terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Opinião do dia – Aécio Neves

Essa informação comprova que a população foi enganada e que a candidata sabia que estava mentindo quando disse que não mexeria nos direitos trabalhistas ‘nem que a vaca tussa’.
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Presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves

Dilma usa reunião ministerial para dar aval a ajuste e pedir a unidade da equipe

• No primeiro encontro com os 39 titulares das pastas, presidente vai defender a necessidade de corte de gastos, mas sem abandonar a retórica social; o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fará uma apresentação sobre as novas medidas econômicas

Vera Rosa, Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff vai aproveitar a primeira reunião ministerial do ano, na tarde desta terça-feira, 27, para explicar a necessidade do ajuste fiscal e do corte de gastos, sem abandonar a retórica social. Com um discurso otimista, Dilma vai destacar que um novo ciclo de oportunidades será construído no País, após a superação das dificuldades na economia. Ela pedirá unidade da equipe.

A preocupação da presidente está em enfrentar o desgaste das medidas impopulares de forma assertiva, pedindo muito trabalho e criatividade.

Auxiliares de Dilma disseram ao Estado que ela pretende injetar ânimo na tropa, driblando a agenda negativa da tesourada nos investimentos. A ideia é dizer que 2015 será um ano duro, por causa do cenário mundial de incertezas na economia, mas, se a lição de casa for feita, a colheita começará em 2016.

A reunião com os 39 ministros ocorrerá na Granja do Torto, residência de campo da presidente, e será seguida por um jantar de confraternização. Por ordem de Dilma, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fará uma apresentação sobre as novas medidas econômicas e a titular do Desenvolvimento Social, Tereza Campelo, falará sobre os resultados do programa Brasil Sem Miséria.

Dilma baterá na tecla de que os direitos dos trabalhadores serão respeitados, apesar do endurecimento das regras para concessão de seguro-desemprego, abono salarial, pensão por morte e auxílio-doença, que devem provocar uma economia de R$ 18 bilhões por ano aos cofres públicos.

A ênfase nesse assunto não será sem motivo. Na semana passada, a entrevista de Levy ao jornal britânico Financial Times, durante sua passagem pelo Fórum Econômico Mundial, em Davos, repercutiu mal no Palácio do Planalto, no PT e nos movimentos sociais.

Levy disse que o atual modelo do seguro-desemprego está “completamente ultrapassado”. A reação foi imediata. Após o protesto de representantes de centrais sindicais, com quem o governo vem mantendo diálogo sobre as mudanças, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Miguel Rossetto, divulgou uma nota jogando água na fervura.

“O seguro-desemprego é cláusula pétrea. Assim como o salário mínimo, jornada de trabalho, férias e aposentadoria fazem parte do núcleo duro dos direitos dos trabalhadores e representam conquistas civilizatórias”, escreveu Rossetto. Para o ministro, que terá nova reunião com os sindicalistas no dia 3 de fevereiro, as medidas anunciadas pelo governo preservam os direitos e buscam responder às “grandes e positivas”mudanças ocorridas no mercado de trabalho.

Em conversas reservadas, porém, deputados, senadores e até dirigentes do PT manifestam desconforto com o fato de Dilma, em seu segundo mandato, só apresentar um “saco de maldades” para a população, sem qualquer agenda positiva.

‘Pacote do bem’. No momento em que o escândalo da Petrobrás assume proporções inesperadas e a falta de água e de energia elétrica batem à porta do Planalto, correligionários da presidente reclamam do custo político das medidas econômicas e da tesourada nas despesas, que vieram acompanhadas de aumento dos juros. Até os petistas cobram um freio de arrumação no discurso, para que possam defender o governo, e pedem um “pacote do bem”.

Na semana passada, ministros da coordenação política do governo disseram aoEstado que Dilma prepara uma agenda positiva para se contrapor ao ajuste fiscal. A presidente deu sinal verde ao Plano Nacional de Exportações e pode anunciar uma nova etapa do programa Minha Casa, Minha Vida.

Ao mesmo tempo, o governo trabalha para anunciar o corte de gastos do Orçamento, que deve atingir a cifra de R$ 70 bilhões. Nem mesmo os investimentos serão preservados do aperto, mas Dilma tenta passar a mensagem de que o social será sempre sua prioridade.

Desde setembro de 2012 o governo vem debatendo o endurecimento das regras para a concessão de benefícios trabalhistas. À época foi criado um grupo de trabalho para preparar propostas que flexibilizavam a lei trabalhista.

Às vésperas das eleições municipais, no entanto, o Planalto teve receio de “atritos” com movimentos sociais e optou por engavetar o assunto, que só foi “resgatado” após o resultado das urnas.

Pressão sindical faz Dilma rever novo seguro-desemprego

Governo vai recuar no seguro-desemprego

• Após polêmica de Joaquim Levy na semana passada, Planalto considera que terá de ceder para aprovar projeto

• Mudança pode envolver período de carência para concessão do benefício na primeira solicitação do trabalhador

Valdo Cruz, Julianna Sofia - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O governo já admite reservadamente que vai ceder às centrais sindicais e rever parte das mudanças nas regras do seguro-desemprego que endureceram o acesso ao benefício trabalhista.

Segundo a Folha apurou, a equipe da presidente Dilma chegou à conclusão de que, sem alterações, a medida provisória que restringiu o benefício não será aprovada no Congresso Nacional.

Assessores presidenciais disseram à reportagem que, diante da reação contrária de lideranças sindicais, a estratégia era fazer concessões durante a fase de tramitação da proposta no Legislativo.

Agora, após declarações do ministro Joaquim Levy (Fazenda) avaliadas pelo Palácio do Planalto como infelizes, a equipe de Dilma acredita que pode ser obrigada a sinalizar mais concretamente o que irá mudar na próxima reunião com as centrais sindicais, em 3 de fevereiro.

Na semana passada, em Davos (Suíça), Levy chamou de "ultrapassado" o modelo do seguro-desemprego, o que irritou sindicalistas e até assessores de Dilma.

Seu colega Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) divulgou nota no sábado (24) classificando o seguro-desemprego como "cláusula pétrea" dos direitos dos trabalhadores.

O próprio Levy reconheceu internamente no governo que não foi feliz em suas declarações. Ele defende mudanças no sistema, mas sem retirar direitos trabalhistas.

Jovens
Segundo a Folha apurou, o governo pode mudar o período de carência para concessão do benefício na primeira solicitação feita pelo trabalhador. As centrais sindicais consideram que essa regra prejudica principalmente jovens num período da economia em que deve haver alta de desemprego nesta faixa.

Pelas regras definidas pela equipe econômica, a carência subiria de 6 para 18 meses nos últimos 24 meses trabalhados na primeira solicitação do benefício. No segundo pedido, o prazo passou de 6 para 12 meses nos últimos 16 meses trabalhados. Na terceira, foi mantida a carência de seis meses.

O governo também propôs mudanças no abono salarial, no seguro-defeso (pago a pescadores no período de proibição da pesca) e na pensão pós-morte.

Lançado no fim de 2014, o pacote de mudanças em benefícios trabalhistas e previdenciários visa economizar R$ 18 bilhões neste ano para reequilibrar as contas públicas. São R$ 9 bilhões apenas com o seguro-desemprego.

Presidente da Força Sindical, Miguel Torres diz que mudar só a carência do seguro-desemprego não é "suficiente". Ele também defende ajustes no seguro-defeso e na pensão pós-morte.

Presidente da CUT, Vagner Freitas defende mudanças em todas as medidas.

As centrais estão organizando manifestações contra as propostas, classificadas por elas de conservadoras.

A hora de assumir o ajuste

• Após 26 dias reclusa, presidente deve aproveitar primeira reunião ministerial do 2º mandato para defender cortes; ministra distribuirá livro de 800 páginas com defesa da área social

Eliane Oliveira e Luiza Dame - O Globo 

Fim do silêncio
Cobrada pela oposição e até por aliados a dar explicações sobre as duras medidas econômicas anunciadas até agora pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a presidente Dilma Rousseff encerra hoje um período de 26 dias de silêncio e reclusão e aproveitará a primeira reunião ministerial de seu segundo mandato para cumprir uma missão espinhosa: fazer a defesa seu pacote de ajuste fiscal.

Mas para não sobressaírem apenas as más notícias, o encontro dos 39 integrantes da Esplanada deve ser marcado também por uma defesa enfática das políticas sociais - principal bandeira das gestões petistas. Como foi obrigada a abrir mão de promessas de campanha para equilibrar as contas, Dilma tentará demonstrar que a área social será preservada da tesoura.

A expectativa no governo é que a presidente utilize o início do encontro, parte que deverá ser transmitida pelas TVs governamentais, para cumprir a missão.

