domingo, 1 de dezembro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Marco Antonio Villa: ‘o outro’

Não foi Floriano Peixoto quem ascendeu, mas o entorno político que caiu, isso fez com que ele tivesse uma importância maior do que ele deveria ter, pela conjuntura do início da República Brasileira. Então, não é que Luiz Inácio Lula da Silva seja "o cara" mas ele está inserido em um dos piores momentos da História republicaria.

Marco Antonio Villa, “Historiador lança livro crítico aos dez anos de governo do PT”, O Globo, 1 de dezembro de 2013.

São Paulo decidirá eleição, afirma Aécio

Chico Siqueira

BAURU /SP - Presidente nacional do PSDB, o senador mineiro Aécio Neves utilizou ontem um evento em Bauru, no interior, para distribuir elogios aos seus colegas tucanos de São Paulo e dizer que o Estado será determinante para sua campanha presidencial em 2014.

"São Paulo decidirá a eleição", afirmou o mineiro ao ser questionado sobre suas viagens ao interior paulista. "Eu não tenho dúvidas sobre isso e não tenho nenhum constrangimento de dizer ao contrário. Nós daremos uma prioridade absoluta a São Paulo, pelo êxito e pela excelência das administrações do PSDB em São Paulo, em especial agora do governador Geraldo Alckmin", afirmou Aécio.

Desde quando passou a sinalizar claramente que estava disposto a disputar o Palácio do Planalto, ainda no ano passado, o senador começou a investir em alianças internas no partido focando principalmente os paulistas. Aproximou-se do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e foi buscando apoio de outros líderes locais, como o presidente da sigla no Estado, deputado federal Duarte Nogueira.

O movimento de Aécio visa tentar quebrar eventuais resistências de dois dos principais líderes tucanos no Estado: o ex-governador José Serra e o atual governador Geraldo Alckmin.

Aécio é acusado por serristas de ter feito "corpo mole" em Minas Gerais quando o ex-govemador paulista disputou a Presidência da República, nos anos de 2002 e 2010. Os aliados de Alckmin também citam o pouco esforço feito pelo mineiro na campanha presidencial de 2006, quando o hoje governador disputou o Planalto contra o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Alckmin vai concorrer à reeleição em 2014. Daí a importância dada por Aécio aos paulistas.

Estrutura. Segundo Aécio, a estrutura do partido em São Paulo, governado desde 1995 pelo PSDB, facilita a organização da campanha. "Nós temos um partido em São Paulo orgânico e estruturado, que tem ideias, que tem propostas. Isso me alegra muito, nossa agenda em São Paulo é intensa. Só aqui temos mais de 60 prefeitos", afirmou.

Aécio, que esteve esta semana em Barretos, Franca e Bauru, lembrou que tem encontros marcados com lideranças tucanas em Campinas, Sorocaba, São José dos Campos e Santos. "São encontros regionais em que ouvimos as lideranças do partido", disse o provável candidato tucano à Presidência.

Aécio foi questionado por um repórter sobre o fato de Serra ainda se manter na disputa pela vaga de candidato do partido ao Planalto. "Eu tenho um sentimento pessoal de que o PSDB vai estar unido, como nunca esteve e isso é essencial para nossa vitória. O Serra é um quadro extraordinário da política brasileira e temos conversado com ele quase que diariamente e há um sentimento hoje que acima de qualquer divergência e eventual ponto de vista, está em nossa responsabilidade encerrar esse tipo de governo do PT. Para dissabor dos nossos adversários, o PSDB está unido na hora certa e essa hora está quase chegando", disse o senador.

Festa. A passagem do mineiro por Bauru foi marcada por uma grande festa do partido.

Os dirigentes regionais conseguiram reunir cerca de 500 pessoas para recepcionar o provável candidato ao Planalto em um evento numa faculdade.

Muitos dos presentes usavam camisetas nas quais se via o nome de Alckmin recomendando o nome de Aécio para a Presidência. Entre os que vestiam as camisetas estavam índios de algumas aldeias terenas e tupi-guarani da região. Um deles presenteou Aécio com arco e flecha.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Propostas de Aécio a caminho

No interior de São Paulo, presidenciável do PSDB anuncia para os próximos dias lançamento de medidas que vão integrar o plano de governo tucano na corrida pelo Palácio do Planalto

Bertha Maakaroun

Em Bauru, mais de mil militantes receberam Aécio, que reiterou as críticas à atual política econômica

Depois de reiterar as críticas à gestão do PT, que, segundo ele, coloca em risco a estabilidade da moeda alcançada com o Plano Real, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), anunciou ontem em Bauru, São Paulo, o lançamento nos próximos dias de um conjunto de propostas que deverão integrar o plano de governo tucano na disputa ao Palácio do Planalto.

Embora ainda sem a oficialização do candidato, a reunião em Bauru, organizada pelo ex-presidente do PSDB paulista deputado estadual Pedro Tobias, foi um ato pró-Aécio, o maior realizado em São Paulo até o momento. Mais de mil militantes de 70 cidades da região aderiram ao encontro, que teve a performance de banda com músicas mineiras, dupla sertaneja e locutor de rodeio. Aécio ganhou um arco e flecha do índio Thiago Oliveira, que foi ao evento com um grupo de uma aldeia em Avaí, na região de Bauru. Dentro da sua caravana pelo interior paulista, anteontem Aécio foi a Franca e nos próximos dias estará em Campinas e em Sorocaba.

Em discurso à militância tucana paulista, Aécio disse que a agenda da estabilidade econômica está em risco na gestão petista. "O PT coloca em risco as principais conquistas vindas do PSDB, a começar pela estabilidade da moeda, passando pela responsabilidade fiscal, e tudo isso emoldurado por algo que é essencial: a credibilidade do país", disse referindo-se à ameaça de rebaixamento da classificação do Brasil pelas agências internacionais de risco. "O rebaixamento na nota de crédito de rating do Brasil, que eu espero não ocorra, inibe os investimentos. Isso é essencial para o Brasil", afirmou.

Para o tucano, o Brasil debate hoje uma agenda que já deveria estar superada. "A agenda que achávamos que tínhamos superado lá atrás, é a agenda de hoje, da instabilidade econômica, do retorno da inflação, da perda de credibilidade", afirmou. "Na hora em que devíamos estar aqui discutindo uma agenda nova para o mundo, de inovação com o aumento de produtividade, as empresas brasileiras entrando nas cadeias globais de produção, um alinhamento internacional não ideológico e atrasado, mas pragmático, em favor do crescimento da economia brasileira e de geração de empregos, estamos com a agenda de 15 anos atrás", sustentou.

Anunciando a "hora da verdade", Aécio afirmou que o PSDB acumula experiência administrativa para debater qualquer área de governo. "Vai chegar a hora da verdade. O PSDB se prepara para ela de forma corajosa, altiva e, sobretudo, com a experiência que adquirimos em governos de excelência, como o governo de Geraldo Alckmin (em São Paulo), como o governo de Minas e tantos outros espalhados pelo Brasil."

O presidenciável tucano defendeu a estabilidade, as privatizações e a modernização da economia. "Eles são o partido da instabilidade, da perda de credibilidade, da alquimia fiscal, da não transparência dos dados", criticou. No campo da gestão, Aécio voltou a apontar o setor privado como "um parceiro essencial aos investimentos", sobretudo em infraestrutura. E não poupou o PT de novas críticas. "Prezamos o planejamento. Eles não, eles demonizaram o setor privado até onde puderam e são o governo do improviso. Por isso, o Brasil é hoje um cemitério de obras inacabadas por onde você anda", disse.

Fonte: Estado de Minas

Historiador lança livro crítico aos dez anos de governo do PT

Marco Antonio Vílla fala de poder e diz que redução da pobreza é lenta

"São anos marcados pela hipocrisia. Não há mais ideologia. Longe disso. A disputa política é pelo poder, que tudo pode e no qual nada é proibido. O Brasil de hoje é uma sociedade invertebrada"

O trecho, do livro "Década perdida - Dez anos de PT no poder" (Record; R$ 45), resume o ponto de vista do historiador Marco Antonio Villa sobre a administração petista à frente do governo federal. Em tom crítico, ele faz um resgate ano a ano dos principais acontecimentos e denúncias que marcaram os dez primeiros anos do PT no Palácio do Planalto.

Na tentativa de reconstruir a imagem do principal personagem do período histórico, o ex-presidente Lula, Villa se debruçou sobre declarações, discursos e realizações do líder do PT em oito anos de mandato. A conclusão é de que Lula voltou a São Bernardo (SP), em 2011, diferente de quando despontou como uma das lideranças políticas da cidade do Grande ABC.

— O Lula de 1979 e de 1980, que se posicionava contra o regime arbitrário, era um. O Lula de dez anos de PT no poder 2011, quando retomou ao Grande ABC, era outro. Era o que se converteu à oligarquia, era o do coronelismo e o da ordem patrimonialista — disse.

