domingo, 6 de outubro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Roberto Freire: ‘um grande equivoco’

"Hoje, abdicar de uma candidatura no campo da oposição é um grande equívoco. No primeiro turno é importante que se ofereça pluralismo à sociedade.

Mas o PSB só pode ter um candidato e, com a filiação de Marina, perdemos um candidato no campo da oposição. O Eduardo é um grande nome, mas não se pode abrir mão de Marina.

O PPS continua o seu projeto de buscar alternativas para a disputa de 2014. Não sou pessimista. Até porque esse governo (do PT) é tão incompetente que a sociedade dará uma resposta nas urnas. 2014 será o ano da mudança.”

Roberto Freire, deputado federal e presidente nacional do PPS. In O Globo, 6/10/2013

Marina dá apoio a Campos para Presidência, mas não confirma se será vice

Ex-senadora diz que Rede se alia ao PSB para 'sepultar de vez a Velha República’

Paulo Celso Pereira e Luiza Damé

BRASÍLIA — Ao lado do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, Marina Silva e aliados anunciaram, na tarde deste sábado, a filiação de integrantes da Rede Sustentabilidade ao PSB. Marina deixou claro o apoio à candidatura de Campos à Presidência da República, mas não confirmou se vai compor a chapa na condição de vice. Quando perguntada se apoiava o nome do governador, ela respondeu com outra indagação:

— Você tem alguma dúvida em relação a isso? - disse ela, que depois afirmou:

— Não sou uma militante do PSB, sou militante da Rede Sustentabilidade, e a Rede ainda não fez essa discussão de se vai ter vice ou não vai ter vice. O PSB já fez sua discussão e tem um candidato.

Antes de responder a perguntas da imprensa, Marina discursou e agradeceu a oportunidade dada por Campos para a filiação de integrantes da Rede. Ela disse que o seu partido é a primeira legenda clandestina desde a redemocratização. Marina reiterou a tese de que a rejeição do registro de sua legenda não foi uma derrota. E afirmou que a História julgará se o ato será uma vitória ou uma derrota. Marina disse ainda que a aliança entre Rede e PSB vai “sepultar de vez a Velha República”.

— Nós somos o primeiro partido clandestino criado em plena democracia. Quero agradecer ao PSB por ter dado chancela política e moral — disse ela, em evento no Hotel Nacional, em Brasília.

Marina disse ainda que não aguentava mais falar em plano B. E tratou sobre a rejeição do registro do partido:

— A vitória ou a derrota só são medidos na História. Apressa-se quem acha que uma derrota se dá numa canetada. Se não é possível um novo caminho, há que se aprender uma nova maneira de caminhar — discursou, sendo aplaudida em seguida.

Logo depois do discurso de Marina falou Eduardo Campos. Discursando como candidato à Presidência, ele afirmou ser de uma família de perseguido político e disse que a política atual abandonou o povo, num ataque indireto ao governo do PT.

— Os brasileiros querem um Brasil melhor, mais limpo, querem derrotar a velha política. Esse país quer respeito e decência na vida pública. A política abandonou o povo, a vida das pessoas. Falta na política brasileira o sonho de transformar esse país... Nossa inquietação com o que virou a vida pública nos conduziu até aqui — disse ele.

— É um ato de reforma da política brasileira. Momento que nós fizemos o que não deixavam a gente fazer. Esse dia será lembrado daqui a 20, 30, 40 anos. Só quem não pensa de forma convencional poderia enxergar (a união entre Eduardo e Marina).

O governador de Pernambuco tentou relacionar os movimentos de rua de junho à parceria com a Rede e criticou as "velhas lideranças" da política.

— Quem entendeu o que as ruas, em alto e bom som, ou às vezes sem som nenhum mas com muitos cartazes e esperança, disse ao Brasil e ao mundo, não tem nenhuma dificuldade de entender o que ocorre aqui hoje.

Campos lembrou que, a despeito de questionamentos sobre suas atitudes, ofereceu sua assinatura para contribuir para a formação da Rede como um novo partido. Segundo ele, a Rede é "necessária para melhorar a política no Brasil".

— A Rede existe porque existe um pensamento organizado que ela expressa. Existe militância nas redes sociais, nas ruas, nas fábricas, nas escolas, uma sinergia que a Rede representa. A Rede existe no coração do nosso povo, na expressão de seu prestígio. Aqueles que pensavam que o pensamento do tribunal ia matar a Rede viu hoje a Rede se agigantar.

Campos exaltou o discurso da ex-senadora e falou que a aliança entre ambos é contra o embate entre PT e PSDB.

— Nós hoje estamos quebrando uma falsa polarização na política brasileira.

Antes do discurso de Marina, Cássio Martinho, um dos articuladores da Rede, leu uma manifestação conjunta do PSB e de seu grupo político. O texto lança uma "coligação" político-eleitoral programática, ou seja, uma parceria em torno de projetos e princípios, mas não envolvendo cargos.

O texto deixa claro, ainda, que se tratava de um "ato de filiação democrática e transitória". De acordo com o documento, a Rede e o PSB estão unindo forças para apresentar alternativa ao Brasil que supere "os vários vícios e o atraso da política brasileira".

A imagem de Eduardo Campos de braços erguidos com Marina Silva, na criação da "coligação democrática", no ato político de filiação da ex-senadora, vai estrelar o programa nacional do PSB que irá ao ar em cadeia de rádio e TV na próxima quinta-feira. O evento grandioso, preparado de um dia para o outro, está sendo gravado nesse momento para ser incluído no programa semestral do partido.

Estavam presentes no evento Beto Albuquerque, líder do PSB na Câmara, o senador Rodrigo Rollenberg e outros integrantes, como a ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina. Entre aqueles não filiados ao PSB estavam os deputados Miro Teixeira (PROS-RJ) e Reguffe (PDT-DF).

Erundina, uma das pessoas mais festejadas no evento, chegou depois de o ato já ter sido iniciado. Durante o evento, além da adesão de Marina, ingressaram no PSB três de seus apoiadores: os deputados Walter Feldman (SP) e Alfredo Sirkis (RJ), além do articulador Pedro Ivo de Souza.

O quadro sucessório de 2014 sofre uma reviravolta nas últimas horas. Segundo interlocutores de Marina, ela aceitou ser candidata a vice-presidente da República em 2014. A ex-senadora ainda propôs ao PPS de Roberto Freire a formação de uma frente que incluiria seu partido, quando ele vier a ser oficialmente criado, mas Freire rechaçou a proposta.

Fonte: O Globo

Decisão de Marina Silva gera repercussão entre partidos

Vice-presidente da Câmara usou o Twitter para fazer crítica e presidente Dilma não se pronuncia

BRASÍLIA - O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), usou o Twitter para criticar o acerto entre a ex-senadora Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Para Vargas, o acordo - que levará Marina para o PSB de Campos - tem "cheiro de oportunismo”.

"Vamos ver se o eleitorado não percebe o cheiro de oportunismo", disse Vargas. Para o deputado, a união dos dois adversários da presidente Dilma Rousseff teve a "influência da Natura e do Itaú para tentar nos derrotar".

O ex-presidente do PT José Eduardo Dutra também usou a rede social para comentar que a filiação de Marina ao PSB foi uma "grande jogada de Eduardo Campos", mas uma "pixotada da Marina".

Já o senador Cássio Cunha Lima (PB), presidente em exercício do PSDB, celebrou, neste sábado, a ida de Marina Silva para o PSB. Cunha Lima disse que a movimentação reforça as oposições.

- Há uma mudança no cenário, e ela fortalece as oposições. Temos a preocupação em ter projetos alternativos nas oposições, e a Marina contribui para que isso aconteça. Nós do PSDB celebramos esta decisão. Isso contribui para debate democrático de ideias - afirmou.

Enquanto seus potenciais adversários articulavam alianças para 2014, neste sábado, a presidente Dilma Rousseff saudou os 25 anos da Constituição, via Twitter, e contou que acabou de ler o segundo volume da biografia de Getúlio Vargas, de Lira Neto. "Li recentemente o segundo volume do livro "Getúlio", de Lira Neto. É a história do governo do presidente Getúlio Vargas entre 1930-45. O primeiro e o segundo livros sobre Getúlio são muito bons", afirmou a presidente.

Dilma disse que a Constituição dá a direção para onde o país deve seguir. "Um roteiro para um Brasil mais inclusivo, mais democrático e mais desenvolvido", escreveu. Ela citou o deputado Ulysses Guimarães (morto em 1992), que presidiu a Assembleia Nacional Constituinte. Segundo Dilma, Ulysses disse que "esperamos a Constituição como vigia espera aurora". "Cada presidente pós-1988 foi, a seu jeito, o guardião dessa aurora. A aurora de um país sedento por mais cidadania, mais democracia, mais inclusão social", afirmou.

Fonte: O Globo

Para Aécio Neves, objetivo maior é juntar forças para encerrar ‘o ciclo perverso’ do PT

De Nova Iorque, o tucano disse estar "gostando do jogo", apesar de achar que o PSDB tem as melhores propostas

Maria Lima

BRASÍLIA — “Papo reto? Eu e ninguém esperávamos essa reviravolta”. Assim o presidente do PSDB e presidenciável, Aécio Neves(MG), reagiu ao anúncio da criação da chapa Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (Rede). De Nova Iorque, onde participa de um seminário com investidores estrangeiros, Aécio disse estar "gostando do jogo" e que, apesar de achar que o PSDB tem as melhores propostas e melhores palanques, ele tem que torcer para fortalecer a oposição para chegar lá na frente.