Os debates serão puxados, de um lado, pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e de outro, por sua colega Tereza Campello, do Desenvolvimento Social. Para sensibilizar os integrantes da equipe econômica, Tereza Campello deverá distribuir, para cada um dos 39 ministros presentes, um livro de 800 páginas com os principais resultados do programa Brasil sem Miséria, para que as ações sejam preservadas. Ela tentará mostrar no encontro que o programa consiste em um avanço significativo do Bolsa Família, criado no governo Lula.

A fala da presidente na abertura da reunião ministerial, por sua vez, será objetiva: os cortes nos orçamentos dos ministérios serão pesados, mas as políticas públicas do governo não serão paralisadas.

- Será uma reunião para afinar o discurso dos ministros. A presidente quer afinar falas e atitudes - disse um ministro.

O pacote de ajuste começou a ser defendido ontem pelo vice-presidente Michel Temer. Indagado se os ajustes teriam sido pensados antes mesmo da eleição, apesar de a presidente ter prometido o oposto na campanha, o vice admitiu que eles começaram a ser analisados "no passado":

- Esses ajustamentos começaram a ser analisados no passado e agora vão ser implementados. Agora, são variações mais do que naturais. É claro que às vezes em face até de um progresso social, você tem que readequar certos institutos. Penso que está se falando de seguro-desemprego. Acho que é um tema que está sendo examinado. Não causará prejuízo aos trabalhadores, nós esperamos que não, não tenho ainda o texto daquilo que poderá ser legislado, mas essas adequações são transitórias e às vezes necessárias - disse Temer.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, passou a tarde de ontem no Planalto finalizando a preparação de sua participação na reunião. Ele fará um balanço sobre o Fórum Econômico Mundial, em Davos, onde conversou com dezenas de investidores, acompanhado do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e também explicará detalhadamente as medidas tomadas desde que assumiu.

Levy falará de cenário
Levy fará uma análise do cenário econômico internacional, da situação do país e das perspectivas de crescimento. A ideia é que o ministro dê argumentos aos colegas para defenderem as medidas anunciadas desde o ano passado, que incluem o endurecimento das regras de acesso a benefícios previdenciários e trabalhistas e o aumento de impostos. O destaque para a fala de Levy será um gesto político da presidente de apoio a ele, diante de ataques ao ministro da Fazenda por setores do PT.

A presidente vai dizer aos ministros que os projetos de cada área só devem ser anunciados após serem oficialmente aprovados como política de governo. Dilma reunirá os 39 ministros, na Granja do Torto, a partir das 16h.

Dilma deve referendar política econômica de Levy em reunião

Claudia Safatle – Valor Econômico

Na reunião ministerial de hoje, a primeira do segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff pretende declarar apoio integral à política econômica de Joaquim Levy, ministro da Fazenda, segundo informações do Palácio do Planalto.

Levy e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, farão uma apresentação sobre os rumos da economia neste e no próximo ano. A principal mensagem que Dilma quer deixar para seu ministério é a de que a nova equipe econômica tem todo o seu aval para fazer a "correção de rumos" necessária.

Como resultado, ela espera que até meados de 2016 o país esteja com a economia nos trilhos, tenha recuperado credibilidade e apresente novas perspectivas de crescimento. O prazo é exíguo, assim como é curto o tempo que Dilma terá livre de compromissos eleitorais. A partir de junho do próximo ano a campanha municipal estará nas ruas.

Ao declarar apoio, a presidente procura sanar dúvidas sobre o seu real compromisso com a nova política econômica que, até agora, restringiu o acesso a benefícios trabalhistas e previdenciários (com economia estimada em R$ 18 bilhões) e aumentou impostos sobre a gasolina e as importações (cerca de R$ 20 bilhões a mais nas receitas deste ano).

O corte de gastos com benefícios sociais - seguro desemprego, pensão e abono salarial - foi preparado pelo então ministro Guido Mantega, no ano passado. Ele não o implementou e nem elevou os tributos por que 2014 era o ano de eleições presidenciais, mas deixou as medidas prontas para serem adotadas.

Dilma tinha plena ciência, antes das eleições, de que seria preciso um forte ajuste fiscal e um freio de arrumação geral na economia, disse uma fonte. Primeiro, porém, era preciso vencer a disputa.

A área de atuação de Levy não se esgota no ajuste das contas públicas, embora isso não seja pouco dado que encontrou o caixa do Tesouro Nacional vazio. A ele cabe formular e executar a política econômica do governo, cuidar do crédito, da poupança, do comércio exterior, dos preços, dentre outras. E uma das primeiras providências do novo ministro foi imprimir o realismo tarifário na energia elétrica, não só para livrar o Tesouro de um gasto crescente mas, também, por acreditar no sistema de preços.

Colaboradores da presidente salientam que esta não será a primeira referência que ela fará a Levy. Em entrevista aos jornais do Grupo dos Diários Americanos (GDA), Dilma falou: "Convivi com o ministro Levy durante anos e tenho confiança na sua competência para conduzir o Ministério da Fazenda neste momento. O ministro Levy foi um quadro importante no governo Lula. Ter trabalhado em um banco não o diminui, ao contrário, apenas amplia a sua experiência profissional."

Na reunião de hoje a presidente deixará claro que Nelson Barbosa também conta com seu apoio. A menção explícita ao ministro do Planejamento pode ser vista como uma forma de Dilma reparar o dano causado à imagem de Barbosa, que por sua determinação teve que desmentir declaração de que o governo poderia mudar a política de reajuste do salário mínimo, cuja lei tem prazo de vigência apenas até este ano.

No Palácio do Planalto já há quem demonstre preocupação com a força do "fogo amigo", que começa a soltar fagulhas no ministro da Fazenda de forma explícita e implícita antes mesmo do fim do primeiro mês de governo.

Delator afirma que executivo da Odebrecht sugeriu conta na Suíça

• Paulo Roberto Costa apontou à Polícia Federal que Rogério Araújo, da Odebrecht Plantas Industriais, indicou agente para fazer transferência de propina de US$ 23 milhões

Ricardo Brandt, Julia Affonso e Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa afirmou em delação premiada à força-tarefa da Operação Lava Jato que o executivo Rogério Santos de Araújo, diretor da Odebrecht Plantas Industriais e Participações, foi quem sugeriu a ele que “abrisse conta no exterior” para receber propinas da empresa no montante de US$ 23 milhões.

Segundo Costa, o diretor da Odebrecht “mandou depositar o valor integral, entre 2008 e 2009”. A construtora fechou contrato bilionário com a Petrobrás em 2009, alvo das investigações da força-tarefa.

O ex-diretor da Petrobrás, primeiro delator da Lava Jato, disse que abriu a conta por intermédio de “uma pessoa indicada” por Araújo.

Segundo Costa, o indicado pelo diretor da Odebrecht chama-se Bernardo Freiburghaus, da Diagonal Investimentos Agente Autônomo de Investimentos Ltda., no Rio de Janeiro. Procurado em sua casa, a informação foi de que ele estaria viajando.

A Odebrecht nega veementemente o que classifica de “alegações caluniosas do réu confesso e ex-diretor da Petrobrás”. A empresa rechaçou “qualquer pagamento ou depósito em suposta conta de qualquer executivo ou ex-executivo da estatal.”

Por seu lado, Rogério Araújo chama a delação de Costa de “questionável e ilegal”. Araújo nega ter feito, intermediado ou mandado fazer qualquer pagamento ilegal ao delator.

A conta na Suíça foi aberta exclusivamente para receber US$ 23 milhões em propinas da Odebrecht, segundo o ex-diretor da Petrobrás. Ele disse que espalhou esse valor em outras contas que abriu posteriormente na mesma instituição financeira.

Procuradores da República que integram a força tarefa do Ministério Público Federal na Operação Lava Jato viajaram à Suíça em busca dos extratos das contas de Paulo Roberto Costa.

Os procuradores querem identificar os caminhos da fortuna do ex-diretor da estatal petrolífera, desde o ponto de partida até os depósitos no banco suíço. Eles suspeitam que o dinheiro circulou por contas de offshores para ocultar o verdadeiro pagador.

Outras contas. Investigadores da Lava Jato estão convencidos de que Costa recebeu comissões de outras empreiteiras do cartel que assumiu o controle de contratos bilionários da estatal. Eles acreditam que o ex-diretor omitiu a existência de valores depositados em paraísos fiscais, o que poderá lhe custar os benefícios da delação premiada, inclusive o regime domiciliar em que se encontra desde que fechou o acordo.

A linha de raciocínio dos investigadores é que outros integrantes do esquema de corrupção que ocupavam cargos inferiores ao de Costa ganharam muito mais que os US$ 23 milhões que ele diz ter recebido – citam o exemplo do ex-gerente da Diretoria de Serviços Pedro Barusco, que abriu mão de cerca de US$ 100 milhões, a maior parte abrigada no exterior.

