso atinente à vida particular de Dias Toffoli, os jornais não deram repercussão ao episódio e provavelmente por esse motivo o ministro não reagiu nem desmentiu.

A gravidade aí não está no fato de os impropérios terem sido dirigidos a um jornalista, mas por terem sido proferidos em público por um julgador de instância suprema cujo papel institucional requer equilíbrio, distinção, maturidade e, sobretudo, noção de limite.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Caixa 2 é tão imoral quanto comprar voto - Raymundo Costa

Uma coisa está fora de dúvida: rolou muito dinheiro no chamado mensalão. O que difere nos testemunhos até agora ouvidos é se foi dinheiro para comprar votos, o que caracterizaria o crime de corrupção, ou "simples" caixa 2 eleitoral, como quer fazer crer a defesa da maioria dos acusados e de que já falava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em julho de 2005, numa viagem a Paris.

Para a população, ao contrário das leis escritas por uma elite alfabetizada, não faz a menor diferença, como deixam claros os números da pesquisa Datafolha divulgada no último domingo.

Nada menos do que 87% dos entrevistados responderam que os réus da Ação Penal 470, o nome técnico do mensalão, deveriam ser condenados no julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF). Com uma diferença: 73% acham que os acusados deveriam ser condenados e presos, enquanto 14%, mais condescendentes, responderam que todos deveriam ser condenados, mas sem a necessidade de ver o sol nascer quadrado, como diziam os cronistas policiais de antanho.


População acha que mensalão foi mesmo caso de corrupção

A corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, teve a percepção exata do fato. Os advogados falam todos de caixa 2 de um crime eleitoral, "como se fosse conduta corriqueira, socialmente consentida", disse em entrevista publicada, na edição de ontem, de "O Estado de S. Paulo". A ministra, aliás, parece um retrato da população flagrado na pesquisa: diz que não conhece as provas dos autos, "mas para mim, o mensalão soa como corrupção".

Os dados do Datafolha são parecidos com pesquisa feita pelo próprio PT, preocupado com o impacto do julgamento na eleição: dos 81% que disseram ter conhecimento do mensalão, apenas 18% se consideram bem informado sobre o assunto. O que importa, no caso, é o que os entrevistados responderam à pergunta "você acha que o mensalão foi um esquema de corrupção ou arrecadação de dinheiro para pagar dívidas de campanha eleitoral"? A resposta também não deixa margem a duvidas: 82% disseram sim. Não existe escala de moralidade..

O povo não é bobo e nem precisa fazer essa distinção, de caráter legal, é certo, mas também de autopreservação de quem escreve as leis. Os números do instituto Datafolha revelam muito bem como o povo percebe um e outro.

É possível imaginar como crime eleitoral, por exemplo, a campanha fora de época, o que nem por isso a torna "socialmente consentida", para empregar a expressão de Eliana Calmon. Lula atuou nas brechas da lei à exaustão na campanha presidencial de 2010, para eleger Dilma.

Mas o jeito que o dinheiro trafegou no mensalão, passado de mãos em mãos em quartos de hotéis e descontos em boca de caixa, na época das transferências eletrônicas, tem o cheiro da corrupção, em uma das formas descritas no Dicionário Houaiss: substantivo feminino que também quer dizer "perversão, degeneração, depravação, devassidão, imoralidade, indecência".

Em resumo, não se pode dizer que se trata de uma "conduta corriqueira, socialmente consentida", como acham defensores dos réus e o ex-presidente como Lula. Sorte do PT é que 50% dos entrevistados do Datafolha disseram que o mensalão não influirá sobre seus votos.

O PSB de Minas Gerais, leia-se Aécio Neves, teve êxito no que nem o ex-presidente Lula conseguiu: juntar os PTs de Patrus Ananias e do ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), rompidos desde as eleições de 2010.

Mesmo depois que os dois reataram politicamente para disputar a Prefeitura de Belo Horizonte, ainda havia resíduos de insatisfação no grupo de Patrus, o candidato, que se dissiparam após duas intervenções do PSB consideradas desastrosas.

Uma chamava de "esmola" os programas sociais do governo Lula, outra dizia que o PT é o inimigo a ser enfrentado na eleição presidencial, desconsiderando o fato de que a presidente Dilma Rousseff é mineira de nascimento.