— Acho a novidade extremamente positiva. Quem comemorou a derrota da não criação da Rede é que tem que se preocupar. Cada vez mais as oposições colocam como objetivo maior se unir para encerrar o ciclo perverso do PT no Governo. Nós nos aproximamos nesse propósito do antagonismo a esse modelo que está aí — comentou Aécio Neves.

No PSDB, a avaliação é que, com a nova chapa, os quase 20 milhões de votos do capital eleitoral de Marina ficam na oposição, e não vai se dividir, como aconteceu em 2010, no segundo turno das eleições, onde seus votos foram para Dilma Rousseff e José Serra.

— Marina não sair e os votos dela migrarem para Dilma seria o pior dos mundos — disse um tucano do entorno de Aécio.

Na avaliação do próprio Aécio, com essa coligação, os votos ficam "do lado de cá" da oposição.

Outra avaliação é que, frustrado, o presidente do PPS, Roberto Freire, poderá voltar a se aproximar do PSDB, com quem tem coligações em vários estados para a eleição proporcional. Aécio vai procurar Freire assim que retornar ao Brasil. Os tucanos consideram que, num primeiro momento, Eduardo Campos vai faturar com a aliança com Marina, mas a médio prazo, será muito pressionado se não crescer nas pesquisas de intenção de votos e Marina continuar num patamar muito alto. Se isso acontecer, avaliam, as cobranças serão fortes para que Marina, e não ele, seja o candidato a presidente.

Em nota, a presidência do PSDB, que tem Aécio à frente, disse considerar que a decisão da ex-senadora de se manter em condições de participar das eleições de 2014, filiando-se ao PSB, “é importante conquista do Brasil democrático”. “É também uma reposta às ações autoritárias do PT, especialmente aos membros do partido que chegaram a comemorar antecipadamente a exclusão da ex-senadora do quadro eleitoral do próximo ano, com a impossibilidade de criação da Rede”, segue a nota.

O PSDB afirmou, ainda, acreditar que a presença de Marina Silva no pleito “fortalece o campo político das oposições e contribui para o debate de ideias e propostas”.

Fonte: O Globo

Aécio diz que decisão de Marina é 'resposta às ações autoritárias do PT'

Em nota, o presidente do PSDB diz que filiação da ex-senadora ao PSB é importante conquista do Brasil democrático

João Domingos

BRASÍLIA - O senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), que é provável candidato à Presidência em 2014, disse neste sábado, 5, que a decisão de Marina Silva de se filiar ao PSB é uma "resposta às ações autoritárias do PT". "O PSDB acredita que a presença de Marina Silva fortalece o campo político das oposições e contribui para o debate de ideias e propostas, tão necessários para colocar fim a esse ciclo de governo do PT que tanto mal vem fazendo ao País", disse em nota.

Leia a íntegra da nota:

"O PSDB considera que a decisão da ex-senadora Marina Silva de se manter em condições de participar das eleições de 2014, filiando-se ao PSB, é importante conquista do Brasil democrático.

É também uma reposta às ações autoritárias do PT, especialmente aos membros do partido que chegaram a comemorar antecipadamente a exclusão da ex-senadora do quadro eleitoral do próximo ano, com a impossibilidade de criação da Rede.

O PSDB acredita que a presença de Marina Silva fortalece o campo político das oposições e contribui para o debate de ideias e propostas, tão necessários para colocar fim a esse ciclo de governo do PT que tanto mal vem fazendo ao País".

Fonte: O Estado de S. Paulo

PPS não vai apoiar parceria entre Marina e Campos agora

Segundo presidente do partido, Roberto Freire, a união é um “grave equívoco”

BRASÍLIA - Depois de ter sido preterido por José Serra e Marina Silva na oferta para que se candidatassem à presidência em 2014, o PPS decidiu não apoiar neste momento a união entre Marina e Eduardo Campos, embora o partido também articulasse um provável apoio futuro ao candidato do PSB. Mais à frente, porém, o presidente do PPS, Roberto Freire, não descartou um apoio à dupla de oposição a Dilma Rousseff na presidência.

Segundo Freire, é um "grave equívoco" a união entre Marina e Campos neste momento porque reduz o número de candidatos fortes à eleição do próximo ano, o que contribuiria a uma disputa decidida apenas em segundo turno. Freire lembrou que esta será a segunda perda de candidato forte à eleição do ano que vem para a oposição, depois da decisão de Serra de permanecer no PSDB.

- Se Marina desistir e se associar a Eduardo e isso resultar na abdicação de uma candidatura, eu considero isso um grave equívoco neste momento - disse Roberto Freire, presidente do PPS, ontem, pouco antes da entrevista coletiva de Marina

A cúpula do PPS se reuniu ontem pela manhã em Brasília com apoiadores de Marina e com ela própria, onde foi informado da negociação com Campos. Os parlamentares do PPS argumentaram que uma associação futura poderia ser mais interessante para ambos e tentaram sensibilizá-la, mas saíram desiludidos do encontro.

- Dissemos que não era boa a união neste momento (a associação) porque diminuiria o número de opções para a cidadania, o que seria ruim para as oposições.

Freire não descartou o eventual apoio à provável parceria entre Campos e Marina mais à frente e, portanto, evitou comentar o impacto da união no eleitorado, mas disse que a união entre Marina e Campos foi um "revés" para a oposição. Para aumentar o número de candidatos de oposição em 2014, o presidente do PPS ainda avalia a hipótese de o partido ter uma nova candidatura própria.

- Precisamos ter outras vozes, é importante o pluralismo no primeio turno. Uma candidatura a menos agora é ruim para a oposição, e não é uma candidatura qualquer - disse Freire, referindo-se à candidatura de Marina.

Fonte: O Globo

Marina acerta ida para o PSB e admite ser vice de Campos

Socialistas vão dar "abrigo" e não questionarão mandato na hora da saída, diz coordenador da Rede.

O PSB anunciou ontem a filiação da ex-senadora Marina Silva ao partido. O acordo prevê que ela a Eduardo Campos continuem pré-candidatos à Presidência, mas o coordenador executivo da Rede, Bazileu Margarido, disse que Marina se disporia a disputar as eleições como vice de Campos. O PSB seria um abrigo transitório para os militantes da Rede Sustentabilidade ate que o partido consiga seu registro no TSE. A reunião que selou o acordo foi realizada em Brasília e avançou até a madrugada de ontem. "Fica claro para a sociedade que eles formam juntos uma terceira via eleitoral", disse o presidente do PSB mineiro, deputado Júlio Delgado.

Marina vai para o PSB e deverá ser vice de Campos na disputa pela Presidência

Sucessão 2014. Decisão de ex-ministra do Meio Ambiente, que teve partido rejeitado pelo Tribunal Superior Eleitoral, é tomada a poucas horas do fim do prazo para filiação partidária; legenda de governador de Pernambuco será "abrido transitório" de marineiros

João Domingos, Eduardo Bresciani e Ricardo Della Coletta

BRASÍLIA - O PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, anunciou ontem a filiação da ex-senadora Marina Silva. O acordo prevê que ambos continuem a ser pré-candidatos à Presidência, mas a tendência é que Marina seja vice do novo aliado na disputa presidencial do ano que vem.

Juntos, serão a terceira via das eleições de 2014, tendo pela frente a presidente Dilma Rousseff, que tentará a reeleição, e o senador tucano Aécio Neves.

O encontro entre Campos e Marina para selar a aliança ocorreu em Brasília e avançou pela madrugada de sábado. O governador, que preside nacionalmente o PSB, já tinha mandado emissários para avisar a ex-ministra do Meio Ambiente da disposição de buscar um acordo.

Na quinta-feira, Marina teve sua Rede rejeitada pelo Tribunal Superior Eleitoral - ela não conseguiu o número mínimo de assinaturas para criar a sigla. A ex-ministra teve de correr para arrumar um partido - o prazo de filiação para quem quer concorrer a cargo eletivo no ano que vem terminou ontem.

Segundo quem acompanhou a negociação, pessoas da classe artística contribuíram para o entendimento. Um dos que se envolveu foi o cineasta e diretor de televisão Guel Arraes, tio de Campos e filho de Miguel Arraes, fundador do PSB, já falecido. O senador Pedro Simon (PMDB-RS), próximo de Marina, foi outro que ajudou.

Os termos acordados pre-veem um "abrigo transitório" no PSB para as pessoas envolvidas no processo de criação da Rede. Desta forma, a aliança seria tratada como se fosse com outro partido. "Vamos tratar como uma coligação e respeitar a pré-candidatura dela", disse ontem o presidente do PSB mineiro, deputado Júlio Delgado. "Fica claro para a sociedade que Eduardo Gampos e Marina Silva formam juntos uma terceira via no processo eleitoral."

Formalmente, Marina e Campos continuarão dizendo que são pré-candidatos, mas o plano da chapa já é admitido. "Ela se disporia a service do Eduardo Campos, porque reconhece a candidatura dele, mas essa discussão será no momento futuro e não há ansiedade nisso", disse Bazileu Margarido, coordenador executivo da Rede.