Se o rastreamento que está em curso identificar, de fato, ativos de propriedade do ex-diretor da Petrobrás em outras praças a delação que ele fez será declarada nula – na prática, ele volta para a prisão e fica sujeito a pena superior a 50 anos por lavagem de dinheiro, corrupção e organização criminosa.

Com a palavra, a Odebrecht
A Odebrecht, em nota, repudiou categoricamente as declarações do ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa. A empresa afirma que não fez pagamentos ou depósitos para Costa e nem para qualquer outro executivo ou ex-diretor da estatal.

Defesa de Cerveró convoca Dilma e recua

Recuo em menos de 3 horas

• Advogado de Cerveró relaciona Dilma como testemunha no processo, mas volta atrás em seguida

Vinicius Sassine – O Globo

BRASÍLIA - O advogado de Nestor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional da Petrobras, arrolou a presidente Dilma Rousseff como testemunha de defesa no processo em curso na Justiça Federal no Paraná sobre a corrupção na estatal e, menos de três horas depois, desistiu da iniciativa. De acordo com o advogado Edson Ribeiro, responsável pela defesa protocolada ontem, a decisão de retirar a presidente da lista de testemunhas partiu do próprio Cerveró.

Tanto o advogado quanto o Palácio do Planalto negaram qualquer negociação para excluir Dilma da lista de testemunhas. Segundo o advogado, os dois entenderam que Dilma, como presidente do Conselho de Administração da Petrobras até 2010, não teve participação na contratação de navios-sonda para a estatal. Foram contratos nessa área as supostas fontes da propina paga a Cerveró, conforme a denúncia do Ministério Público Federal.

A presidente, como testemunha de defesa, teria a obrigação de depor, segundo fontes do Judiciário ouvidas pelo GLOBO. Dilma só ficaria desobrigada em caso de desistência da defesa, o que acabou ocorrendo.

O depoimento teria de ser ajustado entre a presidente e o juiz do caso, Sérgio Moro, como uma definição prévia de dia, hora e local - o Palácio do Planalto poderia ser uma escolha, se fosse essa a escolha da presidente. A Dilma também seria dado o direito de depor por escrito. Neste caso, juiz e partes formulariam as perguntas a serem respondidas.

O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli também foi arrolado como testemunha no processo, e foi mantido na lista. No documento anexado ontem aos autos, o advogado de Cerveró listou oito testemunhas. Além de Dilma e Gabrielli, foram listados o ex-presidente da Petrobras José Carlos de Lucca e o atual presidente da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), Eloy Fernández y Fernández, entre outros. Dilma foi retirada e, no lugar dela, foi indicado Ishiro Inagaki, um dos representantes de uma das empresas dos navios-sonda.

- Cerveró tinha de assinar hoje outras duas petições e, então, falou que não havia necessidade de incluir Dilma na lista de testemunhas. Não há nenhum fato político na decisão de excluir o nome da lista - afirmou o advogado Ribeiro: - Chegamos à conclusão de que Dilma não tinha o que falar.

A Secretaria de Imprensa da Presidência informou que o Palácio do Planalto não fez contato telefônico com a defesa de Cerveró para que houvesse a mudança de posição. O Planalto não respondeu às perguntas do GLOBO sobre a posição de Dilma a respeito da inclusão - e a posterior exclusão - na lista de testemunhas de defesa do ex-diretor da Petrobras.

O advogado Edson Ribeiro também afirmou não ter sido procurado por ninguém ligado ao Planalto. A decisão de incluir Dilma partiu exclusivamente da defesa, segundo ele. A inclusão ocorreu mesmo depois de a presidente ter considerado tecnicamente "falho" o parecer de Nestor Cerveró, na época diretor da área internacional da Petrobras, sobre a compra da refinaria de Pasadena.

Pedido de suspensão da ação penal
A retirada do nome de Dilma foi feita menos de três horas depois da inclusão, por meio de nova petição anexada aos autos. "A decisão sobre a aquisição das sondas foi privativa da diretoria da Petrobras, não passando pelo Conselho de Administração, onde a testemunha ora substituída exercia a presidência", escreveu o advogado na petição.

Uma das petições, segundo a defesa de Cerveró, é uma ação de suspeição contra Moro. O advogado argumentou que o juiz, na decretação de nova prisão preventiva do réu, "antecipou sua convicção sobre a responsabilidade penal" do ex-diretor e, por isso, deve ser considerado suspeito para conduzir os autos.

Além de listar a presidente e o ex-presidente da Petrobras como testemunhas, outra estratégia de defesa foi pedir a suspensão da ação penal enquanto não houver acesso à integra do depoimento prestado pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, que fez acordo de delação. Ribeiro também disse na defesa que o consultor da empreiteira Toyo Júlio Camargo, outro delator, prestou depoimentos em "condições de pressão extrema" e que, por essa razão, a delação deveria ser excluída dos autos.

Tanto Costa quanto Camargo detalharam indícios de que Cerveró recebeu propina de contratos da Petrobras. A defesa ainda alegou incompetência da Justiça Federal no Paraná para cuidar do caso, uma vez que os fatos teriam ocorrido no âmbito da sede da Petrobras, no Rio. O advogado defendeu a absolvição sumária do cliente e a extinção do processo.

O MPF denunciou Cerveró por lavagem de dinheiro, crime contra o sistema financeiro e corrupção. Ele é suspeito de receber propinas para viabilizar contratos.

Ex-diretor desiste de testemunho de Dilma

• Advogado do ex-diretor da Petrobras pretendia convocar presidente para depor em processo sobre compra de navios

• Cerveró já havia dito à PF que a aquisição não passou pelo conselho da estatal, presidido à época pela petista

Aguirre Talento, Gabriel Mascarenhas, Rubens Valente – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A defesa do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró pediu a inclusão da presidente Dilma Rousseff como sua testemunha de defesa, mas desistiu quase três horas depois.

As duas petições foram protocoladas nesta segunda-feira (26) na ação penal que tramita na Justiça Federal, na qual Cerveró foi acusado pelo Ministério Público Federal de receber cerca de US$ 40 milhões em propina para fechar contratos de aquisição pela Petrobras de navios-sonda.

O ex-diretor está preso no Paraná em decorrência das investigações da Lava Jato.

No lugar de Dilma, a defesa de Cerveró colocou uma testemunha que mora no Japão, Ishiro Inagaki, que segundo o advogado era um diretor de uma das empresas estrangeiras que forneceram os equipamentos à Petrobras.

À Folha o advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, disse que foi alertado ontem pelo ex-diretor de que a decisão sobre os navios não passou pelo Conselho de Administração da estatal, presidido por Dilma, ministra na época.

"Foi só isso que aconteceu, não houve nada além disso. [...] Ela [Dilma] não tem nenhuma contribuição a dar, nem ela e nem o conselho."
Na petição em que pediu a troca, o advogado disse que "a decisão sobre a aquisição das sondas foi privativa da diretoria da Petrobras, não passando pelo conselho".

A citação a Dilma foi feita na defesa prévia de Cerveró, protocolada às 13h45 na Justiça. Às 16h27, foi protocolada a petição com a troca.

No último dia 15, em depoimento à Polícia Federal, Cerveró já havia declarado que as duas aquisições não passaram pelo conselho, tendo sido aprovadas pela diretoria executiva --o presidente da Petrobras e seis diretores.

Por isso o ex-presidente da estatal José Sergio Gabrielli foi incluído como testemunha de defesa de Cerveró.

Cunha corteja PSDB e aposta em traições para se eleger

• Candidato a presidir a Câmara volta a negar que será oposição ao governo

Silvia Amorim, Isabel Braga e Júnia Gama – O Globo

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Em visita ontem a São Paulo, na reta final da campanha para a presidência da Câmara, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) buscou o apoio de dissidentes na bancada do PSDB. Cunha, um dos quatro candidatos ao cargo, deixou o encontro com tucanos paulistas afirmando que poderá vencer em primeiro turno.

Os deputados da bancada do PSDB de São Paulo estavam reunidos em almoço e receberam a visita de Cunha. Já em Brasília, a cúpula do PSB decidiu formar uma força-tarefa para impedir dissidências entre aliados de Júlio Delgado (MG). Eles cobraram uma maior atuação do presidente do PSDB, Aécio Neves (MG). Os tucanos anunciaram no fim do ano passado apoio a Delgado, mas têm sido assediados por aliados de Cunha, como o Solidariedade.

"Ninguém vai para o Procon", diz Cunha
Após se reunir com os tucanos, Cunha disse apostar no voto secreto para a escolha da Mesa Diretora da Câmara, no próximo domingo, e assim alcançar seu objetivo. Ele espera ter o voto de quem oficialmente apoia outros candidatos:

- Se há um constrangimento de quem quer que seja, ao ser pressionado para não votar em mim, o voto secreto obviamente me ajuda - afirmou.