No livro, o historiador recorre a personagens históricos para traçar paralelos sobre o significado do govemo petista na República Brasileira. Um deles é feito em relação ao período em que governou o ex-presidente Moriano Peixoto (1891-1894), que, segundo o escritor Euclides da Cunha, no ensaio "O marechal de ferro" cresceu à medida que "diminuiu a energia nacional"

— Não foi Floriano Peixoto quem ascendeu, mas o entorno político que caiu, isso fez com que ele tivesse uma importância maior do que ele deveria ter, pela conjuntura do início da República Brasileira. Então, não é que Luiz Inácio Lula da Silva seja "o cara" mas ele está inserido em um dos piores momentos da História republicaria — afirmou.

Villa identifica também semelhanças na estrutura do discurso do petista com a do ex-presidente Emílio Médici (1969-1974) em relação ao tom ufanista. Segundo ele, ainda se pode criar paralelos na área econômica entre o governo petista e o do ex-presidente Ernesto Geisel (1974-1979).

— Um exemplo é o uso do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em massa para fortalecer uma burguesia. O Ernesto Geisel fez isso com relação à petroquímica e o govemo petista faz até agora para criar os campeões (nacionais) — disse.

Em entrevista ao GLOBO, o historiador reconheceu que houve diminuição da pobreza no governo petista, mas considerou que ocorreu em "ritmo lento" Perguntado sobre o tom apocalíptico do título, ele explicou que refere-se à perda do país, no período petista, de uma "conjuntura econômica favorável"

— É difícil se repetir a curto prazo uma conjuntura tão favorável econômica como nós tivemos até o final de 2008. E depois, já a partir de 2010, o país começou a se recuperar. Nós tínhamos todas as condições de crescer 8% ou 10% ao ano e de enfrentar os graves problemas sociais.

Fonte: O Globo

Colegas de hotel ironizam contratação de Dirceu

'Já está fichado, mesmo preso? Quem pode, pode, não é?', questiona um funcionário

Fernanda Odilla

BRASÍLIA - Nem mesmo funcionários do hotel onde José Dirceu foi contratado para trabalhar enquanto cumpre pena acham que o petista vai de fato gerenciar o Saint Peter, que tem 427 quartos, vista privilegiada da Esplanada e está a apenas 450 metros da sede do PT.

Orientados a tratar do caso com discrição, os poucos funcionários que se arriscam a falar sobre o futuro gerente abaixam a voz. E classificam a contratação de "maracutaia", "disfarce", "esquema".

Muitos não escondem a indignação sobre o salário de R$ 20 mil na carteira de trabalho já assinada, apesar de Dirceu ainda esperar autorização da Justiça para começar como gerente. "Já está fichado, mesmo preso? Quem pode, pode, não é?", questiona um futuro subordinado.

Na quinta, o pedido de trabalho que permitirá a Dirceu ficar fora da cadeia das 8h às 17h foi enviado para análise da Vara de Execuções Penais para subsidiar a decisão do juiz, que deve sair em 2014.

As piadas sobre Dirceu, condenado a 7 anos e 11 meses por corrupção, são inevitáveis entre os que estarão subordinados ao novo gerente. "Só não mandar ele para o financeiro...", diz um funcionário que aposta que ele ficará numa sala no subsolo.

Se Dirceu assumir a função de gerente do hotel, não vai faltar trabalho no Saint Peter. No restaurante, o vinho oferecido pelo garçom como a estrela da casa é o brasileiro Faces, uma seleção de 11 uvas, por R$ 59. No quarto, um misto quente custa R$ 18, o mesmo preço de um pudim.

Da modesta carta de vinhos ao tapete manchado dos corredores escuros, o hotel não oferece estrutura compatível com o preço de quatro estrelas que cobra: a diária mais barata é R$ 345,45 na quinta.

Com uma equipe meio atabalhoada, instalações modestas e uma reforma que se arrasta há dois anos, o Saint Peter tem como ponto forte a localização. Políticos costumam se hospedar no hotel --o próprio Dirceu já ficou lá.

Caso a Justiça o autorize a trabalhar, o hotel deverá atrair outros políticos e empresários dispostos a dar pelo menos um aperto de mão no petista.

Fonte: Folha de S. Paulo

PPS pernambucano entre Eduardo Campos e Aécio Neves

Filipe Barros

O congresso estadual do PPS, deste sábado (30), poderá não ser conclusivo sobre o caminho do partido nas eleições de 2014. Esperava-se que os pós-socialistas pernambucanos se posicionassem sobre o apoio ao governador Eduardo Campos (PSB) ou ao senador Aécio Neves (PSDB) na disputa presidencial do próximo ano. Alguns diretórios estaduais, como o do Rio de Janeiro, já definiram que caminharão com os tucanos. Os militantes no estado estão indecisos sobre o que seria melhor para o PPS.

A presidente estadual do partido, Débora Albuquerque, afirmou que nenhum caminho está descartado pelo diretório estadual. "A questão está muito indefinida. Os jovens apoiam uma possível candidatura própria, um grupo acha o projeto de Aécio bem interessante e a aliança do governador Eduardo Campos (PSB) com a ex-senadora Marina Silva deve ser considerada", comentou Débora. Ela lembrou que o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, tem preferência pelo apoio ao projeto do governador socialista, mas que a decisão em Pernambuco será tomada pelo diretório estadual.

Ainda de acordo com a presidente, o diretório tem conversado bastante nesta semana sobre as pretenções políticas do partido. Ontem, Débora se reuniu com o vereador Raul Jungmann, que atua na oposição ao prefeito Geraldo Julio (PSB), na Câmara do Recife.

O congresso será realizado no Centro de Convenções na manhã deste sábado. A previsão é de que as posições do partido sejam anunciadas no fim da manhã. O encontro seja encerrado por volta das 14h, depois de uma homenagem especial a José Roberto Monteiro, um histórico dirigente socialista morto em 1993.

Fonte: Diário de Pernambuco

Roberto Freire defende apoio do PPS à candidatura de Eduardo Campos

Presidente do partido e crítico do governo Dilma, Freire afirmou que se empenhará para que a legenda formalize a adesão à candidatura de Campos à presidência da República no ano que vem

O Diretório Estadual do PPS reuniu-se hoje no Teatro Ribeira, no Centro de Convenções, para debater, entre outros assuntos, que candidato a sigla deverá apoiar para a disputa à Presidência da República no ano que vem. Crítico ferrenho do governo Dilma Rousseff, o presidente nacional do partido e deputado federal Roberto Freire esteve no evento e defendeu que o PPS apoie a candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. "Estou assumindo publicamente que vou lutar para o PPS apoiar a candidatura de Eduardo Campos", declarou Freire.

O encontro começou por volta das 10h e seguiu até às 15h deste sábado. Os pós-comunistas, entretanto, não chegaram à uma conclusão sobre o assunto. O debate deverá ser retomado no Congresso Nacional do PPS, que acontecerá nos dias 6, 7 e 8 de dezembro, em São Paulo.

A reunião serviu também para eleger a nova direção estadual do partido, presidido em Pernambuco por Débora Albuquerque. Entre as lideranças políticas presentes, estiveram o vereador do Recife do PPS, Raul Jungmann; o presidente estadual do PSB, Sileno Guedes; o deputado federal Raul Henry, do PMDB; e o deputado estadual Betinho Gomes, do PSDB.

Fonte: Diário de Pernambuco

Pós-Marina, Campos sai em busca do discurso perdido

Pré-candidato do PSB tenta se reaproximar do empresariado e aplacar o susto causado por sua união com Rede

Maria Lima

O fato novo do casamento de Eduardo Campos com Marina Silva passou e o pré-candidato do PSB a presidente da República não deslanchou como esperava. Analistas políticos identificam uma clara mudança no comportamento de Campos no periódo pós-Ma~ rina: ele tem aparecido mais inseguro nas entrevistas, está pisando em ovos para adequar o discurso ao da ex-senadora.

Passados a lua de mel e o impacto inicial causado pela aliança entre PSB e Rede, Campos discute, no momento, estratégias para recuperar terreno nas articulações para 2014, tanto na área política como na empresarial, afetadas pelo perfil de militante ambiental de Marina.

Mas os socialistas dizem que este é um casamento sem volta. Sem Marina, o governador de Pernambuco aparece nas pesquisas com cerca de 9% de intenções de voto. Sem Eduardo, Marina tem cerca de 15%. Mas os
dois juntos alcançam 20%, e passam à frente do tucano Aécio Neves, segundo pesquisas internas.

Cientista político da FGV/USP, o professor Fernando Abrucio avalia que, atualmente, Campos está em pior situação do que imaginaria estar quando ganhou a adesão de Marina. E diz que é preciso dar uma virada.

— Há muitas incógnitas em relação ao resultado desta aliança daqui para frente. Eduardo precisa resolver a história dele com Marina; o lugar que ela vai ocupar na chapa precisa ser definido logo. E ainda tem a delicada questão da compatibilização programática. Ou seja, os dois precisam resolver esse casamento de uma vez por todas — diz Abrucio.

Em busca do apoio perdido
Tentando recuperar apoios perdidos com o chamado "susto Marina" em seu maior reduto, o empresarial, onde já vinha se consolidando, o pré-candidato do PSB tem pelo menos uma proposta já exposta aos representantes do setor; em conversas nas últimas semanas.

