"Nem eu nem Serra anteciparemos o jogo"
Senador mineiro afirma que conciliação com ex-governador é o "instrumento mais valioso" para enfrentar o PT
Débora Bergamasco
BRASÍLIA - O senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, reconhece ter apoio majoritário de sua legenda para enfrentar nas urnas a presidente Dilma Roussef e planeja para o ex-governador José Serra a função de ajudar a coordenar o programa de governo tucano e de pensar uo novo discurso do PSDB.
Mas repete, várias vezes, que Serra ainda pode ser o escolhido para representar os tucanos na disputa de 2014. O discurso faz parte do acordo que levou meses para ser costurado e que garantiu a permanência do ex-governador no partido. A conciliação entre Aé cio e Serra foi negociada em nome da batalha contra o PT.
* Como o senhor e o ex-governador avaliaram a repercussão da permanência dele no PSDB?
Nunca concebi o PSDB sem o Serra porque acredito nas coisas lógicas e o lógico é estarmos juntos. O Serra é, sim, um nome para ser examinado no momento certo. Pode haver hoje uma posição majoritária em torno do meu nome? E uma possibilidade. Mas não tive e não tenho, independentemente da presidência do partido, interesse em antecipar a decisão de candidatura. Eu tenho que ter hoje a mobilidade necessária para andar pelo País, como presidente do PSDB, construindo essa nova agenda.
* Mas o senhor sai na frente porque o cargo de presidente da sigla, para correr o Brasil, é um só.
Mas sou presidente do partido porque o partido me escolheu e não porque pedi para ser. E estou cumprindo o meu papel, como o Serra cumpriu quando foi também presidente do partido, né? Mas o que há hoje é uma consciência muito clara de que a nossa unidade é o instrumento mais valioso para enfrentarmos o PT. E se nós temos diferenças de pensamento sobre isso ou aquilo, não temos no essencial. Queremos que esse ciclo de governo se encerre porque ele fracassou.
* Qual será o papel de Serra na campanha eleitoral?
Ponto um: o Serra sempre será um nome a ser avaliado pelo PSDB para qualquer cargo, inclusive para a candidatura presidencial, não temos porque antecipar esse jogo. Ponto. Se eventualmente não for o candidato, ele tem, pelo capital político, pelo capital eleitoral e pela formação pessoal, condição de nos ajudar a coordenar essa agenda. Pode ser uma figura exponencial na construção do novo discurso do PSDB, A agenda em curso hoje no Brasil foi a proposta por nós há 20 anos. Não tem agenda nova.
* Ele ajudaria a propor uma agenda nova?
Não só para o próximo governo, mas para os próximos 20 anos, com novas políticas sociais, uma nova relação com o setor privado, não essa canhestra que se faz aí agora.
* O senhor se vê em um palanque pedindo voto para o Serra ou ele pedindo voto para o senhor?
Sempre, até porque já me vi várias vezes e está gravado. Nós fizemos duas campanhas ao lado do Serra em Minas e tenho certeza de que ele fará ao meu lado. Ele fará campanha para o candidato do PSDB, assim como cu farei campanha para o candidato do PSDB. O que nos une é nossa repulsa a tudo isso que está acontecendo.
* Como o quê, por exemplo?
Na construção política, por exemplo, que é hoje um verdadeiro "vale-tudo". É dinheiro público sustentando a base, porque agora coopta-se parlamentares oferecendo emendas, oferecendo dinheiro publico. O gravíssimáfe vergonhoso aparelhamento de programas sociais do governo como o Minha Casa, Minha Vida pelas associações ligadas ao PT que tem que ser denúieiado à Justiça, como o PSDB está fazendo. O PT perdeu o limite do que é público e do que é privado.
* Acha que pode haver usa da máquina pública para tentar eleger como governador de São Paulo o ministro Alexandre Padilha?
Acho que já está se fazendo no Brasil Inclusive a presidente anunciou que "na eleição a gente faz o diabo". E começou já a fazer o diabo. Essa bilionária propaganda querendo vender um País que não é real, como um País que acabou com a pobreza. Eu convido a presidente a descer do "aerodilma", da sua segurança que em cada lugar é mais ostensiva, que impede o contato pessoal com as pessoas, né? Então que ela pegue aí uma motocicleta, se ela gosta mesmo de andar de motocicleta... Eu posso até dar uma carona para ela conhecer o Brasil real O Brasil real está desanimado, desalentado, não recebe investimentos, isso é perceptível e não se consegue mascarar a realidade durante muito tempo. E a campanha é o momento de nós desnudarmos o mau governo do PT.
* E o que o PSDB está fazendo?
Nossa preocupação é consolidar o PSDB como a principal alternativa de oposição, ÍJossa primeira preocupação era manter a unidade do partido. Fizemos um enorme esforço para consolidar essa unidade e ela é expressada hoje com a presença do Serra e do (senador) Alvaro Dias (PSDB-PR). Paralelamente, meu esforço tem sido construir o discurso do PSDB. Reaproximar a legenda de setores dos quais já estivemos próximos e nos distanciamos.
* Quais setores?
Jovens, profissionais liberais, jovens empreendedores e nosso programa foi muito focado nessa construção, resgatando um pouco a ideia de que quem muda o mundo são as pessoas que estudam, que trabalham, que buscam crescer na vida e não através do Estado. Porque é com isso que vamos nos contrapor à visão atrasada e equivocada do governo de que a transferência de renda feita pelo Estado é que vai te permitir ter uma vida melhor. Quando criticamos a política econômica é porque deixamos de gerar empregos de boa qualidade.
* Uma das bandeiras do PT em 2014 será divulgar programas de financiamento estudantil, de capacitação profissional o vice-presidente Michel Temer falou que o governo tem tantas bandeiras que a oposição está sem bandeira.
Eu acho o contrário, O PT se apropriou das bandeiras do PSDB. O PT abdicou do seu projeto conceituai de País para incorporar as bandeiras do PSDB, como a da estabilidade econômica, da Lei de Responsabilidade Fiscal, das políticas de transferência de renda, da concessão de serviços públicos. A agenda que está em curso hoje no Brasil, é a agenda construída pelo PSDB. Nos temos um software pirata no Brasil, porque o original é nosso.
* Não vai ficar repetitivo?
Não, por isso precisamos retomar, porque ele está mal conduzido . Mesmo essas políticas tidas como de alcance social mostraram seu esgotamento. Voltamos a ter crescimento do analfabetismo, porque o PT se contenta com a administração da pobreza. Para nós o essencial é a superação da pobreza. A pobreza tem que ser vista em três dimensões; privação da renda, privação de serviços e a privação de oportunidades. O governo apostou exclusivamente no crescimento pelo consumo e a partir da oferta de crédito farto, que foi importante, mas jamais poderia ter sido a única aposta, Hoje, mais de 60% das famílias estão endividadas e isso era previsível.
Fonte: O Estado de S. Paulo