Delgado reagiu em Brasília:

- Inocente é aquele que achar que que terá todos os votos dos partidos que o apoiam. Não serão todos os votos do PSDB para mim, mas a dissidência nos outros dois blocos também será grande - afirmou Delgado.

Apesar da corte à oposição, Cunha repetiu que, se eleito, fará uma gestão independente, não sendo um presidente da oposição nem da "submissão" ao governo. Indagado se adotaria posições contra o governo, caso receba apoio de siglas da oposição, disse que manterá sua posição de independência:

- Podem vir todos os partidos de oposição inteiros que a minha posição não vai mudar. Ninguém vai para o Procon reclamar da minha atuação como presidente. Vou fazer aquilo que estou prometendo na campanha - afirmou .

O presidente estadual do PSDB-SP, Duarte Nogueira, disse que o esperado é que o partido vote unido em Delgado. Porém, admitiu que não há como garantir que isso ocorra:

- Tem uma orientação de bancada, agora, essas questões você não tem como garantir porque o voto é secreto.

Também em São Paulo, o vice-presidente Michel Temer minimizou ontem o acirramento da disputa entre Cunha e o petista Arlindo Chinaglia (SP):

- Acho que há uma disputa natural na Câmara dos Deputados. Fui candidato três vezes e é natural que ocorram acidentes e incidentes. Acho que nessa última semana há um agravamento nesses incidentes, mas tenho certeza que, ao final desta semana, feita a eleição, a Câmara se pacifica em torno do candidato eleito.

O vice-presidente disse não crer no envolvimento da Polícia Federal na gravação denunciada semana passada por Cunha, que se disse alvo de uma tentativa de constrangimento.

- Não acredito e acho que nem o Eduardo Cunha acredita. Ele me mostrou até um dia essa gravação e eu sugeri a ele, como ele fez, que levasse ao ministro da Justiça para que exatamente a Polícia Federal investigasse. A Polícia Federal cumpre seu papel de investigação, não acredito que alguém da PF pudesse fazer isso.

PSB recorre a Aécio para evitar dissidência de tucanos na campanha de Delgado

• Dirigentes do partido disseram que Aécio se comprometeu em intensificar a atuação junto aos demais partidos e sua bancada nesta semana, de forma a garantir os votos necessários

Daiene Cardoso, Daniel Carvalho, Pedro Venceslau, Ricardo Della Coletta e Ricardo Chapola – O Estado de S. Paulo

O PSB recorreu ao presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), para evitar a defecção dos tucanos na eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados. Oficialmente, o PSDB apoia a candidatura de Júlio Delgado (PSB-MG), considerado como azarão na disputa.

A cúpula do PSB se reuniu na tarde desta segunda-feira, 26, em Brasília para discutir a estratégia de campanha na última semana. O partido procurou os líderes do PSDB, PV e PPS para que reforcem o apelo às suas bancadas.

Os dirigentes do partido disseram que Aécio se comprometeu em intensificar a atuação junto aos demais partidos e sua bancada nesta semana, de forma a garantir os votos necessários para Delgado.

 "É bom a gente confiar nas lideranças do PSDB", disse o ex-governador do Espírito Santo e presidente da Fundação João Mangabeira, Renato Casagrande.

Delgado fez um discurso de otimismo e disse que sua candidatura incomoda os adversários porque reforça a existência de um segundo turno. Apesar das ameaças de traição entre os tucanos, o candidato disse considerar que apenas 10% do bloco de 106 parlamentares votem em outros candidatos. "Dissidências ocorrerão em todas candidaturas, mas na nossa será residual", previu Delgado.

Cunha. Depois de anunciar em dezembro o apoio formal à candidatura de Júlio Delgado (PSB) à presidência da Câmara, deputados do PSDB já admitem que a sigla pode rever sua posição e embarcar no projeto de Eduardo Cunha (PMDB) no primeiro turno da disputa. A avaliação dos tucanos é que o peemedebista representa hoje um nome alinhado à oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT).

Com o apoio da sigla, que contará com 54 deputados na próxima legislatura e será a terceira maior bancada, Eduardo Cunha poderia vencer o petista Arlindo Chinaglia no primeiro turno. Se forem mesmo o fiel da balança, os tucanos terão condições de negociar um lugar de destaque na Mesa Diretora e em comissões temáticas. O principal pleito é manter a 1ª secretaria, que está na cota do PSDB desde 2009.

"Meu sentimento é de que um terço da bancada vai caminhar com Cunha. É preciso ver qual será a posição do partido na Mesa Diretora. Como fazer uma oposição fragilizada?", questionou o deputado federal Alfredo Kaefer (PSDB-PR), um dos que trabalham pela candidatura de Cunha. Embora oficialmente ainda estejam fechados com Delgado, dirigentes tucanos já admitem abertamente que será difícil garantir a unidade da bancada.

"Há uma orientação nesse sentido (de apoiar Delgado), mas o voto é secreto. Não há como garantir (o apoio de toda a bancada)", disse o deputado Duarte Nogueira, presidente do PSDB paulista. Ele comandou nesta segunda-feira um almoço dos deputados tucanos paulistas com Cunha em restaurante da capital. Na saída do encontro, o peemedebista disse ter segurança de que "a eleição será resolvida no primeiro turno". O candidato do PMDB chegou acompanhado do deputado Paulinho da Força, presidente do Solidariedade, que esteve com ele ao longo do dia nas agendas da capital.

A possível debandada do PSDB da candidatura de Delgado, movimento que é liderado por parlamentares de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, já causa divergência. "Não podemos abandonar companheiros. Hoje a candidatura que não está vinculada à base é a do Júlio Delgado. Apoiá-lo é algo importante para o PSDB", afirmou o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG). Depois de participar de eventos em São Paulo, Eduardo Cunha embarcou para o Paraná e se encontrou o governador tucano Beto Richa.

O principal argumento dos tucanos é que o apoio a Cunha já no primeiro turno seria decisivo para derrotar o Palácio do Planalto, que está atuando fortemente para eleger Chinaglia. Na avaliação de deputados do PSDB, um segundo turno contra o PT não seria fácil, já que o governo jogaria pesado utilizando a máquina. Por outro lado, o rompimento com Delgado fortaleceria as correntes do PSB que defendem uma reaproximação com a presidente Dilma Rousseff.

Oposição articula adesão em bloco à eleição de Cunha

• Integrantes do PSDB, PSB, PPS e PV dizem que "terceira via" ficou inviável e que o melhor é garantir a derrota do PT

• Siglas oficializarão posição até sexta (30); aliado de Júlio Delgado nega desembarque da candidatura pessebista

Daniela Lima, Marina Dias – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Na reta final da disputa pela presidência da Câmara, os partidos que sustentam o nome de Júlio Delgado (PSB-MG) para o comando da Casa articulam um desembarque em bloco da candidatura pessebista em favor da eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

O peemedebista é o favorito para o posto, mas corre o risco de enfrentar uma eleição de dois turnos se Delgado permanecer na disputa. Caso o movimento da oposição se concretize, crescem as chances de Cunha liquidar a fatura em um turno só e alijar o PT dos principais cargos da Câmara dos Deputados.

O argumento para o desembarque da candidatura de Delgado é pragmático. Integrantes do PSDB, PPS e do próprio PSB ouvidos pela Folha dizem que insistir em uma terceira via sem chance real de vitória é "relegar a oposição ao nanismo em todos os postos da Casa".

"Como vamos atuar e defender nossa agenda se estivermos fora de todas as comissões importantes?", questiona um tucano de São Paulo.

A ocupação de cargos e comissões na Câmara é definida de acordo com o tamanho dos blocos que se agrupam antes da eleição do presidente da Casa. Hoje, o grupo de partidos que apoia Cunha é o maior. O petista Arlindo Chinaglia (SP), que polariza a disputa com o peemedebista, vem logo atrás, seguido pelo grupo de Delgado.

Na definição do comando das comissões, portanto, o grupo de Cunha, com o PMDB à frente, teria prioridade. Depois, seria a vez do bloco comandado pelo PT de Chinaglia e, só então, viriam as indicações da oposição.

"Não tem comissão para todos. No nosso caso, PPS e PV, que são as menores bancadas, teriam que dividir uma comissão entre eles", destacou um pessebista.

Cunha se reuniu nesta segunda (26), em São Paulo, com a bancada do PSDB no Estado --e, segundo um interlocutor, sinalizou que, se houver acordo, os tucanos podem ficar com a vice-presidência da Câmara. Teria dito ainda que colocaria PPS e PV em uma comissão cada.

Se levar a oposição, Cunha terá deputados suficientes para relegar cargos menos relevantes da Casa ao PT.