Bem antes das convenções de junho, o presidente do PT, Rui Falcão, pressentiu que a reedição da aliança (PSB, PT e PSDB, entre outros partidos) para a eleição de Belo Horizonte teria problemas. Falcão teve uma conversa com o prefeito Márcio Lacerda e com Valfrido Mares Guia, o big shot do PSB mineiro.

"Esse negócio vai ser difícil, não sei se posso assegurar o apoio do PT sem a coligação na proporcional", disse Falcão, referindo-se à eleição para vereadores. Voltando-se para o prefeito de BH, o ex-ministro Mares Guia (Coordenação Política) deu seu testemunho: "Márcio, eu conheço o PT, o Rui não está blefando", disse. Falcão acentuou que o pessoal de Patrus, no PT, tinha resistência à coligação, mas o próprio candidato cedeu à proposta de apoio à aliança.

O PT e Rui Falcão foram surpreendidos por uma carta de rompimento do PSB num sábado. "Não vamos nos abaixar", disse o presidente do PT aos dirigentes mineiros que o localizaram na Bahia para dar a informação. Rui Falcão ainda ligou para Mares Guia. "Presidente, você me conhece", respondeu o ex-ministro, duvidando da informação. Nem ele nem Roberto Amaral, vice-presidente nacional no PSB, sabiam de nada.

Ato seguinte, Dilma chamou o vice Michel Temer, que em menos de 24 horas tirou seu candidato a prefeito de Belo Horizonte e passou a apoiar Patrus Ananias. Com isso, o PMDB fez mais um gesto para assegurar o cumprimento de um acordo entre as duas siglas, pelo qual caberá aos pemedebistas presidir a Câmara, a partir do próximo ano, 2013.

O presidente do PT não tem dúvidas: Aécio Neves, o sujeito nada oculto por trás da candidatura de Márcio Lacerda, não acreditou que o PT lançaria candidato próprio e, se lançasse, Patrus Ananias e Fernando Pimentel jamais se recomporiam para indicar um nome competitivo, muito menos o do próprio Patrus, um ex-prefeito que deixou o cargo bem avaliado.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Força dos instintos - Tereza Cruvinel

"Se as pesquisas se confirmarem, o índice de reeleição dos prefeitos de capitais será bastante inferior ao verificado em 2008, que foi de 95%. A economia bombava naquele pleito. Agora, está patinando"

O advogado que ontem defendeu Roberto Jefferson diante dos ministros do STF, Luiz Fernando Corrêa Barbosa, tem fina sintonia mental com seu cliente: sua arguição oral foi teatral e espetaculosa ao pedir a inclusão do ex-presidente Lula no processo, afirmando que ele não apenas ignorava, como também ordenou a execução do suposto esquema de compra de votos de deputados. De quebra, atacou o procurador-geral, Roberto Gurgel, por ter mantido Lula fora do processo, tal como já fizera seu antecessor, Antonio Fernando de Souza. "Ele (Gurgel) falou para a galera, que quer sangue. Quer jogar o povo contra o tribunal. E o faz porque não fez o seu trabalho, se omitiu."

Os ministros notaram, obviamente, a contradição gritante entre os depoimentos anteriores de Jefferson, inclusive em juízo, e a defesa oral feita ontem por seu advogado. No curso do escândalo que ele detonou em 2005, Roberto Jefferson sempre afirmou que Lula, pelo espanto diante de sua informação, não sabia da ciranda financeira entre os partidos da base. Chegou a lacrimejar, repetiu ontem seu representante. No Conselho de Ética da Câmara, provocou o ainda ministro da Casa Civil, José Dirceu, com um conselho imperativo: "Sai daí, Zé. Sai daí logo antes que você faça réu um homem inocente, o presidente Lula".