Bazileu afirma que apesar dos convites de vários partidos, a escolha pelo PSB deveu-se a uma "maior identidade programática e nos Estados" com a Rede. "Foram definidas algumas questões importantes, o reconhecimento da Rede como um partido de fato, em função do reconhecimento o PSB estará abrindo a possibilidade de filiações democráticas e transitórias para os integrantes da Rede que quiserem se candidatar."

Dirigentes do PSB observam que alguns ajustes regionais terão de ser feitos para abrigar todos os integrantes da Rede, mas descrevem como "problema menor" ter de solucionar as pendências, diante do ganho da legenda em ter Marina nos seus quadros.

Na entrevista concedida na sexta-feira, Marina já tinha afirmado ser um de seus objetivos evitar uma polarização entre quem é "situação por situação e oposição por oposição".

Tido como uma das opções para abrigar Marina, o PPS é agora procurado para apoiar a aliança. A ex-senadora reuniu-se com dirigentes da legenda no início da manhã de ontem. O presidente do PPS, Roberto Freire (SP), porém, não gostou da atitude de Marina e afirmou a ela que a união de Campos seria um "desastre". Marina, porém, argumentou na conversa que sua atitude dá uma resposta ao Palácio do Planalto para a acusação de que desejava ser candidata a qualquer custo.

Colaborou Andreza Matais

Fonte: O Estado de S. Paulo

Marina e Campos se unem para sucessão presidencial

Ex-senadora se filia ao PSB do governador sem definir lugar na chapa para 2014

Segunda colocada nas pesquisas admite possibilidade de ser vice, mas não descarta concorrer à Presidência

Natuza Nery, Ranier Bragon, Dimmi Amora e Fábio Zambeli

BRASÍLIA e SÃO PAULO - No lance mais surpreendente até agora da corrida ao Palácio do Planalto, a ex-senadora Marina Silva decidiu ontem se filiar ao PSB e se unir ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para a disputa presidencial.

Aliados de ambos disseram que ela admite a possibilidade de ser vice de uma chapa liderada por Campos em 2014, mas os dois deixaram em aberto seu futuro político ao justificar o acordo ontem.

Questionada se estava desistindo de se candidatar à Presidência da República agora, Marina afirmou que sua presença ao lado de Campos "dizia tudo" e evitou responder à pergunta diretamente.

Campos, que se movimenta como candidato desde o ano passado mas até agora não declarou sua candidatura publicamente, voltou a repetir ontem que só definirá o que vai fazer no ano que vem.

Marina indicou várias vezes que poderá abrir mão de suas ambições presidenciais para apoiar Campos, mas o tom cauteloso de seu pronunciamento sugere que ela pode insistir nelas se o cenário for favorável mais à frente.

No discurso em que anunciou a filiação ao PSB, Marina disse que chega para "adensar uma candidatura que já está posta". Questionada depois se apoiará Campos, ela respondeu: "Você tem alguma dúvida disso?"

Na mais recente pesquisa do Datafolha, concluída em agosto, Marina aparece em segundo lugar, com 26% das intenções de voto. Campos tem 8% e está em quarto, depois do senador mineiro Aécio Neves (PSDB), que tem 13%.

A união de Marina com Campos cria uma força política que poderá se apresentar nas próximas eleições como alternativa à polarização entre o PT da presidente Dilma Rousseff e o PSDB de Aécio.

Em seus discursos ontem, Marina e Campos pregaram a necessidade de "sepultar a velha política" e fizeram menções às manifestações que sacudiram o país em junho.

Marina entrou no PSB porque seu projeto de organizar um novo partido, a Rede Sustentabilidade, foi barrado pela Justiça Eleitoral, que considerou insuficientes as assinaturas de apoio apresentadas.

"Somos o primeiro partido clandestino criado em plena democracia", discursou Marina ontem. Ao mencionar as opções que teria discutido com os aliados, ela disse que rejeitou ideias como entrar num "partido de aluguel" ou abandonar a disputa eleitoral para se tornar uma "Madre Teresa de Calcutá da política".

"Marina, se resigne e vá ser a candidata da internet", disse Marina, reproduzindo um dos conselhos que afirma ter ouvido. "Todo mundo ia me curtir' e um bando de gente ia me cutucar', mas isso não mudaria em nada a história."

Familiares e voluntários que ajudaram a organizar a Rede pressionaram Marina para que se mantivesse sem partido para não se afastar do compromisso público assumido pela Rede com a ideia de renovação da política.

A união de Marina e Campos foi acertada num encontro que eles tiveram na noite de sexta-feira. Na conversa, a ex-senadora indagou se o governador, como ela um ex-aliado do PT, pretende levar sua candidatura até o fim. "Não tem volta", disse Campos, segundo a Folha apurou.

Pelo acerto entre eles, a Rede continuará atuando como grupo independente, apesar de não existir oficialmente. "Não sou uma militante do PSB, sou uma militante da Rede", disse Marina, que tratou como "filiação simbólica" seu ingresso no PSB.

Campos fez uma referência velada às pressões que sofre do PT para não se candidatar em 2014. "Aqueles que esperavam nos colocar fora do processo, e reduzir a participação da sociedade, hoje estão refazendo suas contas", disse.

Fonte: Folha de S. Paulo

Marina diz que foi vítima de 'chavismo'

Em reunião antes de se filiar ao PSB, ex-senadora acusou PT de táticas semelhantes à do líder venezuelano

Chamada de "plano C", aliança com Campos foi articulada pelo deputado paulista Márcio França (PSB)

Ranier Bragon, Natuza Nery e Dimmi Amora

BRASÍLIA - Na longa reunião em que comunicou a seus aliados a disposição de ingressar no PSB, Marina Silva centrou críticas no PT e no governo, dizendo haver risco de instalação no país do estilo político do presidente venezuelano Hugo Chávez, morto em março, acusado por seus críticos de perseguição contra a oposição e a imprensa.

No encontro ocorrido em sua casa, e que só terminou por volta das 5h de ontem, Marina disse que sua Rede Sustentabilidade foi vítima de "chavismo", pela tentativa de aprovação no Congresso de projeto que sufocava as novas legendas e pelo alto índice de rejeição de assinaturas de apoio ao partido em cartórios como o do ABC Paulista, reduto do PT.

"O aparelhamento do Estado e das instituições pelo PT é insuportável. O caso da Venezuela é um populismo autoritário com inspiração militarista, aqui esse fenômeno é mais sofisticado", disse o vereador paulistano Ricardo Young (PPS), um dos presentes à reunião.

Questionada em coletiva de imprensa sobre o uso da expressão, Marina afirmou que "houve um esforço para inviabilizar" o seu partido.

"Há, no país, uma tentativa, de forma casuística, de eliminar uma força política que legitimamente tem o direito de se constituir como um partido político. Vejo um risco de aviltamento da nossa democracia".

No encontro com os aliados, Marina disse ainda que o PT comemorava ter "abatido ainda na pista" o "avião" da Rede. Essa reunião foi realizada logo após o encontro em que ela selou o acordo com o governador Eduardo Campos (PSB-PE).

Plano C

"Você inventou isso. Agora, venha para cá urgentemente cuidar disso", avisou, entre tenso e feliz, Campos ao deputado federal Márcio França (PSB-SP) na madrugada da última sexta-feira.

O paulista foi o idealizador da articulação que culminou na filiação de Marina.

França travou as negociações com o deputado Walter Feldman, que deixou o PSDB e ontem também se filiou ao PSB, e que é um dos principais operadores de Marina.

"Acreditávamos que a candidatura do Eduardo só aconteceria mais para frente, e seria necessário sangue frio para esperar. Com a filiação, vai se antecipar muito e ele só ganha com isso", disse França.

Marina apresentou outra versão para a gênese do acordo, dizendo que ela teve a ideia de procurar Campos na reunião com os aliados logo após a sessão do Tribunal Superior Eleitoral que rejeitou a criação da Rede, na quinta.

Segundo ela, como todos falavam em plano A (a criação da Rede) e em plano B (sair candidata a presidente por outro partido), ela começou a bolar o "plano C" --"plano Eduardo Campos".

"Ninguém teria coragem de propor a uma candidata com 26% das intenções de voto que ela desistisse de sua candidatura à Presidência para apoiar um outro candidato. Essa é uma iniciativa que só ela teria a capacidade de colocar na mesa", afirmou o deputado Alfredo Sirkis (RJ), que também ingressou no PSB.

Fonte: Folha de S. Paulo

Dilma apostava em candidatura por outro partido

João Domingos e Vera Rosa

A ida da ex-ministra Marina Silva para o PSB de Eduardo Campos surpreendeu a presidente Dilma Rousseff, a ponto de levá-la a ficar atenta ao noticiário para saber se era aquilo mesmo que estava acontecendo. A presidente e seus principais assessores na pré-campanha trabalhavam com a certeza de que a ex-ministra se abrigaria em um partido, viabilizando a candidatura. A principal aposta da presidente para o futuro de Marina, no entanto, era o PPS.