"Fator Aécio"
Delgado, que já vinha reclamando de dissidências, sabe que um acordo entre Cunha e o PPS ou o PV seria suficiente para uma debandada em sua chapa, o que pode levá-lo a abandonar a disputa.

Nesse cenário, tem "amarrado" os tucanos (maior partido de sua base) com a tese de que o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, é "o fiador" de sua candidatura.

Nesta segunda, Delgado se reuniu em Brasília com os principais nomes do PSB.

"Não há qualquer movimento de desembarque", disse Beto Albuquerque, vice-presidente do PSB. "O governador Paulo Câmara (PE) falou com Aécio por telefone e ele garantiu 85% dos votos no PSDB para o Júlio."

Dois tucanos foram escalados para discutir o assunto com Aécio. Os deputados de São Paulo também fecharam apoio a Carlos Sampaio (PSDB-SP) para líder da bancada.

Servidor público começa a se mobilizar por reajuste salarial maior em 2016

Edna Simão – Valor Econômico

Num ano de forte contenção de gastos para resgatar a credibilidade na política fiscal, os servidores públicos já começam a se movimentar para negociar o reajuste salarial de 2016. O valor precisa ser definido neste ano para que conste da proposta do Orçamento do Executivo que deve ser encaminhada ao Congresso até o fim de agosto.

O desafio do governo é conter a pressão por reajustes acima da inflação para impedir uma aceleração desse gasto, que representou 4,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013 e que deve ter ficado próximo disso em 2014.

Para 2016, os servidores querem uma recomposição da inflação acumulada nos últimos anos e querem que os acordos com o governo tenham validade inferior a três anos. Em 2012, após acordo entre área econômica e sindicalistas, ficou acertado um reajuste de 15,8%, dividido em três anos. A última parcela será paga em 2015. Outra reivindicação é uma redução das discrepâncias das tabelas que definem os salários das categorias do funcionalismo público.

A pressão por aumento de salário deve se intensificar neste semestre. Normalmente, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) define que poderão ser previstos no Orçamento apenas pedidos de reajuste em trâmite no Congresso até 31 de agosto, data em que o governo precisa enviar a proposta de Orçamento para o ano seguinte.

O secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Sergio Ronaldo da Silva, está ciente de que as negociações serão bastante complicadas neste ano devido ao cenário de baixo crescimento econômico e inflação em alta. Mas diz que os trabalhadores não podem pagar pelo ajuste fiscal que o governo está fazendo para equilibrar as finanças públicas.

Dados do Ministério da Fazenda mostram que, no acumulado em 12 meses até outubro de 2014, o dispêndio do governo com pessoal e encargos sociais correspondia a 4,2% do PIB, o mesmo valor apurado em 2013. Segundo informações sobre a execução do Orçamento de 2014, foram autorizados gastos de R$ 241,2 bilhões para pagamento de salários e encargos sociais e deste total foram executados R$ 237,2 bilhões.

A proposta orçamentária de 2015, que ainda depende de aprovação do Congresso, reserva R$ 255,984 bilhões para essa finalidade. Um técnico em orçamento público explicou que esse valor poderá variar, caso os parlamentares acatem emendas para atender categorias do funcionalismo.

Na avaliação do sindicalista, não há "gasto exagerado" para pagamento dos servidores públicos e que, portanto, exigem margem para negociação e diálogo. A Condsef pediu uma audiência com o novo secretário de Gestão Pública do Planejamento, Genildo Lins Neto. O objetivo é propor um debate sobre a dinâmica do processo de negociação e diálogo permanente mantidos com representantes dos servidores federais. Hoje, há um processo instalado que não tem sido eficiente na busca por soluções de problemas que e acumulam em diversos setores da administração.

Durante a campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff se comprometeu a avançar no diálogo com o setor, definir instrumentos de gestão para reduzir distorções salariais que ainda existem, ampliar concursos públicos para recompor mão de obra e definir uma política salarial que permita recomposição das perdas inflacionárias.

Este ano, segundo Silva, será o momento de avaliar se as promessas feitas serão cumpridas. Procurado, o Ministério do Planejamento não se manifestou sobre o assunto.

Extrema pobreza cresce na AL, diz Cepal

Lucas Marchesini – Valor Econômico

A leve recuperação econômica no mundo não foi suficiente para a América Latina e Caribe reduzir a pobreza na região, concluiu a Comissão Econômica Para a América Latina e Caribe (Cepal) da Organização das Nações Unidas (ONU) no relatório "Panorama Social da América Latina 2014", divulgado ontem.

De acordo com o documento, o número de pobres na região estancou, sendo de 28,1% da população em 2012 e 2013 e 28% na projeção para 2014. Esse número era de 43,9% em 2002 e caiu paulatinamente até 2012.

"A recuperação da crise financeira internacional não parece ter sido aproveitada suficientemente para o fortalecimento de políticas de proteção social que diminuam a vulnerabilidade diante dos ciclos econômicos", afirmou a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena. Ela também avaliou que "não se aproveitou o boom de preços nem as medidas para conter a crise financeira".

Já o número de extremamente pobres cresceu desde 2012, quando atingiu o piso de 11,3%. O percentual da população em situação de indigência subiu para 11,7% em 2013 e chegou a 12% em 2014, revelou o estudo da Cepal.

Em números absolutos, isso significa que em 2014, 167 milhões de pessoas viviam em situação de pobreza na América Latina e no Caribe, sendo 71 milhões em extrema pobreza ou indigência.

Na separação por país, há três grupos distintos em relação à dinâmica da pobreza. O primeiro grupo, composto por Paraguai, Colômbia, Peru e Chile, entre outros, reduziu a pobreza e a indigência entre 2012 e 2013.

Em um pelotão intermediário estão o Brasil e o Panamá, entre outros, com queda na pobreza mas um aumento na extrema pobreza no mesmo período. Segundo o diretor da Cepal no Brasil, Carlos Mussi, essa tendência, no caso brasileiro, se deve, à desaceleração do mercado de trabalho e à alta dos alimentos, que atinge diretamente os mais pobres.

Já o último conjunto de países teve aumento tanto entre os pobres quanto entre os extremamente pobres e é composto somente pela Venezuela.

Para 2015, a situação é ainda pior, já que economias importantes para a região, como o Brasil e a Argentina, enfrentam problemas e a redução no preço do petróleo impacta diretamente países como o Equador, a Colômbia e a Venezuela.

Sobre o Brasil especificamente, Alicia ponderou que o desempenho na área social "dependerá muito da intensidade e da duração do ajuste [fiscal]". Ela disse ainda que teve a oportunidade de conversar com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em Davos na semana passada e que "o compromisso [deles] é que [o ajuste fiscal] não afete a situação social do Brasil".

Além disso, Alicia afirmou que as autoridades econômicas brasileiras ressaltaram a importância do investimento em sua participação em Davos. " A política econômica vai se centrar principalmente em investimento. Essa é a mais forte mensagem que trago [de Davos]. Isso significa um governo mais eficiente", disse a secretária-executiva da Cepal.

Mercado já prevê inflação perto de 7% e PIB de apenas 0,13%

• Com crescimento baixo, analistas estimam que Selic ficará em 12,5%

Gabriela Valente – O Globo

BRASÍLIA - Mesmo após o anúncio do governo de medidas de austeridade fiscal e do aumento da taxa básica de juros (Selic) pela terceira vez, os analistas do mercado financeiro voltaram a elevar suas estimativas para a inflação. As previsões, de acordo com a pesquisa Focus - a sondagem semanal que o Banco Central (BC) faz com as principais instituições financeiras do país - mostram que a expectativa para o resultado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou de 6,67% para 6,99%.

Foi a quarta alta seguida na projeção de inflação. As previsões do mercado estão, agora, ainda mais distantes do teto da meta do governo. O centro da meta é de 4,5% ao ano, com margem de tolerância de 2 pontos para cima ou para baixo.

Com isso, analistas já colocam em xeque a promessa da autoridade monetária de que a inflação chegará no centro da meta no fim do próximo ano.

Mesmo com projeções mais altas de inflação, os analistas não avaliam que o BC manterá por muito tempo sua política de aperto nos juros. A projeção para a taxa Selic no fim do ano foi mantida em 12,5% ao ano, o que significa que o mercado espera apenas mais uma alta de 0,25 ponto percentual na taxa, hoje em 12,25% ao ano.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou os juros em 0,5 ponto percentual.

"A divulgação da ata do Copom, na quinta-feira, poderá trazer sinais mais claros sobre os próximos passos de política monetária, especialmente depois de o BC deixar as portas abertas tanto para a redução do ritmo de ajuste como para novo aumento de 0,50 ponto percentual na taxa Selic em seu próximo encontro", destacou o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros.