Campos propôs que, no caso de parcerias público-privadas e das concessões, seu governo garantiria um retorno mínimo para o investidor. Após sete anos, se desse tudo errado, o governo daria uma compensação à iniciativa privada. Ele acredita que esse compromisso irá recuperar a credibilidade do governo e revolucionar os investimentos no país.

— Eduardo ganhou uma fatia do eleitorado de Marina, mas perdeu o discurso. Está tenso, com medo de contrariar Marina e seus seguidores — diz um interlocutor de Campos, que trabalha para a campanha voltar a ter mais empolgação.

Na última sexta-feira, Campos fez palestra para cinco mil produtores rurais do Paraná, em evento promovido pela Federação da Agricultura. Sobre Marina, ele procurou tranquilizar:

— Nós temos clareza de importância social e econômica do campo para o Brasil. Queremos nos aproximar, para sermos entendidos e para entender.

Fonte: O Globo

Casamento está ameaçado em quase todos os estados

Saída pode ser separar o PSB da Rede onde não há consenso sobre aliança

Em relação aos acertos políticos e aos obstáculos impostos por Marina Silva à costura de coligações com partidos tradicionais, a saída em discussão na equipe de Eduardo Campos é separar a Rede do PSB onde não houver consenso sobre as alianças. Ou seja, em quase todos os estados. Há algumas semanas, em um encontro na casa do deputado Waiter Feldman (PSB-SP), em São Paulo, Campos teve uma conversa franca com Marina.

— Para você me encontrar vivo como eu estava quando você chegou, algumas pessoas me trouxeram vivo até aqui. E não posso me desfazer dessas pessoas agora — disse, citando seus companheiros mais fiéis, os deputados Márcio França (SP) e Beto Albuquerque (RS) e o senador Rodrigo Rollemberg (DF), que estão articulando alianças regionais para o PSB.

C problema mais visível é em São Paulo, onde França trabalha, avalizado por Campos, para ser vice do tucano Geraldo Alckmin — e Marina ainda não desistiu de lançar Feldman.

— O casamento entre Rede e PSB vai até onde não atrapalhar a campanha de Eduardo. Na prática, é impossível só lançar e apoiar gente nova. Em São Paulo, uma candidatura sem Alck-min pouco acrescentaria ao projeto nacional do PSB. Como Marina não apoia Alckmin, deve ficar neutra lá, se fecharmos a aliança com o PSDB — diz França.

O mesmo acontece no Rio Grande do Sul, onde o PSB tenta aliança com o PP da senadora Ana Amélia. Ela seria candidata ao governo; Beto Albuquerque, ao Senado.

As primeiras duas semanas depois da adesão de Marina foram de festa e capitalização do voto de protesto da Rede. Na terceira semana, contam socialistas, começaram os problemas. Há relatos de que, numa reunião em São Paulo, empresários disseram taxativos a Campos:

— No nosso campo, tudo o que você tinha, você perdeu. Como mudar o que você vem prometendo com Marina a seu lado?

Por isso, Campos agora tem focado sua ação em SP: ao lado dos ex-ministros da Agricultura Roberto Rodrigues, Alisson Paulinelli e Francisco Turra, tem feito reuniões frequentes com líderes do agronegócio

Fonte: O Globo

Em 11 estados, PT enfrenta dificuldade para vencer em 2014

Políticos detectam problemas até mesmo onde há candidato à reeleição

Fernanda Krakovics

BRASÍLIA- Mesmo no comando da máquina federal há uma década, o PT está diante de um cenário de dificuldade para vencer as eleições de 2014 nos onze estados onde deve lançar candidatos próprios a governador. O embate deve ser duro inclusive nos quatro estados governados atualmente pelo partido, e que deveriam funcionar como vitrine da administração petista: Rio Grande do Sul, Bahia, Acre e Distrito Federal.

Excluindo os quatro estados sob comando do PT, políticos da base do governo Dilma avaliam, neste momento, que têm maiores chances de vitória em apenas outras quatro unidades da federação, de um grupo de sete onde disputarão governos estaduais: Piauí, Roraima, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro.

No cenário de hoje, a prioridade do PT é São Paulo, onde o ministro Alexandre Padilha (Saúde) foi escolhido pessoalmente pelo ex-presidente Lula para tentar pôr fim aos 18 anos de administração tucana. A tarefa não é fácil, e Padilha deve herdar a rejeição do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), que, entre outros desgastes, aumentou o IPTU e demorou a reduzir a tarifa do transporte público em meio às manifestações de junho.

Porém, os dirigentes do partidos também estão preocupados com possíveis derrotas onde a disputa é pela reeleição e, teoricamente, o cenário seria mais favorável. É o caso da campanha do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), que tem sua administração mal avaliada. Sem contar que a tradição gaúcha, que desfavorece a reeleição: os gaúchos nunca reconduziram um governante.

No DF, Agnelo sofre desgaste
Outro governador petista que tentará a reeleição e tem a administração mal avaliada é Ag-nelo Queiroz (DF). Ele deve enfrentar o senador Rodrigo Rollemberg (PSB) e o deputado federal Reguffe (PDT).

No Acre, a campanha à reeleição do governador Tião Viana (PT) também não será um passeio. Em 2010, Tião foi eleito com uma votação apertada. No governo, enfrentou um escândalo dê corrupção envolvendo um sobrinho, que ocupava uma diretoria na Secretaria Estadual de Saúde e chegou a ser preso. Pesa ainda o desgaste de longo período da família Viana, que controla o estado desde 1999.

O principal adversário de Tião será o senador Sérgio Petecão (PSD) que, em 2010, ficou com a segunda vaga para o Senado, com uma diferença de menos de um ponto percentual em relação ao primeiro colocado, Jorge Viana (PT), irmão de Tião e ex-governador por dois mandatos.

Fonte: O Globo

Nanicos, socialistas e sem perspectivas de poder

Esquerda se lança no debate eleitoral, mas admite que o palácio do Planalto é um sonho mais do que distante

Étore Medeiros e André Shalders

Os principais partidos da diminuta esquerda brasileira admitem dificuldades para encontrar um nome forte para disputar as eleições de 2014, mas apostam em candidaturas próprias. Confiante de que a repercussão das manifestações de rua se dará nas umas, o PSTU já convidou PSol e PCB para uma conversa que viabilize a reedição da Frente de Esquerda de duas eleições atrás. Enquanto o Socialismo e Liberdade aposta na aliança, o quase centenário partido comunista pretende concorrer sozinho ao Planalto. Nas eleições de 2006, juntos, os três partidos consolidaram uma terceira via que alcançou 6,5 milhões de votos para a Presidência, tendo à frente a alagoana Heloísa Helena. Em 2010, concorrendo cada um por si ao Planalto, tiveram o apoio de apenas 1 milhão de eleitores.

"A votação de 2006 teve mais a ver com o espaço próprio que a Heloísa Helena tinha junto do eleitorado. Não vejo nenhum nome, em nenhum dos três partidos, para repetir a votação", analisa o presidente do PSTU, José Maria de Almeida. Ainda filiada ao PSol, a ex-petista de Alagoas está à espera da oficialização da Rede para trocar de legenda mais uma vez. Três vezes candidato à Presidência, Almeida acredita que a carência de nomes conhecidos nacionalmente possa ser compensada pelas recentes mudanças no contexto político. "Houve uma esquerdização da sociedade, que se materializou nas manifestações de junho, o que pode acabar por destinar à esquerda socialista brasileira uma votação maior."

"A questão é política, e não de matemática", justifica Ivan Pinheiro, presidente do PCB, ao rechaçar uma nova coligação das esquerdas. "Em 2006, a unidade foi feita de forma puramente eleitoral, sem um programa. A aliança terminou no dia seguinte das eleições. Isso não nos interessa repetir". O partido lançou a pré-candidatura à presidência do intelectual Mauro Iasi, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 

Sem "qualquer ilusão de ganhar as eleições", Pinheiro defende uma aliança permanente, que não precisaria necessariamente se repetir nos pleitos. "Achamos positivo que haja outros nomes de esquerda na corrida. São mais candidatos para pautar o debate, para denunciar essa democracia de fachada em que nós vivemos. O que nos interessa é criar uma unidade de ação nas lutas, no cotidiano, e não a cada quatro anos." Gigante entre os nanicos da esquerda, o PSol é o único dos três partidos com representação parlamentar no Congresso Nacional.

Para Ivan Valente, presidente e um dos três deputados federais da sigla, a falta de "diferenças substantivas" nas propostas de PT, PSDB e PSB/Rede, somada ao impulso das manifestações populares de junho, pode beneficiar as "candidaturas comprometidas com programas mais avançados, democráticos e mudancistas".

"Temos no Brasil uma situação de crescimento baixo, de estagnação da distribuição de renda e uma pauta muito conservadora, como é o caso das reivindicações do agronegócio, com o Código Florestal, contra as terras indígenas e assim por diante." No fim da tarde de hoje, o Congresso Nacional do PSol deverá bater o martelo de quem vai lançar à Presidência.