Por enquanto, ainda de acordo com informação de auxiliares da presidente, Dilma vai aguardar por novas informações da aliança entre o PSB e Marina Silva. Dependendo da reação do eleitorado nas futuras pesquisas de intenção de voto, a presidente poderá mudar ainda mais a sua imagem e adotar uma feição mais popular, Por causa da quedas nas pesquisas, em junho, Dilma decidiu investir nas entrevistas a rádios regionais e nos roteiros de inauguração de obras.

A um ano das eleições, a ideia é fazer uma ou duas viagens por semana para "bater bumbo" sobre programas do governo, principalmente aqueles voltados para os mais carentes.

A estratégia de comunicação para a campanha de 2014 foi avaliada por Dilma em jantar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 30 de setembro, no Palácio da Alvorada. Na ocasião, os dois analisaram cenários de disputa e o potencial de crescimento de Marina nas camadas populares e nas redes sociais.

Pesquisas qualitativas, que servem de termômetro para medir o humor dos eleitores, mostraram ao governo que a ex-ministra começou a ser apontada como "mulher do povo", "humilde" e "gente como a gente". Além disso, ela fez das redes sociais o seu maior ativo, ganhando também adesões na classe média alta.

Diante da briga midiática, Dilma decidiu reabrir, no dia 27, sua conta na rede Twitter, desativada desde o fim da campanha de 2010. A ofensiva digital foi considerada um sucesso por Lula.

Na prática, o Palácio do Planalto só passou a dar importância a Marina em junho, quando pipocaram os protestos pelo País e ela encostou em Dilma. Até então, petistas diziam que as intenções de voto na ex-senadora, que foi ministra do Meio Ambiente na gestão Lula, eram "recall" da eleição de 2010, quando obteve quase 20 milhões de votos.

O desafio é retocar a imagem de gerente, desgastada pelos percalços na economia, e combiná-la com uma fisionomia mais popular, como a que vai ar amanhã no Programa do Ratinho, do SBT. "Vou mandar um fogão para a senhora, hein?", brincou o apresentador na gravação da entrevista, na quinta-feira, quando lembrou que ela disse ter dons culinários não exercidos por falta de fogão no Alvorada.
Foi Lula quem aconselhou Dilma a aparecer em programas de TV destinados às classes D e E e também a investir com mais força nas entrevistas às rádios regionais. A essas emissoras ela vende o "peixe" do governo e geralmente não é questionada sobre denúncias ou escândalos. De quebra, consegue passar o recado para o eleitor menos interessado no jogo político e que pode se impressionar com a "sonhática" Marina.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PPS ataca aliança

Daniela Garcia

Com o partido rejeitado pela ex-senadora Marina Silva, o presidente do PPS, Roberto Freire, afirmou ontem que a filiação dela ao PSB, encabeçada pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, "é um grande equívoco". Até o fim da manhã de ontem, Freire tentou convencê-la a ser candidata às eleições presidenciais de 2014 pelo PPS, mas foi vencido diante da musculatura do partido de Campos, que conta com mais tempo de propaganda na tevê e maior volume de recursos do fundo partidário.

Com o ingresso de Marina no PSB, o presidente do PPS avalia que haverá um enfraquecimento da oposição frente à campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, o cenário político seria mais diverso se Eduardo Campos e a ex-senadora entrassem na disputa pelo Palácio do Planalto em legendas diferentes. "Hoje, abdicar de uma candidatura no campo da oposição é um grande equívoco. No primeiro turno é importante que se ofereça pluralismo à sociedade", defendeu.

Marina confirmou, na tarde de ontem, que deve ser candidata à vice-Presidência na chapa de Campos. Para Roberto Freire, a "dobradinha" representa uma perda na disputa eleitoral. "Mas o PSB só pode ter um candidato e, com a filiação de Marina, perdemos um candidato no campo da oposição. O Eduardo é um grande nome, mas não se pode abrir mão de Marina", afirmou. Na corrida pelo Planalto em 2010 , a ex-senadora conseguiu cerca de 20 milhões de votos. Nas últimas pesquisas eleitorais, Marina foi apontada como segunda colocada atrás de Dilma Rousseff.

Antes mesmo do fracasso da criação da Rede Sustentabilidade, legenda idealizada pela Marina, o PPS já havia oferecido a vaga a Marina. "O convite não foi para atender os interesses do PPS ou de Marina. Foi pela sociedade brasileira, e Marina é uma alternativa para a cidadania", argumentou Freire. O presidente do PPS deixou claro também que irá respeitar a decisão da ex-senadora, mas avaliou que, do ponto de vista estratégico, era melhor ter vários candidatos de oposição. Lembrou, inclusive, que foi por esse motivo que o partido tentou convencer o tucano José Serra a se lançar.

Com a filiação da ex-senadora ao PSB, Freire adiantou que o PPS não vai fechar nenhuma aliança em apoio ao projeto de Marina e Eduardo Campos. "O PPS continua o seu projeto de buscar alternativas para a disputa de 2014. Não sou pessimista. Até porque esse governo (do PT) é tão incompetente que a sociedade dará uma resposta nas urnas. 2014 será o ano da mudança", disse.

"Com a filiação de Marina, perdemos um candidato no campo da oposição. O Eduardo é um grande nome, mas não se pode abrir mão de Marina"
Roberto Freire, presidente do PPS

Fonte: Correio Braziliense

Aliança entre Marina e Campos surpreende governo e oposição

Aécio diz que ex-senadora fora das eleições seria 'o pior cenário'

BRASÍLIA, SÃO PAULO - O senador Aécio Neves (PSDB-MG), virtual candidato ao Palácio do Planalto em 2014, afirmou ontem que a filiação da ex-senadora Marina Silva ao PSB "fortalece o campo oposicionista" contra a candidatura da presidente Dilma Rousseff.

De Nova York, onde participa de uma rodada de palestras a investidores, o senador disse à Folha que "o pior cenário para nós seria Marina sem condições de participar do jogo eleitoral".

A filiação da ex-senadora ao PSB surpreendeu o mineiro e reanimou tucanos que ainda defendem o nome de José Serra para a disputa presidencial em 2014.

Interlocutores disseram que o ex-governador paulista ficou bastante feliz com a decisão da ex-senadora.

Segundo serristas, o PSDB deve fazer pesquisas qualitativas e reavaliar o cenário eleitoral, abrindo espaço para questionar a candidatura do mineiro, hoje com apoio da maioria do partido.

Em nota assinada por Aécio, presidente nacional da sigla, o PSDB afirmou que a decisão de Marina é "também uma resposta às ações autoritárias do PT, especialmente aos membros do partido que chegaram a comemorar antecipadamente sua exclusão" da disputa em 2014.

A presença de Marina, diz o texto, fortalece a oposição e o debate necessários "para colocar fim a esse ciclo de governo do PT que tanto mal vem fazendo ao País".

A decisão de Marina também surpreendeu o Palácio do Planalto. Interlocutores do governo, que esperavam a filiação da ex-senadora ao PPS, classificaram sua aliança com Campos como "um belo golpe de mestre".

No curto prazo, assessores da presidente esperam que o mais prejudicado seja Aécio. A equipe presidencial diz, porém, que é preciso trabalhar com outro quadro, de a aliança potencializar o lado negativo de Marina e Campos, o que beneficiaria o tucano.

Equívoco

Para o deputado Roberto Freire (SP), presidente nacional do PPS, a decisão foi um "equívoco". Seu partido foi um dos oito que ofereceram abrigo a Marina após o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) negar o registro para a Rede.

Segundo o deputado, "o PSB só pode ter um candidato e, com a filiação de Marina, perdemos um candidato no campo da oposição".

Antes do anúncio formal da filiação da ex-senadora, integrantes da Rede ofereceram ao PPS espaço na coligação política criada com o PSB.

O PPS, porém, nutriu até o último momento esperanças de fechar com Marina e oficializá-la como a candidata da legenda à Presidência.

No final da manhã, porém, a ex-senadora se reuniu com a direção do partido para comunicar sua decisão em prol do PSB, frustrando boa parte dos integrantes do PPS.

"É natural que haja frustração num primeiro momento, mas eles [direção do PPS] vão entender que isso é exatamente o que eles defendem", disse o vereador paulistano Ricardo Young, um dos principais aliados de Marina Silva dentro do PPS.

Fonte: Folha de S. Paulo

Entrevista: Aécio Neves, presidente do PSDB e provável candidato à Presidência em 2014

"Nem eu nem Serra anteciparemos o jogo"

Senador mineiro afirma que conciliação com ex-governador é o "instrumento mais valioso" para enfrentar o PT

Débora Bergamasco

BRASÍLIA - O senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, reconhece ter apoio majoritário de sua legenda para enfrentar nas urnas a presidente Dilma Roussef e planeja para o ex-governador José Serra a função de ajudar a coordenar o programa de governo tucano e de pensar uo novo discurso do PSDB.

Mas repete, várias vezes, que Serra ainda pode ser o escolhido para representar os tucanos na disputa de 2014. O discurso faz parte do acordo que levou meses para ser costurado e que garantiu a permanência do ex-governador no partido. A conciliação entre Aé cio e Serra foi negociada em nome da batalha contra o PT.

* Como o senhor e o ex-governador avaliaram a repercussão da permanência dele no PSDB?