É difícil compreender a estratégia de defesa de Jefferson, que também não é um pateta, para usar a expressão com a qual seu advogado referiu-se a Lula. Mesmo convalescente, deve ter ordenado ou aprovado os termos da defesa oral, especialmente no que diz respeito a Lula. A confissão de que recebeu R$ 4 milhões do valerioduto para a campanha eleitoral municipal de 2004 reforça a defesa de Delúbio e dos acusados do PP e do PL: os recursos não eram para lhes comprar o voto, mas para que, como dirigentes partidários, honrassem despesas das campanhas de 2002 e 2004. Confessando o destino eleitoral da mala de dinheiro que recebeu, Jefferson ajuda a tese da defesa. A tentativa tardia de arrastar Lula para a lista de réus, depois de tê-lo inocentado, talvez atenda aos seus "instintos mais primitivos". Em seu depoimento ao Conselho de Ética, em 2005, ele declarou que Dirceu lhe despertava tais instintos. As afirmações do advogado produziram, é claro, manchetes vibrantes pela internet afora, que estarão nos jornais de hoje. Mas, objetivamente, são próximas de zero as chances de inclusão do ex-presidente entre os réus.

O tribunal só o faria a partir de uma denúncia do Ministério Público e lá já aportaram seis pedidos nesse sentido, apresentados por procuradores regionais, dos quais cinco foram negados. A que resta foi apresentada há pouco tempo pelo procurador gaúcho Manoel Pastana. Na verdade, um recurso, pois pedido igual já fora negado pelo ex-procurador-geral Antonio Fernando. Em sua arguição oral, na abertura do julgamento, Gurgel não fez qualquer menção a esse pedido, o que foi entendido como sinal de que ele já o recusou.

A defesa de Jefferson também já apresentou três pedidos de inclusão de Lula, certamente depois que ele mudou de ideia a respeito da inocência que proclamou em 2005. Um foi apresentado e negado em 2010 e outro, apresentado em 2011, foi negado em fevereiro passado. Em maio, foi feita nova tentativa, essa junto ao procurador-geral, pedindo que acolhesse a petição de Pastana. O STF, depois de duas negativas, não deve rever sua posição, assim como o procurador-geral.

Prefeitos em baixa. Observador experiente das eleições brasileiras, o cientista político Antonio Lavareda constata que, de Salvador para cima, com raras exceções, são muito ruins as perspectivas de reeleição para a maioria dos prefeitos de capitais do Norte-Nordeste. Se as pesquisas se confirmarem, o índice de reeleição dos prefeitos de capitais será bastante inferior ao verificado em 2008, que foi de 95%. A economia bombava naquele pleito. Agora, está patinando. Em 2008, apenas um prefeito de capital, o de Manaus, Serafim Corrêa, não se reelegeu. Está tentando agora voltar ao cargo. Em 2008, o índice de reeleição dos prefeitos como um todo foi de 77%, e é possível que também não se repita este ano.

Lavareda atribui esse quadro à difícil situação financeira da maioria das prefeituras. Em 2008, houve a crise internacional, é fato. Mas ela só chegou aqui em 2009. No primeiro semestre de 2008, o PIB cresceu mais de 6%. Este ano, a economia cresceu apenas 0,2% no primeiro trimestre, não devendo ficar acima de 1% no primeiro semestre. Afora a própria retração da economia, que reduz a arrecadação como um todo, os estados e municípios sofrem também com o efeito das desonerações tributárias adotadas pelo governo federal, no esforço para aquecer a economia. Essas bondades de Dilma, como eles dizem, reduzem o volume de recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), refletindo-se no caixa das prefeituras. Dois dos prefeitos que estão com boa situação, por coincidência, têm grande afinidade com os governadores de seus estados, que compartilham obras e recursos com a prefeitura: Eduardo Paes com Sérgio Cabral, no Rio, e Marcio Lacerda com Antonio Anastasia, em Belo Horizonte.

Governadores e prefeitos, já aborrecidos com o encolhimento dos fundos, têm pela frente uma contenda com a presidente Dilma: ela quer reduzir o preço da energia. Isso é bom, todos gostam, eles dizem. Mas não às custas da redução do ICMS. Eles vão exigir compensação.

Zum-zum-zum. No Congresso vazio, o único zumbido é o da CPI do Cachoeira. Hoje deve ser votada a proposta descentralizadora de criação de subrelatorias. O relator Odair Cunha já entregou estes aneis. A prática das subrelatorias é da tradição, quando a investigação assume grandes proporções. A CPI tentará votar também requerimento do senador Fernando Collor, de convocação do diretor da sucursal da Revista Veja em Brasilia, Policarpo Junior, para que explique sua relação com o contraventor goiano.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Professores são barrados no IFCS

Renato Onofre

Greve na universidade

Um piquete de estudantes na porta do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), no Largo de São Francisco, no Centro, impediu ontem o acesso de professores e alunos do Instituto de História (IH) que queriam romper a greve e retomar as aulas.