As incertezas em relação à política monetária são acompanhadas pelas dúvidas sobre quais serão os desdobramentos da crise da água e da energia nos preços. O primeiro reflexo é o aumento das previsões sobre as tarifas de serviços públicos. As perspectivas para a inflação de preços administrados subiram de 8,2% para 8,7% para este ano.

Para piorar o cenário de 2015, a projeção para o crescimento da economia está cada vez mais próxima de zero: passou de 0,38% para 0,13%, na quarta semana em que economistas revisam para baixo a estimativa.

Segundo Alcides Leite, professor de economia da Trevisan, com o desempenho fraco da economia, os preços devem subir menos neste ano.

Outras incógnitas cercam a política monetária como a cotação do dólar. Ninguém sabe ao certo como a moeda americana reagirá ao pacote de incentivo europeu e aos desdobramentos das ações da equipe econômica. Economistas ouvidos pelo BC mantiveram a estimativa de dólar a R$ 2,80 no fim do ano, a mesma previsão das últimas quatro semanas.

Crise nas montadoras leva fabricantes de autopeças a cortar 19 mil empregos

• Metalúrgica de Tubos de Precisão, de Guarulhos, fechou as portas e demitiu 770 funcionários por telegrama, em mais um sinal de que a crise das montadoras, que provocou o corte de 12 mil postos de trabalho em 2014, chegou aos fornecedores

Cleide Dilva - O Estado de S. Paulo

A Metalúrgica de Tubos de Precisão (MTP) de Guarulhos (SP) fechou as portas e demitiu na semana passada, por telegrama, todos os 770 funcionários. Parte deles está acampada nos portões da fábrica para impedir que o maquinário seja retirado. Os trabalhadores temem não receber salários atrasados e a rescisão e querem os equipamentos como garantia.

O fechamento da MTP, fabricante de tubos para automóveis e motocicletas, ocorre num momento em que a crise das montadoras se espalha pelos demais segmentos da cadeia automotiva, especialmente o de autopeças.

Com 68% da produção voltada às fabricantes de veículos, as autopeças eliminaram 19 mil postos de trabalho no ano passado. Demissões nessa proporção não ocorriam no setor desde 1998, ano em que foram fechadas 19,4 mil vagas. Agora, o setor emprega 201 mil trabalhadores, o menor contingente desde 2009.

O ano passado foi um dos piores para o setor, afirma o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Paulo Butori. “Estamos sentindo que o movimento de queda (de empregos) permanece em janeiro”, confirma o executivo.

Produtores de peças plásticas cortaram 3 mil postos de trabalho em 2014. “Foi a primeira vez que tivemos desemprego no setor no fechamento de um ano”, afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), Ricardo Roriz Coelho.

O setor emprega atualmente 357 mil pessoas e vende de 7% a 10% de sua produção para a indústria automobilística.

Esses cortes se somam às 12,4 mil demissões feitas pelas montadoras, que encerram 2014 com 144,6 mil empregados. Foi o maior número de dispensas em 16 anos.

A tendência é de continuidade de demissões neste ano, que começou com a Mercedes-Benz fechando 260 postos na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) e a Volkswagen planejando um Programa de Demissão Voluntária (PDV) para cerca de 2,1 mil trabalhadores na mesma cidade, depois de reverter, após greve dos trabalhadores, 800 cortes anunciados no início do mês. A Ford é outra montadora que estuda abrir um PDV em São Bernardo.

Nesta segunda-feira, os cerca de 500 funcionários da também fabricante de autopeças Karmann-Ghia paralisaram a produção por atrasos no pagamento, segundo informa o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Gestão. Na MTP, além da crise, “ocorreram sérios problemas de gestão”, informa José Carlos Santos Oliveira, funcionário da empresa há 12 anos e diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos. Nenhum representante da empresa foi localizado nesta segunda-feira para comentar o assunto.

Segundo Oliveira, a empresa não pagou o adiantamento salarial previsto para o dia 15, só pagou metade do 13.º salário, não entregou vale-transporte e descontou pensão alimentícia mas não repassou aos beneficiários.

A empresa teria entrado com pedido de recuperação judicial no dia 12 e aguardava aprovação, diz o sindicalista.

Na quarta-feira está marcada uma audiência entre as partes no Tribunal Regional do Trabalho (TRT).

A MTP, com duas unidades em Guarulhos, foi adquirida em 2012 do Grupo Brasil pelo grupo ILP Industrial, que na época comprou também a fabricante de componentes plásticos Vulcan, no Rio de Janeiro, e a Karmann-Ghia, de São Bernardo. Esta empresa foi revendida em julho do ano passado para o Grupo Nardini e passa por reestruturação.

Segundo Monica Marani, gestora da Karmann-Ghia, a empresa teve problemas em dezembro em razão da desaceleração de pedidos das montadoras e deve atualmente 35% da segunda parcela do 13.º salário aos funcionários. “É um problema pontual. Vamos liquidar (a dívida) nesta semana”, informa ela.

Merval Pereira - O enigma grego

- O Globo

O pragmatismo político de Lula ainda é uma marca forte na memória política internacional, e serve para que seja feita uma analogia entre seu comportamento moderado no governo, embora dito de esquerda, com o líder do partido de esquerda radical da Grécia Syriza, Alexis Tsipras, nomeado primeiro-ministro depois de fazer um acordo com o pequeno partido de direita nacionalista Gregos Independentes, que obteve 13 lugares e juntou-se às 149 cadeiras que o partido de esquerda obteve nas eleições.

Unir-se a um partido de direita não indica necessariamente que Tsipras esteja moderando seu discurso. Ao contrário, os Gregos Independentes mantêm um discurso antiausteridade pela direita, com toques nacionalistas e populistas que podem até mesmo dificultar eventuais acordos moderados. O jornal econômico inglês "Financial Times" levantou uma curiosa questão a respeito de Tsipras: ele no governo se comportará como um líder de esquerda radical como foi Hugo Chávez na Venezuela, ou como um líder pragmático como foi Lula, que, segundo a análise do jornal, mostrou-se um reformador e não um radical?

Fora o fato de que Lula pode ter sido tudo, menos um reformador, é interessante a análise de o líder de esquerda eleito na Grécia só encontrar parâmetros na América Latina, e a dúvida que toma conta do mercado sobre os próximos passos da Grécia diante da dívida com os credores é contrastante com a euforia que dominou os mesmos mercados na semana passada, quando Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, anunciou injetar dinheiro nos países da comunidade europeia.

O discurso vitorioso nas urnas gregas vai de encontro ao que prevaleceu no Fórum Econômico Mundial em Davos, encerrado na semana passada, mas que também não considera as medidas do Banco Central Europeu suficientes para solucionar os problemas econômicos da região. Assim como a presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, indicou que a Grécia tem de manter os compromissos com a comunidade europeia mas, sobretudo, tem de realizar as reformas na economia que darão estabilidade ao país, muitos outros líderes, em Davos, mostraram-se preocupados com a falta de reformas estruturais na região.

Participantes da sessão "O novo contexto do crescimento" foram unânimes em afirmar que a política monetária não é suficiente para incentivar o crescimento, questão que diz respeito ao Brasil, que andou em Davos anunciando a nova política econômica, que está baseada na política monetária, embora o novo ministro da Fazenda tenha dito que o objetivo seja estimular investimentos na infraestrutura do país. Mas não falou de reformas estruturais, mais difíceis de aprovar em um ambiente político conturbado como o nosso.

Axel A. Weber, presidente do banco suíço UBS, falou especificamente em reformas trabalhistas e previdenciárias, citando as da época de Schroeder na Alemanha. O vice-diretor do FMI, Min Zhu, confirmou que o único movimento que importa hoje é na direção de reformas estruturais, e John Rice, vice-presidente da GE, enfatizou que os projetos em infraestrutura são essenciais para garantir um crescimento inclusivo, com empregos.

Como em outras vezes em Davos, uma representante da China, a cofundadora de uma das maiores construtoras de imóveis do país, Zhang Xin, chamou a atenção para o fato de que a China tem, ao contrário da Europa, investimentos e consumo e, por isso, está se voltando para seu mercado interno. Mas, para ela, as reformas que incentivam o consumo estão em ritmo lento e têm de ser aprofundadas. No Brasil, setores da esquerda do governo misturam a expansão monetária incentivada pelo Banco Central Europeu com a vitória dos radicais esquerdistas da Grécia para chegar à conclusão de que o discurso de antiausteridade terá repercussão na Europa e deveria ter no Brasil. Ao mesmo tempo, apontam a política chinesa de incentivo ao consumo como sinal de que a nova equipe econômica brasileira está no caminho errado. Fingem não saber que o país está quebrado porque desde o segundo governo Lula, e marcadamente no primeiro governo Dilma, apelou-se para uma política de incentivo ao consumo que só provocou inflação e crescimento econômico pífio.