Nunca concebi o PSDB sem o Serra porque acredito nas coisas lógicas e o lógico é estarmos juntos. O Serra é, sim, um nome para ser examinado no momento certo. Pode haver hoje uma posição majoritária em torno do meu nome? E uma possibilidade. Mas não tive e não tenho, independentemente da presidência do partido, interesse em antecipar a decisão de candidatura. Eu tenho que ter hoje a mobilidade necessária para andar pelo País, como presidente do PSDB, construindo essa nova agenda.

* Mas o senhor sai na frente porque o cargo de presidente da sigla, para correr o Brasil, é um só.

Mas sou presidente do partido porque o partido me escolheu e não porque pedi para ser. E estou cumprindo o meu papel, como o Serra cumpriu quando foi também presidente do partido, né? Mas o que há hoje é uma consciência muito clara de que a nossa unidade é o instrumento mais valioso para enfrentarmos o PT. E se nós temos diferenças de pensamento sobre isso ou aquilo, não temos no essencial. Queremos que esse ciclo de governo se encerre porque ele fracassou.

* Qual será o papel de Serra na campanha eleitoral?

Ponto um: o Serra sempre será um nome a ser avaliado pelo PSDB para qualquer cargo, inclusive para a candidatura presidencial, não temos porque antecipar esse jogo. Ponto. Se eventualmente não for o candidato, ele tem, pelo capital político, pelo capital eleitoral e pela formação pessoal, condição de nos ajudar a coordenar essa agenda. Pode ser uma figura exponencial na construção do novo discurso do PSDB, A agenda em curso hoje no Brasil foi a proposta por nós há 20 anos. Não tem agenda nova.

* Ele ajudaria a propor uma agenda nova?

Não só para o próximo governo, mas para os próximos 20 anos, com novas políticas sociais, uma nova relação com o setor privado, não essa canhestra que se faz aí agora.

* O senhor se vê em um palanque pedindo voto para o Serra ou ele pedindo voto para o senhor?

Sempre, até porque já me vi várias vezes e está gravado. Nós fizemos duas campanhas ao lado do Serra em Minas e tenho certeza de que ele fará ao meu lado. Ele fará campanha para o candidato do PSDB, assim como cu farei campanha para o candidato do PSDB. O que nos une é nossa repulsa a tudo isso que está acontecendo.

* Como o quê, por exemplo?

Na construção política, por exemplo, que é hoje um verdadeiro "vale-tudo". É dinheiro público sustentando a base, porque agora coopta-se parlamentares oferecendo emendas, oferecendo dinheiro publico. O gravíssimáfe vergonhoso aparelhamento de programas sociais do governo como o Minha Casa, Minha Vida pelas associações ligadas ao PT que tem que ser denúieiado à Justiça, como o PSDB está fazendo. O PT perdeu o limite do que é público e do que é privado.

* Acha que pode haver usa da máquina pública para tentar eleger como governador de São Paulo o ministro Alexandre Padilha?

Acho que já está se fazendo no Brasil Inclusive a presidente anunciou que "na eleição a gente faz o diabo". E começou já a fazer o diabo. Essa bilionária propaganda querendo vender um País que não é real, como um País que acabou com a pobreza. Eu convido a presidente a descer do "aerodilma", da sua segurança que em cada lugar é mais ostensiva, que impede o contato pessoal com as pessoas, né? Então que ela pegue aí uma motocicleta, se ela gosta mesmo de andar de motocicleta... Eu posso até dar uma carona para ela conhecer o Brasil real O Brasil real está desanimado, desalentado, não recebe investimentos, isso é perceptível e não se consegue mascarar a realidade durante muito tempo. E a campanha é o momento de nós desnudarmos o mau governo do PT.

* E o que o PSDB está fazendo?

Nossa preocupação é consolidar o PSDB como a principal alternativa de oposição, ÍJossa primeira preocupação era manter a unidade do partido. Fizemos um enorme esforço para consolidar essa unidade e ela é expressada hoje com a presença do Serra e do (senador) Alvaro Dias (PSDB-PR). Paralelamente, meu esforço tem sido construir o discurso do PSDB. Reaproximar a legenda de setores dos quais já estivemos próximos e nos distanciamos.

* Quais setores?

Jovens, profissionais liberais, jovens empreendedores e nosso programa foi muito focado nessa construção, resgatando um pouco a ideia de que quem muda o mundo são as pessoas que estudam, que trabalham, que buscam crescer na vida e não através do Estado. Porque é com isso que vamos nos contrapor à visão atrasada e equivocada do governo de que a transferência de renda feita pelo Estado é que vai te permitir ter uma vida melhor. Quando criticamos a política econômica é porque deixamos de gerar empregos de boa qualidade.

* Uma das bandeiras do PT em 2014 será divulgar programas de financiamento estudantil, de capacitação profissional o vice-presidente Michel Temer falou que o governo tem tantas bandeiras que a oposição está sem bandeira.

Eu acho o contrário, O PT se apropriou das bandeiras do PSDB. O PT abdicou do seu projeto conceituai de País para incorporar as bandeiras do PSDB, como a da estabilidade econômica, da Lei de Responsabilidade Fiscal, das políticas de transferência de renda, da concessão de serviços públicos. A agenda que está em curso hoje no Brasil, é a agenda construída pelo PSDB. Nos temos um software pirata no Brasil, porque o original é nosso.

* Não vai ficar repetitivo?

Não, por isso precisamos retomar, porque ele está mal conduzido . Mesmo essas políticas tidas como de alcance social mostraram seu esgotamento. Voltamos a ter crescimento do analfabetismo, porque o PT se contenta com a administração da pobreza. Para nós o essencial é a superação da pobreza. A pobreza tem que ser vista em três dimensões; privação da renda, privação de serviços e a privação de oportunidades. O governo apostou exclusivamente no crescimento pelo consumo e a partir da oferta de crédito farto, que foi importante, mas jamais poderia ter sido a única aposta, Hoje, mais de 60% das famílias estão endividadas e isso era previsível.

Fonte: O Estado de S. Paulo

A responsabilidade do STF - Fernando Henrique Cardoso*

Há casos nos quais só o exemplo protege a sociedade da repetição do crime
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A última decisão da Corte agrava a atmosfera de descrédito com as instituições Só quando instado por jornalistas, opinei sobre o processo chamado "mensalão". E não entrei na seara que é própria dos juizes: que réus deveriam ser absolvidos ou condenados e, neste caso, a quantos anos. Pessoalmente não me movem impulsos punitivos e muito menos vingativos. A maioria dos réus não cruzou comigo na vida pública; em geral seus modos de agir e pontos de vista políticos não coincidem com os meus. Mantive, é certo, um relacionamento cordial com os que tiveram mandato parlamentar. Embora entendendo as reações de indignação dos que pedem punição rápida, achei que não deveria entrar neste coro. É óbvio que existe nas ruas um sentimento de dúvida, quando não de revolta, com os resultados ainda incertos do julgamento. Afinal, para a maioria dos brasileiros, trata-se de uma das poucas vezes em que habitantes do "andar de cima" como se os qualificam no falar atual, estão no pelourinho.

Agora, quando boa parte das águas já rolou, dá para comentar de modo menos emotivo o que aconteceu na fase quase final do julgamento e seus possíveis desdobramentos. Não cabem dúvidas de que a sensação de impunidade que a maioria das pessoas sente decorre menos das decisões do que da demora no término do processo. Há várias explicações para tal demora: a complexidade do julgamento com pessoas de tão alta responsabilidade política; o STF não estar habituado e talvez nem preparado para atuar como instância penal originária; os Códigos de Processo que abrem espaço a um sem-número de recursos, etc. Para o povo, nada disso é compreensível ou justificável. Por que demorar tanto?

Na primeira fase, a competência do ministro relator, ao encadear as fases, e os grupos de implicados, em um enredo de lógica compreensível, e a minúcia com que os juizes debateram o caso mostraram com clareza que houve desvio de dinheiro público e privado, não apenas para cobrir gastos de campanha, como afirmou o presidente Lula, mas também para obter a lealdade de partidos e congressistas mediante recebimento de dinheiro.

A dosimetria, no dizer juridiquês, a atribuição de penas específicas aos culpados, escapou à atenção do povo. O ponto culminante na primeira fase do julgamento foi determinar quem foram os mandantes. Independentemente da doutrina do domínio do fato, ou seja, quem, sabedor dos atos ilícitos, podia mandar seguir adiante ou interrompê-los, formou-se na opinião pública a convicção de que os mais notórios personagens, por menos rastros que tivessem deixado, foram, sim, responsáveis.

Mesmo sem conhecimento jurídico, a maioria das pessoas formou um juízo condenatório. As decisões dos juizes comprovaram — em geral por 9 x 2, 8 x 3 ou, mais raramente, 7x4, quando não por unanimidade —- o veredicto popular: culpados. A opinião pública passou a clamar por castigo. A decisão de postergar ainda mais a conclusão do processo, graças à aceitação dos "embargos infringentes" recurso de que só os doutos lembravam e sabiam dizer no que consistia, caiu como ducha de água fria. Por mais que o voto do ministro Celso de Mello tenha sido juridicamente bem fundamentado, ressaltando que o fim dos embargos infringentes no STF foi recusado pela Câmara dos Deputados quando do exame do projeto de lei que suprimiu esses embargos nos demais tribunais, ficou cristalizada na opinião pública a percepção de que se abriu uma chance para diminuir as penas impostas.