Os docentes do IH acusam os manifestantes de partidarização da greve. Do outro lado, a associação dos docentes da universidade (Adufrj) rebate, dizendo que eles advogam para o governo. Um dos organizadores do ato, o estudante de Filosofia Julio Anselmo, é candidato a vereador no Rio pelo PSTU. Também estiveram presentes no ato candidatos do PSOL.

- Querem impor a política do cadeado. É um absurdo não termos o direito nem de acessar a instituição onde trabalho. Só tinha visto isso aqui na ditadura - reclamou o professor Francisco Teixeira, titular da cadeira de História Moderna e Contemporânea.

Anselmo minimizou:

- Esses professores não acataram a decisão da assembleia geral que votou pela permanência da greve, na sexta-feira e, numa reunião secreta, decidiram voltar a trabalhar.

Hoje, o grupo tentará mais uma vez furar o movimento grevista. Até o fechamento desta edição, os grevistas ainda discutiam se iam continuar ocupando o prédio.

A ministra do Planejamento Miriam Belchior prometeu para esta semana uma resposta final sobre o reajuste dos servidores federais. Além dos professores, mais de 30 categorias estão de greve no país.

FONTE: O GLOBO

Governo volta a negociar, mas cortará o ponto

Cerca de 80 mil servidores públicos da União vão receber os salários deste mês com os descontos dos dias parados em greve. Apesar da medida, que vai atingir todo o funcionalismo — até mesmo os professores das universidades —, o governo federal pretende apresentar, a partir de hoje, propostas de reajustes para alguns sindicatos. Serão privilegiadas as categorias que não recebem aumento há mais tempo. O índice médio de 22% pedido pelos grevistas está totalmente descartado. A paralisação dos serviços em todo o país, a radicalização do movimento e o impasse nas negociações têm desgastado o Palácio do Planalto, que já enfrenta problemas com sua base política.

Governo manda cortar os salários de 80 mil

Ministério do Planejamento reabre as discussões com os servidores públicos, que cobram reajuste médio de 22%, mas avisa que não pagará dias parados de grevistas. Descontos constarão no contracheque de agosto

Planalto não esconde o descontentamento com os protestos de funcionários. Ontem, foi dia de longas reuniões de ministros com a presidente Dilma

O Ministério do Planejamento vai cortar o ponto de 80 mil servidores que estão em greve. Os dias parados serão descontados no contracheque deste mês, que será fechado no próximo dia 20. Com essa decisão, o governo dá o mais claro sinal de seu descontentamento com o funcionalismo, que partiu para o confronto — inclusive nas ruas — por reajustes médios de 22%. A determinação vale, inclusive, para as universidades, que têm autonomia administrativa. Os reitores já foram avisados pela Advocacia-Geral da União (AGU) de que devem punir os trabalhadores que estão de braços cruzados há mais de dois meses.

A partir de hoje, o governo retomará as negociações com os servidores. O governo, pelo que foi acertado ontem entre a presidente Dilma Rousseff e a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, não deverá fazer uma proposta de aumento linear — não por enquanto. A determinação do Palácio do Planalto é privilegiar carreiras que estão com salários mais defasados. Nesse grupo, estão os professores de universidades, aos quais foram propostos aumentos de até 45%, e os técnicos administrativos de universidades, que devem ter correção de 15%. Já está certo, também, que os militares serão agraciados com rendimentos melhores. E algumas categorias de técnicos, como as do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

"Depois da conversa entre a presidente Dilma e a ministra Miriam, o reajuste dos servidores foi avaliado pela junta orçamentária, que fez várias ressalvas. O tema voltou de novo para análise da presidente Dilma. Portanto, trata-se de um processo complexo. O momento não é favorável para aumentos salariais no serviço público. É preciso ter muita cautela", disse um assessor palaciano. Ele destacou que, assim como no caso dos professores e dos técnicos de universidades, os reajustes aprovados serão parcelado em três anos, entre 2013 e 2015. Em hipótese alguma, os gastos do governo chegarão perto da fatura de R$ 92,2 bilhões apresentada pelo funcionalismo.