Dora Kramer - Canal competente

- O Estado de S. Paulo

A eficácia dos acordos de delação premiada nas investigações decorrentes da Operação Lava Jato e seus desdobramentos - indiciamentos, apresentação de denúncias, abertura de processos e possíveis condenações - enfraquece a ideia da oposição de abrir novas CPIs para investigar casos de corrupção em órgãos governamentais.

É que os depoimentos feitos no âmbito das comissões de inquérito parlamentar não rendem aos delatores os benefícios que podem ser obtidos por eles quando as informações são prestadas aos investigadores da esfera policial, em segredo de Justiça.

Ou seja, não é vantagem colaborar no ambiente público e político do Legislativo que não tem o poder de decidir sobre uma redução ou isenção de pena. Note-se, por exemplo, a situação do ex-deputado Roberto Jefferson.

Ele denunciou a existência do mensalão em entrevista à Folha de S.Paulo, avançou nas acusações no curso da CPI dos Correios, mas não forneceu ao Ministério Público informações que reforçassem a denúncia apresentada ao Supremo Tribunal Federal com provas ou autoria de crimes, além dos conhecidos por ocasião da abertura do processo.

Resultado, ainda que um ou outro ministro do STF tivesse argumentado em favor de atenuantes, Roberto Jefferson foi condenado a sete anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e atualmente cumpre pena em regime semiaberto.

Embora haja uma polêmica em torno do instrumento - advogados argumentam que acaba representando uma espécie de salvo-conduto ao crime, pois no limite o autor do delito contaria com a delação como saída -, a colaboração premiada é o que tem feito avançar as investigações sobre o esquema montado na Petrobrás. Ao menos no que diz respeito aos procedimentos em andamento no Brasil.

Deputados e senadores de oposição alegam que uma nova CPI sobre a petroleira teria, sim, eficácia, pois aqueles mesmos depoentes que no ano passado se recusaram a falar ou quando falaram negaram a ocorrência de quaisquer irregularidades na empresa, se chamados agora nesse novo cenário não teriam mais motivos para calar.

Na realidade, teriam todos os motivos para silenciar. Os que não fizeram acordos com a promotoria, por motivos óbvios. Se não quiseram admitir culpa nem dar informações à Justiça, por menos razões o fariam numa CPI.

Já os acusados, ou suspeitos, que tenham se disposto a colaborar com a polícia e o Ministério Público estariam impedidos de reproduzir seus depoimentos em público porque a quebra do sigilo poderia implicar a perda dos benefícios legais. E se porventura fossem chamados depois dos processos abertos, já nada de novo teriam a revelar aos parlamentares.

Não há, para o autor do ilícito, ganho algum naquilo que o Legislativo tem a oferecer: uma arena política de alta exposição. Para eles pouco interessa aparecerem como salvadores da recuperação ética da nação, como costumam argumentar alguns parlamentares na tentativa de incentivar depoentes a colaborar. Eles querem salvar a pele. E isso só a Justiça pode oferecer.

A influência de governos nada garante, conforme ficou claro no julgamento do mensalão, e o poder do Congresso neste aspecto é limitado não só por questões legais, mas pelo fato de ali, sim, funcionar a interferência (autorizada) do Executivo.

Os empresários envolvidos no caso da Petrobrás tentam agora arrastar o governo e os políticos para o centro do escândalo - dizendo-se vítimas de uma coerção irresistível levada a termo por um projeto construído sobre pilares da corrupção - porque não temem nenhum dos dois: nem Executivo nem Legislativo. Estão com medo é do Judiciário.

E pelo balanço do andor, têm razões de sobra para isso.

Luiz Carlos Azedo - Um jogo de perde-perde

• Dilma pode ter, no comando da Câmara, um adversário ardiloso e duro, cuja relação com o Palácio do Planalto será estabelecida em bases nunca antes vistas pelo PT

- Correio Braziliense

O principal assunto político da semana é a eleição da Mesa da Câmara, que se tornou uma dura batalha entre os dois principais partidos da base do governo, o PT e o PMDB. Quem mais perde na disputa é o Palácio do Planalto, qualquer que seja o resultado.

Caso o candidato do PT, Arlindo Chinaglia (SP), seja eleito presidente da Câmara, a presidente Dilma Rousseff terá a pauta da Casa na mão. Supostamente, esse é o melhor cenário para os governistas. Mas, em contrapartida, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), o principal adversário, passará informalmente à oposição.

Suponhamos que isso realmente ocorra. Em tese, o governo seria obrigado a escolher entre fazer concessões ainda maiores ao líder do PMDB ou negociar com a oposição, o que implicará ter de pactuar a sua agenda com os tucanos. De imediato, estão na pauta do Congresso as medidas impopulares que foram adotadas para restabelecer o equilíbrio fiscal e dependem de aprovação do Legislativo.

O plano A do Palácio do Planalto, porém, não é o cenário mais provável. Nos bastidores da Câmara, Cunha continua sendo o favorito no pleito, simplesmente porque o apoio formal dos demais partidos da base do governo ao candidato do PT não tem o compromisso integral das respectivas bancadas. Cunha teceu sua rede de apoios nos mais diversos partidos, inclusive nos de oposição.

Dilma pode ter, no comando da Câmara, um adversário ardiloso e duro, cuja relação com o Palácio do Planalto será estabelecida em bases nunca antes vistas pelo PT. Os petistas sempre contaram com o apoio do presidente da Câmara, mesmo na breve e temerária passagem de Severino Cavalcanti (PP-PE) pelo cargo, no governo Lula. Fora eleito em circunstâncias parecidas com a atual: um racha na base do governo.

Para quem não se recorda, Severino foi aquele que pediu ao ex-presidente Lula uma diretoria da Petrobras “que fura poço”. Parecia fisiologismo provinciano, mas ele sabia das coisas. Já rolava o esquema de propina flagrado pela Operação Lava-Jato na estatal.

O político pernambucano era o rei do baixo claro. Deu-se mal por causa da “taxa extra” que supostamente resolveu cobrar do concessionário de uma das cantinas da Câmara. Acabou renunciando ao mandato para não ser cassado pelos colegas.

Há uma versão de que Cunha estaria envolvido na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, como outros integrantes do PMDB, mas o peemedebista repeliu com veemência as acusações. Na verdade, o Palácio do Planalto teme que ele utilize o escândalo para chantagear a presidente Dilma. O presidente da Casa tem a prerrogativa de aceitar ou não a tramitação de pedidos de impeachment.

Dois outros candidatos disputam a eleição. O deputado Júlio Delgado (PSB) é o principal representante das oposições. Suas chances vão depender de um eventual segundo turno, no caso de ser o segundo colocado na primeira votação.

Caso isso ocorra, Delgado passaria a disputar a presidência da Câmara no mano a mano. É improvável um desfecho desse tipo, mas não é impossível, nem seria a primeira vez. O quarto candidato é o deputado Chico Alencar (PSol-RJ), que se lançou para marcar posição. Na prática, a candidatura dele enfraquece o candidato de oposição e ajuda Chinaglia a chegar ao segundo turno.

Ser ou não ser
A boataria tomou conta dos bastidores do Senado, ontem. Ninguém sabe se Renan Calheiros (PMDB-AL) será mesmo candidato a presidente da Casa. Nos bastidores, comenta-se que ele ainda avalia a situação, em meio aos boatos de que é um dos políticos mais envolvidos na Operação Lava-Jato. Experiente e frio, mantém o suspense, mesmo entre os pares da bancada do PMDB.

Caso Renan desista, o candidato natural da bancada seria o líder do PMDB, Eunício de Oliveira (CE), cujas relações com a presidente Dilma Rousseff não são das mais amistosas. Dois outros nomes surgem como alternativa na bancada: Luiz Henrique (SC), que só esperaria um sinal do Palácio do Planalto para ir à luta, ou Ricardo Ferraço (ES), cujo nome foi lançado pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), mas não se colocou abertamente na pugna.

Na eleição passada, Renan só confirmou a candidatura no dia da eleição. Pode ser que a situação se repita. Nesse caso, haverá um anticandidato de oposição. O senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) pôs o nome à disposição.

Raymundo Costa - A Grécia, o ajuste e o que quer o PT

• Dilma joga contra a lógica interna do partido que a elegeu

- Valor Econômico

O resultado das eleições na Grécia, um manifesto contra as medidas de austeridade adotadas em parte da Europa, encontraram alguma ressonância por aqui contra o ajuste das contas públicas em curso no governo. Em setores do PT, deve-se registrar, porque para a direção do partido não existe termo de comparação entre uma e outra situação.

Vistas de perto, as críticas ao ajuste fiscal parecem refletir mais a intenção de negociar compensações e atenuantes no governo e no Congresso, do que um eventual boicote do PT à política de austeridade do ministro Joaquim Levy (Fazenda). São outros os problemas imediatos com que a presidente Dilma Rousseff tem com que se preocupar no partido pelo qual venceu a eleição de 2014.