Tal abrandamento implicará mudança de regime prisional apenas a membros do "núcleo político" Se essa hipótese vier a se confirmar, estará consagrada a percepção de que "os de cima" são imunes e só os "de baixo" vão para a cadeia. O que às pessoas mais afeitas às garantias dos direitos individuais e menos movidas por sentimentos de vingança pode parecer razoável, à maioria da população parece simplesmente manobra para que o julgamento seja postergado, nunca termine, e o crime continue sem castigo. Tanto mais que metade do Supremo encontrou argumentos para negar a vigência dos embargos infringentes naquela Corte.

É fato notório, ademais, que todo o edifício jurídico-constitucional se constrói sobre realidades políticas. A indicação de dois novos membros do STF pelo governo, depois de tantos rumores de conversas com candidatos para comprometê-los com um comporta-mento brando no julgamento do mensalão, e a infausta tentativa do presidente Lula de pedir a um ministro para não votar logo o processo exemplificam a contaminação da pureza jurídica pelas pressões políticas. O último voto sobre os embargos infringentes — sem que esta fosse a intenção do ministro que o proferiu — deu a sensação de que haverá um abrandamento das penas. Sensação que se reforça quando os juízes recém-nomeados dizem que, havendo novo julgamento, poderiam opinar de modo contrário ao da maioria anterior.

Reitero: pessoalmente não me apraz ver pessoas na cadeia. Mas isso vale para todos, não só para os políticos ou para os do "andar de cima". E há casos nos quais só o exemplo protege a sociedade da repetição do crime. A última decisão do tribunal agrava a atmosfera de descrédito e desânimo com as instituições. Em uma sociedade já tão descrente de seus líderes, com um sistema político composto por mais de 30 partidos, em um ambiente corroído pela corrupção, com um governo com 40 ministérios, uma burocracia cada vez mais lenta e penetrada por interesses partidários, não teria sido melhor evitar mais uma postergação reforçando a descrença na Justiça?

Ao acolher os embargos infringentes, o STF assumiu responsabilidade redobrada. Ao julgá-los, sem se eximir de ser criterioso, o tribunal deverá cuidar para decidir com rapidez e evitar a percepção popular de que tudo não passou de um artificio para livrar os poderosos da cadeia. 

*Sociólogo, foi presidente da República

Fonte: O Estado de S. Paulo

Coligação democrática - Merval Pereira

O acordo a ser firmado entre o PSB, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva, tem um objetivo claro: oferecer aos eleitores, com o que chamam de "coligação democrática" uma opção ao que Marina definiu como "oposição pela oposição e situação pela situação" que é nada mais que a polarização entre PT e PSDB que prevalece nas eleições presidenciais desde 1994.

Como ao ficar no PSDB, desistindo do sonho de disputar mais uma eleição presidencial, o ex-governador José Serra disse que seu objetivo era ajudar a derrotar o PT, temos uma corrida presidencial em que o partido do govemo estará desafiado tanto pela "oposição à esquerda" de dentro da base governista, quanto pela oposição oficial.

Os analistas políticos do governo sempre consideraram que a oposição mais perigosa era a de dentro da base governista, o que confere à nova "coligação democrática" um caráter de principal obstáculo à reeleição da presidente Dilma.

O clima do acordo entre Marina e Eduardo Campos é de rejeição à maneira de fazer política do PT. A ex-senadora saiu do embate pela formação do seu partido, Rede, com o ânimo de denunciar as manobras governamentais para barrar sua pretensão no TSE, e esse estado de espírito coincide com o de Eduardo Campos, que acusa o PT de ter tentado com golpes baixos tirá-lo da corrida presidencial.

O governador de Pernambuco viajou para Brasília na manhã de ontem, em companhia do vice-presidente do partido, ex-ministro Roberto Amaral, para um encontro com a ex-senadora Marina Silva para fechar o acordo político, destinado a ter grande impacto na corrida presidencial. O PSB assinará um protocolo de intenções com a Rede Sustentabilidade para a formação do que chamam de "coligação democrática" reconhecendo a existência política da Rede e dará legenda a Marina e a todos os membros da Executiva Nacional do futuro partido.

Na noite de sexta-feira, Marina e Eduardo Campos conversaram por telefone e acertaram os detalhes desse acordo, que, no primeiro momento, não falará sobre a candidatura à presidência da República, permanecendo os dois na condição de pré-candidatos. A definição será dada mais adiante, provavelmente de acordo com a posição de cada um nas pesquisas de opinião.
 
No momento, Marina Silva está em segundo em todas elas, com índices que variam de 16% a 25%, e o governador de Pernambuco está em quarto lugar, com cerca de 5% dos votos.

Ao mesmo tempo, ocorreu em Brasília uma reunião da cúpula do Rede Sustentabilidade com o deputado federal Roberto Freire, presidente do PPS, com a presença da própria Marina e de políticos como o vereador paulistano Ricardo Young. Havia uma conversa anterior em que Marina havia exigido ocupar a vice-presidência do partido e ter total independência na campanha presidencial. A reunião definiria a disposição do PPS de aceitar receber Marina Silva e seus seguidores.

Como o PPS, depois de o ex-governador José Serra ter desistido de se filiar ao partido para disputar a presidência, estava aberto a apoiar tanto Marina quanto Campos, a recusa dela a ir para a legenda não deve encerrar as negociações, pois provavelmente o PPS deve se juntar ao PSB numa coligação formal.

A candidatura que sair desse grupo terá então o apoio inicial de PSB, PPS e Rede Sustentabilidade, formando uma nova coligação com força para disputar a eleição presidencial. A união entre Marina e Eduardo Campos, com provável apoio do PPS, pode levar a um passo mais avançado das oposições, a exemplo do que aconteceu na Venezuela.

Lá, os partidos de oposição fizeram um amplo acordo e escolheram um candidato único através de uma consulta popular. O senador Aécio Neves, do PSDB, recebeu a notícia da formação da "coligação democrática" na chegada a Nova York, onde fará uma palestra para investidores internacionais.

Fonte: O Globo

Aliança de ex-ministros de Lula impede estratégia do PT - Vera Magalhães

A surpreendente aliança de Eduardo Campos com Marina Silva ainda precisará ser "metabolizada", para usar um termo do marinês, mas o fato é que deve ter provocado uma tremenda indigestão em Dilma Rousseff e Lula.

Aliás, este pareceu ser o objetivo inconfesso de uma Marina "bolada", embora segura, que lançou mão de um sarcasmo até então ausente de suas falas e culpou o PT, seu antigo partido, por "aviltar" a democracia ao supostamente agir contra a Rede.

Campos fez jus à fama de bom articulador político e, enxergando a oportunidade, soube dizer exatamente o que Marina queria ouvir: que a Rede existe e é "legítima".

Aos aliados que se espantaram com o fato de aceitar até ser vice, mesmo tendo o triplo das intenções de voto do aliado, Marina mostrou pragmatismo: quem tem partido e máquina é ele. Se as condições mais adiante vão levar a uma mudança de planos, é algo que partidários de Campos não discutem agora.

Uma chapa com os dois seria forte pelo simbolismo: são ex-ministros de Lula, ambos com trajetória de esquerda. Seria mais difícil para o PT fazer o discurso do bem contra o mal das últimas eleições.

O fim da polarização afeta também Aécio Neves. Para se contrapor à nova força que surge e pode ocupar o espaço de oposição, o tucano terá de ir atrás de aliados que sobraram no tabuleiro, como o PPS de Roberto Freire.

Fonte: Folha de S. Paulo

Quebra por dentro - Denise Rothenburg

O governo e o PT tanto fizeram no sentido de sufocar os antigos aliados Eduardo Campos e Marina Silva que agora eles terminaram se unindo para tentar derrotar Dilma. Essa, nem o gênio Lula foi capaz de prever

Quem tiver o cuidado de avaliar com todas as letras o que ocorre desde o início do governo Lula, em 2003, verá que, aos poucos, o PT vai perdendo musculatura eleitoral à esquerda. Do grupo que saiu para criar ao PSol ao PSB. Lentamente, os petistas parecem cada vez mais fadados a ficar com aqueles que não sabem sobreviver longe da situação. O maior exemplo é o PSD, de Gilberto Kassab, criado basicamente de um braço do Democratas incomodado com o fato de ser oposição e optou por se sentar confortavelmente no papel de independente-quase-governo. O PT, protagonista máximo do governo, obviamente lutou contra essa debandada. Sufocou tanto que parte daqueles que saíram agora se unem nas figuras de Marina e Eduardo Campos.

A decisão de Marina de seguir o PSB é a maior vingança que ela poderia organizar no sentido de dar o troco ao PT. Ela, em todos os momentos, não deixou de culpar o PT por não ter conseguido criar a Rede Sustentabilidade. Não por acaso, na madrugada de ontem, depois da primeira conversa com Eduardo Campos no bairro do Sudoeste em Brasília, ela dizia que havia uma militância paga para difamá-la nas redes sociais. Em conversas reservadas, atribuía ao PT a rejeição de assinaturas para evitar que o novo partido fosse uma opção real aos eleitores.