Proposta
Nome com grande aceitação entre diversas correntes do PSol, o deputado federal Chico Alencar (RJ) se retirou da disputa para tentar renovar o mandato parlamentar. O senador amapaense Randolfe Rodrigues, definido por Valente como "uma proposta que pode vingar", é o que conta com maior apoio dentro do partido. Correm por fora Luciana Genro, impedida pela Justiça de se candidatar no Rio Grande do Sul, em 2012, por ser filha do governador petista Tarso Genro e com apoio de parte menor da militância, Renato Roseno, advogado popular do Ceará. Apesar da disputa interna, que pode ter implicações na política de alianças, Valente acredita que as coligações poderão acontecer. As conversas com o PSTU são facilitadas pelo fato de o partido não fazer questão de ser cabeça de chapa.

Quanto ao PCB, o presidente do PSol é cauteloso, mas confia em um sinal positivo. "Em todas as bandeiras que temos levantado, contra o leilão de Libra, contra as privatizações, pela causa indígena, temos estado junto com o PCB. Acreditamos que o PCB venha a compor essa frente conosco, pela tradição e pela afinidade política". Sem diminuir a importância da candidatura à presidência, o presidente do partido ressalta, no entanto, que a principal meta para 2014 é eleger mais deputados federais.

Quem são e o que querem as esquerdas

PCB
Fundado em 1922, o Partido Comunista Brasileiro é a mais antiga legenda em atividade no país. Já no ano da fundação, foi colocado na ilegalidade pelo presidente Epitácio Pessoa. A legenda foi cassada por diversos governos e tem militantes desaparecidos até hoje, perseguidos pela ditadura de 1964. Voltou à Legalidade nos anos 1980, quando dissidências deram origem ao PPS e a correntes do PT.

O PCB defenderá em 2014 a suspensão dos pagamentos e auditoria da dívida pública, a reestatização de empresas públicas, a desmilitarização das polícias, o fim do superavit primário e da Lei de Responsabilidade Fiscal, e a distribuição dos royalties do petróleo de forma inversamente proporcional ao IDH de cada estado.

PSTU
O Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado se identifica como "marxista revolucionário", próximo ao trotskismo e ao leninismo. Fundado em 1993, nasceu como uma tendência interna do Partido dos Trabalhadores, a Convergência Socialista.

Para 2014, o partido defende a suspensão dos pagamentos da dívida externa e interna, a reestatização de empresas públicas, o controle social do funcionamento das polícias, a retirada das tropas brasileiras do Haiti, a descriminalização do aborto e a criminalização da homofobia.

PSOL
O Partido Socialismo e Liberdade foi criado em 2005 por petistas descontentes com o governo Lula, que teria abandonado "o socialismo como horizonte estratégico" para defender "projetos prejudiciais ao povo brasileiro". Por votarem contra projetos do Planalto, a senadora Heloísa Helena e os então deputados federais Luciana Genro, Babá e João Fontes foram expulsos do PT e foram a base da cria.

Fonte: Correio Braziliense

PT e PMDB buscam acordo para 2014

Lula e Dilma se reúnem com peemedebistas na Granja do Torto para definir alianças nos estados, entre eles o Maranhão. Eduardo Paes é a chance de unificação no Rio

Denise Rothenburg e Daniela Garcia

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), que se prepare: virá em breve uma onda para que ele aceite concorrer ao governo estadual. O nome dele foi citado na reunião em que PT e PMDB discutiram a portas fechadas, na Granja do Torto, as chances de acordo nas eleições do ano que vem nas 27 unidades da Federação. O Rio, considerado o mais complicado, foi o que tomou mais tempo. "Enquanto PT e PMDB ficam batendo cabeça, os outros crescem e os nossos caem. Temos que encontrar um caminho", comentou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comandou o encontro ao lado da presidente Dilma Rousseff e do vice Michel Temer.

Nesse contexto, está cada vez mais claro para a cúpula dos dois partidos que as chances de sucesso são muito maiores quando estão unidos. E foi exatamente aí que entrou na conversa o nome de Eduardo Paes. É a única saída em que ninguém perde. O PMDB ficaria com a candidatura ao governo. E o PT, que tem Adilson Pires como vice-prefeito, assumiria o comando da capital fluminense sem precisar fazer esforço. De quebra, os petistas ganham um discurso forte para retirar a candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo estadual sem choro.

Ocorre que Paes não quer nem ouvir falar nesse assunto. Seu desejo é permanecer no cargo até as Olimpíadas de 2016. Para completar, existe uma ala do PMDB que vê em Paes uma aposta para a sonhada candidatura própria à Presidência da República em 2018, depois de terminada a temporada esportiva do Rio.

O encontro reforçou ainda a presença do PT no governo de Sérgio Cabral, um gesto que termina por enfraquecer um projeto alternativo dos petistas longe do PMDB. Cabral, que também havia planejado deixar o governo em janeiro para dar maior visibilidade à candidatura de Luiz Fernando Pezão, decidiu ficar até abril, de forma a tentar recuperar popularidade. Da parte do PMDB, houve um pedido para que essa situação do Rio seja decidida até março de 2014.

Pelo país
No caso do Ceará, outro estado considerado importante para reforçar as estruturas da aliança, a ideia do colegiado entre os dois partidos é buscar um jeito de reunir todos os partidos da base — inclusive o governador Cid Gomes e o ex-deputado Ciro Gomes — em torno da candidatura do senador Eunício Oliveira ao governo estadual.

Se os petistas e peemedebistas discutiram a fundo os cenários do Rio e do Ceará, o mesmo não ocorreu com a Bahia, com o Rio de Grande do Sul e com Pernambuco. Eles passaram rapidamente por esses estados considerados perdidos do ponto de vista de acordo entre os dois partidos. No caso daqueles em que a situação até aqui era tida como indefinida, a presença do ex-presidente José Samey ajudou a colocar o Maranhão como prioridade. Como a eleição interna do PT foi vencida por uma ala pró-aliança com o PMDB, ficou praticamente selada a união dos dois partidos no estado.

Assim, sobe para quatro o número de unidades da Federação onde haverá acordo: Distrito Federal, Amazonas, Pará e, agora, o Maranhão. "Estamos avançando. A aliança nacional está mais do que preservada. Aos poucos, vamos avançando nos estados", comentou o presidente em exercício do PMDB, Valdir Raupp, logo depois do encontro.

Além de Sarney, Raupp e Temer, estavam, da parte do PMDB, os presidentes do Senado, Renan Calheiros, da Câmara, Henrique Eduardo Alves. Do lado petista, além de Lula e Dilma, foram chamados o presidente do partido, Rui Falcão, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e o presidente do PT de São Paulo, Edinho Silva, que é deputado estadual e deve se integrar à coordenação nacional da campanha. Em janeiro, novas conversas virão.

PP cortejado no Rio Grande do Sul
Durante reunião com o PP ontem na Granja do Torto, Dilma e Lula pediram que o partido convença a senadora Ana Amélia (RS) a acolher a presidente no palanque de candidata ao governo estadual em 2014. A congressista é a principal adversária do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), na disputa local. Além de Dilma, Ana Amélia — que está em primeiro mandato — também é cortejada pelo tucano Aécio Neves (MG) e pelo socialista Eduardo Campos (PE).

A proposta, contudo, é praticamente inviável. PP e PT são adversários históricos no Rio Grande do Sul e o PSDB sabe que precisa de um palanque forte no estado para compensar o desastroso governo de Yeda Crusius. Mesmo o PP estando na base de apoio a Dilma no plano federal, Ana Amélia tem mantido uma postura de independência no Senado.

Alagoas
Dilma pediu o apoio do PP em todos os estados, mas, a exemplo de Rio Grande do Sul, os acordos não são tão simples. "Essa unidade é praticamente inviável", respondeu o presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI). Em Minas Gerais, por exemplo, a legenda tem o vice do governador tucano Antonio Anastasia, Alberto Pinto Coelho, o que toma praticamente impossível um rompimento como PSDB de Aécio Neves.

Em Alagoas, o candidato do partido é o senador Benedito de Lira, aliado do atual governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) e adversário do presidente do Senado, Renan Calheiros. Só existe alinhamento automático na Paraíba estado do ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro — e no Piauí. (Denise Rothenburg e Paulo de Tarso Lyra)

Fonte: Correio Braziliense

Sinais alarmantes - Fernando Henrique Cardoso

É evidente a descrença nas instituições, a tal ponto que se crê mais nas pessoas sem perceber que por esse caminho voltaremos aos salvadores da pátria

Finalmente fez-se justiça no caso do mensalão. Escrevo sem júbilo: é triste ver na cadeia gente que em outras épocas lutou com desprendimento. Estão presos ao lado de outros que se dedicaram a encher os bolsos ou a pagar suas campanhas à custa do dinheiro público. Mais melancólico ainda é ver pessoas que outrora se jogavam por ideais — mesmo que controversos — erguerem os punhos como se vivessem uma situação revolucionária, no mesmo instante em que juram fidelidade à Constituição. Onde está a Revolução? Gesticulam como se fossem Lenines que receberam dinheiro sujo, mas usaram-no para construir a "nova sociedade" Nada disso: apenas ajudaram a cimentar um bloco de forças que vive da mercantilização da política e do uso do Estado para perpetuar-se no poder. De pouco serve a encenação farsesca, a não ser para confortar quem a faz e enganar a seus seguidores mais crédulos

Basta de tanto engodo. A condenação pelos crimes do mensalão se deu em plena vigência do Estado de Direito, em um momento no qual o Executivo é exercido pelo Partido dos Trabalhadores, cujo governo indicou a maioria dos ministros do Supremo. Não houve desrespeito às garantias legais dos réus e ao devido processo legal. Então por que a encenação? O significado é claro: eleições à vista. É preciso mentir, enganar-se e repetir o mantra. Não por acaso a direção do PT amplifica a encenação, e Lula diz que a melhor resposta à condenação dos mensaleiros é reeleger Dilma Rousseff... Tem sido sempre assim, desde a apropriação das políticas de proteção social até a ideia esdrúxula de que a estabilização da economia se deveu ao governo do PT. Esqueceram as palavras iradas que disseram contra o que hoje gabam e as múltiplas ações que moveram no Supremo para derrubar as medidas saneadoras. O que conta é a manutenção do poder.