Desencontros

A tensão está grande. E os representantes dos servidores asseguram que o governo está inflando os números referentes aos pedidos de aumento salarial para jogar a opinião pública contra o funcionalismo, taxado como elite dos trabalhadores. Segundo a União das Carreiras de Estado (UCE), que reúne 22 entidades representativas do setor, a fatura de R$ 92,2 bilhões é irreal e isso será comprovado por meio de um estudo técnico sobre os pedidos recebidos pelo Planejamento, a ser divulgado hoje. Para a UCE, além de inflar os números, o governo está sendo intransigente nas negociações. E uma prova disso foi o Decreto Presidencial 7.777/12, que permite a substituição de fiscais em greve por funcionários estaduais e municipais.

Além de reajuste imediato, os servidores exigem uma política salarial permanente, com reposição inflacionária anual e correção do salário-base. Segundo os grevistas, os últimos aumentos ficaram abaixo da inflação. O Ministério do Planejamento contesta e assegura que, entre janeiro de 2003 e dezembro de 2011, todas as categorias tiveram ganhos reais (acima da inflação) variando de 7,70% a 289,79%. Nesse período, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 75,3%. Os técnicos administrativos das universidades federais tiveram, por exemplo, correções entre 43,04% e 110,6% acima da inflação nos três níveis do plano de cargos (auxiliar, intermediário e superior). Considerando apenas o salário final, ou seja, o topo da carreira nesses três níveis, o aumento real variou de 172,3% a 225%.

Em meio ao confronto de números, os servidores asseguram que vão partir com tudo para cima do governo, a começar por um acampamento na Esplanada dos Ministérios. As estruturas para receber pelo menos mil manifestantes foram montadas ontem. A vigília vai durar até sexta-feira, último dia das negociações com o Planejamento. Os representantes dos servidores prometem ainda, para a quarta-feira, uma grande marcha pela Esplanada, que deve reunir 15 mil grevistas, segundo a Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Condsef). A entidade representa 80% do funcionalismo do Executivo. No mês passado, os sindicalistas conseguiram agregar 10 mil pessoas em uma passeata semelhante, que provocou transtornos em Brasília e deu força à greve, até então restrita a poucos órgãos.

Leite derramado

As manifestações dos servidores por reajustes de salários vão ocorrer em vários pontos da Esplanada. No Ministério da Agricultura, os fiscais agropecuários vão distribuir 3,5 mil litros de leite hoje em protesto contra a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de pôr fim à greve da categoria. Desde 6 de agosto, eles estavam de braços cruzados, reivindicando concurso público e reestruturação da carreira. Os policiais federais farão movimentos por todo o país, com a volta da operação padrão, que criou transtornos no principais aeroportos.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Greve prejudica pente-fino em verba repassada a municípios

Devido à greve dos servidores federais, a Controladoria-Geral da União cancelou auditorias em 36 municípios que receberam repasses do governo federal, como Bolsa Família ou verba para merenda escolar. Com o cancelamento, só 24 de 60 municípios sorteados passarão pelo pente-fino que busca "inibir a corrupção" entre gestores.

Greve de servidores afeta agora até a fiscalização do uso de verbas federais

Controladoria-Geral da União decide cancelar auditorias que seriam feitas em 36 municípios

Governo Dilma passou o dia ontem avaliando a possibilidade de conceder reajuste ao menos a alguns setores

Kelly Matos, Natuza Nery e Flávia Foreque

BRASÍLIA - Após provocar transtornos em portos, aeroportos e estradas, o movimento dos servidores federais por melhores salários passou ontem a afetar também até a fiscalização do uso de verbas da União.

Em portaria publicada ontem, a CGU (Controladoria-Geral da União) anunciou o cancelamento da auditoria que seria feita em 36 municípios "em razão do movimento grevista dos servidores".

Com isso, apenas 24 de 60 cidades sorteadas pela CGU passarão pelo pente-fino, que busca "inibir a corrupção entre gestores de qualquer esfera da administração pública".