As entrelinhas da entrevista que ela e Eduardo Campos concederam ontem deixaram transparecer essa revolta em relação aos petistas. Para completar, ainda houve a entrevista de João Santana à revista Época dizendo a um ano da eleição que Dima Rousseff vencerá no primeiro turno contra os "anões" da oposição. Para quem faz política há mais de 40 anos, o termo "anões" é considerado pejorativo e sinônimo de corrupção porque remonta aos "anões do orçamento", um escândalo que levou uma gama de deputados ao Conselho de Ética da Câmara, em 1993 e 1994.

Tudo isso, somado ao movimento do PT de tentar tirar fôlego de Eduardo Campos nos últimos dias, terminou por dar um ponto de liga dos descontentes com o governo. Fracassada a tentativa de criação da Rede antes do fim do prazo de filiação partidária para os candidatos de 2014, o ingresso de Marina Silva no PSB nada mais é do que uma tentativa de unir forças daqueles que cansaram de ficar à sombra dos petistas. E com um detalhe: não tirar da Rede o sentido de partido, com um programa. Assim que ela conseguir oficializar a legenda, levará todo o seu grupo para o novo partido, tão logo termine o processo eleitoral.

Unidos, Eduardo e Marina tentarão demonstrar a partir de agora que estão vivos e não será tão fácil o governo Dilma Rousseff e o PT tirarem eles do jogo eleitoral, e da possibilidade de levar ao Planalto um novo modelo de gestão e de relação política diferente daquela que Dilma mantém hoje com o maior aliado do governo, o PMDB. Vão ainda trabalhar no sentido de angariar outros aliados de Dilma que consideram esgotada a relação com o PT.

Enquanto isso, no PSDB...
Há ainda uma preocupação em manter uma boa relação com o PSDB de Aécio Neves, que é hoje o partido da oposição mais bem estruturado. A briga agora será no sentido de tentar tirar votos de Dilma e, assim, tirar de Aécio a vaga no segundo turno. Do ponto de vista tucano, a vantagem dessa nova formação é saber que, com esse reforço de Marina, a candidatura de Eduardo Campos não tem mais recuo. Quem imaginava que ele poderia voltar atrás e apoiar Dilma agora sabe que essa hipótese está descartada.

Nos bastidores do PSB e da Rede, todos diziam ontem que na conversa reservada de Marina com Eduardo ficou acertado que ela chega para ocupar a vaga de candidata a vice, embora não faça o anúncio antecipado, até porque o momento certo de formalizar a chapa é no ano que vem. Se será suficiente para inverter a ordem natural de polarização entre PT e PSDB num segundo turno o tempo dirá. 

Certamente, haverá uma pressão de setores da Rede para que Marina seja cabeça da chapa. Mas, a ex-senadora rechaça desde cedo esses movimentos. A maior vingança dela agora ao PT é apoiar Eduardo Campos. No final desse primeiro ato das eleições do ano que vem, fica a lição: o governo tanto fez contra seus antigos aliados que terminou por provocar a união deles contra Dilma. Isso, nem o gênio Lula imaginou que pudesse ocorrer. E justamente no dia em que a Constituição de 1988 completou 25 anos. Para quem achava que a eleição fosse ficar no mais do mesmo, essa virada de Marina vai mexer com muitas peças. Mas essa é outra história.

Fonte: Correio Braziliense

Fazer acontecer - Dora Kramer

A ex-senadora, Marina Silva tem uma boa ideia da cabeça, mas como se viu no processo de formação da Rede Sustentabilidade, a vida real não necessariamente obedece aos preceitos do sonho, da fé, da esperança e das boas intenções."

A maneira como ela lidou com as providências práticas exigidas para que conseguisse registrar a legenda a tempo de incluída na eleição de 2014 não fala bem sobre os atributos de Marina para presidir um país. Tarefa que requer, sobretudo, capacidade de fazer acontecer.

A decisão do Tribunal Superior Eleitoral pode ser discutida, a partir dos requisitos da lei e do método jurássico de validação dos apoios, mas não foi discutível: o placar inequívoco de 6 a 1 baseado na insuficiência de firmas reconhecidas não deixa espaço a teorias conspiratórias.

O cuidado com a questão programática e a preocupação com a legitimidade da representação social é louvável e diferencia a Rede dos partidos criados ao molde de guichês abertos a todo tipo de negócio. Mas, não justifica o descuido com o cumprimento das regras e a indiferença aos aspectos objetivos. Vale para a criação de um partido, vale mais ainda para a condução de um governo.

Este é o desafio que se apresenta à ex-senadora, tenha ela ou não decidido ontem concorrer à presidência por outro partido. Para conquistar a confiança do eleitorado não basta levantar a bandeira do "reencantamento com a política".

Precisa dizer com clareza, sem dubiedade nem discursos de forma elaborada e conteúdo algo enigmático, qual o seu projeto de país e como pretende executá-lo.

Se não, corre risco é transformar sua participação-eleitoral ou não-política num bonito, mas frustrante e inútil, "happening" por não conseguir, se mostrar capaz de materializar a missão a que se propõe. Por deficiência operancial o pressuposto soberbo de que suas qualidades fazem os obstáculos se curvarem aos seus pés.

Não é pouco. Antes de julgar o julgamento e concluir que a aceitação dos recursos dos condenados do mensalão que tiveram ao menos quatro votos pela absolvição significa impunidade, seria conveniente revisitar a realidade.

Começando por perguntar aos réus se eles acham; que saíram impunes. A resposta é óbvia, pois 25 deles carregam condenações que na maioria dos casos já não podem ter as penas revistas e, em outros, a revisão não vai, ao ponto de alterar o regime de cumprir mento das sentenças.

São dois os crimes em questão: formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Se o tribunal aceitar o mérito e alterar as penas, ocorrerá, no máximo, a mudança do regime fechado para o aberto ou parcialmente aberto. De qualquer modo, das noites na cadeia nem os que porventura venham a ser favorecidos escaparão.

Pode parecer pouca coisa para os espíritos que só se sintam aplacados em sua sede de justiça com o encarceramento permanente. Mas não é irrelevante o fato de gente que já mandou e desmandou no País trocar esse papel pela condição de presidiário.

Não faz sentido dizer que a aceitação dos embargos infringentes desmoralizou o STF numa demonstração de que os poderosos têm tudo e a dureza da lei só recai sobre os desfavorecidos.

O Brasil está cheio de pobres que cometem crimes atrozes, batem, matam, estupram e estão por aí à solta como provas das mazelas do sistema.

Na linha. A maior homenagem que o Brasil pode prestar à Constituição que ontem fez 25 anos é começar por cumpri-la à risca, o que não vêm sendo feito notadamente quanto ao artigo 37, que exige da administração pública o cumprimento dos princípios da legalidade, transparência, moralidade e impessoalidade.

Fonte O Estado de S. Paulo

Bodas de prata - Tereza Cruvinel

A lente desembaçada do tempo mostra agora, claramente, que naqueles 19 meses da Constituinte de 1988 forjou-se o Brasil em que vivemos hoje: um país muito melhor, apesar de alguns pesares, do que o então existente. Mas ali, no calor da História, ninguém sabia ao certo aonde nos levaria o processo. Ninguém pisava nos astros distraído, como diz a música, ignorando a força da ruptura. Há alguns anos os movimentos pelo fim da ditadura pediam a "Constituinte livre, democrática e soberana". Mas havia incertezas sobre a perenidade e a aplicabilidade da Carta, que os críticos consideravam prolixa e utópica. Ontem, ela chegou aos 25 anos de promulgação. Hoje, se vivo fosse, seu principal artífice, Ulysses Guimarães, completaria 97 anos. Nos últimos dias, juristas, políticos e cientistas sociais avaliaram essa prova do tempo. Esta coluna traz um olhar da repórter daquele momento único, que tantos jornalistas se esforçaram para cobrir o melhor possível, como tarefa da democracia que chegava.

Os tempos eram outros também na imprensa — só mais tarde chamada de mídia — que, deixando para trás a censura e outras aflições, fixava também seu papel na nova ordem. Aquela era uma cobertura sem par, para a qual ninguém acumulara experiência. A Constituinte de 1946 acontecera 40 anos antes. No início dos trabalhos, os partidos, os Poderes e os meios de comunicação foram atropelados pela emergência de novos atores e movimentos, pelos lobbies do povo e das elites, buscando inscrever na nova Carta seus direitos e interesses. Ocupavam o Salão Verde e o corredor em que funcionavam as 24 subcomissões temáticas, os gabinetes de líderes e, quando as votações começaram, as galerias. Eram índios e empresários, sindicalistas e juízes, garimpeiros e ambientalistas, camponeses e militares, professores e latifundiários, num ambiente ora tenso ora alegre, e sempre enfumaçado, pois era permitido fumar até no plenário. Essa foi a parte amena da cobertura.