Em toada semelhante, o mago do ilusionismo fez coro. Aliás, neste caso, quem sabe, um lapso verbal expressou sinceridade: estamos juntos, disse Lula. Assumiu meio de raspão sua fatia de responsabilidade, ao menos em relação a companheiros a quem deve muito. E ao país, o que dizer?

Reitero, escrevo tudo isso com melancolia, não só porque não me apraz ver gente na cadeia, embora reconheça a legalidade e a necessidade da decisão, mas principalmente porque tanto as ações que levaram a tão infeliz desfecho como a cortina de mentiras que alimenta a aura de heroicidade fazem parte de amplo processo de alienação que envolve a sociedade brasileira. São muitos os responsáveis por ela, não só os petistas. Poucos têm tido a compreensão do alcance destruidor dos procedimentos que permitem reproduzir o bloco de poder hegemônico; são menos numerosos ainda os que têm tido a coragem de gritar contra essas práticas. É enorme o arco de alianças políticas no Congresso cujos membros se beneficiam por pertencer à "base aliada" do governo. Calam-se diante do mensalão e demais transgressões, como se o "hegemonismo petista" que os mantém seja compatível com a democracia. Que dizer então da parte da elite empresarial que se ceva dos empréstimos públicos e emudece diante dos malfeitos do petismo e de seus acólitos? Ou da outrora combativa liderança sindical, hoje acomodada nas benesses do poder?

Nada há de novo no que escrevo. Muitos sabem que o rei está nu, e poucos bradam. Dai a descrença sobre a elite política reinante na opinião pública mais esclarecida. Quando alguém dá o nome aos bois, como, no caso, o ministro Joaquim Barbosa, que estruturou o processo e desnudou a corrupção, teme-se que, ao deixar a presidência do STF, a onda moralizante dê marcha a ré. É evidente, pois, a descrença nas instituições. A tal ponto que Se crê mais nas pessoas, sem perceber que por esse caminho voltaremos aos salvadores da pátria. São sinais alarmantes.

Os seguidores do lulo-petismo, por serem crédulos, talvez sejam menos responsáveis pela situação a que chegamos do que os cínicos, os medrosos, os oportunistas, as elites interesseiras que fingem não ver o que está à vista de todos. Que dizer então das práticas políticas? Não dá mais! Estamos a ver as manobras preparatórias para mais uma campanha eleitoral sob o signo do embuste. A candidata oficial, pela posição que ocupa, tem cada ato multiplicado pelos meios de comunicação. Como o exercício do poder se confundiu, na prática, com a campanha eleitoral, entramos já em período de disputa. Disputa desigual, na qual só um lado fala, e as oposi-ções, mesmo que berrem, não encontram eco. E sejamos francos: estamos berrando pouco.

É preciso dizer com coragem, simplicidade e de modo direto, como fizeram alguns ministros do Supremo, que a democracia não se compagina com a corrupção nem com as distorções que levam ao favorecimento dos amigos. Não estamos diante de um quadro eleitoral normal. A hegemonia de um partido que não consegue se deslindar de crenças salvacionistas e autoritárias, o acovardamen-to de outros e a impotência das oposições estão permitindo a montagem de um sistema de poder que, se duradouro, acarretará riscos de regressão irreversível. Escudado nos cofres públicos, o governo do PT abusa do crédito fácil que agrada não só aos consumidores, mas, em volume muito maior, aos audaciosos que montam suas estratégias empresariais nas facilidades dadas aos amigos do rei. A infiltração dos órgãos de Estado pela militância ávida e por oportunistas que querem se beneficiar do Estado distorce as práticas republicanas.

Tudo isso é arquissabido. Falta dar um basta aos desmandos, processo que, numa democracia, só tem um caminho: as urnas. É preciso desfazer na consciência popular, com sinceridade e clareza, o manto de ilusões com que o lulo-petismo vendeu seu peixe. Com a palavra, as oposições e quem mais tenha consciência dos perigos que corremos.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República

Fonte: O Globo

Pela entrada social – José de Souza Martins

Parentes dos presos do presídio da Papuda, maioria mulheres, protestam contra os privilégios da gente diferençada que ali recém-chegou em decorrência das sentenças do STF no processo do mensalão. Os visitantes dos novos presidiários estão imunes às demoras e humilhações a que são regularmente submetidos os visitantes dos outros presos, especialmente mães, irmãs, esposas ou companheiras. Todas tratadas como suspeitas, revistadas, examinadas, fiscalizadas, além do martírio da longa espera, que começa de madrugada nas filas intermináveis.

Na facção da nova humanidade do presídio, alguns presos ainda retêm o direito de ser tratados por "vossa excelência". Romarias de outras tantas excelências, que chegam em carros oficiais e são recebidas no
ambiente diferençado da direção da cadeia, com direito a cafezinho e água gelada, despertam curiosidade e ressentimento dos comuns. Os visitantes dos presos diferençados não são suspeitos. Não passam por revista. É que, ao contrário da sina das mães da porta da Papuda, eles são os pais da pátria. Era o nome que recebiam os patriarcas de antanho, senhores de cabedais, de gente e de poder, os intocáveis e insubmissos.

É o que faz daquilo um laboratório para estudos sociológicos sobre diferenciação social. Se alguém quiser saber o que é pós-modernidade e só ficar de olho nos portões da Papuda. Poderá observar ao vivo e em cores como no Brasil a cidadania não liqüefaz as graves diferenças sociais que nos atormentam desde sempre, não derrete as barras de ferro das separações sociais, embora todos sejam legalmente iguais.

A nova realidade social e política do presídio gera a distinção social entre a "gente diferençada" e a "gentalha", separadas pelo fio da navalha do direito: os que são mais e têm mais do que o direito concede e os que são de somenos e têm menos do que o direito pode conceder. Lembrando frase famosa de ministro do trabalho oriundo das hostes sindicais, "bicho também é gente", pode-se dizer que "gente também é gente".

Coisa de que nos esquecemos com facilidade, ainda referidos que somos, em nossos relacionamentos, às estruturas sociais profundas, estamentais, das desigualdades radicais, que conformaram a sociedade brasileira desde os tempos da conquista. Inicialmente, em relação aos índios descidos do sertão e submetidos ao cativeiro, houve durante largo tempo sérias dúvidas, entre a gente de prol, como se dizia, se tinham alma ou não. Ou seja, se eram gente ou não ou se eram meros símios da mata. E isso não está tão longe assim. Não faz mais que 20 anos, num povoado à beira do Rio Araguaia, interpelei um menino mestiço que insultava um índio carajá, que passava cabisbaixo. Perguntei-lhe por que fazia aquilo, se o índio era gente como nós. "É não!" - respondeu-me. "Ele é gentio e eu sou cristão." Vemos aí, claramente, qual foi a argamassa que cimentou os alicerces do lado esdrúxulo da sociedade brasileira.

Durante séculos, os artesãos foram considerados de qualidade social inferior porque trabalhavam com as mãos. Não faziam parte do rol dos homens bons, a chamada gente de qualidade, para que pudessem ocupar funções nas câmaras municipais. O ócio dignificava, não o trabalho, que minimizava. Com a República, todos se tornaram iguais perante alei, mas alguns se mantiveram ou se tornaram mais iguais, para lembrar uma frase inspiradora de George Orwell em A Revolução dos Bichos. Além do mais, tudo tem que mudar para que tudo permaneça como estava, é o que nos lembra Lampedusa em O Leopardo.

Temos por aí outros sinais dessas persistências. Quem for preso, por algum motivo, enquanto não for julgado e condenado, se tiver curso superior, terá direito a prisão especial Nada de ficar naquela montoeira de gente que se apinha nas delegacias de polícia, com menos ar por metro quadrado que o necessário. Se alguém respirar mais fundo, pode matar os vizinhos de cela.

Os diferençados, aliás, vem sendo tratados como heróis nacionais. Inocentados no berro, têm a contrapartida dos acólitos que sevingam satanizando a Justiça, em particular satanizando o ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF. Ora, não foi Joaquim Barbosa o autor dos fatos que, pela primeira vez na história do Brasil, resultaram na diferenciação social da população carcerária do agora mais notório presídio brasileiro.
A sociedade de classes, centro das reflexões de ilustre petista e sociólogo mais ilustre ainda, o professor Florestan Fernandes, finalmente chega à prisão. O Brasil dividido e hierárquico também está lá. Não é mais prisão de uma classe só. O protesto do povão mostra que não entendeu o caso do mensalão, que o Brasil dos privilégios mudou sem mudar. O petista gaúcho Olívio Dutra usa a ótima expressão "sucessão de malfeitos" para dar nome aos fatos originários do processo do mensalão. O que quer dizer, coisa de imaturos, de gente que brinca com o que não deveria brincar. Diferentes dos presos das mães da porta.