O programa de auditorias -que incluem inspeções in loco- fiscaliza recursos de programas como o Bolsa Família, o Pronaf (de estímulo à agricultura familiar), de subsídios a merenda e transporte escolar e de financiamento de ações de saúde.

Também são fiscalizadas obras que tenham verba federal. Os relatórios são enviados a órgãos como Tribunal de Contas da União, Ministério Público e Polícia Federal.

Até este ano, 1.941 municípios haviam sido fiscalizados. Segundo a CGU, 20% das falhas detectadas são "graves".

Ainda que a greve acabe, os municípios excluídos ontem não voltarão a ser avaliados agora, já que haverá novo sorteio em setembro. São feitos quatro sorteios ao ano.

Funcionários da CGU fazem operação-padrão desde 8 de agosto, segundo o Unacon Sindical (que representa servidores do órgão e do Tesouro Nacional). Eles querem reajuste salarial de 22%.

"A Dilma centralizou tudo nela, a gente não consegue conversar com ministros de cada área. Isso complica muito", criticou o presidente da entidade, Rudinei Marques.

Proposta

O governo passou o dia ontem reunido avaliando a possibilidade de apresentar proposta de reajuste a setores ainda não contemplados.

Pela manhã, Dilma Rousseff havia orientado seus ministros da área econômica a tentar encontrar sobra no Orçamento do próximo ano.

Houve ao menos três encontros. Em um, Dilma mandou que a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, retornasse com novos cálculos.

Se optar por dar algo, a tendência é haver uma proposta de reajustes escalonados até 2015. Após os encontros, o governo não descartava nem a possibilidade de reajuste zero, tampouco a de aumento global para garantir o poder de compra do servidor.

"Multa zero"

A onda de protestos, iniciada em maio, atinge cerca de 30 categorias.

Ontem, líderes grevistas da Polícia Rodoviária Federal decidiram orientar os policiais para que, a partir desta semana, atendam só acidentes de trânsito com vítimas.

A categoria ainda queria deixar de aplicar multas. Alertado sobre a "operação multa zero", o governo avisou que a reação seria enérgica, e o sindicato recuou.

Ontem, policiais federais fizeram protesto na Superintendência da PF em São Paulo. Eles planejam doar sangue hoje, o que, pela lei, permitiria a falta ao trabalho.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Greve de servidores públicos já afeta pesquisas científicas

Sem insumos importados, instituto para testes com células tronco

Cristiane Bonfanti

RIOe BRASÍLIA Além de prejudicar as exportações do país, a emissão de passaportes e a rotina de estudantes de universidades públicas, entre outros serviços essenciais, a greve dos servidores federais está atrasando até pesquisas científicas. Referência na área de saúde, o Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ (ICB) sofre com a falta de reagentes químicos, o que tem forçado a interrupção de pesquisas. O instituto desenvolve estudos em áreas como células tronco, regeneração do sistema nervoso e esquizofrenia.

Os reagentes são alguns dos insumos importados usados pelos pesquisadores. Com a paralisação da Anvisa e da Receita Federal, há produtos retidos em portos e aeroportos. Mas o problema vai além da retenção. Cientes da greve, os fornecedores não estão nem mesmo aceitando pedidos.

- Somos orientados a fazer a compra apenas depois que a greve acabar, porque são produtos perecíveis - explica Roberto Lent, diretor do ICB.

O atraso compromete desde a publicação de artigos em revistas científicas, ao registro de patentes.

Ajuda para evitar colapso

Os laboratórios de análises clínicas também enfrentam dificuldades. Por enquanto, exames como o de shbg (proteína que carrega os hormônios sexuais no sangue) e o de testosterona livre são alguns dos prejudicados. Se a greve continuar, em alguns dias outros exames mais importantes, como hemocultura e hemogramas, também devem ser afetados.

Segundo Paulo Azevedo, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), os laboratórios só não entraram em colapso porque têm se ajudado e porque os fornecedores têm obtido liminares na Justiça para liberar as mercadorias. A falta de reagentes já começa a afetar exames nas unidades de terapia intensiva (UTI), afirma Azevedo.

Ao todo, mais de 400 empresas envolvidas com o complexo hospitalar dependem de produtos importados.