As marcas dos embates aparecem nas contradições de uma Constituição ora avançada, ora conservadora, ora omissa. Era outro tempo na política. As divergências não descambavam, como hoje, para o ódio e o sectarismo. Os trabalhos entravam pela noite e continuavam nos restaurantes, onde os adversários, na mesma mesa, discutiam o dia seguinte. Ao Piantela, reduto da oposição na ditadura, acorriam mais os da centro-esquerda, liderada por Mário Covas. Ao Florentino, iam mais os conservadores do Centrão, que tinham Luiz Eduardo Magalhães como estrela jovem e ascendente. O pequeno PT preferia o Feijão Verde e o Feitiço Mineiro. Essas fronteiras difusas não tisnavam a civilidade e o respeito à divergência.

Pouco se falou, agora, sobre como chegamos àquela festa. A Constituinte era o epílogo da transição iniciada pelo presidente Geisel, que, entre sístoles e diástoles, como dizia o general Golbery, chegara à Anistia. O povo entrou em cena na campanha das Diretas Já. Depois, o partido do regime rachou, permitindo a eleição indireta de Tancredo Neves. Sucedendo-o, José Sarney honrou o "Compromisso com a Nação", documento assinado por Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Aureliano Chaves e Marco Maciel, fiadores da Aliança Democrática entre o PMDB e os dissidentes do PDS — a Frente Liberal, futuro PFL, hoje DEM. Um de seus pontos, a convocação da Constituinte. A Emenda 26, nesse sentido, foi levada ao Congresso na manhã de 28 de junho de 1985, uma sexta-feira, pelo diligente e austero ministro-chefe do Gabinete Civil, José Hugo Castelo Branco.

Dos 559 constituintes eleitos em 1986, 298, ou 53%, eram do PMDB. Nunca mais um partido conquistaria a maioria das cadeiras na Câmara ou no Senado. Ao exacerbar a liberdade partidária, a Constituinte estimulou a proliferação de siglas. Com a dispersão de votos, nenhuma alcançará a maioria. Todos os governos posteriores recorreriam ao fisiologismo e às coalizões baseadas no pragmatismo, e não em afinidades. Não por desfaçatez, como pensa a rua, embora ela também exista, mas essencialmente por necessidade. As comissões foram compostas e teve início o trabalho vertiginoso de escrever a lei maior de um país que se reinventava. Ulysses, na Presidência, com o suporte técnico de Mozart Viana, passava dias inteiros na Mesa. "Vamos votar", era seu mantra.

Saldos e déficits
Num país que vinha da ditadura, era natural o foco inicial em sua negação. Muita energia foi gasta com o título dos Direitos e Garantias Individuais, que inovou ao adotar também o conceito de direitos coletivos. Capítulo mais surpreendente para a cobertura foi o da Ordem Social, assegurando o direito universal à educação, à saúde e à seguridade social, conceito novo, diverso de previdência. Para atendê-lo, os governos instituiriam as políticas públicas que mudaram a face do Brasil, reduzindo as marcas da miséria. Ainda no governo Sarney surgiu o Programa do Leite, trisavô do Bolsa-Família de Lula, filha da Bolsa-Escola surgida na era FHC. Ele previu o SUS, o acesso ao ensino fundamental e o salário-mínimo hoje garantido a deficientes e idosos sem renda.

Mas os constituintes que conseguiram reinventar o Brasil falharam, sobretudo, ao conservar intocado o velho sistema político-eleitoral, que hoje o Congresso não ousa reformar. Por longos meses, a Constituinte esteve dividida entre parlamentaristas e presidencialistas. Quando o presidencialismo venceu, não havia mais tempo nem consenso para outras mudanças. Adotou-se a eleição presidencial em dois turnos, um avanço. Mas ficou escrito que deputados federais, estaduais e vereadores continuariam sendo eleitos pelo sistema proporcional, adotado em 1946. Por que não pelo voto majoritário nos distritos ou pelo voto proporcional, mas em listas partidárias? Não se tratou disso, nem do financiamento das campanhas, nem da revogação dos mandatos pelo povo. A libertinagem partidária fez o resto. Um país que venceu a ditadura e que foi capaz de refundar-se por meio de processo tão democrático e aberto, há de superar também esse déficit. O quanto antes.

Fonte: Correio Braziliense

Quem ganha e quem perde com o acordo – Ricardo Noblat

Quem perdeu e quem ganhou com a filiação de Marina Silva ao PSB e a hipótese admitida por ela de ser vice de Eduardo Campos, candidato do PSB a presidente da República?

Para quem aspirava ser candidata a presidente, Marina perdeu. Não conseguiu montar seu partido, o Rede, no tempo fixado pela lei. O sonho de alcançar a Presidência ficou ainda mais distante.

Aécio Neves foi quem mais perdeu. Marina deve transferir parte dos seus votos para Eduardo. Em um eventual segundo turno contra Dilma, o PSDB não terá dificuldade de apoiar Eduardo.

A recíproca não é verdadeira. O PSB foi aliado do PT até outro dia. Apoiar Aécio seria uma guinada à direita que o partido não parece inclinado a dar.

Dilma perdeu mais do que ganhou com a aliança Eduardo-Marina. É verdade que antes enfrentaria dois adversários, além de Aécio. E que agora enfrentará dois, contando com Aécio.

Mas num segundo turno contra Marina ela atrairia os votos do PSB e até mesmo parte dos votos do PSDB. Contra Eduardo, não.

Ganhou Eduardo, um candidato desconhecido da esmagadora maioria dos brasileiros, que agora recebe o aval da vice-campeã das pesquisas de intenção de voto.

Por desconhecido, a rejeição a Eduardo é mínima. O que antes sustentava sua pretensão de ambicionar a vaga de Dilma era o fato de ser o governador mais bem avaliado do país: 87% de aprovação.

Marina se oferece para avalizá-lo.

Votaria em Marina quem a imagina à esquerda do PT. E também os eleitores cansados da polarização PT e PSDB. Eduardo passará a ser observado por essa gente que não o enxergava.

A oposição ao PT pretendia empurrar a próxima eleição presidencial para o segundo turno com a ajuda de três candidatos: Marina, Eduardo e Aécio.

Terá fôlego para empurrá-la apenas com dois - Eduardo e Aécio?

Se a resposta for sim, esquentarão as chances de Lula pedir licença a Dilma para concorrer de novo à Presidência. O PT não topa correr o risco de ser derrotado.

Fonte: O Globo

Direto de Brasília - João Bosco Rabello

Fim do voo de cruzeiro
A semana que passou, de importantes definições com efeito nas eleições presidenciais, abalou o voo de cruzeiro da campanha da presidente Dilma Rousseff, beneficiária dos conflitos internos nos partidos de seus principais adversários e da visibilidade e poder inerentes ao cargo que ocupa.

A trégua selada entre o senador Aécio Neves e o ex-governador José Serra, se apazigua o ambiente interno, abrindo espaço à construção de alianças regionais, em que se empenha o mineiro, de outro lado restabelece a dúvida sobre a candidatura, já que o próprio Aécio admitiu que o assunto ficará para 2014 e que seu rival paulista poderá vir a ser escolhido candidato. A essa altura, um retrocesso, quando se esperava já houvesse, bem ou mal, um candidato confirmado.

As dificuldades do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, nos principais colégios eleitorais que já o levavam a aderir ao recurso dos palanques duplos, sempre uma saída ruim pelo risco de ineficácia que embute, se reduzem agora com a companhia da ex-senadora Marina Silva. Com sua imagem já em rede nacional no horário nobre da propaganda política, o governador do PSB reduz o risco de ter sua candidatura confinada ao nordeste.

Quam capitalizou a adversidade, portanto, foi Marina Silva, cujo revés na justiça eleitoral lhe proporcionou uma visibilidade positiva, longa e intensa, a única a superar a da presidente da República, o que não é pouco. O anacronismo da legislação eleitoral, ainda que se considere o processo caótico de formação da Rede, ficou exposto e se encaixou no discurso de renovação política da ex-senadora, que saiu como vítima aos olhos da sociedade.

Sem contar a propaganda gratuita que lhe fizeram os concorrentes, empenhados em ficar bem na fita, hipotecando solidariedade, e as dezenas de ofertas de legendas para que mantivesse sua candidatura em 2014, o que decidiu fazer pelo PSB,mesmo como possível vice. A derrota no TSE foi uma vitória do marketing político.

Nesse momento, a fotografia favorece Dilma que àbase de medidas populistas, como o programa de importação de médicos, entre outras, vem contornando os efeitos dos protestos de junho, um problema ainda para os políticos.

A chapa ontem decidida, porém, é duro revés para a sua candidatura . Ela se soma ao risco de agravamento da economia, de que a dificuldade de investimentos é sinal O fiasco nas concessões em infraestrutura, põe em xeque a imagem de gestora que ajudou a elegê-la. Seu discurso de estímulo a investidores em Nova Iorque acusa esse temor, diante do risco de a Copa do Mundo dar mais nitidez à precariedade dos serviços públicos no setor.

Mais votos
É consenso entre os políticos que o governo ganhou a briga com as corporações médicas que resistiram à importação de profissionais, o que deve lhe render dividendos eleitorais principalmente no Norte e Nordeste.

Risco
Já na economia caem os ganhos com a redução da energia e com a queda da taxa de juros. A Selic jpa voltou a subir e a conta de luz está na fila.

Bahia
Na Bahia, o ex-deputado Geddel Vieira Lima (PMDB) pode romper a aliança governista e abrir palanque para Eduardo Campos.

Fonte: O Estado de S. Paulo