José de Souza Martins é sociólogo, professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP e autor, entre outros, de A política do Brasil Lúmpen e Místico (Contexto)

Fonte: O Estado de S. Paulo / Aliás

Reforma política - Merval Pereira

Num país em que o eleitor primordialmente vota no candidato, não no partido, e onde estes geralmente têm pouquíssima personalidade ou consistência ideológico-programática, procura-se uma maneira de estabelecer a fidelidade partidária sem que a judicialização da política prevaleça como hoje.

Num sistema de voto proporcional por lista ou de voto distrital puro ou misto, onde o papel do partido quer nacional, quer localmente, de fato é central, essa questão ganharia peso naturalmente. Mas as duas teses centrais do PT, lista fechada e financiamento público de campanha, não têm maioria nem no Congresso nem na sociedade. E também a manutenção do sistema proporcional tem a preferência dos políticos, o que inviabiliza a implantação do voto distrital, pelo menos a curto prazo.

Uma nova tentativa de fazer uma reforma política que tenha apoio da maioria do Congresso foi feita por um Grupo de Trabalho formado por decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, composto por um representante de cada um dos 13 maiores partidos da Câmara, pela deputada Luiza Erundina, representando a bancada feminina, e pelo coordenador Cândido Vaccarezza (PT-SP).

A proposta de Emenda Constitucional (PEC) que saiu desse grupo não altera as regras da fidelidade partidária, apenas reduz o prazo de filiação para seis meses antes da eleição. Mas como paralelamente fortalecem a legislação restritiva ao ftincionamento dos partidos, as regras combinadas tornam o quadro partidário mais racional, a começar com o fim das coligações proporcionais.

As coligações partidárias terão que corresponder a uma atuação conjunta de seus componentes durante toda a legislatura, o que dará às coligações uma lógica além dos benefícios eleitorais. A reforma estabelece uma cláusula de desempenho partidário, que começa com a necessidade de uma votação nacional correspondente a 5% da votação nacional, sendo que 3% em pelo menos nove estados. Partido que não fizer esse mínimo não terá nem tempo de propaganda na televisão nem fundo partidário, além de não ter vida orgânica dentro do Congresso.

O eleito por um partido desses manterá o mandato, mas o partido não terá liderança, não terá participação em relatorias e comissões, seu representante será um parlamentar de segunda classe.

Os partidos políticos estão, aliás, no núcleo das atenções desta PEC. Várias das medidas nela sugeridas refletem a preocupação generalizada, dentro e fora do Congresso Nacional, com a consistência das agremiações partidárias.

Duas medidas invertem em parte a lógica atualmente dominante na regulamentação dos partidos: a PEC diminui as exigências para que os partidos sejam criados, mas as aumenta para que eles possam ter acesso a recursos públicos, "evitando que tal liberdade seja usada com finalidade pouco republicana"
No financiamento de campanhas, pessoas jurídicas só poderão fazer doações aos partidos diretamente, e as pessoas físicas aos candidatos. A principal mudança, e a mais polêmica, é a criação de um novo sistema eleitoral que tem a base na mudança territorial.

O voto será proporcional continua como é hoje, mas o Rio de Janeiro, por exemplo, seria dividido em seis regiões; São Paulo, em dez; e Minas, em oito. Ao reduzir o território, explica o deputado Marcus Pestana, representante do PSDB no grupo, o projeto barateia a campanha e cria um vínculo maior entre o eleito e o eleitor. Esse sistema é o mais palatável para a maioria dos políticos: ao mesmo tempo em quem atende ao PT mantendo o voto proporcional, caminha na direção da distritalização.

Essa mudança seria submetida ao plebiscito já em 2014, caso a PEC venha a ser aprovada a tempo. Na última reunião da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, houve um desentendimento entre deputados do PT, o que pode atrasar a discussão do texto. Como sempre, os próprios políticos não chegam a um acordo que viabilize a reforma política.

Fonte: O Globo

A caminho do matadouro - Eliane Cantanhede

Depois de amargar a longa exposição do mensalão e dos mensaleiros, o PT agora lustra seus troféus para 2014: o mineiro Eduardo Azeredo e o mensalão tucano.

Na versão corrente, uma coisa era uma coisa e a outra coisa era exatamente a mesma coisa: o publicitário Marcos Valério testou o mensalão nas campanhas do PSDB em Minas e o aperfeiçoou na campanha do PT e no governo de Lula em Brasília.

Azeredo, ex-governador, ex-senador, ex-presidente nacional do PSDB e atual deputado federal, está a caminho do matadouro, quer dizer, do julgamento do Supremo. E em meio à prisão dos mensaleiros petistas, à votação dos embargos infringentes no primeiro semestre de 2014 e à eleição de outubro.

Os discursos políticos já estão prontos nas duas pontas. Os petistas vão comparar a situação de Azeredo à de José Dirceu, e os tucanos vão forçar a comparação dele com a do então presidente Lula.

Os petistas desfraldarão a teoria do "domínio do fato": Dirceu não assinou nada, não há um telefonema gravado, uma reunião filmada, nenhuma mala de dinheiro fotografada na Casa Civil, mas os ministros da mais alta corte do país concluíram que seria impossível haver mensalão sem ele. Logo, o mesmo vale para o candidato e depois governador Azeredo.

Já os tucanos arguirão com unhas e dentes que Lula era o candidato e o presidente, mas nunca soube nem ouviu falar de nadica de nada do que ocorria à sua volta e nunca foi processado. Logo, o mesmo princípio vale para Azeredo. Um era presidente, e o outro, governador.

O que que eu acho? Não acho nada. O Supremo é o foro constitucional para julgar e o que os 11 ministros decidirem, eu, tu, nós e eles todos simplesmente acataremos.

PS - A crise da Petrobras reaviva uma frase atribuída a Quércia: "Quebro o Banespa, mas elejo o Fleury".

Fonte: Folha de S. Paulo

Garotos marotos - Dora Kramer

Não servem rigorosamente para nada que tenha prazo de validade de longa duração as tratativas formais entre PT e PMDB, com vista à eleição de 2014.

Os dois partidos querem manter a aliança nacional, mas cada qual faz seu jogo individual nem sempre revelando ao outro as respectivas in tenções. Ao mesmo tempo, ambos sabem qual o interesse que os une; o vice-presidente Michel Temer pretende repetir a chapa com Dilma Rousseff que, do partido dele, quer mesmo é o tempo de televisão.

Daí que não tem muita importância o resultado - qualquer que tenha sido- da reunião de ontem em Brasília para que PT e PMDB se acertassem em relação às alianças estaduais. Entre i outros motivos porque não é hora de decisões definitivas.

Profissionais, petistas e pemedebistas no momento ganham tempo e vão se levando mutuamente na conversa até o cenário político-partidário-eleitoral ficar mais nítido.

Um exemplo? O pedido que o ex-presidente Lula da Silva fez ao PT do Rio de Janeiro para que adiasse o desembarque do governo Sérgio Cabral Filho, marcado para ontem. Lula achou que não ficava bem esse gesto de ruptura no mesmo dia do encontro para dirimir conflitos regionais com o PMDB.

Para todos os efeitos (formais), seria um sinal ao parceiro de que ainda haveria possibilidade de o PT abrir mão da candidatura própria ao governo do Rio em prol do nome apoiado pelo governador, o vice Luiz Fernando Pezão.

Na prática não há essa hipótese. É o que se conclui do telefonema do ex-presidente ao candidato fluminense, senador Lindbergh Farias. Pediu o adiamento como uma "simbologia" e na mesma ligação informou a Lindbergh que a candidatura dele estava "consolidada".

O que interpretar? Só há um jeito; Lula espera que o problema se resolva por si. Como Cabral está desgastado e Pezão aparece com 4% nas pesquisas, a ideia é que o PMDB abandone a Meia de condicionar o apoio à reeleição de Dilma à retirada do PT da disputa no Rio, por insuficiência de capital eleitoral para bancar a jogada.

O problema aí nem é Sérgio Cabral, o valor de seu apoio a Dilma ou a amizade que o une ao ex-presidente. A preocupação do PT e não deixar escapar o tempo de televisão do PMDB.

Como é grande o número de delegados do Estado na convenção que decidirá sobre a renovação ou não da aliança nacional, os votos deles precisam ser preservados. O espaço no horário eleitoral só passa de um partido para outro quando há coligação formal.

O PMDB, por sua vez, não tem como prometer nada ao PT numa reunião de cúpula. O resultado da convenção estará ligado às conveniências regionais, à realidade de cada seção; essas é que decidirão a parada de acordo com as circunstâncias mais adiante, lá por volta de abril ou maio.