Um desses motivos é a decisão tomada por ela de alijar de seu governo a corrente majoritária do PT. Isso sim tem impacto dentro da sigla. Passado quase um mês após a posse, os dirigentes da ala majoritária petista parecem se convencer de que a presidente resolveu escolher seus principais parceiros dentro do PT fora da Construindo um Novo Brasil (CNB), tendência que até agora deu as cartas no partido e no governo federal.

É na CNB que estão alojados nomes como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro José Dirceu. O único representante da CNB que sobrou no Palácio do Planalto foi Aloizio Mercadante. Mas o ministro da Casa Civil, hoje muito próximo a Dilma, não chega a ter a identificação que outros nomes têm com a CNB, conglomerado do qual faz parte o que antes se chamava de Articulação ou simplesmente campo majoritário.

A opção da presidente pode ser um dificultador para seu governo. A regra no PT sempre foi o respeito à proporcionalidade, mesmo que não se goste deste ou daquele dirigente. Essa é a lógica de funcionamento interno do PT, e o que manteve o partido em paz até agora. Leva quem tem "mais garrafas" - ou seja, votos. O PT sempre foi rigoroso na partilha de poder na proporção das garrafas das correntes.

Os insatisfeitos com o desequilíbrio interno já falam também que a presidente está se distanciando do próprio PT. Prova disso seria a queda do poder de fogo do partido sobre as verbas do orçamento.

Reportagem do repórter Valmar Hupsel Filho, na edição de ontem do jornal "O Estado de S. Paulo", mostra que os ministros do PT vão controlar 21% das verbas discricionárias de suas pastas, metade do porcentual médio registrado no primeiro mandato de Dilma. Os partidos aliados, por seu turno, saltam para 64%, no mesmo período.

Em resumo, a reclamação do PT é a mesma do PMDB, ou seja, a presidente Dilma conseguiu deixar insatisfeitos os dois maiores partidos de sua aliança eleitoral, neste início de governo. O choro do PMDB é antigo e o partido aprendeu a conviver com a situação, mas o clima para o PT é novo e desconfortável. A sigla espera por compensações no segundo escalão, mas até agora ainda há muita gente por acomodar, como a ex-ministra Miriam Belchior, do Planejamento.

Na última semana, o prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Luiz Marinho, cujas ligações com Lula são conhecidas, atacou o ajuste fiscal em curso. Marinho pode estar ecoando essa insatisfação, mas é mais provável que esteja tentando abrir uma trilha de negociação para quando as medidas do ajuste forem votadas no Congresso. Ou as duas coisas.

"Na minha avaliação está incompleto esse processo", disse Marinho. "É preciso anunciar um conjunto de outras medidas que faça equilíbrio para garantir a gestão crescente de geração de emprego, de proteção ao emprego". Segundo o prefeito de São Bernardo, em 2003 Lula "também fez ajustes pesados, mas junto anunciou várias outras medidas que faziam equilíbrio com o ajuste na macroeconomia". O prefeito está enganado: o tranco de Lula em 2003 se deu sem atenuantes.

A derrocada dos partidos europeus que "embarcaram na receita da tríade", evidentemente, é acompanhada de perto pelo PT. Mas a direção do partido não vê - como se vê em alguns setores - paralelo entre o que o ajuste brasileiro pode provocar e o que ocorreu na Grécia.

Na Grécia, o desemprego chegou a 25%, sendo 50% entre os jovens; por aqui, segundo o discurso da cúpula petista, há queda no emprego, mas nem de longe a situação pode ser comparada com o que ocorre na Europa. A inflação no Brasil está alta, mas sob controle. E ao contrário da endividada Grécia, o país tem reservas.

"Quem quiser comparar o ajuste das contas públicas com a grande recessão da Grécia está comparando mal, por todas as razões", diz um dirigente. "O que está havendo aqui são correções no abono salarial, seguro desemprego e nas pensões, sem que esses direitos sejam cancelados". A preocupação maior na cúpula do PT seria com as consequências que a decisão grega pode vir a ter sobre a Europa.

A curto prazo, é de se presumir que a presidente Dilma deve encontrar mais problemas com o PT por ter marginalizado a ala majoritária e diminuído espaços do partido no governo do que pelo ajuste nas contas públicas, cujo conjunto ainda será examinado no Congresso. Convém esperar a reunião do Diretório Nacional marcada para o próximo dia 6 de fevereiro, com as presenças da presidente Dilma e do ex-presidente Lula da Silva.

Com o polegar permanentemente no pulso da Câmara dos Deputados, o PMDB considera que o maior risco à candidatura de Eduardo Cunha à presidência da Casa é a terceira via, representada na disputa pelo deputado Júlio Delgado, do PSB. Ele teria muito mais capacidade de agregar, em eventual segundo turno, que o candidato do PT, Arlindo Chinaglia. Se Delgado ficar de fora do segundo turno, a oposição embarcar imediatamente na candidatura de Cunha. Dentro, o pessebista pode manter os votos da oposição e atrair todos os que se opõem à ideia de ter o deputado Eduardo Cunha como presidente. O difícil é Delgado passar para o segundo turno da eleição. O governo federal trabalha em silêncio, mas com empenho em favor de Arlindo Chinaglia.

José Casado - Presidência acorrentada

• No encontro com ministros, hoje, Dilma pode desmentir o cético Galbraith, para quem reuniões governamentais são indispensáveis, quando não se quer fazer nada

- O Globo

Dilma Rousseff reúne hoje o Ministério e adiciona nova fotografia ao álbum da Presidência. Para a maioria, será uma chance de encontrar a chefe. É chegar, ver, ouvir e partir. Em silêncio.
Isso porque são 39 ministros. Se a cada um for permitido sintetizar seus planos em apenas dois minutos, Dilma será obrigada a escutá-los durante hora e meia. Sem intervalo.

Há casos piores. Pré-candidato pelo PMDB à sucessão de Dilma, em 2018, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, precisa de auditório para juntar as 64 pessoas do seu primeiro escalão. Se deixá-las falar por dois minutos, Paes vai passar mais de duas horas apenas escutando. Sem intervalo.
Tolerante, desde que as coisas sejam feitas do seu jeito, Dilma adotou a receita do antigo PSD mineiro, assim resumida por José Maria Alkmin, vice do general Castello Branco: primeiro se decide, depois faz-se a reunião.

A presidente tem hoje um desafio à biografia. O risco de fracasso significa atravessar os próximos quatro anos arrastando correntes no Planalto. Alguns aspectos do cenário:

• A escassez de água e os apagões sucessivos infernizam a rotina de 146 milhões de pessoas no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste;

• Os rarefeitos programas sociais encolhem, por caixa insuficiente para clientela crescente;

• A educação rateia, demonstra o Enem com o meio milhão de notas zero em Redação;

• Os serviços saúde pública entraram em falência. As filas nos hospitais refletem a restrição de gastos (R$ 2,5 ao dia por habitante) e as deficiências administrativas no SUS, somadas a duas décadas de congelamento da tabela médica e à precariedade da infraestrutura: apenas 10% das obras de unidades básicas e de pronto atendimento foram concluídas, 83% do programa de saneamento não saíram do papel, assim como 62% das obras de água potável;

• A percepção coletiva de segurança econômica está abalada pela inflação alta (7%), que será turbinada pelo tarifaço (até 40% na conta de luz) combinado a uma escalada tributária;

• Os juros sobem, desde a reeleição, assegurando a continuidade da recessão industrial. Nos últimos quatro anos, a indústria cortou 188 mil empregos, equivalente a duas Petrobras;

• Com o PT atropelado na eleição (perdeu 43% da bancada de sindicalistas e ficou reduzido a 23% dos votos nos maiores centros industriais paulistas, que lhe deram vida 35 anos atrás), Dilma e Lula traçaram um plano. Desde então, o governo se canibaliza na luta com o principal aliado, o PMDB, que completa duas décadas de hegemonia no comando e no controle da pauta do Congresso;

• Sobram incertezas sobre as contas corrompidas da Petrobras e seus efeitos no governo, no PT, no PMDB e no PP, entre outros.

A reunião ministerial é para anunciar “ajustes”. Faz sentido, pois o Orçamento da União tem sido drenado em gastos questionáveis, como aluguel de imóveis (R$ 1,2 bilhão), publicidade (R$ 219 milhões), celebrações (R$ 400 milhões) ou no trato e irrigação do jardim presidencial (R$ 1 milhão).

Dilma, porém, tem a chance de desmentir o cético keynesiano John Kenneth Galbraith. Depois de uma temporada no governo Kennedy, ele repetia: reuniões governamentais são indispensáveis, quando não se quer fazer nada.