Para mostrar que o governo está aberto ao diálogo, o anúncio sobre quais categorias serão contempladas com reajustes salariais em 2012 será dada aos representantes das categorias individualmente, obedecendo ao cronograma de reuniões entre os sindicalistas e o secretário de Relações de Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça.

Preocupada com os prejuízos causados pelas paralisações para a sociedade e as contas do governo, a presidente Dilma Rousseff se reuniu ontem com os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Miriam Belchior (Planejamento), para encontrar brechas no Orçamento do ano que vem e fechar as propostas a serem anunciadas. No Orçamento de 2013, R$ 2,1 bilhões já estão garantidos para reajustes nas remunerações. Mas, o dinheiro iria apenas para professores e servidores técnico-administrativos das instituições federais de ensino. Outros R$ 3,8 bilhões adicionais deverão ser reservados até 2015.

Sete dias depois de começar, a greve dos analistas e técnicos de finanças e controle, que pedem reajuste de até 20%, levou a Controladoria Geral da União (CGU) a cancelar a fiscalização da aplicação dos recursos federais destinados a programas de saúde e educação. Isso reduz o combate à corrupção em pleno ano eleitoral.

Segundo a CGU, a fiscalização é feita três vezes por ano em 60 municípios, escolhidos por sorteio. Na semana em que começou a greve, haveria uma fiscalização. Agora, serão visitadas apenas 24 prefeituras, ou 40% do previsto.

Um dia antes de iniciar as reuniões com os sindicatos dos servidores públicos federais em greve, o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, enviou nesta segunda-feira um documento aos dirigentes de recursos humanos dos órgãos do Poder Executivo reiterando a orientação para que eles efetuem o corte do ponto dos grevistas.

FONTE: O GLOBO

Eduardo Campos acredita em vitória em 1º turno do PSB no Recife

Vandson Lima

SÃO PAULO - O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, ironizou ontem os ataques que vem recebendo do PT em Recife (PE), onde os dois partidos romperam e lançaram candidaturas separadas à prefeitura: "Cada um faz a campanha que sabe fazer, né?" Campos argumentou que seu partido sempre apoiou a administração do PT, que já dura 12 anos, mesmo quando não participava da gestão e reconhece que houve avanços no período.

Sobre a possibilidade de a animosidade crescente entre os dois partidos impossibilitar eventuais apoios em um segundo turno, deixou no ar que acredita que seu candidato, Geraldo Júlio, pode vencer a disputa antes disso. "Aonde vai ter segundo turno? Em muito lugar não vai ter. Estamos concluindo a primeira fase da campanha no Recife achando que ganhamos o primeiro round. Vamos para o segundo, que é a televisão".

Sobre as tentativas do PT de barrar o uso de imagens do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff em campanhas políticas de outros partidos, Campos disse estar fazendo exatamente o contrário. "Eu lá [em Pernambuco] tomei uma decisão no sentido oposto. Outro dia recebi um telefonema de uma prefeita do PT, que foi ao meu encontro dizer que o pessoal do PSB não queria que ela fizesse foto comigo. Eu disse "de maneira nenhuma", você é minha companheira. Até porque essa eleição vai passar e vai vir outra". Para Campos, os dirigentes têm que ter uma visão diferente do "da torcida". "Tenho que ver na perspectiva da história. Da que nos trouxe até aqui e da que vai nos levar mais adiante. Amanhã, em 2014, nós vamos estar batendo na porta de todos esses companheiros pedindo para nos ajudar."

O governador não se mostrou satisfeito com a reafirmação do acordo entre PT e PMDB para fazerem do deputado federal Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) o próximo presidente da Câmara. Mais que isso, Campos não ofereceu qualquer garantia de que seu partido apoiará a escolha. "É um assunto que cabe à bancada do PSB discutir. O próprio Henrique me procurou, na véspera do acordo, dizendo que haveria essa reunião para desfazer uma série de notícias que vinham sendo veiculadas de que o acordo não seria honrado. Mas todos sabem que nós não participamos desse acordo lá em 2010", afirmou o governador, que foi homenageado ontem em São Paulo pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB) e pelo Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), durante a comemoração do Dia do Economista.

FONTE: VALOR ECONÔMICO