E ainda que se renove a aliança, desde já os pemedebistas deixam bem claro que nada será como foi em 2010, quando o partido ficou unido por Dilma com o aval de Lula. À vista no horizonte das disputas estaduais está a terra de murici. Nela, cada um trata de si.

Para ambos, a formalidade interessa mesmo é no âmbito nacional. Com uma diferença; no caso do PMDB, se Dilma e a economia estiverem firmes e fortes.

Caso pensado. Assim como surgiram na carona das manifestações de junho, os arruaceiros desapareceram quando ficou evidente a rejeição da sociedade expressa nas pesquisas e o poder publico deu sinais de que não ficaria mais assistindo à barbárie inerte.

Tanto a entrada quanto a saída de cena - de forma, digamos, organizada - demonstram que aquelas ações tinham muita orquestração e nenhuma espontaneidade. Se os governos quiserem evitar a repetição daquelas cenas, basta chegar aos maestros.

Que eles existem, não resta dúvida, e o sumiço ensaiado da turba diante da reação negativa deixa isso patente.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Toxinas políticas - Tereza Cruvinel

Um falso discurso, que une os muito céticos, os muito jovens e os muito cínicos, diz que o Brasil já foi bem melhor em tudo, especialmente na política

Teremos uma eleição geral dentro de alguns meses, mas nunca foi tão forte o sentimento de rejeição à política e o negativismo em relação ao próprio país. Há políticos de diferentes partidos na prisão ou prestes a serem presos, novos escândalos em pauta, desacertos no parlamento e uma pesada troca de acusações entre as duas legendas mais importantes, mas todos esses fatos, improváveis em outros tempos, podem ser lidos como sinais de vitalidade de uma democracia em construção. Essa leitura mais generosa, entretanto, só pode ser feita pela comparação entre o que já fomos e o que estamos nos tornando.

Na política, os indivíduos, assim como os partidos, com suas falhas ou virtudes, têm seu protagonismo. Mas é o sistema, essencialmente, que cria as condições para a ação política e para os desvãos. As mazelas são muitas, é verdade, mas uma avaliação honesta dirá que, há bem pouco tempo, elas eram maiores e piores. Neste momento em que o Congresso brasileiro dá um passo importante para a transparência da representação, aprovando o voto aberto em cassações e apreciações de vetos, algo bem distinto se passa no vizinho Paraguai. O Senado local negou licença para que um senador fosse processado por improbidade. A sociedade reagiu com uma forte campanha contra os 23 senadores que votaram pela negação. Estão sendo escorraçados e até barrados em locais públicos.

Alguém se lembra de que até há bem pouco tempo os parlamentares brasileiros estavam protegidos pela imunidade, e só poderiam ser processados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por crimes comuns, mediante licença da respectiva Casa? Se uma emenda acabando com a imunidade não tivesse sido aprovada entre 2001 e 2002 (patrocinada por Aécio Neves quando presidente da Câmara), dificilmente teria havido o julgamento da Ação Penal 470. Mas os avanços, esquecemos.

Há um discurso, que une os muito céticos e pessimistas, os muito jovens e também os muitos cínicos, segundo o qual o Brasil já foi bem melhor. O advogado de defesa de José Genoino, Luiz Fernando Pacheco, está denunciando duas impropriedades nas avaliações médicas do petista, na política e em tudo mais. A degeneração seria algo recente, para alguns coincidente com a chegada do PT ao Planalto.

Dos três grupos, só os muito jovens merecem alguma indulgência. Nasceram na democracia, não sabem quanto ela custou. Mas poderiam ter aprendido mais nos livros de história sobre o país de hoje e o de ontem. Pois, antes da refundação democrática de 1985-1988, o que tivemos? Uma colônia que, ao se tornar independente, tornou-se uma monarquia centralista, depois derrubada por um golpe militar, sem participação do povo, que gerou uma República carcomida, hoje chamada Velha. Nela, as oligarquias sugavam o Estado e o controlavam pelo voto de cabresto. Getulio liderou uma revolução modernizante, mas entendeu que só como ditador daria jeito no Brasil. Houve um suspiro democrático a partir da Constituinte de 1946, logo apagado pela ditadura que durou 21 anos. Então, República e democracia dignas do nome são coisas bem recentes. Não havia o país idílico que agora teria piorado.

Isso posto, muito falta mesmo por fazer. Os costumes na vida pública são péssimos, a Justiça é seletiva, o sistema político grita por reformas, os partidos são em sua maioria inconsistentes. Aí está o Ministério Público tentando punir os que trocaram de partido ao arrepio da norma. A educação deficiente e a desinformação limitam o exercício da cidadania a uma minoria mais ativa e exigente. Aí estão os jovens, alguns com recurso à violência, cobrando mais atenção do Estado. Há alguns anos, a corrupção vem sendo posta como o grande mal, e esse sentimento cristalizou-se nas manifestações de junho, contra a política, os partidos e os políticos. Mas não haveria a corrupção se não existissem também as empresas e os indivíduos corruptores fora do Estado. Logo, é alimentada pela cultura e pelo sistema político-econômico. Hoje é mais percebida porque há plena liberdade de imprensa e instituições mais eficientes.

A mesma marcha, lenta porém progressiva, ocorre na economia e no social. Já se foram os tempos da extrema dependência e da dívida externa que parecia impagável. Já é passado a hiperinflação tenebrosa, o que justifica os receios do descontrole, mas não o cassandrismo agourento. A vergonhosa sociedade escravocrata foi substituída por uma falsa sociedade de homens livres, com taxas de desigualdade gritantes. As políticas de transferência de renda produziram resultados, não podem ser eternas mas ainda serão necessárias por mais tempo, em qualquer governo. O passivo com os negros e índios é indiscutível, e começou a ser resgatado com ações afirmativas iniciadas no governo FHC e aprofundadas nos governos petistas. Mas, agora, as cotas começam a ser rotuladas como "medidas racialistas". O remédio seria fechar os olhos?

Mais nefasto porém é o niilismo diante da política. Em 2014, ele pode produzir uma avalanche de votos nulos ou brancos. Historicamente, a antipolítica costuma produzir soluções autoritárias, mesmo quando vestidas por um falso manto democrático.

Laudo parcial
Luiz Fernando Pacheco, advogado de José Genoino, denuncia omissão importante na divulgação do laudo expedido pela junta médica da Câmara que examinou o petista com vistas ao pedido de aposentadoria por invalidez. O resumo divulgado, de apenas 12 linhas, diz que o paciente "não é portador de cardiopatia grave". Mas o laudo completo, duas páginas, que ele divulga, afirma também que "trata-se de indivíduo sob o risco de desenvolver futuros eventos cardiovasculares e progressão da doença", considerando-se fatores como idade, proximidade entre a cüseccção sofrida e o arco da aorta, problemas de pressão e coagulação", que poderiam ser agravados pela atividade laborai. O deputado André Vargas deve cobrar explicações da Mesa na terça-feira.

Fonte: Correio Brasiliense

A autoridade do fracasso - Elio Gaspari

São inúmeras as contribuições dadas pelo economista Pedro Malan aos bons costumes nacionais, mas, de todas, a mais bem-humorada é sua afirmação de que "no Brasil, até o passado é incerto" Na batalha da banca para derrubar no Supremo Tribunal Federal os pleitos dos poupadores tungados pelos planos econômicos do final do século passado/entrou um manifesto de 13 ex-ministros da Fazenda e 11 ex-presidentes do Banco Central prevendo a ruína nacional caso o sistema financeiro seja desatendido.

Debulhando-se a lista dos signatários, vê-se como o passado é incerto. No "Clube dos 24" os ex-ministros da Fazenda signatários são 13. Deles, cinco têm a autoridade do desempenho para falar em defesa da moeda, pois restabeleceram seu valor e nunca mexeram no bolso de quem guardou sua poupança nas cadernetas. São Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan, Rubens Ricupero, Ciro Gomes e Antonio Palocci. Restam oito. Todos, com exceção de Delfim Netto na sua primeira encarnação de czar da economia (1967-1974), entraram no cargo prometendo conter a inflação e foram-se embora deixando para o sucessor uma taxa mais elevada ou ainda na faixa dos quatro dígitos. Considerando-se que a inflação brasileira não foi provocada pelos ciclistas nem pelas pessoas que poupavam nas cadernetas, é ilustrativo voltar ao legado de cada um dos doutores-signatários:

Emane Galvêas chegou ao ministério em 1980 e saiu em 1985. Foi condômino da segunda encarnação de Delfim. Fechou seu primeiro ano com a inflação em 110%, medida pelo IGP-DI da Fundação Getulio Vargas. Em 1984, ela foi para 223%.

Luiz Carlos Bresser-Pereira foi para a Fazenda em abril de 1987 e saiu em dezembro. No ano, a inflação chegou a 415%. Nesse período, ele concebeu o Plano Bresser, que foi o primeiro avanço sobre a remuneração da poupança.

Mailson da Nóbrega ficou no cargo de maio de 1987 a março de 1990. Em 1988, a inflação chegou a 1.037%. Ele concebeu o Plano Verão e, ao final de 1989, o IGP-DI fechou em 1.782%.

Zelia Cardoso de Mello conduziu os Planos Collor 1 e 2. Ficou no cargo de março de 1990 a maio de 1991 Em 1990, a inflação ficou em 1.476%.

Marcílio Marques Moreira assumiu em maio de 1991 e foi embora em outubro de 1992. Nesse ano, o IGP-DI ficou em 1.157%.

Gustavo Krause e Paulo Haddad estiveram poucos meses no ministério, entre o fim de 1992 e o início de 93, ano em que a inflação chegou a 2.708%.

Na carta, os ex-ministros lembraram: "Em alguns meses, a inflação mensal anualizada superou 10.000%" É claro, pois aquilo foi coisa dos ciclistas.

O manifesto poderia ter sido assinado pelos cinco ex-ministros capazes de dizer que, tendo reequilibrado as finanças nacionais, usam a própria autoridade para recomendar ao Supremo que dê razão à banca. Seria possível discordar deles, mas não se lhes poderia contestar os currículos. Quando aos cinco juntaram-se oito cavaleiros da ruína, formou-se um bloco.

Certamente, não é o desempenho que os une.

É a defesa dos bancos. Ganha uma viagem a Paris quem souber de outro tema capaz de gerar semelhante coesão.

• A obra dos doutores está na tabela 2 do texto "índice de Preços no Brasil" no portal do Banco Central.

O problema é que a banca quer pagar zero
A briga dos poupadores lesados nos planos econômicos do século passado virou uma guerra de cifras. O "Clube dos 24" argumenta que se as vítimas forem indenizadas os bancos perderão R$ 100 bilhões. Noutra conta, seriam R$ 150 bilhões, mas há um estudo que fala em R$ 600 bilhões. Tamanha disparidade num cálculo de banqueiros sugere que ele foi contaminado por um impulso terrorista. As provisões dos bancos protegendo-se contra esse mau momento, expressas em seus balanços, ficam em R$ 18 bilhões.

No coração do litígio estão as mudanças feitas no cálculo da correção monetária; que afetou a remuneração das cadernetas nas primeiras semanas dos planos. Um cidadão que em janeiro de 1987 tinha na poupança mil cruzados (a moeda da época); perdeu 204 cruzados na remuneração de 15 dias de fevereiro de 1987. Tomou uma tun-ga que hoje está em R$ 880.

Esse litígio deverá ser encerrado pelo STF no ano que vem. Ele se arrasta há mais de 20 anos, porque a banca quer pagar zero, noves fora os honorários de seus advogados. Eles perderam em quase todas os tribunais, inclusive no STJ e em dois lances de pura chicana, junto ao STF.

As vítimas dizem que perderam na remuneração das cadernetas durante algumas semanas. Os bancos respondem que os poupadores perderam numa fase e ganharam mais adiante. Há na praça uma ideia que elimina a argumentação terrorista e simplifica o debate. O Supremo poderia determinar que os poupadores sejam ressarcidos a partir de um cálculo baseado num só índice (o IPC, por exemplo), durante todos os períodos que duraram as mágicas. Em vez de discutir se cartola produz coelho, expurga-se o truque.

Nesse caminho, quem entende de banco assegura que a conta deveria ficar nuns R$ 50 bilhões. Em cima disso, os ministros deveriam decidir se além da correção monetária e dos juros contratados, os bancos devem pagar juros de mora pela duração do litígio. Essa é outra conta e outra discussão.

SUPERDIRCEU
O comissário José Dirceu foi contratado por R$ 20 mil mensais para trabalhar no hotel Saint Peter, que pertence a Paulo Masci de Abreu. O empresário tem oito rádios em São Paulo, e seu irmão preside o PTN, partido ectoplásmico que apoia a doutora Dilma.

Abreu é um empresário discreto e a contratação do novo gerente deu-lhe fama. Que os santos o protejam, bem como à rede associada aos seus interesses.

Em 2003, Marcos Valério era um bem sucedido publicitário, desconhecido fora de Belo Horizonte.

PERDERAM 0 TREM
Se os doutores Geraldo Alckmin e Fernando Haddad não tivessem ido para Paris em junho passado para defender a realização da Expo 2020 na cidade de São Paulo, ela não teria sido eliminada na primeira rodada da votação que escolheu Dubai. Eles teriam ficado em São Paulo fazendo seu serviço, até porque naqueles dias seria possível tratar as manifestações contra as tarifas de transporte de uma forma racional.

Pelo menos um deles foi advertido: "V.D.M."

Da viagem resultou a inesquecível apresentação da dupla cantando "Trem das Onze" resgatada pelo repórter Fernando Mello.

Adoniran Barbosa mostrou-se profético: "Não posso ficar nem mais um minuto com você (...) Tenho minha casa para olhar".

ERRO
Estava errada a informação aqui publicada segundo a qual um rabino teria rogado praga contra a descendência de Joseph Kennedy em 1941, quando ele viajava num transatlântico para os Estados Unidos.

O episódio teria ocorrido antes da guerra, e Kennedy viajava sozinho. Em 1941 o Atlântico estava infestado por submarinos alemães.

Fonte: O Globo

Política – Claudio Humberto

• GSI: carros de luxo empacados por falta de seguro
Disponibilizada pelo Gabinete de Segurança Institucional para fazer a segurança da presidenta Dilma e do vice Michel Temer, a minifrota de carros de luxo Ford Edge – custam cerca de R$ 150 mil cada – está empacada há meses na Presidência por falta de seguro. Substituto do general Amaro, o coronel Artur José Solon Neto utiliza os veículos para autoridades do GSI, enquanto a Presidência precisa alugar os seus.

• A conta é nossa
O aluguel de um carro de luxo do porte do Ford Edge não sai por menos de R$ 1,6 mil por dia.

• É para a segurança
Apesar de ter adquirido carros Ford Edge, pela bagatela de R$ 150 mil cada, a presidenta ainda anda no mesmo carro, um sedã blindado.

• Grana preta…
O Detran do DF arrecadou R$ 293,4 milhões até outubro deste ano, dos quais R$ 104 milhões vieram dos “pardais”, as máquinas de multar.

• …e amarela
Apesar de ter aplicação prevista na educação de trânsito, gastou-se apenas R$ 312 mil, dos 104 milhões, com publicidade aos motoristas.

• Após pesquisas, aliados cobram atitude de Aécio
O baixo desempenho do presidenciável Aécio Neves (PSDB) nas pesquisas levou intranqüilidade ao tucanato e aliados, que cobram dele uma nova atitude, até mais agressiva, temendo que a disputa contra a presidenta Dilma nem sequer chegue ao segundo turno. Aécio não parece abalado: lembra que Dilma é beneficiada pela exposição na mídia, em razão do cargo, e que tudo isso está dentro das previsões.

• Desafio
Aécio acha que o PSDB vencerá de novo na região Sul, como nas três últimas campanhas, e no Sudeste. Seu desafio, diz, é o Nordeste.

• Burros n’água
O “desfio” oposicionista de crescer no Nordeste ficou mais distante, com o pífio desempenho de Eduardo Campos (PSB) nas pesquisas.

• Nova agenda
O presidente do partido Solidariedade, Paulo Pereira (SP), que apoia Aécio, cobrou dele mais viagens pelo País e uma nova agenda.

• Nada disso
Indicado pelo PTB para um ministério de Dilma, Benito Gama (BA) tem dito categoricamente, para quem quiser ouvir, que sairá candidato a deputado federal em 2014. Seus adversários o chamam de Benito “Grana”, talvez porque seja vice-presidente do Banco do Brasil.

• Obsoletas
O deputado Fábio Trad (PMDB-MS) se reunirá com o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), para propor a revisão conjunta do código penal e do código de processo penal, ambas de 1940.

• Reduto gaúcho
Fiel escudeiro do vice Michel Temer, Eliseu Padilha (RS) está sendo cotado na bancada do PMDB para assumir Ministério da Agricultura em lugar de Antônio Andrade (MG), que disputará as eleições em 2014.

• Lata de lixo
Pedetistas designados para revisar contratos do Ministério do Trabalho com ONGs estão impressionados com os esqueletos que o dono do PDT, Carlos Lupi, deixou. Nem o partido imaginava que eram tantos.

• Tem quem queira
O PDT está confiante sobre manter Manoel Dias no Trabalho. O partido alega que a presidente Dilma não entregará de mão beijada seu tempo de TV ao adversário Aécio Neves (PSDB), ou Eduardo Campos (PSB).

• Eis a questão
No Planalto, a ministra Miriam Belchior é nome forte para assumir a chefia da Casa Civil em lugar de Gleisi Hoffmann, que disputará o governo do Paraná. O problema é quem assumiria o Planejamento.

• Espelho meu
Cotado a vice do governador Beto Richa (PSDB), presidente do PMDB-PR, Osmar Serraglio, divulgou nota parabenizando a si próprio pela coragem ao relatar CPI do mensalão, que resultou na prisão de petistas

• Estão nem aí
O deputado Marco Feliciano (PSC-RJ) critica o abandono à Comissão de Direitos Humanos: “Mesmo após perceberem que teríamos quórum, aliados da comunidade gay sequer apareceram para discutir projetos”.

• Pensando bem…
O aumento (tão negado) de 4% na gasolina é o primeiro presente de Natal do governo Dilma.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)